David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Terror sobre a ponte do Rio Itapicuru

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Antonio de Menezes relata experiência como sobrevivente de uma tragédia ferroviária em 1951

Ao fundo, a ponte do Rio Itapicuru (Foto: Reprodução)

No ano em que se mudou para Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com a família, o aposentado e artista plástico Antonio de Menezes Barbosa teve uma das experiências mais marcantes de sua vida. Com apenas seis anos, participou de um acidente ferroviário sobre a ponte do Rio Itapicuru, na Bahia.

Em março de 1951, Barbosa fez parte de um grupo de 12 pessoas, entre familiares e amigos, que aguardaram uma semana para ingressar em um trem na Estação Ferroviária de Laranjeiras, a 19 quilômetros de Aracaju, em Sergipe. “Me recordo que o trem vinha de Aracaju e chegou às 6h. Naquele dia, estávamos eu, minha mãe, meu pai, irmãos, um tio e dois amigos, o ‘Seu Quelemente’ e a mulher dele, Maria, inclusive os dois já faleceram”, relata Menezes.

Enquanto o veículo ferroviário seguia o trajeto normal, o curioso Antonio se aproximou da janela para observar a paisagem. “Eu estava do lado direito e via os outros vagões conforme a curva ‘puxava’ para a direita. Paramos na estação de uma cidade que não me recordo qual e algumas pessoas desceram e outras subiram”, conta. Quando se aproximavam de uma ponte sobre o Rio Itapicuru, já na Bahia, os passageiros ouviram o trem apitando em velocidade moderada. De repente, o “plá plá plá” emitido pelas rodas sobre as emendas dos trilhos foi ofuscado por um grande estouro semelhante ao som de uma bomba.

“Era o barulho dos primeiros vagões caindo sobre os outros. Tenho até hoje isso registrado na memória. Aqueles que não caíram foram para um lado e para o outro”, afirma Antonio de Menezes. O acidente foi provocado pelo desmoronamento da ponte, após o trem percorrer poucos metros. Alguns passageiros disseram que com frequência aquele trecho da ferrovia recebia trens de carga, principalmente de cimento, o que pode ter comprometido a estrutura da ponte. Durante o tumulto do acidente, a família se dispersou. O vagão onde estava o pequeno Antonio ficou preso a outro vagão próximo a um pilar recostado ao aterro.

Antonio de Menezes (o segundo da esquerda para a direita) e os quatro irmãos que sobreviveram ao acidente (Foto: Arquivo Familiar)

A movimentação dentro do trem aumentava de acordo com o desespero dos passageiros. Sem saber onde estavam os familiares, Barbosa não conseguia esquecer a cena de um homem caindo de um vagão sobre uma enorme placa sinalizadora de metal. “Ele caiu de uma maneira que a cabeça foi cortada como se fosse um melão, um corte tão limpo que nem vi sangue”, destaca.

Antonio de Menezes também viu inúmeras pessoas prensadas entre os vagões. Não falavam, apenas mexiam com dificuldades os braços e as pernas, instantes antes de morrerem. A cerca de oito metros do Rio Itapicuru, a ferrovia ladeada por um brejo ecoava os gritos de dor das vítimas. Barbosa se lembra de uma mulher com um braço quebrado e o outro agarrado a um morro, gemendo e clamando por ajuda.

Por sorte, a criança contou com a solidariedade de uma senhora que estava no mesmo vagão. A mulher o tratou muito bem, dialogando e o ajudando a se distrair da tragédia. Algum tempo depois, encontraram a família de Antonio. O pai, Augusto de Mendonça Barbosa, teve a iniciativa de retirar todas as malas e baús dos vagões menos danificados antes da chegada do atendimento emergencial. Pela atitude, o pai foi capa de um jornal de Sergipe.

De todos os familiares, apenas um dos irmãos de Antonio se feriu. José machucou o braço no momento do impacto. Apresar da gravidade do acidente, a maior parte dos passageiros sobreviveu. Muitos eram migrantes de mudança para São Paulo e Paraná. O plano da família de Barbosa, assim como de muitas outras, era estar em São Paulo na semana seguinte, porém tiveram de aguardar sete dias até a chegada de um trem com o mesmo destino. Nos dias chuvosos que se seguiram, os passageiros envolvidos na tragédia contaram com a hospitalidade dos moradores de um povoado.

“Coisa de quem nunca viu gelo”

Augusto de Mendonça vendeu tudo que possuía para se mudar para o Paraná. Interromperam a viagem quando chegaram a Rancharia, no interior paulista, onde passaram um mês. “Nunca tínhamos visto geada nem gelo, então quando esfriou numa madrugada, levantamos às 6h para subir em cima de um paiol coberto de sapé. Pegamos uma colher para recolher o gelo pra comer. Coisa de quem nunca viu”, comenta Antonio de Menezes às gargalhadas.

Já no Norte do Paraná, quando chegaram a Maringá estava chovendo, então o ônibus levou um dia para percorrer o trajeto até Paranavaí. O grupo de Mendonça desembarcou no primeiro terminal rodoviário da cidade, o Ponto Azul, em 9 de maio de 1951.

As balas de Corisco

Quando morava na Bahia, a mãe de Antonio de Menezes Barbosa costumava se esconder dos cangaceiros que circulavam pela região. “Meu pai tinha dois sítios em Coronel João Sá [no Nordeste Baiano]. Um já tinha sido invadido pelo Corisco, inclusive tinha marcas das balas do comparsa de Lampião”, ressalta.

A propriedade ficava próxima ao Rio Vaza-Barris e município de Geremoabo. Sempre que ouvia alguma notícia da chegada de Lampião e seu bando, a mãe e as amigas se escondiam no meio da caatinga, atrás das folhas de macambira.

Curiosidade

Antonio de Menezes Barbosa nasceu em 11 de setembro de 1944.

A diversidade cultural do cinema

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2ª Mostra de Cinema de Paranavaí exibirá filmes de todas as regiões do Brasil e de Moçambique

Serão exibidas 16 obras de curta, média e longa-metragem

Na sexta-feira, 7, e no sábado, 8, às 20h30, a Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade será cenário da 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí (MIC) em que serão exibidos 16 filmes de curta, média e longa-metragem dos mais diversos gêneros. O evento que recebeu obras de todas as regiões do Brasil e de Moçambique é uma iniciativa da Fundação Cultural. A entrada será gratuita.

Para a primeira noite da 2ª MIC está programada a exibição dos filmes “Sonho de Valsa”, de Beto Besant, de Santo André, São Paulo; Loading 66%, de Henrique Duarte, de São Carlos, São Paulo; “Caça-Palavras”, de Pedro Flores da Cunha, de São Paulo, capital; “As Aventuras de Seu Euclides Chegança”, de Marcelo Roque Belarmino, de Aracaju, Sergipe; “Maria Ninguém”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Foi Uma Vez”, de Renan Lima e Bruno Martins, de São Paulo, capital; “Burguesia”, de Rodrigo Parra, do Rio de Janeiro, capital; “Incelença da Perseguida”, de Silvio Gurjão, de Fortaleza, Ceará; e “Eu Não Faço a Diferença?”, de Henrique Moura, de Paranavaí.

Já no sábado, serão exibidos “A Maldição de Berenice”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Hr. Kleidmann”, de Marcos Fausto, de São Paulo, capital; “No Oco da Serra Negra”, de Angelo Bueno, Ernesto Teodósio, Pedro Kambiwá e Otto Mendes, de Recife, Pernambuco; “Aos Pés”, de Zeca Brito, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul; “Bucaneiro”, de Juliana Milheiro, do Rio de Janeiro, capital; “Do Morro”, de Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, de Recife, Pernambuco; e Chikwembo, de Julio Silva, de Maputo, Moçambique.

Para o presidente da Fundação Cultural de Paranavaí, Paulo Cesar de Oliveira, o cinema brasileiro e africano está muito bem representado na 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí pela diversidade de gêneros e também de temas que abordam desde assuntos mais simples e bucólicos até os mais controversos e subjetivos. “Escolhemos filmes que façam com que as pessoas deixem a Casa da Cultura discutindo, repensando o que assistiram”, enfatiza o diretor cultural Amauri Martineli, acrescentando que a 2ª MIC é voltada ao público com faixa etária acima de 14 anos.