David Arioch – Jornalismo Cultural

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Uma manhã de sábado na Vila Alta

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Fotos: David Arioch

Fotos: David Arioch

Hoje de manhã, realizamos algumas atividades para crianças e idosos na Vila Alta, na periferia de Paranavaí. Foi uma experiência inesquecível. Tudo foi feito de forma voluntária, graças à parceria da professora Rose Freire e das alunas do 4º ano de Serviço Social da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), do Serviço Social do Comércio (Sesc), através da minha amigaTânia Mara Volpato, da atriz e professora de dança circular Gaty Rocha, da Farmácia Bipharma, do senhor Luiz Gonzaga e sua esposa (moradores do bairro que ajudaram na montagem de tudo e disponibilizaram o equipamento de som).

E claro, do artista plástico Tio Lu ( Luiz Carlos), que é sempre a primeira pessoa que procuramos quando queremos realizar algo na Vila Alta. Também contamos com a participação do meu irmão Guimarães Jvnior, meu amigo Vinicius Vieira, do fotógrafo Elizeu de Moraes e do professor Carlos Alberto João, que também assumiu uma bela responsabilidade com o bairro. Além disso, fizemos doações de muitos livros cedidos pela Paranavaí Cidade Poesia – Fundação Cultural, por meio da Biblioteca Municipal Júlia Wanderley.

A Rose Freire e as alunas da Unespar prepararam um monte de kits para distribuir aos idosos, além de panfletos sobre seus direitos. Também percorremos casas distribuindo kits para aqueles que não tinham condições de se deslocarem até a Rua B, onde o evento ocorreu. Foi uma manhã muito agradável e de muito aprendizado. Tivemos muita música, pula-pula, pernas de pau, apresentações de dança circular, oficinas de artesanato, cuidados estéticos e diversas brincadeiras que hoje são pouco conhecidas pelas novas gerações. O maior presente foi ver tanta gente empolgada em ajudar, assim como tanta gente animada em se divertir.

Written by David Arioch

October 8th, 2016 at 9:14 pm

William Blake, entre a pobreza e o anonimato

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Assumiu um semblante justo, seus olhos brilharam e ele cantou sobre as coisas que viu no céu

by Thomas Phillips, oil on canvas, 1807

Reconhecimento de William Blake só veio após a sua morte (Arte: Thomas Phillips)

No dia 12 de agosto de 1827, o poeta inglês William Blake faleceu aos 69 anos na pobreza e no anonimato. Seu velório em Bunhill Fields, na região norte de Londres, passou despercebido e só pôde ser realizado através de um empréstimo de 19 xelins. Sepultado em um túmulo sem qualquer inscrição, o corpo de Blake foi colocado sobre outros três e seguido por mais quatro falecidos.

Sua esposa, Catherine, revelou a uma amiga que durante o casamento ela não teve tanto a companhia do marido quanto gostaria. “Ele estava sempre em seu próprio paraíso”, declarou. Apesar da saúde fragilizada, Blake parecia não se preocupar tanto com a morte. “É a imaginação que deve viver para sempre”, comentou quando já estava próximo do falecimento.

Nos últimos dias de vida, o poeta gastou os seus últimos xelins comprando um lápis que usou para homenagear a esposa. “Fique, Kate! Mantenha-se exatamente como você é. Por você ter sido um anjo para mim, vou desenhar o seu retrato”, declarou. Pouco antes de morrer, William Blake assumiu um semblante justo, seus olhos brilharam e ele cantou sobre as coisas que viu no céu”, escreveu um amigo.

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Obra criada pelo inglês sob inspiração da poesia pastoral do romano Virgílio (Arte: Reprodução)

O inglês que amargou décadas de pobreza se via mais como escultor e pintor do que poeta. Ele esperava que em uma exposição realizada em 1808 o seu trabalho pudesse trazer-lhe tanto retorno financeiro quanto reconhecimento por seu estilo original, baseado em temas a frente do seu tempo.

Na exposição que recebeu o nome de “Afrescos de Invenções Poéticas e Históricas”, Blake reuniu 16 de suas pinturas. “Aos que foram informados de que o meu trabalho se resume a obras não científicas, excêntricas ou nada mais que rabiscos de um louco, façam-me justiça e examinem tudo antes de tomar uma decisão”, pediu. Naquele dia poucas pessoas prestigiaram o evento.

Ainda assim ele não hesitou em dizer que não desistiria do seu sonho de ser reconhecido. “Ignorantes insultos não me farão desistir do meu dever para com a minha arte”, informou. Infelizmente ninguém comprou nenhuma de suas obras e a única resenha publicada sobre a exposição definiu William Blake como um lunático que só não corria risco de ser preso porque era inofensivo demais.

Retrato de Catherine que Blake desenhou antes de falecer (Arte: Reprodução)

Retrato de Catherine que Blake desenhou antes de falecer (Arte: Reprodução)

A recepção da poesia do inglês também seguiu na mesma esteira de suas pinturas e esculturas. Poucos viram ou leram pelo menos um de seus livros escritos e ilustrados à mão. Em 1811, dois anos antes de se consagrar como o poeta laureado, o britânico Robert Southey, leu “Jerusalem”, uma das obras mais famosas de William Blake. “É um poema perfeitamente louco”, sintetizou Southey.

Catherine continuou a imprimir e divulgar as obras do marido depois que ele morreu, o que deixou claro que a parceria dos dois envolvia tanto amor quanto trabalho. Com a ajuda de poucos amigos e fãs de William Blake, ela conseguiu sobreviver por mais quatro anos. Nesse período afirmou ter visto o marido muitas vezes, chegando a sentar-se junto dele por duas a três horas diárias.

No dia 31 de outubro de 1831, Catherine chamou por Blake como se ele estivesse no quarto ao lado. “Meu William…meu William…”, repetiu ela até o momento de sua morte. Com o falecimento de Catherine, os direitos sobre as obras de Blake foram transferidos para Frederick Tatham, um artista inglês de pequena expressão que fazia parte de um grupo de seguidores do poeta, conhecido como Shoreham Ancients.

Segundo o livro The Stranger From Paradise, publicado em 2001, e de autoria do biógrafo G.E. Bentley Jr, Tatham vendeu a própria herança ao longo de 30 anos e por bom preço. Depois que se tornou um religioso fanático, destruiu muitas gravuras e poemas de Blake. Chegou a declarar que se livrou delas porque acreditava que o artista tivesse sido inspirado pelo diabo quando as concebeu.

Saiba Mais

Entre as obras mais importantes do poeta inglês se destacam “The Marriage of Heaven and Hell”, “Jerusalem”, “And did those feet in ancient time”, “Songs of Innocence and of Experience”, “Milton” e “The Four Zoas”.

William Blake nasceu em 28 de novembro de 1757 e faleceu em 12 de agosto de 1827.

Catherine Blake nasceu em 25 de abril de 1762 e faleceu em 31 de outubro de 1831.

Referências

http://www.todayinliterature.com/

G.E. Bentley (2001). The Stranger From Paradise: A Biography of William Blake. Yale University Press.

Blake, William and Tatham, Frederick. The Letters of William Blake: Together with a Life. 1906.

Gilchrist, A. The Life of William Blake, London, 1863, 405.

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Persil: brasilidade em evidência

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Premiado artista plástico destaca a importância de se valorizar a cultura brasileira 

Gabirus: identidade folclórica com ênfase na realidade. (Crédito: David Arioch)

Gabirus: identidade folclórica com ênfase na realidade urbana. (Foto: David Arioch)

O paranavaiense Roberto Persil se interessou pelas artes plásticas ainda na juventude. De lá para cá, são mais de 40 anos de carreira, sintetizados em pelo menos 1,5 mil obras, entre pinturas e esculturas que retratam a brasilidade. O reconhecimento de tal longevidade são as inestimáveis premiações e participações em salões de artes do Paraná, São Paulo e Mato Grosso.

 

Apaixonado pela cultura nativa brasileira e regionalista, Persil trabalha com elementos que resgatam lendas de um Brasil ainda desconhecido pela maioria. Exemplo é uma série de esculturas que vai muito além da acadêmica releitura contemporânea. “Recriei os Gabirus. São seres que moram embaixo de pontes e se situam entre o homem e o animal. Representam as pessoas que perderam o vínculo com a sociedade e com a família”, revela.

Outra característica dos Gabirus é que, assim como os mendigos, eles também vagam pelas ruas recolhendo coisas do lixo para comer. Além disso, criam relações afetivas com animais, principalmente gatos, cães e ratos – seres que consideram pertencentes a um mesmo plano existencial.

O artista plástico também se dedica a fazer releituras mais sofisticadas da realidade. Em uma de suas obras, a profundidade expressionista entre a fusão de colagem e pintura lhe rendeu um prêmio em um salão de artes. Conceituado pelo aporte inovador, gosta de mesclar materiais e elementos das mais diversas correntes artísticas. Algo perceptível no atelier que criou em casa, onde reúne centenas de obras.

O amor pela atividade é tão grande que Persil também montou um atelier em Cuiabá, no Mato Grosso, para onde viaja quando tem tempo. Sobre o motivo da escolha, justifica que é uma região com fortes elementos da cultura primitiva brasileira. “Vou pra lá todo mês de julho e aproveito pra absorver isso.Transfiro todo o conhecimento adquirido para as minhas esculturas e quadros”, frisa.

Quando tem pouco tempo disponível, o artista opta por concepções artísticas mais objetivas, em que o uso de tintas acrílicas é mais comum, pelo fato do processo de secagem ser mais acelerado. “Lecionei língua portuguesa por 30 anos, então adquiri esse costume de me dedicar a artes mais sofisticadas apenas quando tenho bastante tempo livre”, declara.

Roberto Persil com uma de suas telas: a interpretação depende da bagagem cultural do apreciador (Crédito: David Arioch).

Persil: “A interpretação depende da bagagem cultural do apreciador “(Foto: David Arioch)

Eis que surge um artista

Na infância, Persil tinha dificuldades para escrever, então seus pais o encaminharam a um artista local que dava aulas de caligrafia. Superado o problema e passado alguns anos, Persil se sentiu atraído pelos desenhos. “Tinha 12 anos e fiquei maravilhado com a beleza dos desenhos coloridos, do simples lápis-de-cor e da anatomia humana”, lembra.

Apesar de ter convivido durante décadas com a falta de tempo, o artista plástico já ultrapassou a marca de 1,5 mil obras. “Uma vez, para participar de um salão de artes, fiz 400 desenhos em dois meses. Isso foi em outubro e novembro de 1989”, conta.

Mesmo com um currículo artístico extenso, o prolífico Roberto Persil garante que as premiações recebidas no Paraná, São Paulo e Mato Grosso são sempre simbólicas. “Às vezes, somos premiados com R$ 500 e os custos com a peça é de R$ 800. Então é mais para somar à carreira”, garante. Persil faz parte do grupo de artistas brasileiros que sempre trabalharam para investir em arte. “O que não é fácil, pois exige dedicação”, assegura.

Aos 15, começou a usar crayon, determinante para se tornar frequentador do Empório Artístico Michelangelo, localizado na Líbero Badaró, em São Paulo. “Ia pra lá só pra comprar lápis francês e outros materiais”, destaca em tom bem-humorado. Mesmo muito jovem, os desenhos do artista já representavam mais que formas e cores; era o reflexo de um dom que partia do coração e se conduzia até os dedos das mãos. “Resolvi ir para São Paulo e Rio de Janeiro, o sonho de todo menino. Só que como vivíamos a Ditadura Militar era complicado. Sem emprego fixo, um garotinho era visto como suspeito”, revela.

Depois de dois anos vivendo entre São Paulo e Rio de Janeiro, produzindo arte final para listas telefônicas, Roberto Persil não conseguiu alcançar o sonho, mas descobriu nas capitais um novo fazer artístico. “Em 1973, me encantei pelas esculturas em madeira. Naquele tempo, trabalhos que valorizavam a cultura brasileira, principalmente nordestina, estavam no auge”, reitera. Mesmo não lucrando muito nas capitais, o artista trouxe consigo uma bagagem cultura que, segundo ele, não tem preço.

“Troquei a arte pela sobrevivência”

Em 1976, Roberto Persil começou a trabalhar com esculturas em madeira. Logo foi obrigado a render-se a uma indústria cultural em que a  originalidade artística perdia espaço para a injusta e desleal dinâmica das produções em série. “Como não tinha terminado a faculdade ainda, troquei a arte pela sobrevivência. Fazia tudo em um atelier no fundo de casa”, salienta.

No ano seguinte, retomou a carreira artística e conquistou estabilidade financeira se tornando professor de português. Em 1980, o artista ganhou seus primeiros prêmios. “Lembro bem da primeira vez. Foi no 2º Salão de Artes Plásticas para Novos, em Cascavel [no Oeste Paranaense]. Acho que deveriam investir mais nesses salões porque ajuda os artistas que estão em processo de maturação”, recomenda.

De acordo com Persil, é lamentável que os curadores de eventos artísticos não visitem ateliers de artistas principiantes. “São esses que precisam de ajuda, não os renomados. Nenhum órgão vinculado à cultura brasileira dá valor a quem está começando”, desabafa. Uma ótima contribuição seria a Secretaria de Cultura do Estado ou o Ministério da Cultura, por exemplo, ajudarem jovens artistas a criarem seus primeiros catálogos.

Contra o estrangeirismo

Produzir peças que resgatem a cultura nativa brasileira significa ofertar elementos históricos ainda desconhecidos pela população. Com esse pensamento, Roberto Persil faz um apelo para que os novos pintores e escultores brasileiros acreditem em si mesmo e no local em que vivem.

“Um artista não deve se vincular a estrangeirismo nenhum se quer reconhecimento genuíno. Devemos parar de importar ideias. Temos doze horas de luz, e essa luminosidade já pode ser explorada como fruto da nossa cultura”, enfatiza.

Saiba mais

Roberto Persil produzia 15 esculturas por semana na época em que contava com ajuda de um auxiliar.

Em média, o artista plástico pinta uma tela por semana.

Frase de destaque

“Nunca saberei dizer quantos desenhos já fiz, porque toda arte que produzo nasce de um desenho.”