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Esperando por Samuel Beckett
Waiting For Godot e a importância da Resistência Francesa na literatura de Beckett
Durante a Segunda Guerra Mundial, o dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett, famoso principalmente pela obra Waiting For Godot (Esperando Godot), um dos maiores clássicos do teatro do absurdo, foi um importante membro da Resistência Francesa, chegando a receber duas condecorações por serviços prestados em prol da humanidade.
Porém, antes da homenagem e do reconhecimento, Beckett por pouco não foi morto durante a guerra. No outono de 1942, um informante se infiltrou em seu grupo e forneceu valiosas informações aos nazistas, resultando na morte e na captura de muitos dos amigos do partisan irlandês. Percebendo que seu disfarce foi descoberto, Beckett e sua companheira Suzanne Deschevaux-Dumesnil vestiram seus casacos e deixaram o apartamento em Paris como se estivessem apenas saindo para uma caminhada.
Depois de dois meses vivendo em diversos esconderijos, o casal fugiu a pé em direção a uma remota montanha no sudeste da França. À época, eles andavam à noite e dormiam durante o dia. Até que se cansaram e optaram por esperar o final da guerra. Essa experiência marcou tanto a vida de Samuel Beckett que ele a usou como base para criar os dois personagens mais importantes de Waiting For Godot – Vladimir e Estragon.
Sobre a ideia do nome da obra, a hipótese mais aventada é a de que o irlandês um dia estava andando pelas ruas de Paris quando parou e perguntou a uma multidão o que eles estavam fazendo. “Estamos esperando por Godot”, disseram, em referência ao ciclista mais velho da Tour de France, e que ainda não havia passado por ali. “Ele escreveu uma das peças mais intrigantes do Século XX. Beckett nunca explicou o título dela. Ele preferia zombar de todos que tentassem explicar o seu significado”, comenta o escritor canadense e professor de literatura Steve King.
A verdade é que o dramaturgo era um exímio apreciador da privacidade, e não abria mão disso por nada. Também se tornou cético em relação à linguagem literária e passou a vida entre a agonia psicológica e filosófica. Há quem acredite que tentaram transformá-lo em um homem romântico, mas ele não era nada disso. “Não, ele não era um sujeito charmoso, caridoso ou com uma polidez típica do Velho Mundo. Na realidade, ele não fazia questão de saber o que as pessoas achavam de suas palavras ou de sua vida”, revela o escritor canadense.
Waiting for Godot foi uma evasiva na vida de Samuel Beckett. Ele decidiu escrever a peça para se distrair e fugir de uma “horrível prosa” que estava concebendo em 1948. “Samuel Beckett queria criar algo divertido e fácil de produzir, uma obra para pagar as contas. Waiting For Godot não foi apenas uma mudança de ritmo e gênero, mas de linguagem. Ele esperava escrever a peça em francês para tentar desencadear algo novo”, comenta King.
A peça foi um divisor na vida do escritor. Um crítico chegou a dizer que, diante de Waiting For Godot, todas as peças francesas pareciam escritas com espinhos, não com canetas. Próximo da meia-idade, Beckett inovou ao aproximar o público da realidade do teatro do absurdo.
Com uma peça baseada em dois atos, e onde nada acontece duas vezes, os personagens mais parecem foragidos de um teatro de variedades. “É como se trancassem os Irmãos Marx, Charlie Chaplin e um palhaço em um horror tão absurdo que, sem nenhum tipo de antídoto, só restaria ao público as gargalhadas”, avalia Steve King.
Por anos, Suzanne Descheveaux-Dumesnil fez o trabalho que o dramaturgo depreciava. Ou seja, foi ela quem ofereceu a obra para mais de 40 produtores que se mostraram confusos e medrosos em relação à viabilização da peça. Quando realmente conseguiram encontrar alguém interessado no projeto, o desespero veio à tona através do elenco. Os atores sempre perguntavam o que Beckett queria dizer com os diálogos. E ele simplesmente encolhia os ombros, sem dar respostas.
Na noite de abertura, no dia 5 de janeiro de 1953, houve um burburinho sem precedentes no Théâtre de Babylone, em Paris. Os espectadores chegaram a disputar as cadeiras dobráveis de um café que ficava ao lado do teatro. Alguns qualificaram a peça como um embuste, uma fraude. Deixou muita gente confusa. Só que a maioria concordou com as impressões publicadas na primeira resenha: “Uma peça que faz jus ao nosso tempo”, escreveram.
Àquela altura, a pressão sobre Beckett cresceu muito. Todos queriam vê-lo, inclusive a imprensa e o diretor do espetáculo. No entanto, embora o escritor tenha comparecido a todos os ensaios, ele não prestigiou a estreia. Samuel Beckett desapareceu por duas semanas. Com o crescimento das controvérsias e da repercussão de Waiting for Godot, o dramaturgo foi cuidadoso e evitou a fama o máximo que pôde. “Estou cansado de todos esses mal-entendidos. Por que as pessoas têm que complicar uma coisa tão simples?”, lamentou.
Saiba Mais
Samuel Beckett nasceu em Dublin, na Irlanda, em 13 de abril de 1906 e faleceu em Paris em 28 de dezembro de 1989.
Vivendo em Paris em 1937, o escritor sobreviveu por quase uma década traduzindo obras de outros escritores. Durante esse período, publicou alguns poemas, ensaios e seu romance Murphy, lançado em 1938, depois de tantas dificuldades para encontrar um editor que acreditasse em seu trabalho.
Entre seus melhores trabalhos estão Waiting For Godot, Murphy, Molloy, Malone Dies, The Unnamable e Endgame.
Diálogo da página 23 de Esperando Godot
POZZO – (Cortante) Quem é Godot?
ESTRAGON – Godot?
POZZO – Vocês me tomaram pelo Godot.
VLADIMIR – Oh, não senhor! Nem por um momento, senhor.
POZZO – Quem é?
VLADIMIR – Pois é um …, é um conhecido.
ESTRAGON – Mas, vamos, não o conhecemos quase.
VLADIMIR – Evidentemente…, não lhe conhecemos muito bem…; não obstante…
ESTRAGON – Eu, certamente, não lhe reconheceria.
POZZO – Vocês me confundiram com ele.
ESTRAGON – Bem…, a escuridão…, o cansaço…, a debilidade…. a espera…; reconheço…que por um momento… acreditei…
VLADIMIR – Não leve em conta, senhor, não faça caso!
POZZO – A espera? Então, esperavam-lhe?
VLADIMIR – Quer dizer…
POZZO – Aqui? Em minhas terras?
VLADIMIR – Não pensávamos fazer nada de mau.
ESTRAGON – Tínhamos boas intenções.
POZZO – O caminho é de todos.
VLADIMIR – É o que nós dizíamos.
POZZO – É uma vergonha, mas é assim.
ESTRAGON – Não HÁ NADA A FAZER.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
http://www.samuel-beckett.net/speople.html
Bair, Deirdre. Samuel Beckett: A Biography. Vintage. (1978).
Fletcher, John. About Beckett. Faber and Faber, London (2006).
Beckett, Samuel. Waiting for Godot: A Tragicomedy in Two Acts. Grove Press (2011)
Uma terapia em forma de alegria
Grupo Pausa para o Riso leva diversão e esperança para crianças da Santa Casa de Paranavaí
Fundado em 2014, o grupo Pausa para o Riso nasceu de uma iniciativa de três atores de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que são apaixonados por circo e teatro. Em 2005, eles criaram um grupo de doutores palhaços chamado Amigos do Riso. Com o passar dos anos e algumas mudanças, hoje a trupe de oito voluntários se reveza nas visitas à Santa Casa de Paranavaí, onde leva alegria, diversão e esperança às crianças internadas na ala pediátrica.
“Também visitamos os adultos quando temos tempo”, explica a fundadora Karina Lima que prevê em breve a inclusão de asilos e abrigos na agenda do grupo. Além das visitas semanais com duração média de duas horas, os integrantes do Pausa para o Riso se reúnem uma vez por mês para compartilharem experiências. “Nosso grupo trabalha de forma espontânea. Quando vemos que alguém se enquadra no perfil do grupo, fazemos um convite para ingressar na trupe”, conta.
O convidado ou a convidada responde a um questionário e participa de uma simulação, começando a se familiarizar com o trabalho dos doutores palhaços. “Fazemos com que tentem imaginar como será quando estiverem no ambiente hospitalar”, argumenta Karina. Em média, o Pausa para o Riso atende pelo menos 200 pessoas por mês. Além dos internos, eles interagem com acompanhantes e funcionários da Santa Casa de Paranavaí.
“Logo no início percebemos que o ambiente hospitalar é o local ideal para levarmos a alegria proporcionada pelo circo”, comenta Karina Lima, acrescentando que muitas pessoas já passaram pelo grupo, mas as mudanças são naturais quando alguém decide trilhar um novo caminho. Como o Pausa para o Riso é 100% voluntário e não tem fins lucrativos, a maior recompensa dos integrantes é o sorriso das crianças, o agradecimento das mães e as amizades que surgem com as visitas.
“Muitas mães aproveitam as nossas brincadeiras com seus filhos para se ausentarem por alguns minutos, respirar um ar que não seja o do hospital e restabelecer a energia. Lá somos palhaços, amigos, companheiros, confidentes. Também somos um abraço, um sorriso, um detalhe que faz a diferença na vida de quem passa por nós”, declara Karina. Quem quiser contribuir com o Pausa para o Riso, realizando algum tipo de doação, pode ligar para (44) 9927-4486.
Formação
Doutora Naninha – Karina Lima, Doutor Tramela – Cristiano Oliveira, Doutor Clavinho – Bruno Alécio, Doutora Soninho – Tais Fernanda, Doutor Goiabinha – Paulo Queiroz, Doutora Leãozinho – Kátia Batista, Doutora Frida Não Kalo – Gislaine Pinheiro.