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“Com o artesanato, diminuí 90% do meu consumo de remédios”
Vítima de bala perdida, Élcio Caetano aprendeu a lidar com a deficiência física por meio da arte
Na próxima segunda-feira, às 23h35, completa dez anos que Élcio Caetano ficou paraplégico por causa de uma bala perdida. À época, passou mais de um mês tentando assimilar o que tinha acontecido. “Demorou pra cair a ficha e tive dificuldade em aceitar o fato de que nunca mais andaria”, diz o morador do Conjunto Dona Josefa, entre a Vila Operária e a Vila Alta, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná.
Ainda em 2004, sem saber que rumo tomar, Caetano aceitou participar de um programa de terapia ocupacional por sugestão de uma vizinha. “Naquele estado, o ócio é perigoso porque a pessoa acaba tendo muitas ideias que não são saudáveis”, comenta Élcio que teve o primeiro contato com o artesanato em um curso para confecção de tapetes com saquinhos de leite. Foi amor à primeira experiência.
Quase dez anos depois, o que começou como uma terapia se transformou em um meio de sobrevivência. Hoje, Caetano é um especialista em aproveitamento e reutilização de materiais. “Gosto de trabalhar com produtos recicláveis e transformar o industrializado em artesanato”, comenta o artista que tem familiares e amigos que o incentivam. A irmã, por exemplo, costuma ir até a rua 25 de Março, em São Paulo, comprar acessórios e adereços para incrementar as peças de Élcio.
Outros parceiros são a Santa Casa de Paranavaí e Clínica Radiológica de Paranavaí que doam radiografias que o artista transforma em belas borboletas. “Também recebo contribuições de uma cooperativa de materiais recicláveis”, declara enquanto exibe algumas peças recém-confeccionadas e de alta qualidade. Élcio Caetano manipula dezenas de matérias-primas, criando peças únicas, tanto utilitárias quanto decorativas. “Faço vaso com cipó e arame, abajour com tampinhas de garrafa, além de coelho e cortina com garrafas pet”, enfatiza, embora tenha predileção pelo trabalho com sementes.
Com base na demanda, Élcio produz levando em conta as mudanças de clima e tempo. No frio, confecciona toucas, cachecóis, boinas e polainas. No calor, se dedica a fazer colares, pulseiras, arranjos de flores, cortinas e bolsas. “Tem muita gente que deveria experimentar uma atividade como essa. Dá uma satisfação imensa. Com o artesanato, diminuí 90% do meu consumo de remédios. E olha que quem tem paraplegia precisa tomar remédio até pra acordar, comer e dormir”, afirma, sem esconder a satisfação e a alegria de estar vivo e fazendo o que gosta.
Sobre a concorrência com produtos industrializados, o artista que trabalha até a hora de dormir não vê motivos para preocupação. “Existe espaço pra todo mundo. A vantagem do artesanato é que as peças são únicas. Uma nunca sai igual a outra. Então atrai quem busca um diferencial nesse sentido”, esclarece. Interessados em encomendar peças ou conhecer melhor o trabalho de Élcio Caetano, podem ligar para (44) 9725-2450.
A arte sulista de Luiz Carlos Prates
Um mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso
O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima é mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso, matérias-primas usadas para criar obras que resgatam elementos da cultura sulina.
Luiz Carlos nasceu em 1º de junho de 1930 em Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal do grande poeta Mário Quintana. O dom para as artes, descoberto na infância, foi incentivado pela avó africana que era pintora e desenhista. Na juventude, Prates de Lima decidiu investir na carreira de artista plástico e ingressou no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Depois de formado, lecionou na Fundação Gaúcha do Trabalho. “Eu ensinava artesanato com chifres, ossos, madeira e couro”, afirma Luiz Carlos que trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos. O artista que produz arte com as mais diversas matérias-primas é especialista não apenas na criação de esculturas, mas também de pinturas e desenhos. “Gosto de tudo relacionado à arte, e hoje quero passar isso para os outros porque já estou em idade avançada”, pondera.
Luiz Carlos conheceu Paranavaí há muito tempo, contudo só voltou a cidade em 1997, quando decidiu fixar residência. “Gostei muito daqui, e nesse período percebi que o pessoal gosta muito de obras em chifre e madeira. Também encomendam peças feitas com ossos, nem que seja por curiosidade”, revela, acrescentando que até hoje nunca precisou criar nenhuma obra que não gostasse.
O que mais chama atenção é que as peças feitas por Luiz Carlos Prates remetem à cultura sulista. Os exemplos estão no pequeno atelier improvisado no quintal. Lá, carretas dividem o espaço com chaleiras, cuias e ervas; tudo feito em madeira. A atmosfera rural do ambiente também parece contribuir para a plasticidade das obras. Quase tudo lembra outros tempos, até o esmero do artista ao entalhar e lixar uma peça menor que um dedo. São lembranças tornadas materiais e palpáveis do passado de Luiz Carlos.
Artista já produziu até 70 peças por semana
O carinho do artista ao segurar cada obra dá uma ideia do valor que a arte agrega a sua vida. Após mais de 60 anos de profissão, Luiz Carlos Prates de Lima ainda é exigente consigo mesmo. Realiza trabalhos sob encomenda, porém entrega uma peça apenas quando tem certeza que deu tudo de si.
“Há obras que levam até dois meses, mesmo trabalhando o dia todo. Exemplo é um quadro aplicado que fiz”, explica. Já outras peças são feitas em pouco tempo. O artista conta que dependendo do pedido chega a produzir até 70 obras por semana. “Além do Paraná, já enviei peças para o Japão, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros estados. Acho que para o Brasil todo”, garante em tom de orgulho.
Para o artista de fala calma e pausada, a matéria-prima mais fácil de manipular é a madeira, já o chifre é considerado o mais difícil. “O entalhe todo do chifre é feito só com lixa. É bem artesanal e tem que ter paciência”, justifica. Uma das obras mais produzidas pelo artista plástico é a carreta que leva cerca de uma semana para ficar pronta. Até hoje, Prates de Lima criou pelo menos 120. Uma curiosidade sobre as obras do artista é a influência indireta do naturalismo. Luiz Carlos evita dar brilho às peças, não as idealizando para não distanciá-las da realidade. “Gosto do verniz fosco, um trabalho encerado de madeira, sem brilho”, comenta.
Curiosidade
Quando morava no Rio Grande do Sul, antes de tornar-se evangélico, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima construía carros alegóricos, fantasias de carnaval e até escrevia enredos para escolas de samba.
Contato
Interessados em conhecer o trabalho do artista plástico podem ligar para (44) 9865-1391.
O dom de talhar a madeira
Olegário aperfeiçoou as habilidades como carpinteiro e se tornou um mestre em talhar madeira
Há 28 anos, Olegário José dos Santos, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, aproveitou as habilidades como carpinteiro para reproduzir uma obra de arte. O resultado foi tão positivo que desde então se dedica a criar placas, quadros e esculturas, peças que já foram comercializadas em muitos estados do Brasil e em outros países.
Tudo começou em 1981, quando “Seu Olegário” trabalhava como mestre de obras e marceneiro. À época, a habilidade em talhar madeira despertou no artista o desejo de fazer algo mais do que criar apenas produtos funcionais. “Vi um trabalho e decidi produzir também. Comecei a fazer esculturas e não parei mais. Tem peças minhas nos Estados Unidos, Japão, França, Espanha, Argentina, Costa Rica e Portugal”, diz o artesão em tom de orgulho.
Houve um período em que Santos participava de feiras agropecuárias com o intuito de divulgar e também comercializar as peças que produzia. “Em exposições no Paraná e São Paulo, eu vendia pelo menos 10 placas para fazenda e ainda levava trabalho pra casa. A procura era grande”, explica o artista plástico que já participou de exposições agropecuárias em Paranavaí, Maringá, Umuarama, Londrina, Foz do Iguaçu, Santo Antônio da Platina, Wenceslau Braz, Maringá, Ourinhos, Votuporanga, Presidente Prudente e Assis. Santos também vendeu muitas peças no litoral de Santa Catarina, principalmente pequenos artigos.
Independente do tamanho da obra, seja um chaveirinho feito na hora e vendido por R$ 4 ou um altar de R$ 7 mil que levou 90 dias para ser produzido, a verdade é que depois do trabalho concluído sempre surge o momento de fruição. “Sinto prazer em criar qualquer coisa”, enfatiza Seu Olegário que preza pela riqueza de detalhes. O perfeccionismo está embutido em cada uma de suas esculturas; nas formas e nas curvas que tiram do anonimato pedaços de cedro e cerejeira que provavelmente seriam transformados em produtos em série, como móveis.
“São ótimas madeiras para o trabalho que desenvolvo. Só uso outros tipos para fazer placas de fazenda”, informa e acrescenta que a cerejeira é trazida de Rondônia. Uma das especialidades de Seu Olegário é a criação de esculturas de imagens de santos, talento que combina com o sobrenome do artista. “Tenho algumas obras disponíveis para venda. São réplicas de São Expedito, São José, São Paulo e Nossa Senhora Aparecida”, destaca o escultor que está sempre aberto a encomendas e comercializa esculturas pelos mais diversos preços. Quem quiser conhecer de perto o trabalho do artista, pode vistar o seu atelier na Avenida Heitor Alencar Furtado, em frente ao trevo de acesso à Vila Operária.
Saiba mais
Cada escultura leva em média 30 dias para ficar pronta e um quadro é concluído em quatro dias.
O artista plástico Olegário José dos Santos também pode ser encontrado na Rua Augusto Fabretti, 877 – Jardim Alvorada do Sul, Paranavaí. Ou pelo telefone: (44) 3423-4633