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Mortes que entraram para a história de Paranavaí
Conheça os crimes dos anos 1950 jamais esquecidos pelos pioneiros
No início dos anos 1950, Paranavaí ficou conhecida em todo o Paraná como a “Capital do Crime”. À época, acontecia pelo menos um homicídio por dia na cidade. Muitos assassinatos eram motivados por brigas envolvendo posse de terras ou comissão na venda de imóveis.
Em Paranavaí, não há registros sobre centenas de crimes que aconteceram nos anos 1940 e princípio da década de 1950. Não são poucos os que foram enterrados como indigentes. Às vezes a família do falecido nem recebia o registro de óbito. Em muitos casos, a única informação discriminada no obituário era “causa mortis desconhecida”, deixando patente o desinteresse das autoridades em investigar muitos crimes. No entanto, restaram os pioneiros que, falando ou escrevendo, trazem à tona alguns dos fatos mais obscuros da história local.
O ceifador de vidas
Um dos personagens mais controversos da história de Paranavaí e região, quando todo o Extremo Norte do Paraná pertencia a Paranavaí, é o migrante paulista João Pires que atuou como jagunço em toda a colônia, principalmente em áreas que hoje pertencem a Loanda e Santa Isabel do Ivaí. Pires se tornou proprietário de uma fazenda conhecida como Derrubada Grande que mais tarde recebeu o nome de Guaritá e depois Nova Aliança do Ivaí.
Pioneiros contam que Pires era um ceifador de vidas, carregava “nas costas” dezenas de mortes, todas motivadas por posses de terras. O padre alemão Ulrico Goevert creditava todas as riquezas do migrante ao sangue que ele derramava por onde passava, sem qualquer remorso. “Durante anos, pensei em silêncio: espera um pouco, ‘Seu Pires’, e chegará o teu dia de cair liquidado no chão!”, revelou o frei no livro “Histórias e Memórias de Paranavaí”. João Pires era famoso pelo requinte de crueldade com o qual tratava suas vítimas.
Ao migrante paulista, não interessava se eram jovens, velhos ou mulheres que viviam nas propriedades que era encarregado de grilar. Se a pessoa resistisse em desocupar a área, Pires “passava fogo” em toda a família, sem deixar sobreviventes. O migrante conquistou fortuna ao prestar serviços para fazendeiros. Naquele tempo, os “quebra milho”, como eram chamados os jagunços, ganhavam muito dinheiro com a grilagem de terras. O pagamento era proporcional a área que conseguiam desocupar. “Num determinado dia, o Pires encontrou seu justiceiro”, contou o frei alemão.
O migrante paulista caiu em uma emboscada e foi alvejado com inúmeros tiros. Mesmo com tantos ferimentos, conseguiu ajuda e foi trazido a Paranavaí na carroceria de um caminhão. Internado no Hospital do Estado, resistiu ao máximo. Porém, cientes da gravidade do estado de saúde de João Pires, os médicos chamaram frei Ulrico para ministrar os últimos sacramentos.
“Fiz a minha obrigação sacerdotal. Algumas horas mais tarde, ele se levantou e chamou o médico, pediu que o curasse só até o ponto de estar em condições de se vingar do inimigo. Afirmou que o mataria a tiros”, lembrou o padre que reprovou a atitude do homem. Logo em seguida, João Pires arregalou os olhos e deu um grito exasperado: “Ali vem o diabo para me buscar!”. Depois disso, o homem caiu morto na cama.
Um amigo do migrante que também teve o mesmo destino foi “Gustavo, o Grande Brigão”. Se qualquer desconhecido o olhasse, o homem já arrumava confusão. Gustavo foi assassinado com tiros à queima-roupa pelo próprio motorista. “No dia do sepultamento, fui ao quarto do falecido e encontrei o cano de uma pistola no lugar de uma cruz”, relatou frei Ulrico.
O abraço da morte
No início da década de 1950, havia dois homens muito amigos que viviam às margens do Rio Paraná. Porém, a amizade foi abalada quando um soube que diante de outras pessoas o outro o criticava. Sentindo-se traído, o homem decidiu se vingar. Pegou o barco e atravessou o rio para encontrar o amigo. Quando chegou lá, no momento em que se cumprimentaram com um abraço, o homem traído cravou a peixeira nas costas do “amigo”, atravessando o coração. O autor do homicídio deixou o homem caído, agonizando até a morte, e voltou para casa.
Antes de chegar à margem, encontrou os dois filhos da vítima e gritou: “Visitei o pai de vocês. Ele os tratará melhor no futuro”. Sem entender, os rapazes seguiram para casa. Quando chegaram em terra firme e viram o pai morto nem pensaram em se vingar. Segundo o frei alemão Ulrico Goevert, os jovens ficaram gratos, pois o homem os maltratava demais.
“Ficou que nem bicho morto que você arrasta e joga no mato”
O pioneiro paulista João da Silva nunca se esqueceu da morte de um jagunço que vivia em Paranavaí e foi assassinado em Cidade Gaúcha, também no Noroeste Paranaense, em uma tentativa frustrada de grilagem de terras. “Quando isso aconteceu, nem enterrado ele foi. Ficou que nem um bicho morto que você arrasta e joga no mato. Ainda tenho lembranças de um turco que foi morto no centro da cidade”, destacou João da Silva em entrevista ao escritor Paulo Marcelo Soares da Silva, registrada no livro História de Paranavaí.
O pioneiro José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão, se recorda da morte de dois japoneses e um mineiro. “Um peão veio lá da região de Santa Cruz do Monte Castelo buscar o pagamento em Paranavaí. Quando chegou aqui os japoneses falaram que não iriam pagar”, contou. Durante a discussão, o rapaz sacou a arma e atirou nos dois devedores. O motorista dos japoneses ainda tentou intervir, mas foi baleado e morreu. “Outra morte que chamou muita atenção foi de um tal de Canário, assassinado lá em Jurema [atual Amaporã]. Quem mandou matar foi um fazendeiro de Jacarezinho [no Norte Pioneiro Paranaense]”, frisou Zé Peão em antigo depoimento à prefeitura.
Em entrevista ao jornalista Saul Bogoni há algumas décadas, o pioneiro catarinense Carlos Faber citou como inesquecível a morte de dois brasileiros e um japonês em uma das ruas mais movimentadas de Paranavaí no início de 1946. “O japonês tinha uma fazenda e o rolo era por causa de terras. O que matou foi preso depois de alguns meses”, enfatizou.
Pessoas que os pioneiros apontaram como jagunços da Colônia Paranavaí
João Pires, Frutuoso Joaquim de Sales, Gustavo Brigão, Pedro Krüger, Laurentino, Narciso Barbudo, Napoleão, Chico Catingueiro, Pracídio, Macaúba, Canjerana, Maneco Borges, Nocera e Guri.
Curiosidades
Durante a colonização de Paranavaí, poucos eram os fazendeiros que se envolviam diretamente nos conflitos de terras. O costume era contratar jagunços ou “quebra milho” para tratarem da situação. Para isso, eram muito bem remunerados.
Era comum a fuga para o Mato Grosso quando a situação ficava muito complicada para os envolvidos em atividades criminosas em Paranavaí.
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O covarde assassinato de Alcides de Sordi
Jovem idealista foi morto na entrada da delegacia com a conivência da polícia
Em 1947, o jovem Alcides de Sordi ficou conhecido em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, como defensor dos interesses dos mais pobres. No ano seguinte, por representar uma ameaça aos mais abastados, foi assassinado dentro da delegacia com a conivência das autoridades.
Paranavaí ainda era distrito de Mandaguari quando houve um dos crimes mais polêmicos da história local, jamais esquecido pelos pioneiros: o homicídio de Alcides de Sordi, de 21 anos, membro da União Democrática Nacional (UDN). Alcides começou a chamar a atenção na colônia por ter uma participação política bastante ativa.
Naquele tempo, Paranavaí era administrada pelo marceneiro Hugo Doubek que depois foi transferido para Curitiba. “Na oportunidade, o Capitão Telmo Ribeiro decidiu colocar o João Carraro para assumir a inspetoria de terras”, lembrou o ex-prefeito Ulisses Faria Bandeira.
A partir daí, nasceu uma animosidade entre o capitão Telmo, membro do Partido Social Democrático (PSD), e o grupo político de Alcides que não concordava com a substituição, tanto é que realizaram um abaixo-assinado e colheram mais de cem assinaturas para tirar o novo inspetor do cargo.
A iniciativa surgiu quando Alcides de Sordi descobriu que Carraro estava dando terras de uma área conhecida como Água Nova para amigos do governador Moisés Lupion, com a conivência do engenheiro Alberto Gineste. João Carraro não aguentou a pressão e deixou a função pouco tempo depois.
Alcides aproveitou a oportunidade para entrar em contato com Hugo Doubek, o convencendo a reassumir o cargo em Paranavaí. Ao retornar de viagem, Telmo Ribeiro soube do acontecido. “Ele fez uma promessa de passar uma bala na cabeça do Alcides. Com medo, muita gente foi embora daqui”, relatou o pioneiro mineiro Arlindo Francisco Borges.
A polêmica sobre quem assumiria em definitivo o cargo de administrador do distrito durou mais de um mês, até que Doubek decidiu voltar para Curitiba. Então Alcides de Sordi fez um convite a Faria Bandeira para comandar a inspetoria. Ulisses Faria hesitou, mas depois aceitou. “Aqui dava medo porque o povo andava de carabina de dia e de noite”, revelou o pioneiro paraibano Cincinato Cassiano Silva.
Após alguns meses, a situação parecia normalizada e ninguém mais comentava sobre o conflito político. À época, Telmo Ribeiro, que representava o Governo do Paraná na colônia, teria tentado elevar o preço dos títulos de terras. “O alqueire custava 80 mil réis e ele quis aumentar para 500 mil. O Alcides achou que era muito dinheiro para o pessoal daqui, pois a maioria era pobre”, assinalou o pioneiro paulista João da Silva Franco, complementando que grande parte dos moradores de Paranavaí tinha condições de pagar no máximo 150 mil réis por alqueire. Indignado, de Sordi viajou até Curitiba para registrar uma queixa formal contra o capitão Telmo.
Telmo Ribeiro assume autoria do homicídio
No dia 12 de outubro de 1948, poucos dias depois de retornar de viagem, quando estava em casa plantando feijão, Alcides de Sordi recebeu um convite para ir até a delegacia conversar com o sargento Marcelino, a maior autoridade policial da colônia. “Falaram a ele que o sargento faria uma viagem e precisava que ele o substituísse por um tempo”, frisou João Franco.
Naquele dia, Cincinato Cassiano foi levar comida para o cunhado que estava trabalhando em uma chácara. No caminho, encontrou Alcides indo ao encontro do sargento. “Houve uma discussão na delegacia e quando o de Sordi estava saindo meteram-lhe uma bala pela nuca que varou pela testa”, enfatizou Arlindo Borges, acrescentando que a morte foi instantânea. Outros pioneiros dizem que o rapaz levou sete tiros e logo após o acontecido Telmo Ribeiro, Oscar Camargo e o engenheiro Alberto Gineste fugiram em um automóvel e se esconderam na Fazenda Tabajara, nas imediações de Guairaçá.
Especula-se que pouco antes do crime tenham pressionado Alcides para não se envolver mais com política. Além de Ribeiro, Camargo e Gineste, estavam José Francisco, o sargento Marcelino, os soldados Olívio e Francisco e o paraguaio Marciano. Há suspeitas de que Frutuoso Joaquim de Salles, o baixinho Idalécio e outros pioneiros não identificados estavam no local do assassinato. “Tudo foi preparado e quem estava lá sabia o que iria acontecer”, informou Franco. Mesmo após o assassinato, nenhuma das testemunhas saiu em defesa de Alcides.
Naquele dia, o bispo de Jacarezinho, Dom Geraldo de Proença Sigaud, estava realizando uma cerimônia de crisma em Paranavaí. Durante a solenidade muita gente chorou pela morte do rapaz. Todos aqueles que eram do grupo político de Alcides de Sordi deixaram Paranavaí dias depois. “Quase cem pessoas foram embora, largando sítio e até família”, lembrou Borges.
O capitão Telmo Ribeiro assumiu a autoria do assassinato. Em primeira instância, foi condenado a doze anos de reclusão. Recorreu e foi absolvido em 10 de março de 1950. Ribeiro trabalhava para o governo paranaense e tinha grande influência política. Esperto e carismático, o capitão cultivava amizade com o ex-interventor federal Manoel Ribas e com o governador Moisés Lupion. “O Telmo assumiu, mas quem deu o primeiro tiro foi o engenheiro Alberto Gineste que viveu em Paranavaí até morrer de desgosto”, testemunhou João da Silva.
Franco lembrou que muita gente queria se juntar para matar Ribeiro. João de Sordi, pai de Alcides, não concordou. Disse que entregava a Deus porque acreditava que ele faria justiça. De acordo com a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger, homens armados percorreram a colônia o dia todo ao longo de 20 dias após o acontecido. Alguns pioneiros afirmaram que eram membros de um grupo conhecido como “Capa Preta” que simpatizava com Alcides de Sordi. “Isso assombrou a cidade”, ressaltou Palmira. Mais tarde, o fato fez com que Telmo Ribeiro se afastasse da política.
Saiba Mais
Em 1950, segundo relatos de pioneiros, o advogado Accioly Filho, deputado estadual pelo PSD, que representou o réu Telmo Ribeiro, expediu um boletim com as palavras: “…e assim senhores do Conselho de Sentença, em nome do Partido Social Democrático, eu vos peço que absolvam este nosso correligionário que se acha no banco dos réus, porque ele, embora seja um criminoso, é do governo.”
Curiosidade
Alcides de Sordi era filho do casal João de Sordi e Angela Locatelli de Sordi, de São José do Rio Pardo, interior paulista, que se mudaram para Paranavaí em 1947. O casal veio com o mesmo objetivo de outros pioneiros, proporcionar melhor qualidade de vida aos cinco filhos. Na colônia, o primeiro negócio da família foi a instalação de uma máquina beneficiadora de arroz.
Frases dos pioneiros sobre Alcides de Sordi
Enéias Tirapeli
“Coitado do rapaz, estava plantando feijão e mandaram chamar ele lá. Foi o maior tiroteio. Ele caiu morto perto da porta da cadeia. Foi por causa de política, ele era um rapaz muito bom.”
João da Silva Franco
“Alcides de Sordi era um rapaz muito bom, solteiro, humilde e inocente. O povo contava que achavam o Alcides competente para ser o administrador geral da colônia.”
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Ninguém podia deixar a Fazenda Brasileira
Quem abandonava o povoado era assassinado a tiros às margens do Paranapanema
Na década de 1930, a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, no Noroeste do Paraná, era conhecida como terra sem lei. Os migrantes que vinham para cá em busca de melhores condições de vida não podiam abandonar o povoado. Quem se arriscava a fugir era assassinado a tiros às margens do Rio Paranapanema, com a conivência dos colonizadores.
A história da colonização de Paranavaí é marcada por muita luta e perseverança, principalmente dos colonos. No entanto, o que a maioria da população desconhece até hoje é que em 1930 as regras já eram ditadas por colonizadores e jagunços que se colocavam acima da lei.
No ano em que Getúlio Vargas assumiu como presidente do Brasil, o Paraná ainda preservava 87% de vegetação primitiva. O novo governo federal tinha grande interesse na quase inabitada Vila Montoya, no Noroeste, que pertencia a Tibagi, no Centro Oriental Paranaense. A área então, que era da Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco), foi repassada ao jornalista e político gaúcho Lindolfo Collor (avô do ex-presidente Fernando Collor de Mello), um dos participantes da Revolução de 1930.
No mesmo ano, foram trazidas à Brasileira cerca de 1,2 mil famílias de migrantes, principalmente do Sudeste e Nordeste, para trabalharem na lavoura de café sob regime de colonato. Naquele tempo, já vivia aqui, desde 1929, época do Distrito de Montoya, o falecido pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Sales, das primeiras levas de migrantes trazidos pelo engenheiro agrônomo baiano Joaquim Rocha Medeiros.
Sales é sempre apontado como o pioneiro que vivenciou o período mais obscuro da história de Paranavaí, embora sempre evitasse falar a respeito. Preferia assuntos maleáveis, os mais simples e triviais. “Em 1930, ele era o responsável pelo transporte de café, sabia de muitas coisas, mas para não comprometer a si mesmo e a terceiros sempre fugia de temas polêmicos, principalmente quando alguém perguntava sobre os crimes do passado”, declara o pioneiro mineiro Sátiro Dias de Melo que foi muito amigo de Frutuoso.
No ano em que Sales era responsável pelas cargas que entravam e saíam da Fazenda Brasileira, inúmeras famílias insatisfeitas com as condições de trabalho decidiram partir. Com o consentimento do contratante, os colonos recebiam os vencimentos, recolhiam os pertences e eram acompanhados até as margens do Rio Paranapanema, de onde sempre partia alguma balsa com destino ao Estado de São Paulo.
Antes da travessia, colonos e familiares eram assassinados a tiros por jagunços que trabalhavam para os colonizadores. Alguns eram mortos às margens do rio, já outros, abatidos quando estavam de costas, durante a travessia. Segundo relatos de pioneiros, os capangas abriam os corpos das vítimas, extraíam todas as vísceras, enchiam de pedras, costuravam e jogavam no Paranapanema, conhecido pelo enorme cardume de piranhas. As histórias sobre os crimes praticados contra os colonos impediram que muita gente fosse embora da Fazenda Brasileira. Os fatos disseminavam terror e medo.
A morte à espreita no Rio Paranapanema
De vez em quando, alguns migrantes, mesmo cientes do risco, preferiam se aventurar na fuga, o que dá uma ideia da dimensão do padrão de vida subumano imposto aos colonos na Fazenda Brasileira. O pioneiro Natal Francisco viu isso de perto quando deixou Presidente Prudente, em São Paulo, para conhecer o Noroeste do Paraná. Acompanhado pelo irmão José Francisco, guiou um Ford movido a gasogênio até o Porto Ceará, às margens do Rio Paranapanema.
Lá, perguntaram ao balseiro sobre a Brasileira. O rapaz os alertou que deveriam deixar o veículo, caso não quisessem perdê-lo. “Disse também que a gente corria risco de morte vindo pra cá”, informou Natal Francisco em entrevista concedida ao escritor Paulo Marcelo Soares Silva, publicada no livro História de Paranavaí, lançado em 1988. Muitos migrantes chegavam à Fazenda Brasileira partindo de uma estrada que ligava Presidente Prudente, Porto Ceará, Povoado de Cristo Rei, Gleba-1, Piracema e Porto São José.
Depois de oito dias na Brasileira, os irmãos Francisco estavam retornando ao Porto Ceará quando ouviram o som de um acordeão. Surpresos, mas curiosos, adentraram a mata. Antes que vissem qualquer coisa, uma mulher gritou. “Pelo amor de Deus, não mata nóis. Tamo fugindo, mas tamo quase morto.” Mesmo assustados, Natal e o irmão ligaram as lanternas para ver se tinha mais alguém ali. O marido da moça estava caído no chão com a roupa rasgada e uma sanfona sobre o peito todo ensanguentado.
O casal de colonos enganou os jagunços e fugiu da Fazenda Brasileira. Às margens do Rio Paranapanema, improvisaram uma jangada para navegar até o Porto Ceará. Enquanto isso, alguns capangas chegaram até a beira do rio. De lá, atiraram e acertaram o rapaz que sobreviveu com a ajuda dos irmãos Francisco.
Curiosidade
Em abril de 1931, quando o interventor e general Mário Tourinho retomou as terras do Noroeste para o Governo do Estado do Paraná, o interventor estabeleceu por decreto que nenhuma pessoa ou família poderia ter títulos de propriedade que ultrapassassem 200 hectares, iniciando assim uma nova ordem na Fazenda Brasileira.