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Uma população alheia à organização comunitária
Secretário da Ucampar explica porque Paranavaí tem uma estrutura comunitária tão fragilizada
O secretário-geral da União Comunitária das Associações de Moradores de Paranavaí (Ucampar), João Francisco de Paula, é um dos nomes mais emblemáticos da organização comunitária em Paranavaí. Militando na área há 33 anos, acompanhou todo o processo de formação das comunidades locais, mas principalmente das periferias.
De Paula participou da formação das primeiras associações de moradores no final dos anos 1970, numa época em que os movimentos político e comunitário partilhavam os mesmos ideais. Mais tarde, assistiu a dissidência de grupos populares que não se alinhavam mais com as questões partidárias.
“Muitos líderes de bairros foram cooptados politicamente e adquiriram o vício de misturar os interesses do bairro com os próprios”, revela o secretário, acrescentando que quando alguém disputa um cargo de presidente de associação de moradores, já almejando uma candidatura política, corre o risco de priorizar o que não vale a pena ou confundir a própria área de atuação. “Os presidentes naquele tempo não entendiam a organização comunitária”, desabafa.
Em entrevista ao autor deste blog, João Francisco de Paula fala sobre a importância da organização comunitária em Paranavaí, o desinteresse da população, aspectos positivos e negativos das associações de moradores, além de conquistas da Ucampar. Confira alguns trechos:
Como o senhor avalia a organização comunitária em Paranavaí?
A organização comunitária é importante para o avanço dos bairros, embora esteja um pouco estagnada em Paranavaí. Isso acontece porque as lideranças confundem um pouco a sua atuação com a política partidária. Há algum tempo, optei por me afastar da política porque partidos têm interesses próprios, o que acaba prejudicando a comunidade. Precisamos que todos os bairros se organizem, da periferia ou não, porque assim é mais fácil conquistar algo.
Quais são os bairros que estão mais bem articulados?
O Jardim São Jorge é um bairro bem articulado, tem lideranças antigas, pessoas que estão sempre lá ajudando os demais. Depois vem o Sumaré com líderes que também se preocupam com a comunidade.
Como melhorar a organização popular?
As pessoas se reunirem independente de lideranças políticas. Os líderes comunitários precisam buscar apoio e suporte financeiro para executar alguns projetos. É preciso estar em contato constante com o bairro. Só assim se consegue atender as reivindicações.
Sabemos que é comum um líder comunitário vislumbrar uma projeção política. O senhor acredita que isso seja favorável ou prejudicial ao bairro que ele representa?
Não tem porque se ligar em política partidária. A comunidade organizada, ciente do que quer, do que pretende, consegue tudo com facilidade, e é muito melhor se for independente de partido. Mas nada impede que no futuro um companheiro líder de uma comunidade possa disputar um cargo de vereador ou deputado, até porque eu mesmo fiz isso.
Quantos bairros tem representatividade em Paranavaí?
Temos 27 associações de moradores, mas funcionando mesmo não mais que 20. Temos muitas associações que começaram e logo acabaram. Este ano, vamos retomar esse trabalho de mobilização nos bairros. Acho que a organização comunitária pode mudar profundamente a situação da cidade em todos os sentidos.
Em uma comunidade não organizada, o que um morador pode fazer para mudar o cenário atual?
Eu sugiro que reúna pelo menos cinco pessoas e crie uma comissão provisória, prevendo a implantação de um estatuto. Daí é só publicar um edital e reunir interessados do bairro em compor chapas para as eleições. O ideal é que haja vários candidatos. Assim o processo se torna mais participativo e democrático.
O que foi feito para unir mais as associações de moradores?
Estamos tentando reunir as associações em conjunto com a Ucampar. Fazemos assembleias para estimular as lideranças. Explicamos que não se pode fundar uma associação e simplesmente cruzar os braços. Entidade é algo que você cria, estrutura e depois passa para outra pessoa. O poder tem que ser comunitário, de todos.
Desde que foi fundada em abril de 2007, quais as conquistas da Ucampar?
Quando o Wanderlei Giraldes assumiu a presidência já tínhamos um compromisso de realizar eventos para melhorar a movimentação das associações. Ele conseguiu articular esse trabalho e logo lançamos a Campanha de Preservação do Patrimônio Histórico e outra relacionada ao IPTU que teve boa repercussão. Todas as associações participaram. O intuito da Ucampar é fazer com que a comunidade participe das decisões políticas, questionando e reivindicando. Sem participação, não há mudanças.
Quem são os apoiadores?
Os apoiadores da Ucampar são os próprios presidentes de associações. Eu acho que não tem apoiador maior que as próprias lideranças de bairros como entidades independentes, sem ligação com poder público municipal, estadual ou federal. Hoje, Paranavaí cresce do centro para a periferia, mas tem que crescer da periferia para o centro também.
A população de Paranavaí tem consciência da importância da organização comunitária?
Não, e muitas vezes nem as próprias associações. São poucas que têm essa consciência. Há lideres comunitários que se consideram mandatários, a voz do bairro, e não é bem assim. Tem que liderar sim, mas com democracia, discutindo todas as necessidades do bairro, além de propor fiscalizações, acompanhar o trabalho da Câmara Municipal, levar propostas, sugerir projetos e “pegar no pé”.
Quais municípios podem ser citados como referência no assunto?
Acredito que londrina, onde conheci associações com boa organização comunitária. Outros exemplos são Santo André e Diadema, no interior de São Paulo, que atuam na gestão participativa; significa participação direta na administração com propostas e discussões. São alguns exemplos de exercício de cidadania.