Archive for the ‘Ativismo’ tag
Ativista vegana é eleita para assumir vaga na Assembleia Legislativa de Karnataka
Na quarta-feira, a ativista vegana Sowmya Reddy, de 35 anos, foi eleita para compor a Assembleia Legislativa de Karnataka, no sul da Índia, conhecida como uma assembleia conservadora que sempre foi composta basicamente por homens – inclusive ela foi a única mulher eleita para ocupar uma vaga na AL.
Na Índia, Sowmya é uma conhecida ativista dos direitos animais e defensora do veganismo que ao longo de três anos fez parte do Conselho Nacional de Bem-Estar Animal. Em 2015, ela e o marido Abhishek Raje Wiki oficializaram a relação com um casamento vegano:
“Temos que voltar ao básico. Carregar sacos de pano e garrafas de aço em nossos carros ou bolsas. É assim que as gerações anteriores viviam. Embora seja necessário algum esforço, é uma escolha que acho que todos precisamos fazer para cumprir nossa responsabilidade cívica.”
Ativistas filmam espancamento de porcos em matadouro na Inglaterra
“Eles estavam abusando dos animais que já estavam aterrorizados”
Na segunda-feira, dez ativistas do Save Movement, de Sheffield, na Inglaterra, estavam participando de uma vigília com duração de três horas em frente ao matadouro Bramall & Son quando testemunharam a chegada de 10 a 12 caminhões que transportavam porcos, ovelhas, bois e vacas.
Na ocasião, Jordan Heart e outros ativistas ouviram gritos partindo do pátio. Quando chegaram ao local, testemunharam um funcionário do matadouro chutando um porco que gemia e gritava. As cenas foram filmadas e compartilhadas pelo Sheffield Animal Save.
“Eles estavam abusando dos animais que já estavam aterrorizados. Ficamos chocados com a possibilidade de chutarem e abusarem dos animais, especialmente porque os fazendeiros alegam que se preocupam com os seus animais”, declarou Heart.
Após o abate, antes de deixarem o local, os ativistas viram partes dos animais, antes amedrontados, serem jogadas em uma caçamba de lixo do lado de fora do matadouro. O Save Movement é conhecido por acompanhar e registrar a realidade dos matadouros, principalmente o abate de porcos, bois, vacas, frangos, galinhas, ovelhas e de outros animais. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre a realidade da produção de alimentos de origem animal.
Aos 63 anos, Diane Gandee Sorbi pode ser condenada a cinco anos de prisão por resgatar animais da morte
“Depois de me tornar vegana, eu sabia que tinha de fazer mais do que simplesmente não participar da exploração animal”
Aos 63 anos, a ativista vegana Diane Gandee Sorbi, que faz parte da rede de direitos animais Direct Action Everywhere (DxE), se dedica a resgatar animais da morte nos Estados Unidos. Em janeiro de 2017, ela e mais cinco ativistas entraram em uma fazenda industrial em Moroni, Utah, onde haviam dezenas de milhares de perus amontoados em espaços imundos, repletos de fezes. Parte dos animais não conseguia nem mesmo se manter em pé. Diante da situação, Diane e outros ativistas resgataram alguns animais feridos, na tentativa de salvá-los da morte.
A ação foi denunciada e considerada criminosa pela procuradoria-geral de Utah. Por isso, Diane e mais cinco ativistas vão a julgamento esta semana. A aposentada, que passa a maior parte do tempo fazendo trabalho voluntário em abrigos para animais, corre o risco de ser condenada a cinco anos de prisão. “Depois de me tornar vegana, eu sabia que tinha de fazer mais do que simplesmente não participar da exploração animal. Comecei a panfletar e a ir para as ruas. Tive muitas conversas ótimas com pessoas que queriam mudar, mas muitas vezes eu desanimava com a frequência com que alguém dizia que já sabia o que acontecia com os animais e não se importava”, relata em entrevista a Rachel Waite, do DxE Grand Rapids.
Um dia, depois de assistir a uma palestra na DxE House sobre as diferenças na abordagem à defesa animal, ela percebeu que a criação de mudanças sistêmicas pode surtir mais efeito do que as conversas individuais sobre veganismo. “Fiz algumas leituras sobre o que havia sido mais eficaz em movimentos passados de justiça social e decidi dedicar a maior parte do meu tempo a trabalhar com o DxE”, informa.
A primeira experiência de Diane fazendo um discurso em local público, segurando um megafone, é considerada por ela como das mais inesquecíveis. “Foram momentos empoderadores. Sempre fui um pouco tímida e saía do caminho para evitar confrontos. [Então] eu disse a mim mesma que isso era pelos animais e me empurrei para fora da minha zona de conforto”, revela.
Desde que ouviu pela primeira vez a história de um resgate de animais criados para consumo, Diane Sorbi teve vontade de ir a campo. Em 2015, ela participou de um treinamento de resgate animal. “Uma experiência muito poderosa. Segurei um doce peru em meus braços e o levei para um lugar seguro, ciente de que há alguns anos uma de suas irmãs estaria no meu prato [no feriado] de Ação de Graças. Foi um momento emocional cheio de arrependimento e reconciliação”, garante.
Sobre as motivações para seguir em frente, apesar das adversidades como o risco de prisão, ela simplifica: “Os animais. Enquanto eu viver, trabalharei pela liberdade deles. E também, os outros ativistas. Estar cercada de pessoas maravilhosas e atenciosas que dedicam inúmeras horas para tornar o mundo um lugar melhor é uma inspiração constante.”
Questionada sobre o que a mantêm na luta pela libertação animal, ela explica que simplesmente porque todo mundo tem direito à sua própria vida e a viver seguro e livre da exploração. Com a experiência de quem não pretende desistir do ativismo tão cedo, Diane Gandee Sorbi dá algumas dicas para os novos ativistas: “Meu melhor conselho é se manter envolvido. Se um tipo de ativismo não der certo, tente outro. Precisamos do máximo possível de mãos nessa luta, e toda defesa da causa tem o seu valor. Faça o melhor que puder, e tente evitar criticar o trabalho de outras pessoas com as quais você pode não concordar. Se estiver interessado em resgate, participe de um treinamento. Há muitas formas de ajudar, incluindo trabalhos importantes em pesquisa e imprensa.”
Referência
Waite, Rachel. Why DxE Wednesday V: Diane Gandee Sorbi. DxE Grand Rapids (MI).
Produtor de leite diz que ativistas veganos podem arruinar a indústria de laticínios
Na sexta-feira, o ativista vegano australiano Joey Carbstrong publicou um vídeo em seu canal no YouTube em que um produtor de leite diz que os ativistas veganos podem arruinar a indústria de laticínios. Diante da situação, Carbstrong comentou: “Bem, é isso que estamos tentando fazer.”
O ativista acrescenta que o objetivo não é deixar quem atua no ramo sem trabalho, mas sim pôr um fim à exploração e ao abuso praticado contra os animais. O que significa que o melhor caminho seria migrar para uma atividade agrícola que não envolva a exploração e a criação de animais para consumo.
O fazendeiro afirma que toda “a comunidade foi construída sobre as costas de uma vaca”, e que os ativistas estão tentando destruir isso. Quando Carbstrong pergunta ao fazendeiro onde está a escolha da vaca assim que, depois de ser explorada exaustivamente, ela é enviada ao matadouro e reduzida a pedaços de carne, o homem responde: “Nós não vivemos em um mundo perfeito, camarada.”
39 ativistas veganos foram presos nos EUA por tentarem resgatar galinhas doentes de uma fazenda industrial
Esta semana, 39 ativistas veganos foram presos após um grande protesto em frente à Sunrise Farms, em Pataluma, na Califórnia. Cerca de 500 ativistas participaram da vigília organizada pela rede em defesa dos direitos animais Direct Action Everywhere (DxE). Os organizadores informaram que a ação foi uma tentativa de “destacar a inação corporativa do governo diante da crueldade contra os animais”.
Os ativistas, que usavam equipamentos de biossegurança aprovados por veterinários, alegaram que eles tinham o direito legal de entrar na fazenda industrial voltada à produção de ovos para cuidar de 37 galinhas doentes e feridas. Mas autoridades locais discordaram e prenderam 39 ativistas por invasão de propriedade.
“Essas aves são criaturas vivas, não coisas, mas a Amazon.com e outros grandes varejistas as tratam como commodities. Seja o foie gras, as peles de animais ou a parceria com as fazendas industriais, a Amazon está enviando crueldade para milhões de lares”, criticou o investigador do DxE, Priya Sawhney.
O cofundador da rede Direction Action Everywhere e ex-professor de direito da Universidade Northwestern, Wayne Hsiung, afirmou que os estadunidenses não querem ver os animais explorados pelo sistema alimentar. Porém, segundo Hsiung, nenhuma ação foi tomada depois que eles apresentaram filmagens de crueldade contra os animais às autoridades e ao Amazon.com.
“Quando os americanos veem o que está acontecendo atrás das portas das fazendas industriais, eles sabem que isso vai contra seus valores, mas enquanto as corporações controlarem nosso sistema alimentar – incluindo o envio dos denunciantes para a prisão – não teremos um sistema alimentar com integridade. [Mas] essa ação vai acabar com o poder deles”, garantiu. A Sunrise Farms negou todas as acusações feitas pelo DxE.
Referência
Ativistas dos direitos animais intensificam táticas de guerrilha na França
A organização L214 tem se inspirado nas ações do ativista belga Henry Spira
Durante anos, o movimento dos direitos animais, desprezado tanto por políticos quanto pelo público na terra do foie gras, lutou para ganhar força na França, maior produtor e consumidor de carne vermelha da Europa, onde um bilhão de animais são executados nos matadouros.
“O bem-estar animal nunca foi realmente uma causa bem vista pelos políticos franceses, embora o público concorde que os animais não devem ser maltratados”, diz Sébastien Arsac, cofundador de uma das organizações de direitos dos animais mais populares do país, a L214 Éthique & Animaux.
Então, quando Arsac e a cofundadora da organização, Brigitte Gothière, ouviram Emmanuel Macron, agora presidente, prometer salvaguardar direitos básicos para o bem-estar animal durante a campanha eleitoral de 2017, eles acharam que haviam encontrado um aliado. Macron prometeu exigir a instalação de circuito interno de televisão em matadouros e proibir a venda de ovos de galinhas criadas em gaiolas até 2022, que são duas prioridades da L214.
Mas enquanto os legisladores franceses estão debatendo uma lei sobre agricultura e nutrição esta semana, o governo de Macron recuou em relação às suas antigas promessas de campanha, frustrando as esperanças da L214 de fazer incursões com o apoio de líderes políticos.
Por isso, seus ativistas, se espelhando em outros países, incluindo os Estados Unidos, estão intensificando uma campanha de táticas de guerrilha na esperança de chocar o Parlamento e alterar a lei proposta pelo governo.
Recentemente, a L214 lançou uma série de vídeos gravados clandestinamente que mostravam a enorme falta de higiene nas granjas e as terríveis condições em que as galinhas são mantidas – onde há registros de aves arrancando as penas uma das outras e pisoteando cadáveres apodrecidos dentro de suas gaiolas.
A inspiração para essa tática veio de Henry Spira, o ativista belga que emigrou para os Estados Unidos e abraçou a causa dos direitos animais há quase 50 anos. Spira costumava procurar empresas e instituições para conversar sobre o tratamento dispensado aos animais, mas quando isso não funcionava, ele recorria às denúncias de maus-tratos baseadas em registros que ele mesmo fazia. Então as publicava em forma de anúncio nos jornais.
Gothière e Arsac disseram em entrevista ao New York Times que sua organização faz parte do legado do ativista Henry Spira, falecido em 1998. Eles fundaram a L214, a nomeando após a publicação do artigo do código rural francês que define os animais como seres sencientes que devem ter seus direitos respeitados.
Com 50 funcionários e dois mil voluntários por toda a França, a organização tenta dialogar com empresas e instituições, mas quando isso não funciona, eles recorrem à má publicidade baseadas em investigações e registros de denúncias, assim como Spira. Embora as conquistas ainda sejam modestas, a L214, com o apoio do clamor público, conseguiu fechar dois frigoríficos que abatiam vacas, ovelhas e cavalos semiconscientes.
Uma das campanhas mais conhecidas do grupo teve como alvo o “produtor premium” de foie gras, Ernest-Soulard, acusado de torturar gansos após o vazamento de um vídeo de 2013 que mostra aves feridas e angustiadas. No primeiro julgamento, Ernest-Soulard foi inocentado, mas aclamados chefes de cozinha como Joël Robuchon e Gordon Ramsay pararam de comprar seus produtos.
“Como Spira, nosso objetivo é dar um passo de cada vez”, comentou Gothière em entrevista ao New York Times, citando o julgamento de Ernest-Soulard e a proibição dos ovos de galinhas criadas em gaiolas em bateria como exemplos de avanços que não resolvem a situação, mas ajudam a reduzir o sofrimento dos animais.
A Elian Peltier, do NYT, o filósofo australiano Peter Singer, que era amigo de Spira, e está publicando uma biografia sobre a vida do ativista, falou que por muitos anos a França foi um pouco atrasada na sua forma de encarar os animais. Mas reconheceu que a L214 fez progresso com base nos métodos de Spira, que mostrou que o movimento em defesa dos animais tem condições de triunfar sobre grandes corporações e veneradas instituições.
Nos últimos dois anos, a L214 levou dezenas de cadeias de supermercados francesas a se comprometerem a pararem de vender ovos de galinhas em gaiolas em bateria até 2022 ou 2025. No mundo todo, inclusive nos Estados Unidos, grandes empresas de alimentos se comprometeram a comercializar os chamados “ovos livres”.
No entanto, os métodos da L214 não conseguiram convencer os políticos franceses, e suas demandas enfureceram muitos que veem nos produtos de origem animal um elemento vital da cultura e da economia da França. Ao contrário de vários outros países europeus, como Portugal, Espanha e Holanda, a França não tem partidos políticos que fizeram do bem-estar animal uma prioridade.
Como um sinal de que a L214 está lutando uma batalha contra políticos, a maioria dos legisladores optou por ignorar a convocação da instalação de circuito fechado de televisão em matadouros. “Que tipo de espiral descendente enfrentaremos se começarmos a filmar os funcionários?”, defendeu Sandrine Le Feur, fazendeira e legisladora do partido de Macron, no canal de televisão LCP, que faz oposição a L214.
Até agora, a Grã-Bretanha é a única na Europa com planos de tornar as TVs de circuito fechado obrigatórias em todos os frigoríficos até 2018. O senhor Moreau, ex-gerente de um matadouro e pecuarista que divide seu tempo entre o Parlamento em Paris e sua fazenda na região de Creuse, no centro da França, onde mantém 100 vacas, disse que se recusou a negociar com a L214, que ele chamou de “organização extremista que prejudica os fazendeiros com métodos fascistas “.
Suas críticas à L214 ecoaram uma animosidade generalizada entre os profissionais da indústria da carne, que alegam que as práticas denunciadas pela organização representam a realidade de uma minoria de matadouros. “A causa da L214 não é o bem-estar animal, mas a abolição da criação de animais”, disse Marc Pagès, diretor da Interbev, uma organização nacional de profissionais de carne e gado.
Pagès e Moreau argumentaram que a prioridade é outra. “O fim da pecuária resultaria na extinção de qualquer vida no campo”, exagerou Moreau. De fato, os objetivos finais da L214 seriam revolucionários. A Sra. Gothière declarou a Elian Peltier que apenas uma sociedade vegana seria um sucesso, mas os pequenos passos já são um progresso.
“Quando vejo como nossas sociedades ainda estão lutando contra o racismo ou o sexismo, não estou muito otimista de que verei o fim do especismo em minha vida. Mas também não estou desesperada”, acrescentou.
Referência
Moby vai parar de fazer turnês para se dedicar a atividades como o ativismo em defesa dos animais
“Nada disso é lucrativo, mas é muito mais satisfatório”
Em entrevista à matéria “Moby: on drugs, depression and coming close to suicide: ‘I didn’t want to die in a garbage bag”, publicada no Daily Telegraph na última quarta-feira, o músico vegano Richard Melville Hall, mais conhecido como Moby, revelou que vai parar de fazer turnês para se dedicar a atividades como o ativismo em defesa dos animais.
“Estive em turnê por tanto tempo, e há tantas outras coisas para se fazer na vida. Ficar em casa e sair para caminhar, jantar com os amigos, trabalhar com a política, o ativismo [em defesa dos animais] e a música, e dormir na minha própria cama, e acordar toda manhã e fazer um smoothie”, disse.
Recentemente, Moby fez uma parceria com o mercado digital Reverb.com para vender 100 peças de seu equipamento musical para beneficiar o Comitê Médico Pela Medicina Responsável dos Estados Unidos, que ajuda a disseminar o vegetarianismo e o veganismo nos Estados Unidos. Ele também tem realizado importantes eventos que ajudam a difundir cada vez mais uma filosofia de vida livre da exploração animal.
Outro exemplo é a idealização do festival anual de música vegana “Circle V”, realizado em Los Angeles desde 2016 em parceria com o baixista da banda No Doubt, Tony Kanal. “Nada disso é lucrativo, mas é muito mais satisfatório”, garante Moby.
Referência
McLean, Craig. Moby: on drugs, depression and coming close to suicide: ‘I didn’t want to die in a garbage bag. Dailty Telegraph (23 de maio de 2018).
Ativistas veganos podem enfrentar 60 anos de prisão por livrarem dois leitões da morte nos Estados Unidos
Ontem, o gabinete do procurador-geral de Utah, nos Estados Unidos, apresentou acusações contra cinco ativistas veganos que invadiram uma fazenda industrial em Mildford para resgatarem dois leitões da morte. Segundo os ativistas do grupo Direct Action Everywhere (DxE), os animais, com idade de três semanas, estavam vivendo em situação degradante.
“Porcos bebês estão sofrendo mutilação, fome e abuso em Smithfield, e a empresa não quer que o público saiba disso”, declarou o co-fundador do DxE, Wayne Hsiung, um dos cinco acusados de invadir a Smithfield Food’s Circle Four Farms em Mildford, no condado de Beaver, em Utah. Em sua defesa, a Smithfield negou todas as acusações feitas pelo DxE.
O que ajudou a identificar os suspeitos de participarem da ação foi um vídeo de 11 minutos gravado pelos próprios ativistas, registrando a ação de resgate. O material foi obtido pelo FBI. Com base nas acusações, os cinco ativistas podem ser condenados a 60 anos de prisão.
Referência
Charlotte Despard, a ativista que não achava certo lutar pelos direitos das mulheres e ignorar os direitos dos animais
Nascida em 14 de junho de 1844, a britânica Charlotte Despard foi uma ativista política, sufragista, pacifista e defensora dos direitos dos animais. Ela acreditava que não era certo defender os direitos das mulheres e dos trabalhadores e ao mesmo tempo ignorar o fato de que animais eram explorados e mortos em grandes quantidades para atender vícios alimentares humanos. Além disso, fazia ferrenha oposição à vivissecção. O que a levou para o vegetarianismo foi o trabalho do poeta romântico britânico Percy Shelley, defensor do vegetarianismo ético e autor dos ensaios “A Vindication of Natural Diet” e “On The Vegetable System of Diet”. Mais tarde, o posicionamento de Charlotte a favor da não violência não apenas contra seres humanos, mas também contra animais, ganhou força após um encontro com Mohandas Gandhi em 1909.
A ativista britânica tinha tudo para levar uma vida tranquila sem se preocupar com os interesses dos menos desafortunados, fossem eles animais humanos ou não; isto porque ela era de uma família de classe alta, e em 1870 casou-se com um homem igualmente abastado – Maximilian Carden Despard, um empresário anglo-irlandês que tinha negócios no Oriente. Porém, viver imersa nessa realidade, ignorando o que acontecia com quem não tinham tais privilégios, não era o seu ideal de vida.
Após a morte do marido em 1890, ela se engajou cada vez mais em causas sociais e políticas. Seus olhos se abriram completamente para a realidade da pobreza e do sofrimento dos seres humanos e dos animais. Em 1892, ela foi eleita para compor o Kingston Poor Law Board, em Londres, supervisionando as condições de vida dos trabalhadores assalariados. Na região Sul de Londres, ela ficou chocada com a realidade das mulheres. Foi isso que a fez enxergar com maior rigor a importância do sufrágio feminino, inclusive se tornando uma das ativistas mais importantes do movimento – sendo presa duas vezes no distrito londrino de Holloway.
Charlotte se tornou sufragista em 1900, um ano depois que se converteu à teosofia. Em 1907, fundou a Women’s Freedom League, uma organização que lutava pelos direitos das mulheres e dos animais, com ações ilegais não violentas. O seu engajamento era tão grande que ela passou os primeiros cinco meses após a fundação da liga percorrendo a Inglaterra em uma caravana, encontrando membros, buscando filiações e dando palestras aos apoiadores. À frente dessa liga, a ativista britânica montou oficinas para a produção de roupas para a população carente e abriu restaurantes vegetarianos em Londres e em algumas províncias. As roupas confeccionadas pela WFL eram projetadas por Charlotte.
Ela também criou bancos de leite materno, clínicas de maternidade e um albergue sem qualquer custo onde as crianças poderiam se hospedar por até três meses enquanto suas mães se recuperavam de um parto ou alguma doença. A Women’s Freedom League, liderada por Charlotte, promovia a alimentação vegetariana e administrava um hospital com 50 leitos que ela construiu com dinheiro do seu próprio bolso. Além disso, fundou o Despard Arms em Hampstead Road, em Londres, um local onde eram servidas refeições e bebidas não alcoólicas.
A WLF possuía um jornal que visava atrair apoio para a causa sufragista. Intitulado “The Vote”, também ajudava a divulgar o vegetarianismo. Um exemplo é uma foto de uma edição de 1910 em que a senhora Agnes Leonard, secretária honorária da filial de Sheffield, aparece preparando um jantar vegetariano – sendo apontada como uma “perita em culinária vegetariana”. Esse registro é um exemplo de como Charlotte Despard promovia o vegetarianismo na Liga dos Direitos das Mulheres. Em janeiro de 1911, ela financiou a palestra “A Ética da Reforma Alimentar”, de Dan Hamilton, um vegetariano bastante respeitado à época.
“Perto do final de 1912, a filial de Edimburgo informou que uma demonstração extremamente interessante de culinária vegetariana foi dada por Miss MacDonald (de Glasgow), assistida por membros da Sociedade Vegetariana de Edimburgo”, registrou Leah Leneman, na página 272 da obra “The awakened instinct: vegetarianism and the women’s suffrage movement in Britain”, publicada pela Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, em 1997. A senhora MacDonald era membro da organização fundada por Charlotte Despard.
Como pacifista, a ativista britânica criou o grupo Women’s Peace Crusade, ou A Cruzada das Mulheres pela Paz, e fez campanha contra a Primeira Guerra Mundial e a Guerra dos Bôeres. O que mais a incomodava era o recrutamento de jovens para a guerra, porque sabia que muitos deles eram vulneráveis e miseráveis sem qualquer entendimento do que os aguardava. Charlotte entendia que a guerra trazia ainda mais desgraças para os mais pobres, porque aqueles que morriam na guerra sempre deixavam algum familiar desolado, desamparado ou à mercê da própria sorte – ou azar. Nesse período, ela fez franca oposição ao seu irmão John French, que era chefe do Estado-Maior do Exército Britânico e comandante da Força Expedicionária Britânica.
Charlotte Despard também era muito ativa no Partido Trabalhista inglês e foi selecionada como candidata por Battersea North em 1918, recebendo um terço dos votos. Uma das marcas inconfundíveis da ativista britânica era uma mantilha de renda preta que ela usava o tempo todo. Sempre se vestia com simplicidade, usando somente roupas pretas e sandálias. Ao longo de décadas, organizou e participou de muitas manifestações e protestos – falando inclusive para multidões de homens, não apenas de mulheres. Ela era abertamente uma anti-vivisseccionista – lutava pelo banimento das experiências com animais em laboratórios, considerando esse tipo de prática um ato de crueldade contra seres vulneráveis. Em 1931, ela se tornou vice-presidente da Sociedade Vegetariana de Londres, um ano depois que foi convidada a ingressar no Conselho Executivo do Congresso Mundial da Fé.
Em 1921, Charlotte se mudou para a Irlanda, mas continuou viajando por Londres e por toda a Europa fazendo ativismo. Na década de 1930, com mais de 90 anos, ela ainda participava de manifestações antifascistas. Charlotte Despard, a ativista que defendia os direitos das mulheres, dos trabalhadores e dos animais – na realidade, dos desafortunados em geral, independente de tipo e espécie, faleceu em 10 de novembro de 1939 aos 95 anos em sua casa perto de Belfast, na Irlanda do Norte – depois de mais de 50 anos de ativismo.
Referências
Leneman, Leah. The awakened instinct: vegetarianism and the women’s suffrage movement in Britain. Página 272. Universidade de Edimburgo, Reino Unido (1997).
Linklater, Andro. For Mrs Despard. An Unhusbanded Life. Londres (1980).
Charlotte Despard. Women Working for Peace. Peace Pleadge Union Project. The Men Who Said No.
Charlotte Despard. Battersea Arts Centre. Digital Archive.
Charlotte Despard. The Open University. Making Britain.
Breve reflexão sobre ativismo e veganismo
Acredito que é sempre mais interessante as pessoas fazerem ativismo da forma que melhor condiz com suas personalidades, com quem são. Pra mim o mais importante é ser você mesmo, basear-se em suas boas características e potencialidades para conscientizar e sensibilizar pessoas. Claro, creio que uma pessoa pode sempre aperfeiçoar suas competências. Porém, não acredito em tal coisa como uma fórmula eficaz de ativismo a ser seguida por todo mundo, e exatamente porque pessoas são diferentes – tanto quem emite uma informação quanto quem recebe. Afinal, seres humanos não são conscientizados e sensibilizados pelas mesmas razões. Pra mim o mais importante é a honestidade em relação ao que se faz. Isso sim faz a diferença na minha opinião. A única sugestão que faço é ter ponderação, não se deixar dominar pela passionalidade.