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Quando o punk rock transforma vidas
Banda finlandesa formada por portadores de síndrome de down e autismo usa o gênero como forma de conscientização
Pertti Kurikan Nimipäivät é uma banda finlandesa de punk rock old school formada em 2009 por quatro homens com mais de 40 anos que sofrem de síndrome de down e autismo. Apesar das dificuldades e adversidades que tiveram de enfrentar para se tornarem músicos, perseveraram e lançaram em 2010 o split Ei yhteiskunta yhtä miestä kaipaa em parceria com a banda Kakka-hätä 77.
Na sequência, gravaram o single Päättäjä on pettäjä e os EPs em vinil Osaa eläimetkin pieree, de 2011, que faz parte da coletânea Punk & Pillu (da Mauski Records), e Asuntolaelämää, de 2012, ano em que lançaram também o primeiro álbum, intitulado Kuus kuppia kahvia ja yks kokis. Após a duradoura parceria com as gravadoras Airiston Punk-Levy e Hikinauhat Records, o Pertti Kurikan Nimipäivät assinou um contrato com a Sony Music e lançou no dia 13 de janeiro o single Aina mun pitää.
Distante das novas tendências do rock, o Pertti Kurikan Nimipäivät tem como principais influências alguns grupos do cenário underground que entraram para a história do punk rock finlandês há 30 anos ou mais. Exemplos são as bandas Karanteeni, Kollaa kestää, Ratsia, Sensuuri, Eppu Normaali, Ypö-Viis e Pelle Miljoona ym.
Mesmo trabalhando com uma proposta pessoal e diferenciada de conscientização sobre a síndrome de down e o autismo, a banda que usa a música como forma de manifesto só começou a ganhar boa visibilidade na Europa em 2012, quando os documentaristas Jukka Kärkkäinen, J-P Passi e Sami Jahnukainen lançaram o filme The Punk Syndrome.
Inspirado no cinema-verdade, o documentário não recorre a comentários e posicionamentos de especialistas para despertar a conscientização sobre os problemas dos integrantes. Muito menos tenciona ser um baluarte institucional ou a favor de alguma organização não-governamental. É um filme que surpreende pela simplicidade e maneira bem-humorada de destacar que a música pode ser o principal combustível motivador na vida das pessoas.
Nesse contexto, a célebre frase de Nietzsche que dizia que a vida sem música seria um erro se aplica ao gênero punk rock no universo pessoal e coletivo de Pertti Kurikka (guitarrista e compositor), Kari Aalto (vocalista e letrista), Sami Helle (baixista) e Toni Välitalo (baterista).
Ao mesmo tempo que é revelador, The Punk Syndrome consegue ser dúbio, enigmático e subjetivo. Não há explicações para muitas das situações registradas no filme justamente porque os autores preferem deixar aos espectadores à livre interpretação. No documentário, o punk rock é uma entrada e uma saída. A entrada para um mundo de liberdades e de manifestações sensoriais longe de regras e padrões. É também uma saída de um mundo de pré-conceitos, privações, limitações inconclusivas e diagnoses obtusas.
A banda cresce ao longo do filme e ganha luz numa grande projeção de entendimento e esclarecimento. Há uma gradação do princípio da obscuridade para um reencontro com a luminância. O que ratifica a ideia é o momento em que Pertti, Kari, Sami e Toni começam a se apresentar fora da Finlândia, sua terra natal.
Há que se ponderar também sobre o fato de que ainda é gritante a diferença entre como um autista ou portador de síndrome de down se vê e como nós os vemos. Talvez ainda nos falte a sensibilidade de enxergar as suas potencialidades de forma mais justa, honesta e menos piedosa.
The Punk Syndrome foi premiado na Finlândia, Suíça, Estados Unidos e Ucrânia. Recebeu elogios de revistas como Variety e Empire, além do jornal britânico The Observer. Por enquanto, a meta do Pertti Kurikan Nimipäivät é se apresentar no EuroVision, um dos maiores festivais de música da Europa. A banda disputa uma das vagas com outros 17 classificados.
Conheça o som da banda:
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