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Acidente numa noite de outono   

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As únicas luzes eram dos faróis danificados que iluminavam algo que eu não enxergava

Avenida Parigot de Souza, onde meu carro foi atingido e perdi o controle da direção (Foto: David Arioch)

Avenida Parigot de Souza, onde meu carro foi atingido por uma caminhonete preta (Foto: David Arioch)

Em junho de 2013, eu retornava para casa quando uma caminhonete preta em alta velocidade bateu no para-choque traseiro do meu carro na Avenida Parigot de Souza. Com o impacto violento e o som dos estilhaços, levei um baita susto. Só tive tempo de me esforçar para tentar manter o controle da direção, evitando que o veículo se chocasse contra uma carreta estacionada a poucos metros da entrada da Rua John Kennedy.

Depois do acidente, fiquei com a impressão de que bati em uma caçamba. Olhei para o meu irmão e perguntei se ele estava bem. Como ninguém tinha se machucado, desci do carro e não consegui entender o que aconteceu. Era como se não existisse mais nada diante de mim além da noite tenebrosa de outono. As únicas luzes eram dos faróis danificados que iluminavam algo que eu, desorientado, não enxergava naquele momento por causa da neurastenia.

Não vi casas, muros, pessoas, animais, nada. Só reconheci o som da minha própria mente, mais ruidosa do que nunca. Enleado, não me dei conta do estado do meu carro. Na esquina, a caminhonete continuava parada e dentro dela vi somente uma sombra sob o vidro escuro quase fechado. Me senti muito mal e, rendido a um desespero progressivo, notei meu corpo ligeiramente alheio à minha mente. Com pernas cambaleantes, voltei para o carro. Então meu irmão gritou que o motorista da picape fugiu. “Vamos atrás dele, David! Ele vai fugir!”, disse.

Liguei a chave do carro com a mão trêmula. Atravessei mais quatro quarteirões da Parigot de Souza quando a caminhonete a mais de 100 quilômetros por hora desapareceu no horizonte da Avenida Tancredo Neves. Com a visão turva, sem qualquer possibilidade de ver a placa, parei o carro ao final da Parigot, desci e levei às mãos ao rosto que ardia como se eu tivesse chocado a minha própria face contra o asfalto.

Meus sentimentos não estavam claros – tristeza, desalento e descrença no que vivi. Eu sentia tudo e ao mesmo tempo nada. Havia um vazio que me queimava por dentro como se meu interior fosse habitado pela mais excruciante das úlceras. “Será que estou acordado?”, pensei e pisquei com força três ou quatro vezes antes de entrar no meu carro novo ainda sem placa, comprado uma semana antes. Recebi algumas propostas de seguro na concessionária e fiquei de decidir qual escolheria no dia seguinte. Era tarde demais.

Sem música, voltei para casa ouvindo o som estrepitoso do veículo. Era agonizante, e o barulho se intensificava a cada quarteirão como panelas e talheres pendurados que balouçam com a incidência do vento. Meus olhos se encheram de lágrimas e o cheirinho de novo se desvaneceu. Dezenas de curiosos a pé e dentro de automóveis olhavam com atenção, na tentativa de interpretar o acontecido e talvez propagar suas versões de predição.

Chegando em casa, abri o portão e coloquei o carro para dentro. Não queria que vizinhos e passantes se aproximassem porque provavelmente multiplicariam boatos – a história mudaria de acordo com o anseio do narrador. Na garagem, vi como ele estava avariado, mais danificado do que eu pensava. Enquanto eu caminhava ao redor do carro, tentava entender por que o motorista da caminhonete fugiu e não assumiu a responsabilidade pela batida. Aquilo era o pior de tudo.

“Como ele conseguiu assistir tudo e ir embora como se nada tivesse acontecido? Que tipo de consciência uma pessoa assim pode ter? Será que é possível dormir bem? Talvez eu esteja enganado e ele me procure amanhã. Preciso ter calma…”, inferi. Em poucos minutos, ouvi vozes em frente ao Corpo de Bombeiros, inclusive uma referência à batida no cruzamento da Avenida Parigot de Souza com a Rua John Kennedy. Fui até lá. Havia bombeiros e outras pessoas.

Um dos homens disse que bati no carro dele e fugi. Notei olhares repreensíveis. Entre voz remansosa e agitada, tentei explicar que fui atingido por uma caminhonete e, em meio à escuridão, quando meu irmão mostrou que o responsável pelo acidente fugia, só pensei em ir atrás dele. Não imaginei que tivesse atingido outro carro. Por causa do impacto seco que não visualizei, achei que fosse uma caçamba.

E, assim como qualquer outra pessoa motivada pelo desespero, tentei anotar pelo menos a placa do veículo do causador. Não consegui. Ele saiu ileso e só quem me conhecia acreditou na minha história. Apesar de tudo, concordei em ir com o proprietário do outro carro até o 8º Batalhão da Polícia Militar na manhã do dia seguinte registrar o boletim de ocorrência.

Contei e escrevi exatamente o que vivi. No caso dele, não sei qual foi sua versão. Porém, só eu, meu irmão e o motorista da caminhonete estávamos naquela rua no momento do acidente. O carro atingido estava estacionado na rua. Não havia mais ninguém por perto. Retornei ao local na mesma manhã para avaliar seu prejuízo e levei um funileiro que eu considerava de confiança para fazer o orçamento.

Na primeira noite, acordei de madrugada e fui até a garagem me certificar dos danos. Sim! Era tudo verdade! Tive pesadelos por algumas noites. E envolviam situações em que eu tentava me aproximar da caminhonete preta e ela se desvanecia como se fosse a própria neblina arredia da madrugada caliginosa.

Meu coração palpitava com ferocidade conforme a picape se distanciava. Num desses rompantes oníricos, a picape se entranhou nas profundezas da terra e o asfalto se fechou impedindo a minha entrada. Outra vez minha imaginação fez uma associação com Christine, O Carro Assassino, de John Carpenter.

Passei duas semanas em vão tentando localizar a caminhonete. Percorri mais de 20 funilarias, pedi ajuda de amigos. Nada adiantou. Recorri até ao sistema de monitoramento de câmeras da prefeitura. Infelizmente, cobria somente a região central.

Aceitei a minha derrota e desisti. Como precisei de um bom tempo até reunir o dinheiro para custear o conserto do outro carro atingido na batida, o proprietário ficou impaciente, achou que eu não pagaria e recorreu a um advogado. Um dia, recebi uma proposta de acordo de um escritório de advocacia.

E o que mais me chamou a atenção era que lá constava que atingi seu carro enquanto eu disputava racha com outro veículo. Só consegui sentir um misto de tristeza e constrangimento, tanto que tive de reler três vezes para crer. Eles acusavam alguém com 29 anos, que nunca recebeu nenhuma multa por excesso de velocidade, de ser participante de rachas.

E para piorar, eu soube por meio de parentes que alguns de seus familiares estavam espalhando calúnias sobre mim. Ok. Não quis checar a veracidade disso. Somente lamentei e logo deixei de me importar. Dentro do prazo que me ofereceram, efetuei a transferência do dinheiro e evitei falar abertamente sobre o assunto com outras pessoas. Quando questionado, parei de me justificar e deixei cada um com suas interpretações. Afinal, minha consciência é a minha, não a dos outros.

Do motorista da caminhonete, eu jamais soube coisa alguma. Só imaginei como deve ser horrível conviver com a preocupação de que sempre que algum carro igual ao meu se aproximar, ele há de suspeitar que eu esteja lá dentro e, no seu ideário desconhecido, o culpando pelo acontecido. E quem garante que o causador do acidente não seja um conhecido?

A experiência não foi totalmente ruim. Endossei a crença do que eu não gostaria de ser ou fazer com os outros. Acredito que se o dinheiro se tornar mais importante do que a minha capacidade de empatia, provavelmente deixo de ser quem sou, perdendo a minha identidade e tornando-me um refém da empáfia.

E fui colocado à prova no ano seguinte. Em novembro de 2014, eu estava em frente a um mercado quando um motorista bateu à esquerda do meu carro e seguiu ziguezagueando pela rua. Quando vi o amassado pelo retrovisor, fui atrás dele. Sinalizei para que parasse e ele encostou o seu Corcel II bem deteriorado, com o escapamento arrastando no asfalto.

Desci e caminhei em sua direção. Embriagado, o sujeito mal falava. Sua esposa também desceu e expliquei que ele bateu no meu carro. Constrangida, a mulher se desculpou enquanto o marido fazia caretas, ria e tamborilava as mãos sobre o capô do carro. Ele parecia não se importar com a situação. No banco de trás, uma garotinha de tranças, com três ou quatro anos, assistia tudo em silêncio, segurando uma bonequinha inteiriça de plástico duro, dessas mais baratas.

A esposa do motorista me deu o número do seu telefone e implorou para não chamar a Polícia Militar. Na realidade, eu nem tinha essa intenção. Ela sugeriu que eu entrasse em contato para passar o orçamento do conserto. Antes de ir embora, perguntei de onde eles eram e o que faziam. “A gente mora e trabalha na roça dum homi aí, ‘samo lavrador’. Tamu ino visita o túmulo da minha mãe. Pedi pra ele não beber, mas é teimoso demais. Cê pode ligar qualquer hora”, se justificou constrangida.

Nunca liguei. Só assisti o sujeito serpentando o carro e desaparecendo dois quarteirões abaixo quando a fumaça do escapamento ocultou o veículo. A sinuosidade de suas vidas talvez fosse representada pelos traços sulcados no rosto daquela mulher precocemente envelhecida. Meu prejuízo material nem de longe se aproximava do seu padecimento existencial.

Uma noite alucinante ou fuga de cães raivosos

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Escaparam pelo portão de uma casa e vieram correndo no meu encalço como duas crianças famintas

Percorri mais cem metros e notei um automóvel se aproximando vagarosamente na Rua Getúlio Vargas (Foto: David Arioch)

Percorri mais cem metros e notei um automóvel se aproximando vagarosamente na Rua Getúlio Vargas (Foto: David Arioch)

Houve uma época da minha vida em que eu caminhava todos os dias no mesmo horário, e não para me exercitar, mas somente para espairecer ou refletir. Andar diariamente 10 quilômetros ou até mais no final da tarde ou início da noite me ajudava a ter boas ideias e também a me desligar de tudo que não me interessava naquele momento. Em síntese, era uma excelente forma de manter o equilíbrio.

Na realidade, era imprescindível, já que eu passava muito tempo em frente ao computador produzindo textos e lendo. Então havia dois horários do dia que eram sagrados para me manter longe de qualquer máquina. De manhã, por volta das 5h50, quando eu ia à academia, e após às 17h ou 18h. Eu nunca carregava o telefone celular comigo, hábito que mantenho até hoje.

Conforme eu andava, tentava captar a boa essência ao meu redor, principalmente o aroma sinestésico e verdejante das árvores quando o calor arrebatador do dia partia com o poente. Um dia, saí de casa no início da noite. Desci a Rua John Kennedy até chegar à Avenida Parigot de Souza. Tudo parecia tão tranquilo, difícil crer que era uma segunda-feira. Continuei andando, observando os animais da vizinhança revirando sacolas enquanto os lixeiros não passavam para recolhê-las ao lado do meio-fio.

Mandriões, quatro gatos, não sei se por fome ou capricho, miavam ruidosamente com desejo de se aproximar dos sacos ocultados por três cães. Entendi. Era o dia preferido dos negligenciados, já que as sobras de comida do sábado e do domingo se acumulavam em tantas sacolas, criando um cheiro variegado e sui generis que as narinas dos famintos sorviam com o paroxismo de quem se vê pela primeira vez diante de um banquete etrusco.

Sensibilizado com a cena, chamei a atenção de dois cães e os afastei de uma das sacolas, entre as tantas que monopolizavam, permitindo que os gatos também vasculhassem seu tesouro em meio aos orgânicos detritos da glutonaria. Acredito que ficaram satisfeitos. Silenciaram, e segui meu caminho depois de vê-los com os bigodes sujos de contentamento.

Passei por um trecho da Avenida Paraná e segui em direção ao centro. Na Rua Getúlio Vargas, pessoas saíam do trabalho, embora quase todas as portas das lojas estivessem fechadas. O aspecto de cansaço no rosto de tanta gente a pé, sobre os bancos das motos e no interior dos carros dava mostras do quão intenso pode ser o limiar da semana.

Um ou outro ainda sorria, raros num mar de expressões macambúzias de desânimo. “Será que não gostam do que fazem da vida? Alguns parecem infelizes. Posso estar enganado também. Talvez seja apenas uma má impressão minha”, refleti. Então mirei o céu por entre os galhos e vi um céu ainda avermelhado envolvendo a lua tímida que pouco despontava, mal sendo notada.

A passos rápidos, subi um trecho da Getúlio Vargas e assisti dois homens maltrapilhos, talvez andarilhos ou mendigos, sentados no banco da praça da Igreja São Sebastião dividindo um pão francês e tomando uma bebida escura, provavelmente café, em copos descartáveis. A cada gole e mordida, os dois riam como se nada na vida valesse mais do que o momento, a paradoxal plenitude do efêmero.

Contavam piadas sem sentido um para o outro e gargalhavam como crianças, pressionando as mãos contra suas barrigas cobertas por camisetas em frangalhos. Dois carros pararam em frente à praça e os motoristas testemunharam com espavento a alegria dos dois marginalizados. “Do que esses doidos estão rindo? Que nada a ver, rir nessa situação. Deviam chorar”, talvez pensem alguns.

Percorri mais cem metros e notei um automóvel se aproximando vagarosamente. Um homem colocou a cabeça para fora e me chamou. Sem problema. Deveria ser alguém perdido por aquelas bandas. Não, não era. “Ô camarada, você gosta de se divertir?”, questionou o motorista. “Quê?” E ele repetiu a pergunta. “Olhe, eu e minha mulher, dê uma olhada nela aqui do meu lado, estamos a fim de umas aventuras. O que você acha de vir com a gente? Tudo no sigilo, temos local próprio e bem discreto.”

Agradeci o convite e falei que não tinha interesse. “Como não tem interesse na minha mulher? Olha aqui, cara! Isso não existe. Temos altas ferramentas aqui. Vambora que você não vai se arrepender”, falou o homem com a voz alterada, revelando um misto de nervosismo e raiva. De repente, o sujeito se virou em direção ao banco traseiro e retirou uma maça medieval de borracha, mas com um adorno de spikes que parecia muito real. No banco ao lado, a mulher apenas sorria, retocando o batom vermelho com uma das mãos e piscando para mim, sensualizando.

“Você tem cara de bad boy. E minha mulher só curte homem assim. Vem, cara! A gente paga!” Insisti, falei que não aceitava, que tinha namorada e andei a passos céleres, sem ter a mínima ideia do que aquele casal era capaz. Virei à esquerda e para piorar ainda ouvi o som do motor me acompanhando e a sombra de uma pessoa apontando em minha direção. “E se esse maluco sacar um revólver e atirar em minhas costas?”, aventei, rendido a uma criatividade que me assustava e entorpecia. Afinal, me tornei refém de um universo de possíveis impossibilidades.

“Seu viado filho da puta!”, foi a última frase que ouvi antes de sentir uma cálida rajada que repentinamente aqueceu meu corpo álgido. Consegui respirar melhor quando o carro desapareceu no horizonte do Jardim Paulista. Feliz por estar vivo, retomei a caminhada sentindo-me mais leve que o próprio vento que ocasionalmente massageava minhas orelhas.

Perto da antiga Escola Jean Piaget, na Rua Manoel Ribas, fui surpreendido novamente pelo acaso quando dois cães enormes e negros como a noite escaparam pelo portão de uma casa e vieram correndo no meu encalço como duas crianças famintas. Seus olhos amarelos rutilavam como vagalumes graúdos. Só tive tempo de saltar, pendurar e me equilibrar sobre a fragilizada grade da escola que por pouco não cedeu, o que me deixaria à mercê dos meus algozes.

Sem subestimar a astúcia animal, pulei sobre uma árvore no jardim da escola e fiquei observando eles por instantes, limpando minhas mãos repletas de vestígios de cal. Encolerizados, seus músculos se contraíam enquanto seus dentes afiados mal cabiam dentro da boca. A saliva dos dois caía grossa sobre a grama.

Me senti vitorioso, mas não zombei deles porque nunca sei o que o dia seguinte me reserva. Persistentes, mantinham as patas pressionadas contra a grade e os olhos fixos em mim. Eram fortes, ágeis e pouco inteligentes. Só precisei fingir que iria fugir pelo outro lado para despistá-los. Logo ficaram confusos e perderam seu ponto de referência – eu.

Corri até a Rua Chozo Kamitami e não vi mais eles. Um tremendo alívio que fez minhas pernas pararem de bambear. “Nada mais pode acontecer hoje. Acredito que atingi a minha cota”, achincalhei o meu próprio azar. Após restabelecer a serenidade, tudo parecia em harmonia quando ouvi cigarras cantando e corujas piando em meio aos pisca-piscas dos pirilampos.

“Agora é só prosseguir minha caminhada e curtir a noite”, ponderei absorvendo a amorável calmaria notívaga. Voltando para casa pela Avenida Rio Grande do Norte, mais uma vez fui parado por um carro. Um rapaz gritou um nome, vi que não era comigo e continuei andando. “É você, mano! É você! É você mesmo! Calmae, calmae!”, falou com malemolência.

Não o reconheci e pensei que fosse um bêbado querendo confusão ou jogar conversa fora. “Ué, Mafud! Vai tirar na cara dura? Vai dar de louco pra cima de mim, manon?”, replicou. Fiquei sem reação e depois declarei que ele me confundiu com outra pessoa. Em seguida, olhei atentamente e vi que em sua mão direita, parcialmente velada na altura da barriga, tinha um revólver de calibre 38.

“Conheço essa sua barba em qualquer lugar, manon. Tem erro não. Quero saber se tu tá metido nos esquemas da gravataria lá ainda ou se já deu linha. Conta pro seu manon aí!”, indagou. Não consegui pensar com clareza e de repente as luzes dos faróis de um segundo carro foram sinalizadas em nossa direção. Outro rapaz acenou com a mão através da janela, chamou a atenção do jovem que me abordou e gritou:

“Esse não é o Mafud, cara! Tá fazendo merda de novo. Simbora!” Antes de partir, ele sorriu, abriu a carteira e lançou cinco notas de R$ 100 em minha direção. “Mal aí, meu chapa! Esquece a parada que tudo segue de buena”, sugeriu. Fui embora e deixei um repentino vento sortido arrastar as notas para longe de mim. Com receio de novas abordagens, equívocos e confusões, respirei fundo e voltei para casa correndo, mergulhado em um turbilhão de pensamentos. Sem dar margem ao azar e ao acaso, sequer olhava para o lado, agulheado pela ferocidade do imponderado.

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