David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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A importância da realidade expressa na escrita

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Balzac e Orwell, vivendo e testemunhando a realidade marginal

Para abordar os aspectos sociais nos seus romances, principalmente nos 17 volumes de “La Comédie humaine”, Balzac vagava à noite pelas mais famigeradas ruas de Paris, hábito que manteve por anos, assim como fez Dickens em Londres. Ele também gostava de sair de madrugada porque a prisão de devedores era proibida entre o pôr e o nascer do sol, e assim ele não corria riscos.

Orwell se colocou entre os oprimidos para tentar entender como era ser um deles. Visitou minas e estaleiros, viveu com andarilhos e vagabundos, aceitou os piores trabalhos e passou fome. São experiências que deram origem ao seu livro de estreia “Down and Out in Paris and London”, de 1933, lançado no Brasil como “Na Pior em Paris e Londres”.

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Written by David Arioch

September 12th, 2017 at 1:55 am

Posted in Literatura

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Machado de Assis X Balzac

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Balzac influenciou Machado de Assis

Acho injusto quando vejo sites de notícias e de literatura dizendo que um escritor foi ou é melhor do que o outro. Há alguns meses, li um artigo em que alguns especialistas falaram que Machado de Assis foi muito maior do que Balzac, tratando-se de qualidade literária e retrato crítico da realidade.

Considero isso equivocado, até porque o estilo de Machado de Assis, por exemplo, foi influenciado por Balzac, e ele mesmo admitia isso; e nunca buscou tal comparação. Augusto dos Anjos, por vezes considerado por brasileiros como maior que Rimbaud, também admitiu influência daquele que foi um dos nomes mais enigmáticos e controversos do simbolismo. Sou contra esse ufanismo literário.

Não vejo razão em dizer quem é melhor que quem. São rivalidades desnecessárias, até porque os critérios são imprecisos, e nesse sentido pouco se leva em conta as particularidades de cada um, o ritmo de produção e o zeitgeist, que é o espírito de uma época. E não acredito que bons escritores escrevem para serem considerados melhores do que os outros. Creio que a intenção da maioria é sempre tocar o leitor, ser entendido pelo leitor, simplesmente isso.

A rivalidade na literatura surgiu com os críticos, e a crítica infelizmente não contribui em nada nesse tipo de debate, já que pouco interessa ao leitor quem foi maior que quem. O mais importante era e é o que cada escritor tem a oferecer.

 

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Written by David Arioch

June 21st, 2017 at 11:31 pm

Escritores carregam um mundo sem fronteiras

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Um exemplo da influência francesa na literatura brasileira é o livro "São Bernardo", de Graciliano Ramos (Foto: Reprodução)

Um exemplo da influência francesa na literatura brasileira é o livro “São Bernardo”, de Graciliano Ramos (Foto: Reprodução)

Não é incomum eu me deparar com pessoas criticando quem lê mais literatura estrangeira do que brasileira. Até entendo que é uma forma de valorizar autores brasileiros, mas por outro lado há sempre um discurso desconcertado da realidade. Penso, por questões até óbvias, que a literatura brasileira não se fez sozinha. Machado de Assis era fã do romancista espanhol Miguel de Cervantes, assim como Augusto dos Anjos reconheceu o princípio da própria identidade poética no simbolismo francês de Baudelaire e Rimbaud – dois nomes que inclusive estão entre os mais influentes da poesia brasileira desde o século 19.

Leiam “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, e percebam quantas referências podem ser encontradas à “Eugenia Grandet”, do francês Honoré de Balzac, que curiosamente também foi um dos escritores estrangeiros que mais influenciou a literatura russa, mas principalmente Dostoiévski. Literatura é um exercício de hibridismo e a partir dele reconhecemos ou não as influências do autor, de acordo com nossa bagagem cultural. Acredito que os bons escritores carregam um mundo sem fronteiras geográficas. Ele é cosmopolita mesmo quando não quer ser.

E, claro, a literatura brasileira contemporânea é essencial como meio de compreensão da nossa realidade. Aí não há como discordar, porém, na minha opinião, não é irrelevante conhecer os clássicos estrangeiros, mesmo depois de tanto tempo, e não apenas para entender a nossa literatura da atualidade, mas o mundo, a humanidade e sua relação com a vida. Ademais, acredito que seja sempre imprescindível evitar o ufanismo para não cairmos em contradição. Independente de origem, o mais importante são as dúvidas e as reflexões que um livro consegue despertar.

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O incompreendido e seminal Truffaut

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Les quatre cents coups, uma autobiografia à François

Antoine Doinel, uma criança que se refugia em livros (Foto: Reprodução)

Les quatre cents coups, que no Brasil ganhou o título de Os Incompreendidos, é um filme de 1959, do surpreendente François Truffaut. Ícone da Nouvelle Vague, a obra mostra os conflitos vivenciados por uma criança dividida entre uma existência pueril, alimentada por sonhos, e uma contumaz e gélida realidade doméstica.

A obra de François Truffaut, subjetivamente autobiográfica, mostra as belezas e as dificuldades que volatilizam o universo de um garoto em constante conflito familiar. O protagonista, Antoine Doinel, interpretado por Jean-Pierre Léaud, é uma criança que se refugia em livros para se sentir mais humana e mais viva, como se fizesse parte da casta dos literatos que tanto admira, entre eles o prolífico realista Honoré de Balzac.

Filme se tornou ícone da Nouvelle Vague (Foto: Reprodução)

Na história, o cineasta apresenta uma figura paterna impotente, fragilizada e subserviente. Em suma, às raias da insignificância. Já a materna, é alheia ao contexto familiar, rendida à superficialidade, egoísmo, egocentrismo e individualismo. No filme, François Truffaut rompe o paradigma de um mundo em que os pais vivem em função dos filhos, o que acidentalmente justifica o título brasileiro.

Para saturar a inexistência de qualquer distinção entre crianças e adultos, Truffaut mostra pais e professores conversando com seus filhos e alunos de forma igualitária, como se não houvesse distinção de faixa etária –  o que também remete ao clássico Zéro de conduite (Zero de Conduta), de Jean Vigo, assim como a cena antológica dos estudantes correndo pelas ruas de Paris. A natureza bucólica e espontânea das crianças ganha espaço apenas nos momentos em que estão sozinhas, oclusas em um universo de complacência e liberdade.

Les quatre cents coups é um grande marco do cinema francês e dignifica de modo seminal a estética cinematográfica de Truffaut, autor que jamais precisou apelar para o sentimentalismo ou recursos sofisticados para encantar os espectadores.