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Marloes Boere: “Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana”
“Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”
Filha de pecuaristas, Marloes Boere cresceu em uma típica fazenda de gado leiteiro em Hekendorp, Utrecht, na Holanda. Até que um dia começou a se questionar sobre o seu papel e o de sua família na vida dos animais que eles criavam simplesmente para a obtenção de leite e geração de lucro.
“Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana. Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”, conta Marloes, citando um fato muito comum que é a separação de mãe e filho nas fazendas de gado leiteiro.
Segundo Marloes Boere, na fazenda de seu pai, assim como em muitas outras dedicadas à produção de leite, inclusive no Brasil, as vacas precisam ter um bebê por ano para produzirem leite em níveis rentáveis. Após o nascimento, é apenas uma questão de horas para o bezerro ser definitivamente separado da vaca.
O bezerro é colocado em uma gaiola, onde ele fica sozinho, e é alimentado apenas duas vezes por dia. Essa prática causa muita dor emocional tanto para a mãe quanto para o bezerro”, afirma. Ao longo de duas semanas, os bezerros são supervisionados até a carne ser considerada “tenra”, ou seja, apropriada para o consumo. Então eles são enviados ao matadouro.
Na infância de Marloes, a cena da separação de mãe e filho se repetiu tantas vezes que ela perdeu as contas. Embora estranhasse, sempre explicavam que era uma prática normal e necessária. “Isso não poderia estar mais longe da verdade. Fiquei horrorizada porque vivemos em um mundo que ensina às crianças que é aceitável invadir e explorar a maternidade de maneira tão violenta. Ninguém deveria apoiar isso. O leite materno é alimento para bebês e o leite de vaca é para os bezerros”, defende.
Em entrevista ao jornal holandês NRC Handelsblad, ela declarou que na infância foi criada para não se apegar aos animais criados na fazenda, porque logo eles não estariam mais lá, já que uma vida de servidão reduz a expectativa de vida dos animais.
Depois de concluir o curso de filosofia, Marloes Boere passou a questionar cada vez mais a doutrinação especista que fez parte de sua vida, assim como da maioria, como se fosse algo natural, legítimo e aceitável. Inclusive foi o que a levou a se tornar uma ativista dos direitos animais e a defender o fim da agricultura animal.
Após o mestrado em filosofia, começou a compartilhar as suas próprias experiências com o especismo e a fornecer aos seus estudantes argumentos filosóficos em oposição a agricultura animal – fazendo com que passassem a refletir e a questionar o seu próprio especismo. Atualmente, ela atua como coordenadora de educação da fundação vegana Viva Las Vega’s, além de atuar como treinadora em habilidades de debate. Sua família também vivenciou mudanças bem significativas. Sua mãe e suas duas irmãs tornaram-se vegetarianas e seu pai, que está seguindo pelo mesmo caminho, costuma dizer nas festas em que participa que “o futuro é vegano”.
Referências
Krijger, Anna. Ik zal meemaken dat we allemaal vegnist zijn. NRC Handelsblad (5 de março de 2018).
Casal de criadores de gado transforma fazenda em um santuário de animais no Texas
“As mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam”
Em 2009, Renée King-Sonnen se mudou para uma propriedade rural em Angleton, no Texas, com o marido Tommy Sonnen, da quarta geração de uma família de criadores de gado. Fascinada pelos animais, Renée começou a passar muito tempo com eles, desenvolvendo empatia e analisando suas personalidades e individualidades. Logo ela percebeu que rapidamente as vacas criam laços profundos com os bezerros – o que a fez associar com a relação de uma mãe com o seu filho humano.
Por outro lado, para além desse cenário de amor animal que inspira reflexão, Renée conheceu outra faceta da realidade ao testemunhar como os bezerros eram separados das vacas, enviados para leilões e encaminhados para os matadouros. A certeza de que nesse meio o laço familiar é rompido precocemente, e as vidas dos animais são tão curtas em decorrência da exploração, a chocou.
“A experiência de vê-los partir, as mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam. Chorei tantas vezes que ele [Tommy] tentou esconder o fato de estar fazendo isso, mas eu sempre soube por causa do lamento das vacas quando perdem seus bebês e não conseguem encontrá-los”, enfatizou.
Deprimida, em outubro de 2014, Renée falou para o marido que não queria mais contribuir com a morte de animais vulneráveis, que a cada dia a ensinavam uma nova lição. O amor dos animais pela liberdade, por exemplo, ela descobriu na figura de Houdini, um bezerro que sempre que tinha alguma oportunidade tentava fugir da propriedade. Renée King então passou a considerar insuficiente poupar apenas alguns animais da morte.
Buscando uma mudança mais substancial, ela conheceu o veganismo e decidiu correr atrás de um sonho – transformar a fazenda em um santuário de animais. Renée fez contato com pessoas do movimento vegano que foram determinantes nesse processo de transformação de uma fazenda de gado em um santuário. O marido concordou, e não apenas os bovinos foram poupados, mas também os porcos, frangos, galinhas e outros animais que viviam no local.
Hoje o casal vegano que administra o Rowdy Girl Sanctuary, no mesmo local de onde os bovinos partiam rumo à morte, recebe visitas e abriga um número cada vez mais crescente de animais livrados da morte precoce nos matadouros. Segundo René King-Sonnen, um sonho, de fato, concretizado.
Referências
Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists (4 de novembro de 2014).
Rowdy Girl Sanctury. Renee King-Sonnen – Founder (7 de abril de 2016)
Para além do destino final que é a morte para ser reduzido a alimento
Para além do destino final que é a morte para ser reduzido a alimento, os bezerros enviados para a Turquia levaram choque no momento do embarque e seguem viajando em pé por um percurso que deve levar no mínimo 15 dias. Que tal se colocar um pouquinho no lugar deles? Isso é realmente aceitável? Será que deveríamos colaborar com isso?
E logo mais eles serão abatidos por degola com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago – abate halal. Esse é o destino que deveríamos dar aos animais? Infelizmente, esse é o tipo de prática que endossamos por meio do consumo de carne.
Envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica
O envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica. Se essa megaoperação for considerada “bem-sucedida” o Brasil pode se tornar um grande fornecedor de bezerros para a indústria estrangeira de carne. O que isso significa? Que no futuro a vida dos bovinos, que já é terrível partindo da objetificação, pode ser ainda mais curta.
Vivemos em um país onde os produtores de carne sempre alegam desvantagem quanto ao abate de bezerros. Porém, com um mercado estrangeiro ávido por esse tipo de carne, e que “paga bem”, tanto que a Turquia reduziu de 60% para 10% a tarifa sobre importação de gado, provamos que nossos subjetivos escrúpulos, que já ignoram o direito dos animais à vida, são sempre negociáveis. Sendo assim, podem tornar-se um pouco mais deletérios.
Por outro lado, essa situação também traz luz à desonestidade da indústria da carne. Qual seria? Essa ação reforça o fato de que o “abate humanitário” sempre foi um engodo, já que não apenas enviamos animais para a morte, mas também de acordo com o “gosto do cliente”. Se isso significa degolar crianças de outras espécies, que assim seja, não é mesmo?
Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais. Já os bezerros, enviados para uma jornada que termina com suas cabeças separadas dos corpos, em breve serão consumidos e esquecidos como se jamais tivessem existido. Se nada for feito, muito mais bezerros terão o mesmo destino.
O que a grande mídia fez para favorecer o transporte dos 27 mil bezerros para a Turquia:
— A maioria não citou que são bezerros, o que acredito que, por estranhamento e associação, poderia ter despertado alguma reflexão sobre a exploração e o consumo de animais.
— Falou do que isso pode representar economicamente.
— Citou como a exportação de animais vivos pode beneficiar o Porto de Santos
— Ouviu somente os envolvidos na megaoperação.
— Publicou apenas fotos do navio ainda vazio e de poucos animais no Porto de Santos.
— Deu ênfase no trabalho da Minerva Foods, destacando a grandiosidade da exportadora responsável pelo envio dos animais.
— Descreveu positivamente a estrutura do navio, endossando o embarque dos animais. Porém, não citou a área destinada a cada animal.
— Citou cifras, cifras e mais cifras para fazer todo o resto parecer insignificante.
Sobre o envio de 27 mil bezerros para a morte na Turquia
Em 15 dias, ou talvez um pouco mais, o Porto de Iskenderun, no Mar Mediterrâneo, na Turquia, espera receber 27 mil bezerros que embarcaram no Porto de Santos. São jovens animais que antes enfrentaram uma viagem desgastante de 500 quilômetros confinados em carretas. Tanto que muitos embarcaram visivelmente cansados.
Em entrevista, o representante do navio libanês Nada, responsável pelo transporte, disse que tudo foi feito para que os bezerros não sofram durante a viagem. Mas a objetificação desses animais reduzidos a alimentos e a própria viagem em si não são atos de violência? Será que os 27 mil bezerros têm condições de suportar uma viagem desse tipo? Com duração de no mínimo 15 dias em um ambiente totalmente fechado, e privados da luz solar. Pense no nível de estresse desses animais nos próximos dias.
Viagens de carreta já são desgastantes, agora imagine ser enviado em seguida para uma viagem de navio. Além disso, é importante ponderar que embora os animais estejam viajando dentro de um navio, os bezerros ficam bem próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais, cada um pesando 450 quilos, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.
Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após 17 anos, estamos vivendo um retrocesso, já que o último transporte com “carga viva” registrado no Porto de Santos foi em 2000. E quando falamos em bezerros não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.
Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.
O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida. Outra notícia desalentadora é que se a viagem for “bem-sucedida” a tendência é que o Porto de Santos seja usado com mais frequência para o transporte de “cargas vivas”.