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O cão que me espera
Cheguei na esquina da academia por volta das 18h. De repente, um cachorro começou a rodopiar, pular e latir bem alto, como se quisesse falar. Era o cão daqui de casa, o Billy, me esperando lá na frente, como se soubesse o horário que sempre vou à academia. Nem acreditei quando vi. Chamei ele, abri a porta do carro e ajeitei o banco traseiro para ele sentar. Malandro, ele nem quis saber. Pulou direto no banco da frente, fazendo da minha bolsa de treino uma almofada. E assim que liguei o carro para levá-lo pra casa, apoiou as duas patas no painel e arreganhou os dentes.
Visitando Billy
Hoje, no final da tarde, fui até a casa do artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, na Vila Alta, na periferia de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, visitar o Billy, cachorro do ex-morador de rua Jessé Piedade que está fazendo tratamento contra o alcoolismo na Casa da Misericórdia, de Apucarana, no Norte do Paraná. Quando cheguei lá, Billy fez a maior bagunça – começou a rodopiar e a saltar. Assim que se acalmou, aproveitei para registrar o momento. Billy, que hoje está sob a guarda do Tio Lú, tem uma história de vida muito bonita.
Quando filhote, foi abandonado na sarjeta do Terminal Rodoviário de Paranavaí num dia de chuva. E para piorar, um dos guardas do local o deixou cego de um olho ao usar uma arma de eletrochoque para expulsá-lo de lá. Jessé, revoltado, partiu pra cima do guarda e o impediu de machucá-lo mais ainda. Desde então, se passou dois anos, e hoje Billy é esse animal alegre e saudável que vocês podem ver na foto.
A mudança de Jessé Piedade
Saí hoje à tarde pelas ruas de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com o famoso Jessé Piedade para procurar um lugar para o seu cachorro Billy morar temporariamente. No caminho, como se estivesse pressentindo a separação, Billy enfiou o focinho entre os braços de Jessé e ficou lá, com olhos velados, por mais de dois minutos. Logo que o cachorro virou o focinho em minha direção, seus olho estavam úmidos, brilhando. E Jessé então disse emocionado: “Olha, o Billy tava chorando. Molhou a minha camiseta. Como pode isso, rapaz? Vai ser difícil me separar dele agora. Poxa vida!”
Quando chegamos ao local onde Billy ficaria por algumas semanas, surgiu um contratempo e decidimos procurar outro lugar. Passando pela Avenida Heitor de Alencar Furtado, me lembrei da Vila Alta e da Oficina do Tio Lú. Assim que chegamos lá e expliquei a situação, Seu Luiz ficou feliz de conhecer o tão falado Jessé Piedade e também de receber o Billy. Entrou dentro de casa, voltou com uma coleira e a entregou para que Jessé a colocasse no pescoço do Billy. Depois de poucos minutos na casa do Tio Lú, o cachorro já se sentiu à vontade, inclusive o rodeando enquanto ele ajeitava um lugar para o cão repousar ao lado da oficina – ladeado por uma bacia de água e um pratinho com ração.
Antes de ir embora, Jessé chorou ao se separar do Billy. Também recebeu alguns conselhos do Seu Luiz quando expliquei o motivo da guarda temporária do Billy. “Olhe, rapaz, tenho certeza que você é uma boa pessoa. Não perca essa oportunidade, hein? Acredite que isso vai mudar sua vida”, declarou Seu Luiz segurando a mão de Jessé. Deixamos o Billy com o Tio Lú porque amanhã às 6h Jessé Piedade vai se despedir da cidade onde viveu nos últimos anos.
Aproveitando que amanhã é feriado em Paranavaí, eu, minha mãe e meu irmão Guimarães Jvnior vamos levá-lo até uma clínica de reabilitação para alcoólatras em Apucarana, conhecida pelo alto índice de tratamentos bem sucedidos. Jessé concordou com o internamento e, assim como nós, tem fé que vai se livrar definitivamente do vício até o final do ano, nunca mais se entregando à vida de andarilho ou morador de rua.
Jessé Piedade recupera seu cão Billy
Muito legal saber que meu trabalho ajudou alguém. Hoje fui encontrar o andarilho Jessé Piedade na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Chegando lá, vejo um cachorro deitado na maior folga no tapete de entrada. Aí fico sabendo que é o Billy, cão que foi roubado de Jessé há algum tempo. “Cara, leram sua reportagem sobre a minha vida e devolveram o Billy, o meu melhor amigo. Tô muito feliz!”, disse Jessé sorrindo.
Leiam a história de Jessé no link abaixo: https://davidarioch.com/2015/11/23/jesse-um-homem-motivado-pela-simplicidade