David Arioch – Jornalismo Cultural

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Um show à brasileira

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Próxima apresentação da OSP será pautada na música popular

Orquestra fará o segundo show da temporada (Foto: Amauri Martineli)

No domingo, 27, às 20h30, a Orquestra de Sopros Paranavaí sobe ao palco do Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa para apresentar o show “Noite da Música Brasileira”. O espetáculo leva ao público os grandes clássicos da música popular. Ingressos estão à venda na Fundação Cultural por R$ 10.

O show “Noite da Música Brasileira” é o segundo espetáculo da temporada de concertos da Orquestra de Sopros que este ano ainda fará shows temáticos de jazz, samba e choro, música regionalista e concerto de natal. “O fato de um show ser diferente do outro é uma forma de atendermos aos mais variados gostos e, assim, divulgarmos a boa música”, explica o presidente da Fundação Cultural, Paulo Cesar de Oliveira.

Para o show de domingo, a OSP está preparando um show que inclui grandes clássicos da música brasileira como “Samba de Uma Nota Só”, de Tom Jobim e Newton Mendonça; “Zazueira”, de Jorge Ben Jor; “Cromático” e “Cristalina”, de Antônio Adolfo, grande compositor carioca que faz parte do clube da bossa nova. Há também composições autorais como “Aí tem coisa”, de Gabriel Forlani Zara.

Orquestra de Sopros existe há 12 anos (Foto: Amauri Martineli)

As canções executadas pela OSP não são apenas releituras, mas músicas adaptadas para orquestra. “Eles sempre acrescentam novos arranjos, isso dá um toque especial”, explica o diretor cultural da FC, Amauri Martineli, acrescentando que a Orquestra de Sopros é mantida pela Fundação Cultural. Segundo o trombonista e maestro-adjunto da orquestra Luciano Ferreira Torres, o apoio financeiro da FC é imprescindível para que a Orquestra de Sopros continue na ativa. “Acredito que não há outra banda no Estado que seja mantida com recursos municipais. Podemos nos orgulhar disso”, diz o maestro-adjunto.

Ao longo dos 12 anos de apresentações da OSP, do eclético repertório que inclui MPB, chorinho, foxtrot, bolero, jazz e trilhas sonoras, o destaque para o público são sempre as clássicas canções de Glenn Miller e Henry Mancini. “Também gostam muito de ouvir Tico-tico no Fubá, do Zequinha de Abreu”, lembra Torres. A orquestra já se apresentou por muitas cidades do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, para os integrantes o grande trunfo são as participações no Festival de Música de Londrina (Filo), onde a orquestra foi banda base do evento por vários anos.

Os shows da orquestra têm um compromisso sociocultural, ajudam a manter o Projeto Clave de Luz, uma iniciativa da Fundação Cultural que oferece formação musical profissional a dezenas de estudantes de baixa renda por um período de quatro anos. “Toda a renda dos shows é usada para manter o projeto”, ressalta Oliveira. A OSP também realiza concertos didáticos nas escolas. Os músicos se informam sobre o gênero preferido dos estudantes, então depois realizam uma apresentação seguida de análise das canções e dos instrumentos.

OSP é remanescente da Banda Lira do Noroeste

Fundada pelo maestro Arnold Poll em 18 de maio de 1961, a Banda Lira do Noroeste era conhecida por embalar a população com releituras de samba-canção e chorinho, gêneros musicais disseminados pelas rádios da época. “O maestro Nílson Antônio dos Santos fez uma revolução transformando-a na Banda Sinfônica Municipal.

Banda Lira foi fundada há 49 anos (Foto: Casa da Cultura)

O repertório mudou e o número de integrantes chegou a 40. Ele conseguiu fazer com que todos os músicos se dedicassem integralmente ao projeto”, conta o trombonista e maestro-adjunto da Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP), Luciano Ferreira Torres, acrescentando que quatro anos depois Santos daria lugar ao regente Sales Douglas Santiago.

Lira do Noroeste embalava o público com samba-canção e chorinho (Foto: Casa da Cultura)

Santiago transformou a Banda Sinfônica em Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP) no dia 19 de novembro de 1998. À época, houve uma grande mudança. “Alguns músicos se casaram e estabeleceram famílias, assim abandonando a carreira musical. Percebemos que do total de integrantes apenas 20 estavam dispostos a tornarem-se músicos profissionais”, revela o trombonista. Segundo a OSP, Sales tinha uma visão de Big Band, orquestras formadas por músicos de jazz nos Estados Unidos da década de 1920.

Banda Lira na década de 1980 (Foto: Casa da Cultura)

Em 2002, Santiago deixou a OSP e deu lugar a um novo maestro, Vitor Hugo Gorni que assim como os outros regentes que passaram por Paranavaí também é de Londrina. “Ele começou a vir aqui uma vez por semana”, enfatiza o trombonista. Com Gorni, a orquestra se dedicou a um repertório mais refinado. Exemplos são as canções eternizadas por Frank Sinatra e Tony Bennett. Depois a orquestra começou a homenagear artistas brasileiros. “Já fizemos apresentações especiais apenas com músicas do Roberto Carlos e Tim Maia”, informa o maestro-adjunto.

Mesmo com inúmeras mudanças ao longo da trajetória, a orquestra ainda carrega a nostalgia dos tempos áureos da Banda Lira e Sinfônica Municipal. “Sempre tocamos os dobrados e os hinos que fazem parte de uma história musical que ultrapassa o tempo, como o Hino do Paraná, Hino da Independência e Hino à Bandeira”, finaliza Luciano Torres.

Saiba mais

A OSP fará cinco shows até o final do ano: de MPB, jazz, samba e choro, de música regionalista e concerto de natal. O pacote para todos os espetáculos está à venda na Fundação Cultural por R$ 50. Para mais informações, ligar para (44) 3902-1128

Cine Paramounth era usado como salão para bailes

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Sem local para a realização de festas, moradores alugavam o cinema

Multidão se forma em frente ao Cine Theatro Paramounth (Foto: Reprodução)

Multidão se forma em frente ao Cine Theatro Paramounth (Foto: Reprodução)

No final da década de 1940, foi criado em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o Cine Theatro Paramounth, localizado na Rua Marechal Cândido Rondon. O cinema, encarado como primeira e única fonte de entretenimento para a então população de dez mil habitantes, logo foi usado também para a realização de bailes.

Até o ano de 1948, a vida dos moradores de Paranavaí era delimitada pelo trabalho no campo ou no pequeno espaço urbano. Divertimento fazia parte da realidade dos poucos que tinham condições financeiras para se deslocarem até outras cidades. “O improviso era o único jeito de garantir divertimento. Ainda bem que naquele ano foi criada uma sociedade para a construção de um cinema, então percebi que as coisas mudariam”, lembra o pioneiro Ephraim Machado que à época era quem divulgava por meio de um serviço de alto-falantes os raros eventos sociais.

Machado percorria toda a cidade incentivando os moradores a participarem das festas locais. Naquele tempo, muitas atividades não visavam retorno financeiro. Os eventos eram realizados apenas com o objetivo de entreter a população. “É bem diferente de hoje. Em qualquer evento envolvendo a comunidade, sempre há pelo menos um que lucra em cima dos outros”, compara o pioneiro.

Quando o Cine Theatro Paramounth foi inaugurado, a cidade ainda não tinha um ambiente específico para festas e bailes de carnaval. Por isso, Ephraim Machado e outros pioneiros tiveram a ideia de usar o espaço do cinema para resolver o problema. “O Paramounth tinha piso em nível, então o que fazíamos no carnaval? Alugávamos o salão do cinema e tínhamos três dias ininterruptos de batuque”, conta Machado sorrindo.

A realização de eventos no Cine Theatro atraiu muita gente. O primeiro baile, por exemplo, reuniu mais de 400 pessoas. O sucesso da iniciativa permitiu que festas fossem realizadas no Paramounth ao longo de três anos. O pioneiro Wiegando Reinke, que já tinha uma banca de jornais e revistas a alguns metros dali, se recordava com nostalgia do intenso fluxo de pessoas. “Não havia asfalto, apenas uma estrada de areia bem densa. O pessoal saía de lá e vinha direto aqui comprar alguma coisa. Era como se fosse um hábito, costume mesmo.”

Paramounth quando estava sendo construído nos anos 1940 (Foto: Reprodução)

Paramounth quando estava sendo construído nos anos 1940 (Foto: Reprodução)

Surgem os primeiros clubes

Com o surgimento dos clubes em Paranavaí, foram construídos os primeiros locais específicos para a realização de festas. O pioneiro foi o Aeroclube, atual Tênis Clube, onde a maior parte da população com vida social ativa se reunia, principalmente na década de 1950, para aproveitar os finais de semana. “Sempre organizávamos algum evento atrativo para o público, de modo geral. Não havia distinção de classe como hoje. Ali recebemos diversos governadores, entre eles Bento Munhoz da Rocha e Moisés Lupion”, conta o pioneiro e ex-presidente do extinto Aeroclube, Ephraim Machado.

Os clubes da época serviram para ampliar a consciência comunitária, algo que não existia até a década de 1940, quando as comemorações eram mais restritas. “As pessoas até então só organizavam festas particulares, até porque o conceito de confraternização da época era muito limitado. O pensamento das pessoas mudou somente quando organizamos as primeiras grandes festas”, revela Machado.

Os bailes nos salões dos clubes, mesmo fora da época do carnaval, eram impulsionados pelo hino de Benedito Lacerda e Humberto Porto: A jardineira, de 1938. A marchinha de tema baiano, somada a outras canções nordestinas e nortistas, fazia a alegria da população. Tudo era improvisado, e até mesmo pessoas da plateia subiam ao palco para tocar algum instrumento. Foi uma época de muito samba, baião, maxixe e bolero, segundo Machado.

Os grupos musicais normalmente eram compostos por três instrumentos: sanfona, violão e pandeiro. “Toda banda normalmente tem bateria, mas nós não tínhamos isso na cidade, era tudo muito experimental. Quem surgia com um instrumento diferente via o que podia ser feito dentro do ritmo que o grupo estava tocando”, enfatiza o pioneiro. Certa vez, um músico chamou a atenção do público ao subir no palco e casar a sonoridade de um violino com a sanfona, o pandeiro e o violão.

“A diversão do homem era o clube ou a zona”

Para aqueles que preferiam locais ermos, havia os clubes comerciais. O mais emblemático era o Clube do Arara Vermelho, localizado em uma ilha no Porto São José. “Eles venderam muitas ações. Todo mundo tinha vontade de ir lá, mas não deu certo por muito tempo. Quando chovia, a estrada ficava horrível, levava até 15 dias para voltar a ser transitável”, informa o pioneiro Ephraim Machado.

Na década de 1950, a realização de festas juninas tornou-se bastante comum. A principal influência para as comemorações de São João eram as comunidades nordestinas e nortistas. “Claro que tudo era regado a muita bebida quente, principalmente pinga e quentão. Ninguém aqui tinha acesso a bebida gelada”, revela o pioneiro.

Até o ano de 1964, os convites para as festas eram direcionados às famílias, não apenas a uma ou outra pessoa. Quando os pais informavam que estavam de saída, todas as mulheres da família tinham de ir embora também. “Lembro bem que a diversão do homem era o clube ou a zona. Havia dois setores. Dá pra dizer que um era bom e o outro mau porque este segundo era separado da sociedade”, exemplifica Ephraim Machado às gargalhadas.