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Considerações sobre a violência
Agressividade, violência, são formas de descontrole. Se você não tiver controle sobre isso, isso terá controle sobre você. E quando você achar que está dominando alguma coisa ao fazer uso da agressividade ou da violência, estará apenas sendo subjugado pelo que te priva da sua própria humanidade, sem que você perceba. As consequências disso podem ser o seu próprio definhamento.
Uma briga escusada que poderia ser evitada, mas que chega às vias da violência física, é sempre uma derrota, tanto para quem vence quanto para quem perde. Para quem perde, porque a violência física dificilmente é esquecida ou deixa de ser materializada em trauma ou grande frustração. Para quem vence, porque suplantado pelo impulso também provou que não teve controle sobre as próprias emoções, assim cultivando uma inimizade que pode perdurar por toda a vida.
Orgulho de bater em alguém. Por que eu teria orgulho de bater em alguém? O que muda o ser humano para melhor é tocar a sua consciência, não o seu corpo. Se bato em alguém, significa que não tenho mais nada a oferecer além dos meus punhos. Ademais, é estranho reconhecer que há quem revele desprezo e raiva por quem defende a não violência.
Sobre violência, faço questão de compartilhar uma história real que vivi aos 19 anos (Faz parte de uma crônica intitulada “Briga de Rua”). Acredito que não existe melhor forma de desarmar alguém do que subverter expectativas.
“Com 19 anos, fui colocado à prova num início de noite na Avenida Paraná, em frente à antiga Imobiliária Gaúcha, onde alguns amigos marcaram um encontro. Na realidade, era uma armadilha de jovens ébrios. Chegando lá, um deles inventou histórias a meu respeito. Me provocou em vão, pois não reagi. Em silêncio, observei as atitudes dos três que me instigavam a brigar. Sem mover os pés da calçada, me mantive calmo num ambiente hostil. Ainda assim, um deles se aproximou de mim e acertou um soco na minha boca.
O sangue escorreu pelos meus lábios espessos. Experimentei a queimadura do corte no canto superior direito. Na mesma posição, passei o polegar direito pelos lábios, vi o sangue denso, levantei meu dedo banhado em carmesim e perguntei: “Cara, por que você fez isso? É uma pena…” Meu amigo Edson quis bater no agressor, só que eu o impedi porque nada naquele momento me causava medo. “A Morte tinha desaparecido de sua frente e em seu lugar via a luz”, refleti, lembrando-me de Ivan Ilitch, de Tolstói.
Contrariando todas as expectativas, me calei, lavei minha boca em uma torneira instalada no mesmo local e fui em direção à Praça dos Pioneiros, retornando com a roupa avermelhada em algumas partes. Não senti raiva, apenas um misto de pesar e náuseas. Em casa, o sangue foi lavado com lágrimas pachorrentas que já não se repetiam mais. Observava no espelho a abertura no lábio com olhos grandes, então amiudados, e o palato esbraseado pela nebulosa bonomia. Tudo que era palpável no fundo era impalpável. Ao longo de 10 anos, assisti cada um dos envolvidos no episódio aparecer no portão de casa pedindo desculpas.”
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A ilusão do highlander
Sempre que vejo pessoas na rua arrumando confusão, seja no trânsito ou em qualquer outro lugar, ou se colocando em situações desnecessárias de perigo, me recordo de quando eu era criança e assisti Highlander pela primeira vez. Eu realmente sonhava com a imortalidade. Afinal, quem iria contestar uma criança, tirar dela o direito de sonhar?
Claro que isso não durou muito tempo, porque a maturidade se encarregou de desfazer esse sonho, de mostrar que a finitude não existe só para os outros, mas também para mim. Porém, quando vejo pessoas arriscando a própria vida por nada, penso que provavelmente elas se veem como highlanders.
A trajetória de Brizola
Um político que foi amado e odiado pelo Brasil
Lançado em 2007, o documentário Brizola – Tempos de Luta, do cineasta gaúcho Tabajara Ruas, embora tenha um título sugestivamente tendencioso, é uma biografia de Leonel Brizola sob a ótica de pessoas que, de algum modo, conviveram com o amado e odiado político, tido como louco por alguns e considerado visionário por outros. Em síntese, uma curiosa obra sobre o homem que por pouco não se tornou presidente do Brasil.
Brizola foi uma das mais controversas figuras públicas deste país e morreu aos 82 anos, em 21 de junho de 2004. Com uma trajetória política de seis décadas, o gaúcho entrou para a história como o único brasileiro a governar dois estados: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
O ex-governador conquistou fama no Brasil no início da década de 1960, após o episódio da “campanha da legalidade”, em que desafiou os militares e defendeu direitos constitucionais após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Além de trazer à tona muitas imagens de momentos importantes da política brasileira que nunca ganharam espaço na TV, o documentário Brizola – Tempos de Luta tem como epicentro um conflito entre o político e o empresário Roberto Marinho, então proprietário da Rede Globo de Televisão.
A briga girou em torno de ofensas pessoais que Marinho dirigiu ao desafeto Leonel Brizola em 1992, usando todos os seus veículos de comunicação. O direito de resposta do político, obtido judicialmente, foi levado ao ar dois anos depois por meio da sorumbática voz de Cid Moreira durante uma antológica edição do Jornal Nacional.
Para os defensores do ex-governador, o episódio foi uma vitória, pois pela primeira vez na história da televisão brasileira alguém teve a oportunidade, sob o respaldo da lei, de fazer críticas severas a um grande empresário da teledifusão.
Para evidenciar a forte personalidade de Leonel Brizola, Tabajara Ruas não esconde que o foco maior é a narrativa, inclusive em várias cenas não há riqueza de detalhes, mas sim apenas uma câmera que sem profundidade se fecha diante do político e do microfone. No filme, também há participações dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, além de um relato verossímil sobre o encontro de Brizola com o guerrilheiro argentino Che Guevara no Uruguai em 1961.