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“Acho que ficou doente e acabou morrendo dentro de uma semana”

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Esses dias, conversando com um camarada, perguntei sobre uma cachorrinha que nunca mais vi em sua casa. Ele me disse que ela faleceu. Então questionei o motivo. “Ah, ela foi parando de comer, acho que ficou doente e acabou morrendo dentro de uma semana”, revelou com naturalidade, sem grande preocupação. Nem chegaram a levá-la ao veterinário ou a pedir ajuda.

A cadelinha tinha oito anos, e sempre me pareceu feliz e bem tratada. Mas não consegui deixar de considerar isso como um triste descaso. E tem gente que ainda critica o veganismo por tentar ampliar a conscientização em relação a forma como nos relacionamos com os animais.

Written by David Arioch

January 9th, 2017 at 12:07 am

Tulipa, a cadelinha evangélica

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Do início ao fim do culto, Tulipa fica em silêncio, atenta a tudo que acontece no interior da pequena igreja

Tulipa assiste aos cultos três vezes por semana há oito meses (Foto: David Arioch)

Tulipa assiste aos cultos três vezes por semana há oito meses (Foto: David Arioch)

Na Rua C, em um pequeno espaço contíguo à residência da artesã Lindinalva Silva Santos vive a mais jovem frequentadora da Igreja Pentecostal Jesus é a Cura, na Vila Alta, periferia de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Três vezes por semana, pouco antes das 19h30, a cadelinha mestiça Tulipa deixa a sua confortável casinha de madeira, salta sobre uma base de tábuas que lhe serve como passarela e pula a cerca, encurtando caminho por um terreno baldio onde uma pequena porção de capim-colonião a cobre completamente.

Aguerrida, segue pulando e amortecendo a relva com as patas miúdas até chegar à estrada de terra ao lado do Bosque Municipal. Tranquila, mas atenta, percorre mais cem metros até chegar à esquina da Rua A. Olhando ao seu redor, Tulipa atravessa o interior da igreja para mostrar que está pronta para o início do culto. Observa rapidamente o pastor até ser notada e então se aconchega debaixo de um comprido e envernizado banco de madeira. “É o jeito dela de cumprimentar todo mundo. É como se fosse uma pessoa e desse algum tipo de satisfação aos presentes”, informa Lindinalva.

Do início ao fim do culto, Tulipa fica em silêncio, atenta a tudo que acontece no interior da pequena igreja. Por volta das 21h, e da mesma forma que entrou, ela se despede à sua maneira. Lá fora, recebe muitas carícias. Tem tanta confiança no ser humano que fecha os olhos e inclina a cabecinha para ser afagada. Depois retorna para casa fazendo o mesmo trajeto. Muito querida por todos os frequentadores da Igreja Pentecostal Deus é a Cura, a cadelinha começou a participar dos cultos há oito meses e desde então jamais se ausentou. Com o tempo, sua presença se tornou uma atração, principalmente para as crianças.

Cadelinha mostra por onde ela salta quando vai à igreja (Foto: David Arioch)

Cadelinha mostra por onde ela salta quando vai à igreja (Foto: David Arioch)

“Vou dar uma bíblia em miniatura, menor que um dedo, pra ela carregar amarradinha no dorso quando for à igreja”, declara a artesã às gargalhadas. Dócil e silenciosa, Tulipa aceita até carinho de estranhos. “Ela é muito dada e ninguém judia dela. Fica com um dentinho fora da boca o dia todo, só que não faz mal a ninguém. Se dá bem com todos os bichos. Só late à noite porque ela se sente como se fosse a guardiã da casa”, declara Lindinalva. Assim que massageio o pescoço de Tulipa, ela deita e se vira para cima, ansiando por mais afagos.

A cadelinha vive com a artesã há três anos, desde que foi encontrada abandonada ainda filhote ao lado do Bosque Municipal de Paranavaí. “Fazia poucos dias que ela tinha nascido. Peguei ela porque fiquei com medo que algum carro a atropelasse e a matasse. Era bem miudinha e dormia dentro do meu chinelo felpudo. Nunca incomodou ou fez sujeira dentro de casa. Ela é muito obediente e limpinha. Não preciso falar mais de uma vez”, garante Lindinalva apontando para a casinha construída especialmente para Tulipa.

Até hoje a cadelinha só engravidou uma vez, mas os filhotes nasceram mortos e ela nunca mais ficou prenha. Hoje em dia, durante o cio, Tulipa não sai de casa. “Fica arredia com os outros cachorros. Não deixa nenhum deles se aproximar. Entra em um quartinho e fica lá”, revela a artesã que nessa fase redobra os cuidados com a cadelinha.

Tulipa também é exigente quando o assunto é comida. Desde pequena, nunca gostou de nenhum tipo de ração. Prefere biscoitos de leite ou maisena esmigalhados em uma porção de leite. “Arroz, por exemplo, ela só come se tiver molho. Senão só olha e passa longe. A bichinha sabe o que quer e apesar de pequena come que nem cachorro grande”, garante Lindinalva rindo.