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Jornalista britânico denuncia que a matança de cães abandonados prossegue na Rússia
Segundo Newkey-Burden, há um orçamento de pouco mais de R$ 6 para cada morte
O jornalista e escritor britânico Chas Newkey-Burden publicou esta semana no The Guardian um artigo intitulado “Russia is killing stray dogs. World Cup stars must help stop the slaughter” ou “A Rússia está matando cães abandonados. As estrelas da Copa do Mundo precisam parar a matança”.
No texto, o jornalista informa que mesmo com a proximidade da Copa do Mundo na Rússia, os esquadrões da morte continuam atacando cães abandonados nas cidades que sediarão o evento. A justificativa ainda é a mesma de quando surgiram as primeiras denúncias há alguns meses – “uma tentativa de tornar a Rússia mais agradável para a mídia e para os visitantes”.
Newkey-Burden relata que quem conhece a Rússia sabe o quanto esses cães abandonados são amáveis. “Eles chamam a atenção por sua inteligência e resiliência. Muitos deles viajam pela cidade todas as manhãs de trem. Eles sabem quais são os horários em que há menos pessoas nos vagões e também sabem onde encontrar a melhor comida”, revela.
Segundo o autor, quando imploram por comida, os cães mais jovens e mais bonitos tomam a frente do bando, porque entendem que essa é a melhor forma de sensibilizar as pessoas. Em ruas mais movimentadas, os cães obedecem aos semáforos e atravessam apenas em locais seguros, trotando ao lado dos pedestres:
“Essas são as criaturas doces e abandonadas que estão sendo exterminadas em nome de um belo jogo. Muitos são mortos com comida envenenada. Essa forma furtiva de violência condena os animais a uma morte lenta e dolorosa, geralmente com convulsões, quando se engasgam com o seu próprio vômito antes de eventualmente apagarem.”
O jornalista enfatiza também que há caçadores de cães usando zarabatanas e dardos envenenados. E assim, vidas são silenciosamente apagadas porque não se encaixam na imagem que as autoridades querem apresentar ao mundo. Sobre o assunto, as autoridades negam que a eutanásia seja a política oficial, alegando que o foco é levar os cães para os abrigos.
No entanto, a organização Open Cages e outros grupos em defesa dos animais também garantem que o massacre continua. Prova disso é que as mídias sociais na Rússia estão repletas de fotos e vídeos de cães mortos ou convulsionando. Tudo isso permite traçar um paralelo com os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, quando cães abandonados também foram mortos em Sochi, na Rússia.
Além disso, segundo o jornalista britânico, uma empresa privada de controle de pragas foi contratada para a matança, inclusive se referindo aos cães como “lixo biológico”. A realidade foi confirmada pelo membro do parlamento russo Vladimir Burmatov que visitou um abrigo em Ecaterimburgo, na porção oriental dos Montes Urais, e encontrou muitos cães desnutridos e em situações que jamais poderiam ser consideradas satisfatórias.
Burmatov relatou também que uma grande quantidade de cães do abrigo foi colocada para “dormir”. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, há um orçamento de pouco mais de R$ 6 para cada morte. Preocupante também é a denúncia de que os abrigos para os animais “retirados de circulação” na Rússia não são dirigidos por especialistas em bem-estar animal, mas por uma empresa de coleta e descarte de lixo.
Há aproximadamente dois milhões de cães abandonados nas 11 cidades que vão sediar a Copa do Mundo, e isso reflete um descaso cultural que não deveria ter como “solução” o extermínio de animais. “A solução mais eficaz para o problema pode ser uma política de longo prazo de castração. Uma abordagem mais imediata para os cães que continuam nas ruas seria o investimento adequado em abrigos adequados. Deus sabe, a Copa do Mundo traz dinheiro o suficiente para a Fifa, a entidade que controla o futebol e fatura milhões”, pondera Chas Newkey-Burden.
A Fifa também poderia exigir que as autoridades russas parassem imediatamente os assassinatos. De acordo com o jornalista, outra medida poderia ser a inserção de uma cláusula de bem-estar animal no contrato com os anfitriões, impedindo esse tipo de prática. Em 2022, por exemplo, a Copa do Mundo vai ser no Qatar, um país que também tem muitos cães abandonados.
“Talvez algumas estrelas da Copa do Mundo também estejam à frente? Lionel Messi, Mesut Ozil e Harry Kane costumam postar fotos posando com seus cães. Neste jogo que movimenta muito dinheiro, a influência dessas superestrelas é imensa. Aí está a chance de mostrarem que realmente amam os cães”, sugere Newkey-Burden.
Referência
O Xogum dos Cachorros
Tsunayoshi ficou famoso por sua compaixão por cães e pela criação de leis beneficiando os animais
Nascido em 23 de fevereiro de 1646, o supremo líder militar Tokugawa Tsunayoshi é uma das figuras mais intrigantes da história do Japão. Além de ter garantido ao país um crescimento sem precedentes na Era Genroku, e que só seria novamente alcançado no início do século 20, o quinto xogum ficou conhecido como O Xogum dos Cachorros ou O Xogum Cão, pela sua compaixão pelos animais, mas principalmente por cães.
De acordo com a escritora alemã Beatrice Bodart-Bailey, autora do livro “The Dog Shogun: The Personality and Policies of Tokugawa Tsunayoshi”, publicado em 2006, foi sob o xogunato de Tsunayoshi, iniciado em 1680, que os cidadãos comuns do Japão tiveram pela primeira vez acesso à boa educação e condição financeira para desfrutar de formas de entretenimento que até então eram relegadas à elite governante.
Suas políticas pouco ortodoxas e seu amor pelos animais fizeram com que muita gente o visse como uma ameaça e o qualificasse como tirano. Um dos motivos foi a criação de uma série de leis intitulada “Shorui-Awaremi-no-rei”, ou “Os Éditos Sobre a Compaixão pelas Coisas Vivas”, inspirado nos ideais budistas de clemência. Quando ascendeu ao poder, Tsunayoshi exigiu que todos os cães fossem registrados, assim como mulheres grávidas e crianças, com o objetivo de prevenir o infanticídio.
Os mais místicos atribuíam o amor de Tsunayoshi pelos animais ao fato de que ele nasceu no ano do cachorro. Considerado generoso demais com os seres vivos não humanos, ele incomodou muita gente ao criar uma lei em que punia crimes contra animais com penas proporcionais ao tipo de violência praticada. Em 1685, ao divulgar “Os Éditos Sobre a Compaixão pelas Coisas Vivas”, sua intenção era garantir que cães, animais que povoavam as ruas em maior número, não fossem incomodados por pessoas mal-intencionadas.
Para resolver o problema do grande número de animais abandonados, ele construiu muitos canis, chegando a abrigar 48.748 cães só nos subúrbios de Edo, antiga Tóquio. E todos as despesas com manutenção eram custeadas pelo governo do xogum. Como as leis garantiam cuidados aos animais doentes ou feridos, a profissão de médico veterinário se tornou muito popular no Japão. Havia inclusive uma superintendência com funcionários que passavam o dia fazendo rondas em busca de animais abandonados ou maltratados.
Em seu livro, Bodart-Bailey conta que Tokugawa Lemitsu, o pai de Tsunayoshi, o deixou aos cuidados de sua mãe, uma verdureira, e que sob influência dela, que levava uma vida bem simples, o Xogum dos Cachorros cresceu rejeitando os valores da elite japonesa, e reconhecendo que cada ser vivo tem direito a um lugar ao sol.
Uma obra revisionista da história política do Japão, e que discorre sobre aspectos do desenvolvimento social, intelectual e econômico daquele país, “The Dog Shogun: The Personality and Policies of Tokugawa Tsunayoshi”, narra que o Xogum dos Cachorros criou cargos e nomeou funcionários para que cuidassem de viajantes doentes e procurassem um lar para crianças abandonadas. Mesmo que essas ações custassem caro, ele jamais cogitou parar de oferecer tais serviços.
Amado e odiado, Tsunayoshi tinha inimigos que diziam que sua postura intelectual baseada no budismo e no confucionismo era apenas uma distração, e que na realidade ele não levava a sério nada do que fazia em relação a isso. Porém, a escritora Bodart-Bailey apresenta provas consistentes que refutam essa afirmação. Um exemplo era o seu relacionamento com o filósofo confucionista Ogyû Sorai, o intelectual mais importante do Período Edo.
Segundo a escritora alemã, Sorai não apenas elogiou o trabalho do Xogum dos Cachorros, como também trabalhou com ele na definição e criação de muitas políticas públicas. Embora seu nome esteja sempre envolvido em controvérsias, Tsunayoshi conseguiu evitar fome e miséria em tempos conturbados da história do Japão, como quando houve a erupção mais violenta do Monte Fuji, além de desastres naturais como terremotos, tsunamis e tufões.
Sensível, o Xogum dos Cachorros foi criado como um erudito, não um guerreiro. Durante muitos anos, ele promoveu o neoconfucionismo, enfatizando principalmente a importância da lealdade e da paz. Outro episódio ou lenda associada ao seu nome foi o Ataque dos 47 Ronin, história que deu origem ao bushidō, código de honra samurai.
Além de ser mais espiritualizado que seus irmãos, Tsunayoshi preferia ouvir os conselhos de sua mãe do que os de generais e regentes, indo na contramão de seus antecessores e sucessores. Seu governo chegou ao fim em 19 de fevereiro de 1709, quatro dias antes de completar 63 anos, quando sua esposa, a filha do imperador, o matou envenenado.
Ela o assassinou porque Tsunayoshi, que também mantinha um relacionamento homossexual, queria que o seu amante fosse o seu sucessor. Sua esposa tentou dissuadi-lo em vão e, considerando a situação insustentável, o matou e depois cometeu suicídio. Quando o seu sobrinho Tokugawa Ienobu o substituiu, as leis de proteção aos animais foram revogadas.
Saiba Mais
O governo de Tokugawa Tsunayoshi começou em 1680 e terminou em 1709.
Os samurais criavam muitos cães durante o período do xogunato.
Referência
Bodart-Bailey, Beatrice. The Dog Shogun: The Personality and Policies of Tokugawa Tsunayoshi. University of Hawaii Press (2006).
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Quando cães frequentavam a igreja
Animais de Paranavaí tinham o hábito de participar das cerimônias religiosas nos anos 1950
Entre os anos de 1951 e 1957, a primeira igreja de Paranavaí não era frequentada apenas por pessoas, mas também por cães, principalmente em dias de missa. Os animais não podiam ver a porta da igreja aberta que logo entravam e passavam horas no local.
Em 2 setembro de 1951, o frei alemão Ulrico Goevert, logo após tomar posse como pároco de Paranavaí, reuniu alguns pioneiros para cobrir a pequena igreja que não tinha telhado. Terminado o trabalho que levou pouco mais de uma semana, o padre realizou a terceira missa como pároco. Foi a primeira de frei Ulrico na igrejinha.
Naquele dia, o padre se virou em direção aos fiéis para abençoá-los e se deparou com seis cães parados, como se aguardassem a bênção. O mais curioso é que havia mais animais na igreja do que pessoas. Só quatro pessoas estavam lá dentro assistindo a cerimônia religiosa. “Recordei das minhas primeiras missas na Igreja do Carmo, de Bamberg, e também na minha aldeia natal, Darfeld. Aqui era muito diferente, pois poucos participaram das cerimônias no início”, revelou o padre.
E não era apenas em dias de missa que os cães entravam na igreja. A partir de 1951, o episódio se repetiu diariamente. “É oportuno dizer que havia muitos cachorros em Paranavaí. Muitos eram tão devotos que até no meio da semana iam para a igreja”, relatou o pároco Ulrico Goevert em tom bem-humorado.
Os animais se portavam como se estivessem em casa. Os cães não latiam nem rosnavam no interior da igreja, apenas participavam das cerimônias religiosas como os fiéis. Nem se intimidavam com a presença humana, tanto é que o padre decidiu proibir a entrada dos animais.
O que não adiantou muito, pois até 1957 os cães ainda eram encontrados no interior da antiga Igreja São Sebastião, construída em 1952, em substituição a igrejinha. “Às vezes, apareciam até durante a santa missa no altar-mor. Falei ao bispo que eu daria 25 dias de indulgência para cada fiel que desse um pontapé num cachorro dentro da igreja”, frisou o padre. O bispo riu da proposta de Frei Ulrico, mas não concordou em dar as indulgências.
No livro “Histórias e Memórias de Paranavaí”, Frei Ulrico admitiu que deu vários chutes nos cães que invadiam a igreja. E justamente por isso, os animais reagiram. “Os cachorros têm boa memória. Quando me viam na rua, rosnavam e latiam mesmo de longe”, destacou.
À época, um dos cães, revoltado por não poder entrar mais na igreja, mordeu a panturrilha do padre. Apesar de tudo, Frei Ulrico relatava o fato de maneira cômica. “Sempre fui um verdadeiro amigo dos animais, mas não podia permitir a estadia de cães na casa do Senhor”, comentou. De acordo com pioneiros, os animais gostavam de ficar na igreja porque era um local silencioso e de uma atmosfera que inspirava paz.
A chegada de Frei Ulrico Goevert
Logo que chegou a Paranavaí, no dia 1º de setembro de 1951, frei Ulrico Goevert conheceu a primeira igreja de Paranavaí. Era uma casinha de madeira sem telhado e com uma pequena torre. “A casa paroquial também era de madeira, mas tinha cobertura de telhas”, contou Goevert. O padre provincial dos josefinos pediu ao frei alemão para usar o dinheiro arrecadado em uma festa organizada pela comunidade para cobrir e ampliar a igrejinha.
“Ele afirmou que esse seria o meu primeiro trabalho”, enfatizou frei Ulrico que foi enviado a Paranavaí para substituir o padre Carlos Ferrero que comandou as atividades religiosas locais durante alguns meses. Como seria preciso algum tempo para a reforma da igreja, a primeira missa do frei alemão ocorreu num sábado na Casa Paroquial. Lá, improvisaram um altar e um quadro grande de Nossa Senhora das Dores.
O padre estava tão preocupado com as dificuldades que enfrentaria em Paranavaí que admitiu ter suplicado à santa para lhe ajudar. “Naquele tempo, a ‘cidade’ tinha mais ou menos 60 casas e eram todas de madeira. Muitas nunca seriam classificadas como casa, conforme o conceito alemão”, comentou. No início dos anos 1950 ainda havia muitas residências com características de rancho, o que despertou estranheza em frei Ulrico, acostumado ao estilo de vida europeu.
No dia 2 de setembro de 1951, a segunda missa transcorreu em uma casinha que mais parecia uma “barraca de madeira”. No mesmo dia, o padre provincial apresentou frei Ulrico como o novo pároco de Paranavaí e entregou-lhe uma estola e um decreto de nomeação assinado pelo bispo.
O padre fixou residência na Casa Paroquial, onde havia apenas uma mesa, quatro cadeiras, dois armários e duas camas. “Não tinha fogão, e na hora de dormir o padre Carlos se abrigava na casa do vizinho, pois só havia camas para mim e o provincial”, Lembrou.
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