Archive for the ‘Caixa Rápido’ tag
“Sim, o plano ainda é o mesmo”
Em uma longa fila, enquanto eu aguardava pacientemente e observava a movimentação, um camarada me ligou.
Eu — Sim, o plano ainda é o mesmo. Não precisa se preocupar.
Eu — Claro que sim. Nada mudou.
Eu — Ele confirmou que vai fazer a instalação.
Eu — Pode confiar. O material realmente é de boa qualidade.
Eu — Melhor, impossível. Com ele, não tem erro.
Eu — Acho que teremos uma explosão daquelas, de felicidade.
Eu — Sim, está tudo acertado. Vai ser uma surpresa tremenda. Só tem que tomar cuidado pra ninguém perceber nada antes.
Eu — Não, creio que não. Ele disse que o trabalho de instalação é garantido. Sim, não precisa ativar nada, vai vir tudo pronto.
Eu — Arriscado? Não, de modo algum.
Conforme a conversa fluía, notei algumas pessoas me assistindo. Mas simplesmente ignorei. Uma senhora com olhar assustado, e que estava logo atrás de mim, apontou o dedo em direção à minha barba, e saiu da fila a passos ligeiros. Não entendi o motivo e continuei a conversa.
Eu — Você avisou?
Eu — Eles vão correr onde depois?
Eu — Eles já tinham me avisado.
Mais duas pessoas saíram da fila.
Eu — Sim, ele não quer que o grupo leve crédito por nada. Já pediu anonimato.
Eu — Claro que não. Não tem a menor chance. Vai acontecer como planejado.
Mais uma pessoa se afastou.
Antes de desligar o celular, Roberto comentou:
— Uma pena que eles não poderão participar por causa do treino, mas espero que o braço mecânico funcione e que o Seu Zé goste, porque deu tanto trabalho pra conseguir um.
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“Po, olha esse cara! Bruto demais dos pés até a touca”
Saí da academia e passei no mercado para buscar pão para a minha mãe. Na fila do caixa rápido, um cara ficava me observando. Até que ele se aproximou e disse:
— Caramba, mano! Tenho que te falar! Você tem um visu que dá medo! Olha o físico e a cara desse homem aqui, Renata!
Envergonhada, a moça que o acompanhava apenas sorriu e comentou:
— Não liga não. Meu irmão é assim mesmo.
Com meu típico sorriso enviesado, comentei que estava tudo bem. Então ele continuou:
— Po, olha esse cara! Bruto demais dos pés até a touca. Que barba sinistra, meu velho!
Eu já constrangido, sem saber o que dizer, pensei até em sair da fila do caixa rápido. Então Renata o puxou pelo braço, o levando para o setor de hortifruti. De lá, ele ainda falou:
— Serião, mano! Se você me der um tapa acho que eu não levanto.
Enquanto algumas pessoas riam e sorriam, eu só acenava a cabeça e tentava esconder a vergonha por trás da barba.
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No caixa rápido
Na fila do caixa rápido, um idoso estava na minha frente com sua esposa. Quando perguntei sua idade, ele me contou que tem 93 anos e sua senhora tem 92. De estatura baixa e silenciosos, os dois pareciam inexistir para toda aquela gente. Como a fila do caixa preferencial estava longe e também não era pequena, caminhei até o rapaz que encabeçava a fila do caixa rápido e pedi para ele deixar o casal passar. Todo mundo ficou me olhando, mas não notei nenhuma expressão de reprovação ou comentário negativo.
Logo o casal atravessou a fila carregando uma cestinha e uma bolsa ecológica. Depois que saíram do caixa, o senhor colocou a bolsa no chão, limpou as lentes dos óculos, ergueu o braço e sorriu, me cumprimentando mais uma vez. Lá fora, assisti ele abrindo a porta do carro para sua esposa. Ela entrou, ele perguntou se ela estava confortável, deu-lhe um beijo na fronte e fechou a porta. Então os dois partiram em um carro que atrás trazia um adesivo escrito “Abrace a vida mesmo quando ela não puder abraçá-lo”.