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McDia Feliz 2017 pela cura do câncer infantojuvenil é como a JBS criando uma megacampanha contra o desmatamento
McDia Feliz 2017 pela cura do câncer infantojuvenil é como a JBS criando uma megacampanha contra o desmatamento; a Coca-Cola comercializando refrigerante e prometendo reverter uma parcela dos lucros para o Instituto da Criança com Diabetes. Ou a Nestlé, a Kraft e a Hershey Company fazendo propaganda contra o trabalho escravo.
Por que não precisamos e não devemos consumir leite
Walter Willett: “Seres humanos não têm nenhuma necessidade de consumir leite de origem animal”
Leite é um alimento produzido por mamíferos para alimentar seus bebês. Realmente seres humanos dependem do leite, mas somente até o momento em que seu sistema digestivo se adapte a uma alimentação sólida. Nesse período, não é necessário mais do que o leite materno. Depois que passam a se alimentar de sólidos, os animais não têm necessidade de consumir leite. Porém, como esse consumo há muito tempo se tornou um hábito, e muitas vezes mais associado ao paladar do que à saúde, muitas pessoas não veem motivo para parar.
Quando você não consome leite, não é raro alguém em estranhar e perguntar quais são suas fontes de cálcio, vitamina D, riboflavina e outros nutrientes. Isso é uma reação cultural, porque vivemos imersos em uma realidade onde o consumo de laticínios é tão apregoado como essencial que é difícil para tanta gente assimilar o fato de que não precisamos de leite para obter esses nutrientes.
A verdade é que há muitas opções saudáveis para se obter, por exemplo, o cálcio. Podemos citar couve, acelga, chicória, espinafre, mostarda, folha de brócolis, rúcula, agrião, alface, salsa, aveia, feijão-branco, brócolis, laranja, gergelim, linhaça, lentilha, agrião, batata-doce, amêndoas, beterraba e mamão, entre outras frutas, verduras, oleaginosas, sementes e grãos. Além disso, banana e laranja são melhores fontes de potássio do que o leite, caso alguém o apresente como importante fonte desse micronutriente. Como fontes de fósforo, também há alimentos mais saudáveis – como aveia, feijão, sementes de abóbora, e amendoim. Ou seja, tudo isso endossa o fato de que o leite não é essencial.
É importante considerar que para o cálcio chegar aos ossos, é necessário manter uma boa ingestão de vitamina C, vitamina K, vitamina D3, potássio e magnésio. Em síntese, uma boa combinação de vegetais supre facilmente essa necessidade, segundo a médica e pesquisadora Rosane Oliveira, professora do Departamento de Saúde Pública da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia. Fato que também merece atenção é que o excesso de cálcio consumido a partir do leite pode contribuir para a baixa absorção de ferro. Isso se aplica também à caseína e à proteína do soro do leite. Outro problema é que o excesso de sódio, proteína animal, álcool e cafeína favorecem o roubo de cálcio dos ossos.
Rosane Oliveira observou que quando consumimos 415 miligramas de cálcio por dia, nossos intestinos se tornam mais eficientes na absorção do cálcio. Assim, nossos rins são preservados por mais tempo. Caso o excesso de cálcio não seja eliminado do nosso organismo, ele é depositado no coração, rins, músculos e pele, nos tornando vulneráveis às doenças; e isso pode ser desencadeado pelo consumo de leite.
“Uma dieta rica em proteína animal tem uma alta taxa de excreção de cálcio, o que significa que você é forçado a consumir mais cálcio para compensar essa excreção. Ao seguir uma dieta baseada em vegetais, que também é baixa em sódio e cafeína, as taxas de excreção de cálcio diminuem. Sendo assim, a ingestão de cálcio baseada em plantas pode ser muito menor”, escreveu Rosane, que é doutora em nutrição, no artigo “Getting clarity about calcium”, publicado em maio de 2015 no site Forks Over Knives.
É importante entender também que, assim como o ferro, o magnésio e o cobre, o cálcio é um mineral que pode ser encontrado no solo, onde é absorvido pelas raízes das plantas. Isso significa que os animais, por exemplo o gado, obtêm cálcio consumindo essas plantas ricas em cálcio. Mesmo que tenhamos sido condicionados a crer que o cálcio provém naturalmente do leite e de seus derivados, isso não é verdade, já que os animais são fontes intermediárias. Ou seja, as fontes originais de cálcio são as plantas.
De acordo com o médico e pesquisador estadunidense Neal Barnard, fundador do Comitê Para a Medicina Responsável (PCRM), não há motivo para que os seres humanos consumam leite de vaca. “Há muitas razões para evitá-lo. […] Um elevado risco de incidência de câncer de próstata e mortalidade tem sido associado ao consumo de leite e pode desencadear câncer de ovário. Cálcio é um nutriente necessário, mas podemos facilmente obter o suficiente a partir de alimentos vegetais. Em vez de prejudicar nossa saúde com o leite de vaca, esses alimentos vegetais fortalecem o nosso sistema imunológico e nos ajudam a evitar graves doenças”, escreveu no artigo “Cow’s milk is unnecessary and even harmful”, publicado em janeiro de 2013.
Os Estados Unidos são um dos maiores consumidores de laticínios do mundo, e ainda assim um dos países com maiores índices de fraturas de ossos. Ou seja, o consumo de leite não garante que ninguém sofra de problemas ósseos. Por outro lado, fraturas ósseas são menos comuns em países que não têm uma cultura de alto consumo de laticínios. Nos Estados Unidos, de acordo com a International Osteoporosis Foundation (IOF), osteoporose e diminuição da massa óssea atingem 44 milhões homens e mulheres com idade igual ou superior a 50 anos. No Brasil, onde o consumo per capita é de 156 litros por ano, 10 milhões de pessoas, aproximadamente uma pessoa a cada 17, tem osteoporose.
O estudo “Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies”, publicado pelo British Medical Journal em outubro de 2014, mostrou que pessoas que consumiram grandes quantidades de cálcio através do leite não tiveram redução em fraturas ósseas nem evitaram osteoporose. Na verdade, aqueles que consumiram altas quantidades de cálcio (mais de 1,1 mil miligramas por dia) apresentaram os maiores índices de fraturas de quadril e osteoporose em comparação a quem consumiu bem menos cálcio.
As pesquisas foram realizadas com mais de 61 mil mulheres e mais de 45 mil homens suecos ao longo de mais de 20 anos. A conclusão foi a de que não há nenhum benefício em consumir mais do que 700 miligramas de cálcio por dia para a saúde óssea. Também é importante ponderar que as populações do Norte da Europa são consideradas as que melhor se adaptaram ao consumo de laticínios no decorrer da história da humanidade.
Porém, o que reforça a defesa de que o leite não é um alimento realmente tão benéfico mesmo para a saúde dessas populações, que aparentemente têm menos dificuldade em digeri-lo, é o fato de que, no decorrer da pesquisa, mais de 17 mil mulheres suecas e mais de 5 mil homens que consumiam leite diariamente tiveram graves problemas de fraturas ósseas. Além disso, das pessoas que participaram da pesquisa, mais de 15 mil mulheres e mais de 10 mil homens já falecidos tiveram suas mortes associadas ao consumo de laticínios.
“Seres humanos não têm nenhuma necessidade de consumir leite de origem animal, uma evolutiva e recente adição à dieta”, escreveu Walter Willett e David Ludwig, do Boston Children’s Hospital, no artigo “Three Daily Servings of Reduced-Fat Milk – An Evidence-Based Recommendation?”, publicado no jornal JAMA Pediatrics em setembro de 2013, que refuta a necessidade de seres humanos consumirem leite e ainda aponta as consequências do excesso de laticínios.
Willett, que é médico e tem doutorado em saúde pública, é professor de nutrição e epidemiologia da Harvard T.H. Chan School of Public Health, professor de medicina da Harvard Medical School e chairman do Departamento de Nutrição da Universidade Harvard. Por suas contribuições à área da nutrição, o jornal The Boston Globe afirmou que, considerando a importância do seu trabalho, ele é um dos nutricionistas mais influentes do mundo na atualidade.
Walter Willett também publicou um estudo em que relacionou o consumo de carne, principalmente a processada, ao risco de morte precoce, levando em conta a facilidade com que a gordura trans é capaz de obstruir artérias. Também respeitado e prestigiado, David Ludwig, o co-autor da pesquisa sobre laticínios, trabalha em um dos maiores e mais bem-sucedidos projetos de tratamento de crianças obesas dos Estados Unidos, realizado no Boston Children’s Hospital.
No periódico JAMA Pediatrics, Walter Willett e seus colegas da Universidade Harvard revelaram os resultados de uma pesquisa com 96 mil homens e mulheres ao longo de décadas. Intitulado “Milk consumption during teenage years and risk of hip fractures in older adults”, o estudo divulgado em janeiro de 2014 mostrou que o alto consumo de leite na adolescência não ajuda a prevenir fraturas quando as pessoas ficam mais velhas. “O alto consumo de lácteos também tem sido associado a um risco aumentado de câncer no final da vida, incluindo câncer de mama e câncer colorretal”, alertou.
Após as evidências dos estudos sobre o consumo de leite, Willett e Ludwig criticaram o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e a Academia Americana de Pediatria por incentivarem o consumo de três xícaras de leite por dia. Eles reprovaram inclusive o consumo de leite desnatado. David Ludwig destacou que o fato do leite conter baixo teor de gordura não faz dele um alimento a ser recomendado como parte da dieta alimentar padrão.
“Seguimos a recomendação de beber leite por tanto tempo que poucos de nós param para considerar o quanto é pouco natural o consumo de leite”, enfatizou Joe Keon, doutor em nutrição e autor do livro “Whitewash”, no artigo “Do You Need Milk?”, de Catherine Guthrie, publicado na revista de saúde Experience Life em abril de 2014.
Michael Greger: “Leite é um alimento saudável para bezerros”
Para o médico Michael Greger, especialista em nutrição e fundador do site NutritionFacts.org, leite é um alimento saudável para bezerros, para filhotes de vaca. “Por que o leite é associado com o aumento de risco de câncer de próstata? Leite é um coquetel de hormônios do crescimento que faz com que um pequeno animal bovino ganhe algumas centenas de quilos em poucos meses. Então ele é desenvolvido como um alimento para o crescimento rápido, o que é ótimo se você é um bezerro, mas se você é um humano adulto esse excesso de hormônios do crescimento não é uma coisa boa”, declarou em entrevista registrada no documentário “Food Choices”, lançado em 2016 por Michal Siewierski.
Conforme informações do artigo “Hormones in Dairy Foods and Their Impact on Public Health – A Narrative Review Article”, publicado pelo Iranian Journal of Public Health e pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos em junho de 2015, os hormônios esteroides são compostos muito potentes em alimentos lácteos, e exercem profundos efeitos biológicos em animais e humanos. “A maioria dos conhecimentos anteriores sobre os esteroides está de acordo com suas concentrações fisiológicas, e às vezes supra-fisiológicas de esteroides, mas recentemente descobriu-se que esses compostos, mesmo em doses muito baixas, podem ter efeitos biológicos significativos. Deve ser dada atenção especial aos efeitos, que podem ocorrer durante determinados momentos sensíveis, como períodos perinatais e puberais”, ressalta a pesquisa.
No artigo “As doenças relacionadas ao consumo de leite de vaca”, publicado pela Food Med em 5 de agosto de 2015, a autora Pamela Blumer explica que, no final dos anos 1980, e visando o aumento da produção de leite, a multinacional Monsanto desenvolveu o hormônio somatropina bovina recombinante: “Nos adultos, isso pode promover o crescimento anormal das células e levar a alguns tipos de câncer, como de mama e gastrointestinal.” Para reforçar essa afirmação, ela cita o estudo sueco “Milk intake and risk of mortality and fractures in women and men: cohort studies”, mencionado anteriormente.
Outro ponto agravante, segundo Pamela Blumer, é que o uso de somatropina bovina recombinante causa sofrimento aos animais, já que tem como efeitos colaterais febre, falta de apetite, desenvolvimento anormal de membros, mastite (inflamação das glândulas mamárias), distúrbios reprodutivos, entre outras doenças que podem levar o animal à morte.
Leite de vaca traz pus em sua composição
Uma informação pouco divulgada também é que o leite de vaca, principalmente o industrializado, traz células somáticas, conhecidas como pus, em sua composição. Isso é uma consequência de inflamações e doenças que atingem o gado leiteiro, como a mastite. No Brasil, a oferta de leite com pus é regulamentada pelo governo por meio da Instrução Normativa nº51, de 2002, que permite que cada mililitro de leite contenha até 600 mil células somáticas (pus). Ou seja, os consumidores estão sempre sujeitos a consumirem secreções decorrentes de infecções bacterianas extracelulares. Enfim, algo proveniente do mal-estar ou de alguma doença que atinge esses animais.
“Descrevo laticínios como carne líquida. Basicamente, como a carne vermelha, tem alto teor de gordura, colesterol e nada de fibras. Na verdade, pode ser pior do que a carne vermelha. A caseína que usam para dar liga no queijo é cheia de química. E são químicos tão viciantes que se assemelham à heroína [nesse aspecto], pois não temos quatro estômagos como os bezerros [para metabolizá-la corretamente]. E infelizmente o leite está em tudo”, lamentou a escritora de literatura wellness Karyn Calabrese em registro no documentário “Food Choices”, de 2016.
De acordo com a doutora em nutrição Pamela A. Popper, fundadora do Fórum Wellness, uma das coisas mais difíceis para as pessoas abandonarem são os laticínios, e exatamente porque estabelecem uma nociva relação de dependência com esses alimentos. “Tomar controle da sua saúde é olhar para as informações e fazer escolhas conscientes”, comentou.
O médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”, John McDougall e o bioquímico e doutor em nutrição T. Colin Campbell, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos e publicou o best-seller “The China Study” em 2005, defendem há muito tempo que existe um mito sobre a necessidade do consumo de leite, e esse tipo de consciência é o que motiva a indústria de laticínios. Afinal, se as pessoas não acreditarem que o consumo de leite é benéfico, elas deixarão de comprá-lo.
Saiba Mais
No estudo “Comparison of Nutritional Quality of the Vegan, Vegetarian, Semi-Vegetarian, Pesco-Vegetarian and Omnivorous Diet”, publicado em 2014 na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, foi avaliada a densidade mineral óssea de veganos e onívoros. Os resultados surpreenderam porque mostraram que mesmo veganos com uma ingestão bastante reduzida de cálcio e proteína apresentaram um bom nível de densidade óssea.
De acordo com o Comitê para Medicina Responsável dos Estados Unidos (PCRM), 75% da população mundial sofre de alguma disfunção no processo de digestão de laticínios. Ou seja, alactasia (não possui enzimas lactase), diminuição enzimática secundária ou diminuição gradativa de lactase. O que significa que esse é o percentual de pessoas do mundo todo que têm dificuldade de digerir corretamente e naturalmente, logo sem o uso de enzimas artificiais, o leite e outros produtos baseados em laticínios.
Referências
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3967195/
http://thekindlife.com/blog/2013/01/why-milk-is-harmful-by-dr-neal-barnard/
http://www.bmj.com/content/349/bmj.g6015
http://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/article-abstract/1704826
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24247817
https://experiencelife.com/article/do-you-need-milk/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4524299/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09352008000100003
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3967195/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-204X2006000100021
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982007000200010
http://www.scielo.br/pdf/cab/v17n4/1809-6891-cab-17-04-0534.pdf
https://www.statista.com/statistics/263955/consumption-of-milk-worldwide-since-2001/
http://www.pcrm.org/health/diets/vegdiets/what-is-lactose-intolerance
Food Choices, Michal Siewierski (2016).
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Alto consumo de leite não ajuda a prevenir fraturas
No periódico JAMA Pediatrics, Walter Willett e seus colegas da Universidade Harvard relataram que fizeram uma pesquisa com 96 mil homens e mulheres ao longo de décadas. Intitulado “Milk consumption during teenage years and risk of hip fractures in older adults”, o estudo mostrou que o alto consumo de leite na adolescência não ajuda a prevenir fraturas quando as pessoas ficam mais velhas. “O alto consumo de lácteos também tem sido associado a um aumento do risco de câncer no final da vida, incluindo câncer de mama e câncer colorretal”, destacou.
Os resultados da pesquisa estão disponíveis em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24247817
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Acredito que o câncer surgiu a partir do momento que nos afastamos da nossa natureza
Acredito que o câncer surgiu a partir do momento que nos afastamos da nossa natureza. Meu pai faleceu em decorrência dessa doença quando eu era criança. Se eu pudesse voltar no tempo, teria dito para ele fazer uma terapia nutricional, não simplesmente os tradicionais tratamentos agressivos.
Não demonizo os tratamentos modernos de câncer, só acredito que não são tão eficazes sem o reencontro do ser humano com a sua própria natureza. Na realidade, creio que todas as doenças surgiram a partir do momento que nos afastamos de nossa natureza, inclusive aquelas apontadas como resultado de predisposição genética. Afinal, uma doença não se desenvolve facilmente em um ambiente verdadeiramente saudável.
Sobre a indústria do tratamento de câncer
Sejamos honestos, se o câncer desaparecesse amanhã, milhões de pessoas ficariam desempregadas, teriam que receber um novo tipo de treinamento. A indústria do tratamento de câncer movimenta 200 bilhões de dólares por ano [só nos Estados Unidos], e ela seria desmontada se a verdade a respeito do que realmente precisamos fazer viesse à tona. Na maioria dos países é ilegal o tratamento de pacientes com câncer com terapia nutricional.
Fonte: Food Matters, lançado em 2008.
O destino de Dora
Um dia, não suportou a pressão e caiu desmaiada no piso gelado da sala de trabalho
Eu e Dora nos conhecemos no início de 2008, após o falecimento de seus pais em um acidente na BR-376. Ela tinha 23 anos e trabalhava em uma dessas centrais de teleatendimento há três anos. Após a tragédia, em vez de se preocuparem com a moça, todos os familiares se afastaram. Na mesma época, fui demitido de supetão do jornal porque a editoria em que eu trabalhava foi extinta logo após o editor se demitir.
Mas já fazia um bom tempo que eu e Dora nos encontrávamos para conversar, divagar e relatar planos. Inspirado na obra “Dublinenses”, de James Joyce, o meu era usar o dinheiro da demissão para viajar pela Irlanda. Para ser mais preciso, assistir shows da banda de post-rock God Is An Astronaut e anotar em um caderno tudo que eu via de interessante sobre o comportamento humano no Velho Mundo e sua relação com o tempo e o ambiente. Não queria trabalhar, somente vagar até o dinheiro acabar.
“Quero me distanciar para ter a chance de renascer. O ser humano precisa mudar de tempo em tempo senão pode enlouquecer ou se tornar algo até pior – um sujeito resignado”, comentei com Dora que sorriu enquanto batia levemente as pontas das unhas purpúreas sobre a mesa maciça e rústica do bar. Ela se calou por alguns instantes, observou o céu estrelado, apontou a imensa lua com uma de suas delicadas mãos, abaixou os olhos amendoados, os levantou novamente e disse: “Cara, eu tenho leucemia…”
Fiquei sem reação. E acho que nada que saísse de minha boca naquele momento a confortaria. Então simplesmente recobrei minha expressão serena, fixei meus olhos nos olhos dela e dei cinco toquinhos em sua mão esquerda que repousava sobre a mesa. Ela entendeu e sorriu, sem também dizer palavra. Percebi que Dora não queria conversar sobre a doença, somente compartilhar com alguém uma revelação que não teve coragem de contar a mais ninguém.
Mais tarde, a levei até sua casa e fui embora pensando em como sua situação era delicada. Eu que já tinha perdido meu pai para o câncer em 1997, nunca mais consegui encarar a doença como algo menos do que implacável. Ela usurpa do ser humano muito mais do que a própria vida – aniquila sua dignidade. É a reafirmação de nossas fraquezas, do fim, da efemeridade.
Nos encontramos por mais dois meses, até que um dia, conversando pelo celular, ela sugeriu que não nos víssemos mais. Acabei respeitando sua decisão, compreendendo a delicadeza da situação. Ela já não ligava mais a câmera durante as conversas na internet. Também ocultava a foto do perfil. A questionei uma vez sobre isso e me arrependi. Eu já não a via mais nem por acaso. Talvez ela tivesse tomado a decisão de sair de casa somente a trabalho.
Ainda assim, sei que teria me sentido o mais mesquinho dos homens se partisse para minha jornada errante joicyana. Desisti da viagem para a Irlanda e comecei a escrever sobre Dora. Ainda conversávamos com bastante frequência e pedi que me relatasse sua rotina. No trabalho, ela não contou a ninguém sobre o diagnóstico da doença e continuou vivendo como se não tivesse nenhum problema de saúde. Provavelmente eu era a única pessoa que sabia da leucemia. Olhar para mim talvez fosse o atestado da soma de suas fragilidades.
Nunca a questionei se ela se arrependeu de ter me contado sobre a doença, mas comecei a perceber que se sentia mais vulnerável diante de mim. No celular, sua voz doce se amofinava cada vez mais, combalida pela constante contradança de emoções. Às vezes, aflita e aturdida, me ligava de madrugada. Eu mal ouvia sua respiração ofegante e ela desligava arrependida. Sua sensibilidade se acentuava a cada dia – à flor da pele.
No trabalho, não havia trégua e ela não queria de jeito nenhum assumir publicamente a leucemia. Os clientes que ligavam para a central de atendimento se queixando dos serviços oferecidos, pouco se importavam com a vida ou o estado emocional de quem estava do outro lado da linha. “Você é retardada, minha filha? Sua jumenta! Quero o meu dinheiro de volta! Não vou pagar por um serviço que não usei!”, gritou um homem, afirmando que era juiz e prometeu fazer o possível para vê-la demitida, caso seu problema não fosse resolvido.
As ofensas diárias dos queixosos se intensificavam cada vez mais. Num período de três horas, Dora era agredida verbalmente por até 20 clientes. Insatisfeitos, descontavam na moça a cólera em decorrência de problemas pessoais, profissionais e falhas que estavam muito além de sua função. “Escute aqui, querida! Sou médica, está me ouvindo? Estudei muito pra chegar onde estou e não vai ser uma qualquerzinha do teleatendimento, um trabalhinho sujo desse, pra gente burra e desqualificada, que vai tirar vantagem de mim!”, esbravejou uma mulher que disse ser parente de um deputado.
Um dia, Dora não suportou a pressão e caiu desmaiada no piso gelado da sala de trabalho. Estava pálida, com os lábios arroxeados e suava frio. Tirou a tarde de folga e foi para casa. Entrou no quarto, sentou na cama e observou o próprio reflexo no espelho oblongo. Não conseguia sentir-se bonita como antes e começou a chorar, assistindo as lágrimas percorrendo as covinhas transformadas em fendas após a perda acentuada de peso. Lá se foram dez quilos, seus cabelos perdiam volume rapidamente, e quase ninguém sabia o que estava acontecendo com Dora – embora corressem boatos, muito maldosos.
“Ela era tão linda! Que corpo que ela tinha, hein? Lembra das covinhas? Um charme! Será que sofre de anorexia nervosa? Um desperdício! Não tem mais coxas, bunda…nada!”, comentou seu chefe com um colega de trabalho, sem notar a presença de Dora que ouviu tudo quando estava indo ao banheiro. Sentada sobre o vaso, Dora levou as mãos ao rosto. Se esforçou para chorar, só que não restavam lágrimas. Estava esgotada e sentia-se constantemente desidratada, mesmo se empenhando em beber bastante água.
Inclinou o corpo para frente e pediu, com voz diminuta e vacilante, que Deus a levasse o mais rápido possível se o seu destino fosse a morte. Para ela, nada superava a dor causada pela ignorância e insensibilidade humana. Sair de casa se tornou um exercício tortuoso de enfrentamento das piores adversidades.
Até mesmo na rua, desconhecidos a olhavam como se não estivessem diante de um ser humano, mas sim de algo diferente, inominado. “Mãe, por que aquela moça é tão magra?”, perguntou uma garotinha de dez anos. “Sei lá, filha! Pela cara dela, deve tá com Aids”, respondeu a mulher instantaneamente, crente de que a distância era o suficiente para impedir que ela ouvisse a resposta.
Dora pediu demissão do trabalho como operadora de teleatendimento antes de começar o tratamento de quimioterapia. Se fechou dentro de casa, sobrevivendo de economias e se comunicando com o mundo e as pessoas somente através da internet e do celular. Também abandonou o tratamento. Não saía mais nem para ir ao mercado.
Não conseguia distinguir dia e noite, principalmente quando passava muitas horas deitada na cama, dormindo ou olhando para o teto branco que ganhava formas incertas de acordo com o sentimento predominante. “Não vou mentir, Dora. A verdade é que você tem de seis meses a um ano de vida”, revelou o médico oncologista com subitânea naturalidade.
Se recusando a receber qualquer tipo de visita há meses, Dora decidiu aliviar a própria dor cometendo suicídio com chumbinho. Comprou o produto pela internet para não precisar sair de casa. Pagou frete por sedex e aguardou a chegada. Ouviu alguém batendo palmas, abriu a porta e pela primeira vez em mais de 50 dias sentiu o sol tocando seu rosto níveo. Era morno e lhe afagava as finas maçãs. O céu estava tão claro que ela observou com atenção uma revoada ruidosa e amorável de bem-te-vis.
Caminhou até o portão, pegou o pacote da mão do carteiro e antes de entrar em casa observou um cãozinho preto e silencioso, com poucos dias de vida e o umbiguinho pardo virado para cima. Foi abandonado ao lado do vaso bege de íris, o preferido de sua mãe. Dora se surpreendeu com a resistência do espécime que crescia vistoso e fúlgido apesar do abandono.
Assim que abriu o pacote, quebrou o lacre do chumbinho e foi até a cozinha buscar um copo de água, o telefone tocou. “É a senhora Dora? É aqui do laboratório. Estamos ligando para avisar que precisamos que venha aqui com urgência. Descobrimos erros graves nos seus exames. A senhora nunca teve leucemia, apenas anemia.”
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APDE faz a diferença em Paranavaí
No dia 15 de dezembro de 2015, passei quase a manhã toda conversando com o pessoal da Associação dos Portadores de Doença Especial (APDE), entidade que atende vítimas de câncer em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. A primeira vez que estive lá foi em 2006. É muito bom retornar e ver quanto amor eles dedicam a tantas pessoas passando pelo momento mais delicado de suas vidas. Nas poucas horas que estive lá, presenciei a chegada de inúmeros voluntários entregando doações. Em síntese, assisti pessoas recebendo não apenas atendimento de boa qualidade, mas também muitos abraços.
Meu pai e eu, a despedida que não aconteceu
Quando segurava sua mão, eu a sentia fria e frágil. Queria apertá-la, mas temia lhe ferir os dedos
No dia 21 de setembro de 1997, domingo, uma semana antes do meu aniversário, eu dormia em um colchão no quarto do meu irmão Douglas quando ouvi minha mãe chamando. Olhei para a porta e a vi nos observando naquela manhã que nem a primavera antecipada garantiu o sol aquecendo nossa janela. As luzes estavam apagadas, assim como o sol que costumava invadir nossa casa com um esplendor enternecido e jubiloso.
Cães e gatos, que se engalfinhavam por brincadeira todas as manhãs, também endossavam um silêncio que ecoava um vazio inenarrável. “David, Douglas, preciso muito dizer uma coisa… É muito sério… Seu pai não resistiu e morreu…”, revelou minha mãe com olhos afogueados e um tom de voz aluído que denunciavam ter ensaiado aquele momento por várias horas. Nos calamos por segundos que pareciam minutos. Então ela se afastou, se esforçando para reprimir a emoção.
Levei as mãos ao rosto e esfreguei os olhos que formigavam mais do que lã em eczema. “Poderia ser apenas uma alucinação, vai saber.” Prossegui com a fleuma, me negando a aceitar a gravidade da situação. Afinal, na minha concepção juvenil de finitude ninguém morria até que eu o visse morto. “Não, ele não pode ter morrido. É meu pai e pais não podem viver menos de 100 anos. Como ele tem 56, ainda restam 44. Não sei onde ele tá, mas tenho certeza que vai se levantar.”
Apesar da descrença no passamento, me sentei, aproximei os joelhos do peito e divaguei pelo passado recente. Lembrei das vezes em que fiquei de castigo sentado no chão ao lado da cabeceira enquanto meu pai lia um dos quatro ou cinco livros escolhidos a cada semana; um castigo que não era tão castigo porque me permitia ler junto. Recordei também das noites em que eu tinha de tocar polca no quarto. Com o passar das horas, parecia um martírio e eu só pensava em dormir. Criança que era, não tinha a mínima ideia de que um dia sentiria falta de suas cobranças, castigos, reprimendas, discursos bravios e das vezes em que simulou me bater e judiou da cama.
Algum tempo depois, me levantei, fui até o quintal e observei o céu. Apesar de tudo, ele continuava igual, na sua apatia que prenunciava a aurora primaveril. Até a pequena plantação de hortelã seguia galharda, exalando profuso frescor. Aquilo era uma ofensa pra mim que perdi meu pai na madrugada. “Vou lá fora!”, pensei. Abri o portão, coloquei os pés na calçada e notei que o mundo não mudou porque meu pai partiu. Crianças atravessavam a rua rindo e correndo. Cães de diversos tamanhos latiam e mostravam os dentes entre as grades dos portões, tudo para tentar intimidar os passantes.
Logo ouvi o sino da igreja simulado por um disco de vinil e dezenas de pessoas caminhando até ela, assim como se repetia todo domingo. A padaria a 50 metros de casa estava aberta, recebendo os fregueses. “Por que ninguém se importa?”, me perguntei enraivecido. Quando vi sombras e vozes em frente ao portão de casa, me afastei e retornei a passos rápidos para o quarto do meu irmão.
Deitei no colchão e fiquei por lá, aventando minhas voláteis conclusões: “Claro! Se tá tudo igual é porque meu pai não morreu. Deve ser algum tipo de engano.” Então mirei o teto com a visão ligeiramente difusa e pensei que talvez fosse uma boa ideia ir até o hospital vê-lo. Em poucos minutos, veio um novo choque de realidade. Minha mãe retornou e perguntou se preferíamos ir ao velório ou ficar em casa.
Ilusão desfeita, eu e meu irmão nos entreolhamos e hesitamos por alguns instantes. No entanto, numa situação como essa, a resposta era previsível. “Prefiro ficar…”, respondemos juntos. Ela entendeu e respeitou nossa decisão, pois desde sempre não tínhamos o hábito de ir a velórios nem a enterros. No caso do meu pai em especial, a ideia de jamais vê-lo morto não era simplesmente uma forma de preservar a imagem que tínhamos dele, mas também a esperança de que um dia ele poderia retornar.
Por um momento, fui até o quarto do meu irmão Juninho, contíguo ao da minha mãe, e o observei no berço. Balançava as perninhas rechonchudas com o vigor de uma pedalada. Seus olhos grandes, redondos e castanhos cintilavam como avelãs envernizadas. A agitação hasteava a camisetinha com estampa do “Tico e Teco”, expondo a barriguinha farta. Nascido há um ano, sorria com doçura, mostrando a vivaz gengiva nua e os poucos dentinhos enquanto apontava a mão para um móbile de animaizinhos que giravam sobre sua cabeça.
A vida me parecia um jogo de chegadas e partidas. “Mas por que a partida tinha de ser do meu pai?”, reclamava. E assim minha mãe assumia total responsabilidade sobre três crianças que sabiam nada ou quase nada da vida, do mundo e dos seres humanos. Apesar de tudo, eu e Douglas não choramos, não gritamos, não brigamos com ninguém. Seguimos nossas vidas em silêncio. Nem mesmo na escola tocamos no assunto. Entre nós a reticência também era imperativa. Por que deveríamos dizer algo a alguém? Era um mundo distorcido, tanto quanto uma pintura do Otto Dix.
Com o tempo a consternação se intensificou, despertada num rompante insólito. A ausência tinha consequências progressivas – fustigava e dava lições de vida e morte. Crescia aos poucos, abrindo espaços entre o coração e o cérebro, como se formasse raízes no cerne da existência. O vácuo deixado pelo meu pai amplificava a impressão de um mundo oco em que não é dado aos bons seres a oportunidade de corrigirem suas falhas e renascerem. Com 13 anos, concluí e amarguei no coração diminuto, como uma noz prestes a ser esmagada, a ideia de que o mundo nunca foi justo porque não cabe a ele fazer qualquer tipo de justiça. Apenas segue de acordo com o curso das nossas ações, independente do nosso estado de consciência ou passionalidade.
Tardiamente, me via na esteira da dualidade, interpelando: “Que seja! Por que a vida não poderia imitar um jogo de videogame? Continuar de onde paramos. A morte deveria ser sinônimo da vida, um reinício e não um fim.” Era impossível esquecer que durante um ano e oito meses vi meu pai definhando aos poucos. Ele se esforçou para tentar levar uma vida normal. Quando recebeu a notícia de que estava com câncer de pulmão, deu um sorriso e, com um olhar sereno, comentou: “Vai dar tudo certo. É só um probleminha passageiro.”
Em Maringá, acompanhei meus pais até o Hospital Paraná em muitas sessões de quimioterapia e radioterapia. No começo, tudo ia bem. Meu pai continuava se alimentando normalmente e fazia brincadeiras enquanto aguardava atendimento. Em meses, perdeu os cabelos, mais de 20 quilos e sua pele que era rosácea se tornou translúcida e esquálida. As maçãs do rosto se afundaram a ponto de abrir fendas nas laterais que raleiam o maxilar.
Ele continuava acreditando na própria recuperação, assim como nós. Após um ano recebemos a melhor notícia de nossas vidas. Meu pai estava curado! Saímos até para festejar. Era incrível! Então a doença voltou… Depois de buscar métodos alternativos que não funcionaram, ele começou um novo tratamento no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. O resultado foi ainda mais agressivo e o seu peso caiu pela metade.
Era difícil reconhecê-lo, e eu já não o via tanto porque precisava ir para a escola. Em casa, meu pai repousava em um quarto adaptado à sua situação. Quando segurava sua mão, eu a sentia fria e frágil. Queria apertá-la calorosamente, mas temia lhe ferir os dedos. Seus olhos estavam mais baixos do que nunca. Quebrantado, fazia poucos movimentos com a boca e seus lábios tinham de ser umedecidos constantemente para não ficarem ressequidos e sangrarem.
Seu corpo escanzelado ocupava pouco espaço em um colchão d’água que evitava escoriações na pele delgada. Era azul como o mar e o céu que contemplou tantas vezes com uma expressão enlevada. Um dia, quando eu estava ao lado da cama sentado em uma cadeira, me pediu, com a voz embargada e paulatina, para ler um trecho de “O Andarilho das Estrelas”, do Jack London.
“…Sorri para mim mesmo um imenso sorriso cósmico e mergulhei na imensidão da pequena morte que fazia de mim o herdeiro de todas as eras e o cavaleiro de reluzente armadura a cavalgar o tempo.” Meu pai me olhou, fechou os olhos e dormiu sem desfazer o terno sorriso. Foi a última vez que conversamos.
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