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Caroline Earle White, uma pioneira da proteção animal
“Não há dúvida de que sua verdadeira vocação era ajudar os negligenciados, os sem voz: os animais”
Criada em uma família de abolicionistas e sufragistas, Caroline Earle White é um dos nomes mais importantes da história da proteção animal nos Estados Unidos. Em 1869, depois de ter o seu pedido negado para ocupar uma posição de liderança na Pennsylvania Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Sociedade da Pensilvânia pela Prevenção da Crueldade aos Animais), e simplesmente por ser mulher, ela fundou a sua própria entidade, Depois criou o primeiro abrigo para animais dos Estados Unidos e a primeira sociedade anti-vivissecção. Em síntese, a sua história é marcada por muita luta e adversidades.
Nascida na Filadélfia, no estado da Pensilvânia em 1833, Caroline Earle White era filha de Thomas Earle e Mary Hussey. Dedicado à causa abolicionista, seu pai era advogado e representava tanto afro-americanos livres quanto fugitivos. Sua mãe, além de abolicionista, também era sufragista. Educada em Nantucket, em Massachusetts, onde estudou astronomia e diversos idiomas, Caroline se interessou ainda muito jovem por questões sociais e humanitárias.
Aos 33 anos, ela se tornou co-fundadora da Pennsylvania Society for the Prevention of Cruelty to Animals (PSPCA), que iniciou suas atividades em 1866. Porém, quando soube que por ser mulher não poderia ocupar nenhuma posição de destaque na entidade, ela optou por se afastar e criou em 14 de abril de 1869 a Women’s Pennsylvania Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Sociedade das Mulheres da Pensilvânia pela Prevenção da Crueldade aos Animais).
Segundo informações da Women’s Humane Society, a entidade criada por Caroline White, e guiada por um conselho administrativo formado somente por mulheres, se tornou uma força na comunidade humanitária. Em 1912, a organização abriu um pequeno abrigo para animais abandonados, dando a eles uma chance de ter um novo lar.
O novo abrigo oferecia o primeiro programa de adoção de animais do país, e foi um grande sucesso porque atendeu uma importante necessidade da comunidade. Até então, os animais que viviam nas ruas sofriam muito, porque havia uma política “higienista” nos Estados Unidos que permitia que eles fossem mortos.
“Há muitas pessoas que, quando lhes pedimos para se juntarem a nós, dizem que preferem trabalhar para os seres humanos. Mas nós não estamos trabalhando para os seres humanos? Nós não estamos nos esforçando constantemente para fazer homens e mulheres mais humanos e dispostos a todos os sentimentos de bondade e a ensinar as crianças a serem gentis e misericordiosas?”, disse Caroline Earle White em declaração histórica que pode ser lida no site da Women’s Humane Society, dos Estados Unidos.
Após fundar a American Anti-Vivisection Society (Sociedade Americana Anti-Vivissecção) em 1883, como forma de combater a vivissecção, ou seja, operações feitas em animais vivos com o objetivo de realizar estudo ou experimentação, ela começou a produzir e distribuir folhetos com a intenção de chamar a atenção para a inadmissível violência praticada contra os animais.
Em 1893, na Feira Mundial de Chicago, ela distribuiu milhões de panfletos explicando que os animais usados nesses experimentos eram inclusive roubados. A ideia de que poderia ser errado matar animais mesmo com o propósito de obter alimentos desfrutou de uma proeminência considerável, observou Carol Helstosk na página 184 do livro “The Routledge History of Food”, publicado em 2014.
À época, o vegetarianismo começou a ser promovido em todo o país porque os defensores e simpatizantes da causa animal entenderam que não seria possível lutar pelos direitos animais enquanto se alimentavam de animais. Caroline White adotou o vegetarianismo na década de 1890, assim como sua colaboradora Mary F. Lovell, a escritora e anti-vivisseccionista Cynthia Fairchild-Allen e a fundadora da Boston Animal Rescue League, Anna Harris Smith, o que ajudou a fortalecer ainda mais o discurso contra a exploração animal.
“Agora quase todos concordam que os animais inferiores têm certos direitos, tão inalienáveis como os do homem para a vida, a liberdade e a busca da felicidade”, frisou Caroline Earle em citação escrita em um relatório ao Conselho Administrativo da WPSPCA, reproduzida no boletim informativo “The Guardian”, da Women’s Humane Society, em outubro de 2014.
Apesar da sua referência aos animais como “inferiores”, é importante entender que Caroline não via os animais exatamente dessa forma. Talvez ela não tenha usado palavras mais auspiciosas por causa do contexto da época, já que se tratava de uma realidade do século 19. Como ativista, ela também escrevia sobre direitos animais e fez o possível para minimizar o sofrimento dos animais usados principalmente como meio de transporte, que eram vítimas constantes de maus-tratos, assim como cães e gatos.
Caroline Earle White garantiu a instalação de fontes de água para cavalos em locais públicos. Em 1909, inauguraram a Caroline Earle White Dispensary, uma clínica que oferecia serviços veterinários gratuitos para equinos e animais menores. Após alguns anos lidando com sérios problemas de saúde, a ativista dos direitos animais faleceu em 7 de setembro de 1916 em Nantucket, Massachussets. “Ela era uma grande mulher com o coração de uma pequena criança. Suas obras a louvam; as milhões de criaturas de Deus que ela salvou do sofrimento cantam em seu louvor”, escreveu a sua sobrinha e poeta Florence Earle Coates.
Apesar da sua morte, as instituições criadas por Caroline continuam na ativa até hoje. Exemplos são a Women’s Pennsylvania Society for the Prevention of Cruelty to Animals, que adotou o nome de Women’s Humane Society em 1988, e a American Anti-Vivisection Society. Segundo a escritora Diane L. Beers, autora do livro “For the Prevention of Cruely: The History and Legacy of Animal Rights Activism in the United States”, Caroline Earle White foi uma pioneira do chamado “feminismo social”.
Ela lutou para que as mulheres tivessem a oportunidade de desempenhar importantes papéis na sociedade, particularmente como fundadoras e líderes de organizações sem fins lucrativos. “Mas não há dúvida de que sua verdadeira vocação em vida era ajudar os negligenciados, os sem voz: os animais. Ela não era apenas prática e inovadora em suas campanhas, mas uma firme e implacável oponente para aqueles que prejudicavam os animais”, definiu Diane L. Beers.
Referências
Beers, Dianne. For the Prevention of Cruelty: The History and Legacy of Animal Rights Activism in the United States. Ohio. Ohio University Press (2006).
Hawthorne, Mark. A Vegan Ethic: Embracing a Life of Compassion Toward All. Changemakers Books (2016).
Mrs. Caroline Earle White, Reformer. Records of the American Catholic Historical Society of Philadephia. Volume 33. Março de 1922 (Página 52).
https://www.womenshumanesociety.org/sites/default/files/5109%20WHS%206%20page_web-10-20-2014.pdf
https://womenshumanesociety.org/history
http://www.museumofanimals.org/caroline-earle-white/3788770
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