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Montreal aprova projeto que proíbe carruagens com tração animal
Servindo como exemplo para muitas cidades do mundo, autoridades políticas de Montreal, no Canadá, aprovaram recentemente um projeto de proibição de carruagens puxadas a cavalo. Segundo o vereador Craig Sauve, surgiram inúmeros casos de maus-tratos contra animais, inclusive com registros de óbitos de cavalos usados nessa atividade. “Decidimos que vamos colocar um fim nessa indústria”, informa Sauve.
As caleches, como são mais conhecidas, foram usadas por centenas de anos em Montreal, até que nos últimos anos surgiram campanhas contra o uso de animais puxando carruagens. A mais recente foi liderada pelo partido Projet Montreal, incluindo a prefeita Valérie Plante, que teve grande apoio da opinião pública. Até 2019, todas as carruagens devem ser substituídas por veículos elétricos.
15 quilômetros eram percorridos em uma hora
“A única diferença entre um automóvel e uma carroça é que um era motorizado e o outro não”
Na década de 1950, quem se aventurava pela região de Paranavaí, no Noroeste Paranaense, levava pelo menos uma hora para percorrer 15 quilômetros de carro, jipe ou caminhão. As dificuldades de tráfego faziam com que muita gente saísse da cidade somente em casos de extrema necessidade.
Encarar uma viagem pela região Noroeste do Paraná nem sempre foi sinônimo de lazer e prazer, é o que indica depoimentos de pioneiros que viviam em Paranavaí nos anos 1950. À época, deixar a cidade não tinha nada a ver com a satisfação de fugir da rotina cotidiana, mas sim de cumprir uma obrigação. Na maioria das vezes, os pioneiros pegavam a estrada a trabalho, para comprar produtos necessários à subsistência que estavam em falta em Paranavaí ou até mesmo levar um enfermo a algum hospital com melhor estrutura.
“Naquele tempo, quase ninguém gostava de viajar, a não ser os mais jovens e aventureiros. Quem tinha família, preferia ficar em casa, descansando. Era muito melhor do que seguir pelo picadão e ainda ter que entrar na mata quando viesse um carro na outra direção”, comentou o pioneiro cearense João Mariano. A justificativa é que durante a colonização local as vias urbanas e as estradas da região eram tão precárias que dificilmente alguém conseguia percorrer mais de 15 quilômetros em menos de uma hora.
“A maioria dos veículos não oferecia conforto e eram lentos. Alguns trajetos eram feitos até numa velocidade ainda inferior. A única diferença entre um automóvel e uma carroça é que um era motorizado e o outro não”, comentou Mariano em tom bem humorado, acrescentando que de vez em quando os pioneiros atropelavam alguns animais selvagens pelo caminho.
O pioneiro paranaense Juscelino Camilo de Oliveira costumava viajar de caminhão, percorria toda a região de Paranavaí para abastecer dezenas de armazéns espalhados por cidades e povoados do Noroeste Paranaense. Oliveira disse que já estava acostumado a passar a maior parte do tempo longe da mulher e dos filhos.
“Nessas minhas empreitadas, vivi muitas situações inusitadas. Lembro de quando estava voltando do Porto São José e logo na entrada de Paranavaí ouvi uns grunhidos, gemidos, bem, barulhos que não consegui identificar. Encostei o caminhão rente a uma árvore. Quando desci e me aproximei, tinha um guaxinim e um filhote de jaguatirica pendurados na lona. Levei um baita susto e eles também, tanto que rapidinho correram pra mata nas imediações do Jardim São Jorge”, relatou.
Juscelino Camilo ainda admitiu ter atropelado alguns animais à noite durante as viagens como caminhoneiro, contudo, ressaltou que eram sempre bichos de pequeno porte. “No escuro, com a mata quase colada na estrada, o bichinho passava na frente e não dava pra evitar o atropelamento. Tudo acontecia rápido demais, apesar do caminhão ser lento. Ás vezes, eu ficava na dúvida e me esgueirava pela janela pra ver, daí ficava aliviado quando enxergava o animal terminando a travessia”, destacou Oliveira.
“Qualquer deslize podia fazer invadir a mata e bater numa árvore”
O pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza contou que o pesadelo dos viajantes até a década de 1950 era “encarar a estrada” em dias de chuva. “Viajei poucas vezes com meu jipe em tempos chuvosos. Teve uma vez que a minha filha adoeceu e não melhorava de jeito nenhum, daí levei ela até Londrina, pois lá eu tinha um primo que era um ótimo médico. Só que a viagem foi terrível porque a lama estava bem funda e o carro atolou umas sete, oito vezes, mesmo amarrando correntes nas rodas. A gente saiu daqui num domingo e chegou lá só na terça-feira, pra você ter uma ideia de como a estrada ficava pior ainda com o tempo ruim”, revelou Souza.
Como os veículos eram lentos e as vias se resumiam a picadões, os acidentes não eram graves, embora aconteciam com certa frequência. O pioneiro catarinense José Matias Alencar explicou que em 1952 já era preciso ser um bom motorista para que a viagem fosse completada com sucesso. “Mesmo que a estrada fosse uma só, mudava muito de um trecho até o outro e isso era enganoso. Em um pedaço, você tinha uma pista mais transitável, e logo ali na frente o chão já era diferente, com sobras de vegetação pelo caminho. Se o peão não estivesse atento, qualquer deslize podia fazer ele invadir a mata e bater numa árvore. Eu, por exemplo, em 1950, não conhecia direito a região e bati meu carro perto da Capelinha [atual Nova Esperança]. Tive que voltar pra Paranavaí a pé”, enfatizou Alencar que chegou à cidade só no dia seguinte.
Charretes se destacavam na década de 1950
Meio de transporte era muito usado pela população de Paranavaí
Nos anos 1950, o meio de transporte mais usado pela população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, era a charrete. O serviço que tinha um custo baixo ficava disponível o dia todo em três pontos da cidade. Pioneiro lembra que os charreteiros tomavam conta de todas as ruas numa época em que os automóveis eram acessíveis a poucos.
As charretes surgiram em Paranavaí na década de 1940, mas se popularizaram em 1950, quando houve um bom crescimento populacional registrado a partir de 1948. Com o aumento do número de moradores, surgiu a necessidade de um serviço de meio de transporte que facilitasse a vida em comunidade. “Foi aí que alguns migrantes tiveram a ideia de trabalhar como charreteiros. Quase ninguém tinha carro, e como tudo ainda era longe, já que nem todo mundo tinha condições de morar na região central, o jeito era pagar pelo serviço de charrete”, relatou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que o preço de uma “corrida” era acessível.
Por volta de 1955, havia em Paranavaí mais de 80 charreteiros que se dividiam em três localidades: Ponto Azul, Avenida Paraná e Zona do Baixo Meretrício, quase em frente à Boate da Cigana [onde se situam os prédios Catuay e Guarapari]. Muitos dos pioneiros que atuavam no ramo eram ex-peões que trabalharam na abertura de estradas e derrubada de mata.
Aqueles que não deram certo como comerciantes e produtores rurais também usavam cavalos e bois para outra finalidade. “O serviço de peão era pesado e sofrido, então acontecia do sujeito guardar um dinheirinho, comprar um cavalinho, uma carroça velha, mandar reformar e transformar em charrete”, explicou Mariano. Outros compravam madeiras, procuravam materiais que podiam ser aproveitados e a construíam por conta própria.
Os charreteiros eram contratados principalmente para levar passageiros ao Ponto Azul e ao Aeroporto Edu Chaves [atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP)], além de transportar pessoas até a Zona do Baixo Meretrício. “Uma charrete chegava a fazer até dezenas de viagens num dia. Tinha época que tinha muito serviço, mas de vez em quando diminuía um pouco por causa de alguma crise agrícola”, relatou o pioneiro, acrescentando que o modelo da carroça variava conforme a situação financeira do carroceiro.
Enquanto algumas ofereciam o mínimo de conforto, como um assento estofado, muitas eram mais simples, com bancos de madeira. “Numa corrida curta quase ninguém se importava com isso, mas se o trajeto fosse um pouco mais longo ficava desconfortável. Tinha peão que chegava a descer da carroça com o corpo duro”, brincou João Mariano que nunca se esqueceu das muitas oportunidades em que viu as ruas da cidade tomadas por dezenas de charretes.
Segundo o pioneiro, estranho era o som de um motor em meio a tantos animais trotando, galopando e relinchando. “Quando fazia muito calor, e no fim da tarde os charreteiros voltavam pro ponto, às vezes traziam um vento que levantava a poeira das ruas de chão batido. O céu avermelhava enquanto o solo arenoso as donas de casa castigava, sujando toda a roupa do varal, mas fazer o que se era mais um dia de trabalho normal?”, poetizou João Mariano.
Viagem ao Porto São José durava dias
O trecho da Estrada Boiadeira que ligava Paranavaí ao Porto São José foi aberto em 1939
Na época da colonização de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, para chegar ao Porto São José, por onde atravessava o gado que vinha do Mato Grosso, os pioneiros levavam pelo menos seis dias para percorrer um túnel no meio da mata.
O trecho da Estrada Boiadeira que ligava Paranavaí ao Porto São José foi aberto em 1939 pelo Capitão Telmo Ribeiro, homem designado pelo interventor Manoel Ribas para abrir vias em toda a região Noroeste do Paraná. No entanto, em 1941 a vegetação já havia coberto boa parte da estrada. Segundo pioneiros, qualquer via que não recebesse manutenção regular se tornava intransitável. No mesmo ano, Ribeiro exigiu que a estrada fosse recuperada.
Para facilitar as negociações de gado entre Mato Grosso e Paraná, o interventor Manoel Ribas tomou a decisão de inaugurar uma balsa no Porto São José. O evento também beneficiou muitos migrantes e viajantes que buscavam prosperidade no Noroeste do Paraná. “Vim pra Fazenda Velha Brasileira pela primeira vez logo que a balsa foi inaugurada em 1941”, relatou o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira.
No trajeto até a Brasileira, Marques de Siqueira colocou dois sacos na frente do carro para impedir que sementes de guanxuma entupissem o radiador, o que dá uma ideia da diversidade da flora paranaense naquele tempo. Em 1947, parte dos pioneiros começou a percorrer o trajeto de caminhão e em grupo. Se surgisse algum imprevisto, haveria pessoas o suficiente para ajudar. “A viagem ao Porto São José era muito difícil. Quando eu ia pra lá, levava pelo menos 14 dias de ida e volta, incluindo os dois dias de estadia”, frisou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho.
Quem viajava ao porto com veículo de tração animal sofria para atravessá-los. Não havia pontes em alguns trechos. “O jeito era colocar os mantimentos nas costas e atravessar os bichos de pouco em pouco. A gente tinha que fazer várias viagens, até passar todo mundo”, afirmou José Ferreira, acrescentando que depois era preciso recarregar a carroça.
Segundo Araújo, era uma luta entre ir e vir porque a estrada para o Porto São José consistia em um “túnel dentro da mata”. “A gente sofria bastante, mas valeu a pena porque conheci tudo”, avalia. Nas viagens para o Porto São José, Palhacinho sempre viu veículos abandonados pela estrada, principalmente pés-de-bode. “Isso aconteceu muito, ainda mais depois que os Rocha abandonaram as fazendas da Colônia Paranavaí. Os baianos que trabalhavam pra eles ficaram espantados e fugiram com medo da polícia. Largaram todos os carros”, revelou.
Outro pioneiro que conheceu o Porto São José no início dos anos 1940 foi o paulista Salatiel Loureiro. “Lembro que não existia nada no porto, só o nome. O picadão foi feito para o trânsito do gado que era levado pra Apucarana, Londrina e Ponta Grossa. Eles passavam pela Estrada Boiadeira e saíam em Jaguapitã e Sertanópolis [no Norte Central Paranaense]”, assinala. Quem também viajou algumas vezes para o Porto São José foi o pioneiro paulista Valdomiro Carvalho.
“Eu ia pro Mato Grosso buscar gado. A gente atravessava eles pelo porto, num vaporzinho”, pontua. Os personagens de destaque do Porto São José no período da Fazenda Brasileira e da Colônia Paranavaí eram o balseiro, de quem não se sabe o nome, e um homem conhecido apenas como “Seu Henrique” que desempenhava função semelhante a de um inspetor de terras.
Saiba mais
A Estrada Boiadeira era usada tanto por quem ia ao Porto São José quanto por quem ia a Londrina.
A velha jardineira deixou saudades
Catita e Pavão foram os principais meios de transporte em Paranavaí nos anos 1940 e 1950
O antigo ônibus jardineira da Viação Garcia deixou muitas saudades para os pioneiros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. São lembranças que começam em 1939, quando a empresa de transporte londrinense começou a investir na Fazenda Brasileira, atual Paranavaí.
Até 1938, todos os pioneiros que se aventuravam na Brasileira chegavam ao povoado de jipe, caminhão, carroça, cavalo ou a pé. A escassez de estradas, e também o fato da colônia se situar em uma área isolada, fazia com que somente os corajosos viessem para cá.
O pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles contou em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás que o povoado estava distante do resto do Paraná. “A gente tinha que viajar até Presidente Prudente [interior de São Paulo], daí lá pegava um trem até Ourinhos e depois a cavalo ou a pé ia pra Tibagi [no Centro Oriental Paranaense]. Dava toda essa volta pra chegar em outras cidades do Paraná”, contou.
Foi assim até 1936, quando o Capitão Telmo Ribeiro reabriu a Estrada Boiadeira ligando Paranavaí ao resto do Paraná. Três anos depois, a iniciativa despertou o interesse do empresário Celso Garcia Cid que viu grande viabilidade comercial no povoado. Em 16 de dezembro de 1939, o empreendedor que atuava no ramo de transportes há cinco anos inaugurou a linha Londrina-Fazenda Brasileira. Naquele dia, Celso Garcia conduziu a jardineira “Catita”, adaptação de um caminhão Ford TT de 1933, até o seu destino.
Segundo o ex-prefeito Ulisses Faria Bandeira, em entrevista à prefeitura há algumas décadas, a viagem teve início às 17h30. “Chegamos aqui por volta das 14h do dia seguinte”, afirmou. Além de Faria Bandeira, entre os passageiros da primeira viagem da Viação Garcia a Paranavaí, estavam o prefeito de Londrina, João Lopes, e o fazendeiro Humberto Alves de Almeida.
Os viajantes logo apelidaram a estrada Londrina-Fazenda Brasileira como “Túnel Verde” por causa da mata densa e virgem que predominava na região Noroeste do Paraná. De acordo com pioneiros, o cenário era tão bonito que chegava a ser inacreditável. Durante o percurso era comum muitos mosquitos e borboletas invadirem a jardineira nas imediações da Capelinha, atual Nova Esperança.
Os insetos circulavam livremente no interior do veículo. “Isso acontecia porque os ônibus eram abertos como bondes”, relatou o pioneiro Oscar Gerônimo Leite. Por um bom tempo, o Governo do Paraná bancou as despesas da Viação Garcia, pois a demanda era pequena e a realização de duas viagens por mês não cobria o investimento.
O “Pavão” da Brasileira
Durante a Segunda Guerra Mundial, o ônibus que mais fez a linha Londrina-Paranavaí era conhecido como “Pavão”. O ônibus movido a gasogênio era econômico, ideal para o período de guerra que ficou marcado pelo racionamento de combustível. Na década de 1940, o veículo chegava a Paranavaí em 16 horas.
Por vários anos, a Viação Garcia transportou passageiros que não tinham condições de comprar passagem. Cada um pagava conforme podia, até mesmo com galinhas. Quando chovia durante a viagem, o motorista encostava o ônibus e amarrava correntes nos pneus para evitar que atolasse. “Lembro que uma vez a gente levou oito dias de Londrina até aqui. Cheguei com os peitos doendo de ajudar a empurrar um carro velho da Garcia pelo picadão”, revelou o pioneiro José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão.
O pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros disse que nunca se esqueceu das viagens com o “Pavão”. “A gente tinha que atravessar um barro preto lá perto de Mandaguari e depois o areião de Maringá pra cá”, assinalou. Muitos pioneiros chegaram a Paranavaí com a jardineira. Alguns exemplos são o catarinense Carlos Faber, o gaúcho Severino Colombelli e os mineiros Enéias Tirapeli e José Antonio Gonçalves.
Naquele tempo em que as viagens duravam de 17 a 18 horas, o “Pavão” nunca deixou de cumprir a linha, nem quando havia só dois ou três passageiros. Com o passar dos anos, a demanda aumentou e a Garcia quadruplicou o número de viagens. “Em vez de duas por mês, ampliou para duas por semana”, enfatizou a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger.
Com as jardineiras não chegavam apenas pessoas, mas também informações, conforme palavras da pioneira Inês Colombelli. “Sempre às 11h e às 14h, mulheres e crianças corriam até os ônibus para saber das notícias”, explicou. Era o único jeito da população se informar sobre o que acontecia no Paraná, no país e no mundo.
Frases dos pioneiros sobre a época das jardineiras
Joao da Silva Franco
“A jardineira era velha, não era estofada, e se entrasse de um lado saía do outro.”
Cincinato Cassiano Silva
“O ônibus era todo aberto e só com as bancadas pregadas, e duro que nem pau.”
Salatiel Loureiro
“O fundador da primeira empresa de ônibus da Brasileira foi o Manezinho. Esse coitado acabou em nada e os ônibus dele não aguentavam nem fazer daqui até o Porto São José.”
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