David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Casa Comercial’ tag

Pioneiro forneceu eletricidade a Paranavaí

with 4 comments

Thomaz Estrada iluminou as ruas da colônia e forneceu energia elétrica para muitos profissionais

Thomaz Estrada abriu o primeiro posto de combustível da cidade (Foto: Reprodução)

Nos anos 1940, o imigrante espanhol Thomaz Estrada forneceu energia elétrica para a população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. À época, as ruas da cidade foram iluminadas graças ao gerador do pioneiro.

No tempo em que Paranavaí ainda não contava com o fornecimento de energia elétrica, o espanhol Thomaz Estrada decidiu intervir. O pioneiro tinha um posto de combustível entre a Rua Getúlio Vargas e a Avenida Paraná, sentido ao antigo Terminal Rodoviário. Lá, Estrada mantinha um gerador de energia que poderia ter se limitado a abastecer o empreendimento. Mas o espanhol foi além, estendeu ao máximo a área de fornecimento, beneficiando muitos profissionais que dependiam de energia elétrica para trabalhar.

Em parceria com outros moradores, Estrada também criou alguns esquemas para a iluminação de ruas e avenidas. “O motor ficava dentro do posto e iluminava até o Banco Noroeste”, lembrou o espanhol em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas. Para os pioneiros, Estrada fez muito mais que uma benfeitoria, dissipou a escuridão que impedia a colônia de existir no fim do dia. “Com o brilho daquela luz, Paranavaí ganhou nova dimensão, coisa que não se traduz, alegria arredia que destoa coração”, poetizou o pioneiro cearense João Mariano.

O abastecimento de energia deu novo sentido à vida em comunidade. Os moradores se beneficiavam da iluminação noturna realizando atividades que até então dependiam da luz solar. “As crianças aproveitavam a claridade pra brincar um pouco mais na rua”, relatou Mariano. Para o pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, conhecido como Zé do Bar, a iniciativa do espanhol, que vivia numa residência ao lado de onde é hoje o Cartório Tomazoni, fez a diferença na colônia.

“Era tudo sertão e havia bicho pra todo lado”

O pioneiro Thomaz Estrada, que nasceu em 2 de julho de 1901, na Espanha, chegou à Fazenda Velha Brasileira, atual Paranavaí, em 1942, por sugestão de Francisco de Almeida Faria, inspetor de terras que conheceu em Londrina. “Me mudei pra cá em 1943. Aqui era tudo sertão e havia bicho pra todo lado. Veados andavam pelas ruas”, ressaltou Estrada.

Paranavaí quando construíram os primeiros postes para condução de energia elétrica (Foto: Reprodução)

O pioneiro admitiu que a fama da Fazenda Velha não era das melhores. “Um dia, ali em frente de onde eu morava, mataram dois”, confidenciou. A única estrada que existia naquele tempo era a que ligava a colônia ao Porto São José, o mesmo picadão para onde o capitão Telmo Ribeiro partia em direção ao Mato Grosso em busca de peões. “O Capitão Telmo tinha uma invernada onde é hoje o Jardim São Jorge”, disse o espanhol. De acordo com Estrada, no início, havia muita gente que não “prestava”. “Tinha muitos enguiços, mas decidi ficar. Coloquei um armazém pra sustentar a família”, pontuou e acrescentou que comprou uma fazenda na Brasileira e a vendeu em seguida.

O documento era a foice e o machado

Segundo o pioneiro espanhol Thomaz Estrada, o documento no período da Fazenda Velha Brasileira era a foice e o machado, ferramentas emblemáticas da colônia entre as décadas de 1930 e 1950. A verdade é que representavam mais do que instrumentos, um paradoxo semeado sob metáforas de luta, força, perseverança, injustiça, fragilidade humana e todas as agruras da colonização.

A Família Estrada viu exemplos disso tudo em Paranavaí. Enquanto o desenvolvimento trouxe mais qualidade de vida, em contrapartida, se intensificou a animosidade, até mesmo por banalidades. “Um dia na nossa loja, o Zé Capataz e o Zé Tabuinha começaram a beber. Eles puseram a faca e o revólver em cima da balança. Pedi pelo amor de Deus para que não brigassem. Daí pegaram eles e levaram pra fora. Outra vez foi o Joaquim das Éguas que tirou os briguentos daqui”, enfatizou Ana Maria Estrada.

Por muitas vezes, a pioneira passou medo no tempo da colonização. Quando o marido viajava, Ana Maria e o filho tinham de atender todos os fregueses. À época, muitas vacas dormiam em frente à casa comercial dos Estrada. “Também tinha muito mato em volta. Só foi mudando depois de 1950″, garantiu a pioneira.

Comerciante se livrou da morte em São Paulo

without comments

Severino Colombelli foi um dos primeiros comerciantes de Paranavaí

Prédio comercial dos Colombelli nos anos 1940 (Foto: Reprodução)

Na década de 1940, o pioneiro e comerciante Severino Colombelli costumava viajar até São Paulo para buscar produtos que comercializava em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Certa vez, se livrou da morte ao perder o voo de retorno.

Para o gaúcho Severino Colombelli viajar fazia parte da profissão de comerciante numa época em que as mercadorias não eram entregues nas lojas. Por isso, era costume deixar a sua companheira, Inez Colombelli, cuidando da casa comercial em Paranavaí durante as frequentes viagens a São Paulo.

Em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas, Inez relatou que Colombelli embarcava no antigo Aeroporto Edu Chaves, localizado onde é hoje o Colégio Estadual de Paranavaí (CEP). “Como o Severino viajava muito, eu ficava sozinha com o nosso filho, mas na loja sempre havia algum funcionário pra me ajudar”, afirmou Inez Colombelli, acrescentando que quando conheceu o gaúcho, ele já buscava produtos em São Paulo.

Mesmo acostumada com as viagens de Severino, Inez não conseguia evitar a preocupação e apreensão. Nunca se esqueceu da vez em que o marido demorou nas compras e quando chegou ao aeroporto era tarde demais. “Não deu tempo de embarcar e soubemos que o avião que ele perdeu caiu e morreu quase todo mundo. Só uma criança sobreviveu”, revelou a comerciante.

A Família Colombelli se mudou para Paranavaí em 1946, mas antes Severino veio sozinho conhecer a região. Deixou São Sebastião do Caí, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e chegou aqui no dia 11 de junho. “A cidade já estava toda traçada. Tinha a casa de comércio do Faber, Otacílio Egger, Pupulin, Marsal, Tirapeli, Thomaz Estrada e Vicente Pernambuco”, relatou o gaúcho, acrescentando que a área comercial se limitava à Rua Getúlio Vargas, em frente ao atual Hotel Elite.

Pioneiro embarcou para São Paulo no antigo aeroporto (Foto: Reprodução)

A ideia de fixar residência em Paranavaí surgiu por acaso, pois Colombelli tinha intenção de se mudar para o interior de São Paulo, onde lhe diziam que havia boas terras para a criação de gado. Entretanto, durante uma viagem de trem, o comerciante conheceu um homem que lhe falou que não havia terra melhor para a pecuária que a de Paranavaí.

A primeira impressão que o gaúcho teve da colônia foi muito ruim, se sentiu como se estivesse no cenário de um filme de faroeste. “Vim para montar comércio e encontrei tudo parado. Tinha umas sete casinhas cobertas com telhas e o resto era tudo rancho, cerca de 500. Logo depois fiz amizades com Thomaz Estrada, Dr. José Francisco, Doca, Renan e Celeste”, contou. Entre os pioneiros que já viviam há um bom tempo na colônia, embora distantes do perímetro urbano, estavam João de Moraes, Jota, Biomiro, Família Palmiano e Pereira Diniz, Zé Pretinho, Emílio Dias e Henrique Palma.

Casa comercial ficava aberta até a noite

Houve um período tão crítico para o comércio local no final dos anos 1940 que Severino Colombelli pensou em ir embora. “Todos que vão para o sertão tem vontade de vencer na vida. No fim, eu quis voltar, mas ninguém queria comprar o que eu tinha”, admitiu o pioneiro. Já na década de 1950, o progresso de Paranavaí foi retomado. De acordo com Inez, a casa comercial dos Colombelli chegou a ter 11 funcionários.

“Vendíamos muito e a maioria dos fregueses trabalhavam na derrubada de mata. Me recordo do baiano, um freguês muito bom. Ele fazia uma lista de pedido, pagava e não pechinchava”, exemplificou. O fluxo de clientes era tão grande que a loja não tinha hora para fechar. Às vezes, o atendimento passava das 20h porque alguns fregueses faziam compras logo após a procissão.

Não eram raros os dias em que os Colombelli tinham de abrir a loja de madrugada para vender cobertores, pregos e outros produtos úteis àqueles que iam para a mata. “O pioneiro Garbin Neves aparecia aqui de madrugada atrás de cobertor. Muita gente vinha fazer compras à noite. Paranavaí foi muito boa pra nós”, ressaltou Inez Colombelli.

Sem velar a nostalgia, a comerciante se emocionou em lembrar o período em que não era preciso se preocupar com segurança. “O alfaiate Gentini ia fazer refeição na casa do Herculano e deixava toda a alfaiataria aberta. Ninguém se preocupava em fechar as casas porque todo mundo era de confiança”, salientou. A violência começou a ganhar mais destaque entre os anos de 1950 e 1953, quando houve muitos conflitos que terminaram em assassinatos. “Uma vez no Hotel Real mataram três de uma vez”, enfatizou Severino Colombelli.

Saiba Mais

Conforme palavras do pioneiro Severino Colombelli, as autoridades em Paranavaí eram o Sargento Marcelino, o administrador Hugo Doubek e o Capitão Telmo Ribeiro.

Curiosidade

Severino Colombelli nasceu em 4 de setembro de 1915 em São Sebastião do Caí, Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.