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Alencar Furtado: “Tive a desventura de viver sob a inclemência de duas ditaduras”
Tive a desventura de viver sob a inclemência de duas ditaduras: a do “Estado Novo” e a de “1964”. Uma, recebeu um nome; a outra, recebeu um número. Ambas fascistas. Soberbas. Plenipotenciárias. Como é da natureza das ditaduras que, sem essas desqualificações, não seriam ditaduras. Deus concedeu-me a ventura de combatê-las. Nas ruas. Na universidade. No Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. Na tribuna forense. No Parlamento Brasileiro. Ou no MDB do GRUPO AUTÊNTICO, que travou uma das mais belas lutas políticas deste país.
Uma ditadura é, no mínimo, uma calamidade. Duas, já são uma tragédia. É que as instituições democráticas se vergam sob o vendaval das arbitrariedades. A mídia, vira instrumento de alienação de consciências. A força, sobrepõe-se ao direito. A liberdade é sufocada e proibida. A cultura, fica dirigida. O Parlamento se dobra, ajoelhado, e o Judiciário deixa de ser Poder e passa a obedecer a vontade e os caprichos do ditador.
Enfim, é o terror tocando no futuro, castrando gerações. As ditaduras torturam ou matam opositores, dispondo dos bens e da vida dos que não lhe são gratos. Entre nós, após mais de 20 anos de autoritarismo pleno, o soba tupiniquim é anistiado de todos os crimes, tem assegurados seus direitos políticos, gozando ainda de proteção policial, de veículos, funcionários, e uma pensão vitalícia do presidente da República.
É que tivemos uma abertura democrática negociada, sob a mira dos arsenais da ditadura. E muitos querendo ainda servi-la com benesses injustificadas. A minha geração foi de muita vibração cívica, nas refregas políticas e sociais. Derrubou ditadores; conquistou direitos; lutou, lá fora, contra o nazismo; defendeu as liberdades, reconquistou a democracia, abatendo-se, por isso mesmo, sobre ela todos os flagelos do arbítrio. Foi a luta de toda uma geração que se doou exemplarmente.
Quando do chamado “Estado Novo”, era eu estudante no Ceará. No reinado da ditadura de 1964, eu já residia no Paraná, Estado que me acolheu como seu filho, honrando-me com um mandato de deputado estadual e três outros de deputado federal. Por ter, como líder da Bancada Federal do MDB, denunciado pela televisão as torturas praticadas pelo governo, tive o meu mandato cassado pelo ditador Ernesto Geisel.
A cassação de mandatos era um ato imperial, inapelável e brutal praticado por um sujeito que se achava um semideus. Tanto podia ser uma vindita contra quem, como eu, denunciava tortura e investigava as multinacionais, ou um ato de amor a correligionário, como foi o caso da cassação do mandato de cinco deputados do Rio Grande do Sul, para fazer uma conta de chegar, na Assembleia Legislativa daquele Estado, que desse para eleger, por via indireta, o coronel Perachi Barcelos, governador gaúcho.
O ditador era amigo do candidato indicado. Não precisava de credencial maior. Era a ditadura bastando-se. Cobrindo-se de ridículo com atuação escandalosamente aética. As vicissitudes permearam a minha vida pública. Obtive vitórias e sofri derrotas nos episódios vividos. Levei a minha vida pública na oposição aos governos. Nada de mais. O homem nasce gritando, esperneando, já fazendo oposição. Não é como o feijão, que nasce curvo ou de joelhos, se joelhos tivesse.
O importante é que concorri, de algum modo, para a redemocratização do país. Demérito não é perder eleição. Demérito é não disputar ou omitir-se, podendo agir. Demérito é não ser, podendo ser.
Páginas 189, 190 e 191 do livro “Um Pouco de Muitos – Memorizando”, de autoria do ex-deputado federal Alencar Furtado, publicado este ano. Atualmente ele tem 92 anos e me presenteou com um exemplar do seu novo livro de memórias recém-lançado.
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Uma corrida que quase terminou em tragédia em 1941
“O infeliz puxou a rédea do meu animal. Aí não perdoei. Desci o chicote no lombo e ele soltou”
O cearense João Mariano tinha oito anos quando perdeu o pai. Aos dez, seu irmão mais velho pediu à sua mãe que o deixasse morar com ele. Alegou que precisava de alguém para cuidar de suas terras enquanto viajava para comprar e vender gado. “Depois de dois anos morando com meu irmão, comecei a treinar com um cavalo de corrida dele e logo me tornei jóquei. Lá havia as raias nas estradas, não em clube. E muita gente ganhava algum dinheiro nas corridas, vendendo bolo, café, lanches, essas coisas. Mas ninguém lucrava mais que os donos dos cavalos, assim como os apostadores”, narra.
Por cada disputa realizada aos domingos, Mariano recebia uma “groja”, além de um adicional em caso de vitória. As competições lotavam e de longe se ouvia a torcida e a algazarra do público. “Eu corria muito em São José, uma vila a 60 quilômetros de Guassussê, o maior distrito de Orós [no Centro-Sul do Ceará]. Só tinha cavalo pra páreo de 600 ou mil metros. Então era tudo bicho de qualidade”, informa, acrescentando que os animais eram muito bem tratados.
Três dias antes de cada corrida, Mariano e mais dois companheiros montavam guarda nas cocheiras, inclusive revezavam na hora de dormir, para evitar que alguém invadisse o local e dopasse os cavalos a mando dos rivais. “Lembro de um menino da minha idade, um tal de João, filho de um homem chamado João Cabral. Ele tinha o costume de puxar as rédeas do cavalo adversário durante a ultrapassagem. Então quando fomos correr na Vila de Bom Jesus, eu avisei ele: ‘Olhe, João, não segure meu cavalo nem me feche porque se você fizer isso eu desço o chicote em você’”, prometeu.
Depois de ouvir a ameaça, João prometeu que não iria fazer nada, apenas guiar o próprio cavalo. No entanto, mudou de ideia ao ver João Mariano perto de assumir a liderança. “Me fechou, tirando a frente do meu cavalo. Ainda pedi pra ele me deixar em paz e o infeliz puxou a rédea do meu animal. Aí não perdoei. Desci o chicote no lombo e ele soltou. Naquele dia do ano de 1941 meu cavalo ganhou o páreo”, declara.
Quando Mariano estava deixando a pista, João Cabral, o pai do garoto, se aproximou com um revólver em punho para vingar a surra que o filho levou diante da plateia. “Ele veio pra me matar. Deixou a pistola no jeito, engatilhada. Aí tinha um senhor de mais de 60 anos que eu não conhecia. Ele se levantou de uma cadeira, sacou o revólver e falou para o João Cabral: ‘Atire primeiro pra ‘modi’ eu ver se tu é homem. Saiba que esse menino é meu parente’”, revelou, guardando o revólver na guaiaca assim que Cabral virou as costas e partiu.
O desconhecido era primo da mãe de João Mariano. Ele não o conhecia porque o homem vivia em uma vila a mais de 80 quilômetros de Bom Jesus, numa região para onde seus pais nunca viajavam.
Saiba Mais
O pioneiro João Mariano vive em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde 1955.
Uma lição de amor à vida
João Mariano surpreende pela capacidade de ver beleza naquilo que passa despercebido pela maioria
Lançado ontem no YouTube, o documentário João Mariano, um curta-metragem de menos de 15 minutos, produzido com um Nokia Lumia 1020, é o meu mais novo trabalho audiovisual. Em meio a muitas reflexões e lembranças, principalmente reminiscências da juventude e das tragédias familiares, o documentário mostra o estilo de vida minimalista do aposentado João Mariano.
Um senhor de 87 anos que ainda tem muita vontade de viver, apesar de tantas perdas e das limitações impostas pela idade, Mariano surpreende pela sensibilidade e capacidade de ver beleza naquilo que passa despercebido pela maioria. Sente prazer na simplicidade de existir e no privilégio de pensar com a mesma acuidade de quando era mais jovem.
Radicado em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde 1955, o aposentado que trabalhou até os 84 anos relembra a infância e a adolescência no interior do Ceará. Também fala sobre a tranquila rotina e as experiências mais impactantes de sua vida. João Mariano tem uma relação especial com a natureza e a vida, e isso nem mesmo os problemas de saúde que surgiram na idade avançada são capazes de desqualificar.
O aposentado celebra a vida diariamente à sua maneira e prova que mesmo quando nos tornamos idosos ainda somos crianças e adolescentes. O maior exemplo disso é a passagem em que cita as muitas vezes na infância da década de 1930 em que o pai o chamou para balançar na rede com ele. “Era muito gostoso”, declara sorrindo como petiz o homem de 87 anos.
João Mariano diz como conheceu Clarinda, a namorada com quem fugiu para se casar em 1955, seu primeiro e único amor. Após a separação e o falecimento dela em 2008, o aposentado nunca mais se relacionou com ninguém. “Eu sinto falta dela, de ver ela. Fiquei sozinho e estou até hoje”, enfatiza sensibilizado. Se emociona ao se recordar da morte do filho José Cláudio, vítima de câncer com apenas 42 anos. “Morreu nos braços da irmã dele. Pra mim foi um choque. É uma coisa que tem hora que parece que é mentira, não uma realidade”, lamenta.
O aposentado conta ainda uma exemplar história de honestidade vivida no início da década de 1940, quando era jóquei na região de Iguatu, no Centro-Sul do Ceará. “Meu gosto mesmo era viver até 100 anos. Aproveitar bem do nosso país”, revela rindo. Em seguida, comenta que às vezes fica abalado com o fato de ter visto tanta gente partindo, já que não resta mais ninguém dos seus tempos de infância e adolescência.
Por outro lado, reconhece que estar vivo é uma vitória. Em síntese, o documentário é uma lição de amor à vida. João Mariano ensina que independente do que passamos nada deve ser mais forte do que a vontade de seguir em frente. A trilha sonora do filme é assinada pela banda finlandesa de pós-rock Magyar Posse.
Observação
Não consegui disponibilizá-lo no YouTube com a qualidade final da produção, mas creio que a perda esteja dentro do aceitável.
A alegria e a tristeza de ser analfabeto
“Me considero um ignorante de sorte porque carrego dentro de mim centenas de histórias”
Baixinho, franzino, e de cabelos brancos e fartos, o aposentado Pedro Silvano nunca aprendeu a ler e escrever. Hoje, com 86 anos, afirma que já não tem mais interesse no significado das letras e das palavras. “Queria saber ler quando era mais novo. Agora não quero aprender pra não sentir remorso pelo que perdi”, conta num tom de voz remansoso.
Entre um gole e outro de café amargo, o aposentado relata que chegou a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, em 1954, fugindo da estiagem que assolava Iguatu, no Ceará. “Abandonei minha terra, onde já não crescia nada, e vaguei como um retirante no final da década de 1940”, narra. A situação era a mesma que a vivida pelo vaqueiro Fabiano do romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, lançado na década anterior. Inclusive Silvano também sabia lidar com gado.
Acompanhado do irmão também analfabeto, chegou a São Paulo contando com a sorte e a gentileza de pessoas que encontrou pelo caminho. Viajou levando apenas duas peças de roupa, um saco de farinha com rapadura e um puído par de sandálias feito à mão. “Vivia numa selva de analfabetos. Difícil era encontrar quem sabia ler e escrever”, garante em referência aos anos 1940 e 1950.
Na capital paulista, viu pela primeira vez um arranha-céu – Edifício Altino Arantes, conhecido como Banespão, que o fez sentir-se “menor do que uma muriçoca”. “Tinha medo que aquilo caísse em cima de mim. Até comentei com meu irmão: ‘Quim, chega pra lá que não acho que a gente tá seguro aqui não. Melhor tirar os calço logo’”, lembra rindo.
Quando observava placas, cartazes e jornais, tentava interpretar o conteúdo através das imagens. Cada observação cuidadosa tinha um significado peculiar para Pedro, na tentativa de compensar o vácuo da informação escrita. “Tenho certeza que uma imagem não é vista da mesma forma por uma pessoa analfabeta e outra que não é. Quem sabe ler às vezes nem presta atenção na imagem. Como analfabeto que sou, sobrevivi porque fui obrigado a ver informação sem ver palavra”, confidencia.
Apesar das dificuldades, o analfabetismo o livrou da morte em São Paulo. Com apenas 20 anos, Silvano conheceu ocasionalmente um homem que lhe prometeu um bom trabalho como meeiro em uma fazenda de café em Londrina, no Norte do Paraná. Ingênuo, ficou muito feliz. Então o sujeito pediu que o cearense fosse até as imediações da Estação da Luz ao final do entardecer de 21 de novembro de 1949 para receber as últimas informações sobre o novo serviço.
“Como eu não sabia ler, acabei me atrapalhando e fui parar a mais de três de quilômetros do local onde ficamos de nos encontrar. Só achei o lugar certo à noite. Quando cheguei lá, vi a polícia e um rapaz morto. O homem que disse ter um serviço pra mim assassinou aquele menino a facadas e levou todo o seu dinheiro”, revela.
Assim como Pedro Silvano, o jovem também foi ludibriado pela promessa de um bom trabalho em Londrina. Um dos investigadores explicou que o criminoso agia em grupo e possivelmente era responsável pela morte de nove migrantes nordestinos. O cearense se recordou que o assassino lhe perguntou pela manhã se ele tinha algumas economias para recomeçar a vida em outro lugar. “Respondi que sim. Ele só sorriu e falou que assim ficaria mais fácil me ajudar porque o patrão dele só queria gente de visão, não gente morta de fome e desesperada”, rememora.
Dias depois, Pedro ouviu falar novamente de Londrina quando estava em um bonde. Intrigado, conversou com o irmão sobre a cidade e juntos decidiram se arriscar no Norte do Paraná. Se despediu de São Paulo levando lembranças de uma criança pulando a cerca, uma mulher amamentando um bebê, dois homens bem vestidos apertando as mãos e o riso da cantora Carmen Miranda. Eram imagens publicitárias do achocolatado Toddy, leite condensado Moça, medicamento Melhoral e creme dental Eucalol.
“Uma musiquinha de rádio que ‘grudou na minha cabeça’ naquele tempo era a da Brilhantina Glostora. Cantava assim: ‘A elegância masculina, ô ô ô ô, Aurora, brilha mais com brilhantina, ô ô ô ô, Glostora’. Ainda tinha aquele chiadinho de fundo que fazia sonhar acordado”, cita com um sorriso largo. Depois de alguns anos em Londrina, Silvano ficou sabendo que havia melhores oportunidades no Noroeste do Paraná. Por isso se mudou mais uma vez.
Em Paranavaí, descobriu na prática que alguns fazendeiros tinham preferência por colonos analfabetos, justificando que poderiam dar menos problemas do que os “letrados”. Preocupado com a situação, Pedro Silvano, que sabia realizar as quatro operações básicas de matemática, decidiu se reunir escondido com outros colonos para ensiná-los o que sabia. “Muita gente era enganada, então mesmo sem saber ler e escrever eu fazia o possível pra contribuir”, afirma, referindo-se a uma época em que mais de 50% da população brasileira com idade acima de 15 anos era analfabeta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O cearense, assim como muitos outros migrantes com quem trabalhou, ajudou vários patrões a enriquecerem antes e depois da monocultura cafeeira. “Não ganhei o suficiente para ficar numa situação confortável. Patrão nenhum permitiria isso. Eles queriam o colono como dependente deles. Talvez eu também não tenha enxergado as boas oportunidades. Só comprei minha primeira casa há menos de dez anos. Mas agora não quero perder tempo me queixando. Vou apenas continuar vivendo, aproveitando a vida como posso”, pondera enquanto limpa o quintal com as mãos calejadas, de pele tão fina que parecem diáfanas. Antes de se despedir, Pedro Silvano exibe com orgulho uma pequena horta onde cultiva alface, rúcula, cenoura, tomate, abobrinha, manjericão, ervilha, cebola e espinafre. “Agora você viu minha riqueza”, declara com um olhar pudico e singelo.
Pedro Silvano se reunia com a família em torno de uma fogueira
O migrante cearense Pedro Silvano começou a trabalhar com seis anos e, apesar de nunca ter ingressado em uma escola, chama a atenção pelo vasto conhecimento baseado na cultura oral. Quando criança, se reunia com a família em torno de uma fogueira ou de uma mesa próxima a um fogão à lenha para ouvir causos, charadas e histórias que misturam realidade e fantasia. Sem saber ler e escrever, exercitou com rigor a força de vontade para reter na memória, com requinte de detalhes, tudo que aprendeu vendo e ouvindo.
De acordo com Silvano, o ouvido de um analfabeto pode não ser tão aguçado quanto o de um cego, mas facilmente ultrapassa o de uma pessoa alfabetizada que não valoriza o que possui. “Me considero um ignorante, um ignorante de sorte porque carrego dentro de mim centenas de histórias”, argumenta. Além de muitos fatos e causos pouco conhecidos que remetem ao realismo fantástico, o cearense afeiçoado ao cordel sabe de cor muitas histórias de escritores populares como Cego Aderaldo, Leandro Gomes de Barros, Patativa do Assaré, João Martins de Athayde, João Melchiades Ferreira, Silvino Pirauá, José Camelo de Melo Resende, Zé da Luz, José Pacheco, Manoel Camilo dos Santos e Manuel d’Almeida Filho.
Saiba Mais
Tirar os calço significa ir embora.
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A diversidade cultural do cinema
2ª Mostra de Cinema de Paranavaí exibirá filmes de todas as regiões do Brasil e de Moçambique
Na sexta-feira, 7, e no sábado, 8, às 20h30, a Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade será cenário da 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí (MIC) em que serão exibidos 16 filmes de curta, média e longa-metragem dos mais diversos gêneros. O evento que recebeu obras de todas as regiões do Brasil e de Moçambique é uma iniciativa da Fundação Cultural. A entrada será gratuita.
Para a primeira noite da 2ª MIC está programada a exibição dos filmes “Sonho de Valsa”, de Beto Besant, de Santo André, São Paulo; Loading 66%, de Henrique Duarte, de São Carlos, São Paulo; “Caça-Palavras”, de Pedro Flores da Cunha, de São Paulo, capital; “As Aventuras de Seu Euclides Chegança”, de Marcelo Roque Belarmino, de Aracaju, Sergipe; “Maria Ninguém”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Foi Uma Vez”, de Renan Lima e Bruno Martins, de São Paulo, capital; “Burguesia”, de Rodrigo Parra, do Rio de Janeiro, capital; “Incelença da Perseguida”, de Silvio Gurjão, de Fortaleza, Ceará; e “Eu Não Faço a Diferença?”, de Henrique Moura, de Paranavaí.
Já no sábado, serão exibidos “A Maldição de Berenice”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Hr. Kleidmann”, de Marcos Fausto, de São Paulo, capital; “No Oco da Serra Negra”, de Angelo Bueno, Ernesto Teodósio, Pedro Kambiwá e Otto Mendes, de Recife, Pernambuco; “Aos Pés”, de Zeca Brito, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul; “Bucaneiro”, de Juliana Milheiro, do Rio de Janeiro, capital; “Do Morro”, de Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, de Recife, Pernambuco; e Chikwembo, de Julio Silva, de Maputo, Moçambique.
Para o presidente da Fundação Cultural de Paranavaí, Paulo Cesar de Oliveira, o cinema brasileiro e africano está muito bem representado na 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí pela diversidade de gêneros e também de temas que abordam desde assuntos mais simples e bucólicos até os mais controversos e subjetivos. “Escolhemos filmes que façam com que as pessoas deixem a Casa da Cultura discutindo, repensando o que assistiram”, enfatiza o diretor cultural Amauri Martineli, acrescentando que a 2ª MIC é voltada ao público com faixa etária acima de 14 anos.
Um crime sem solução
Mulher foi assassinada na propriedade onde construíram a Escola Elza Caselli
Nos anos 1950, muitos migrantes chegavam a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, sem qualquer documento de identificação. Então quando acontecia algum homicídio era muito difícil reconhecer a vítima ou criar uma lista de suspeitos. Dependendo da situação, o caso sequer era solucionado. Exemplo foi o assassinato de uma mulher na propriedade onde foi construída a Escola Municipal Professora Elza Grassiotto Caselli.
Certo dia, uma criança que deixou o Ceará e se mudou para Paranavaí com a família estava guiando o gado pelas imediações de uma área erma e silvestre. Ao sentir um mau cheiro que vinha do matagal logo em frente, o garoto, mesmo curioso, não teve coragem de adentrar a mata. Quando chegou em casa contou ao irmão mais velho e pediu que fossem juntos até lá para descobrir a causa de tanto odor.
Segundo pioneiros, à época, o lugar ainda estava coberta por mata virgem, o que justificou o medo do garoto em entrar no local sozinho. Depois de caminharem dezenas de metros, os dois irmãos viram um cadáver já em estado avançado de decomposição. O corpo estava irreconhecível e só foi possível saber que era uma mulher por causa das roupas.
Não havia nenhum documento de identificação junto ao cadáver, somente inúmeras garrafinhas de fortificante Biotônico Fontoura. Hipoteticamente, a mulher era uma jovem migrante de origem humilde que veio a Paranavaí em busca de melhores condições de vida. O corpo foi encontrado poucos dias depois do crime. Suspeita-se que a moça sofreu assédio, não cedeu e acabou assassinada.
Infelizmente, a mulher foi tratada como indigente e logo a polícia desistiu das investigações. O caso jamais foi solucionado. A partir desse assassinato, a população local se uniu e tomou a iniciativa de exigir que todos os moradores de Paranavaí portassem documentos, o que era raro numa época em que muita gente negociava apenas com a garantia da palavra.
Entretanto, quem não concordasse em tirar os documentos não poderia fixar residência na cidade. Anos depois, com o desenvolvimento de Paranavaí, o matagal que um dia serviu como palco de um crime contra uma jovem migrante foi derrubado, dando espaço a Escola Municipal Professora Elza Grassiotto Caselli, no Jardim Farroupilha, nas imediações da “Rodoviária Nova”.
Saiba Mais
O garoto que encontrou o corpo da jovem assassinada é irmão do pioneiro Joaquim Ferreira.