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O dom de talhar a madeira

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Olegário aperfeiçoou as habilidades como carpinteiro e se tornou um mestre em talhar madeira

Artesão é especialista em esculturas de madeira (Foto: David Arioch)

Artesão é especialista em esculturas de madeira (Foto: David Arioch)

Há 28 anos, Olegário José dos Santos, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, aproveitou as habilidades como carpinteiro para reproduzir uma obra de arte. O resultado foi tão positivo que desde então se dedica a criar placas, quadros e esculturas, peças que já foram comercializadas em muitos estados do Brasil e em outros países.

Tudo começou em 1981, quando “Seu Olegário” trabalhava como mestre de obras e marceneiro. À época, a habilidade em talhar madeira despertou no artista o desejo de fazer algo mais do que criar apenas produtos funcionais. “Vi um trabalho e decidi produzir também. Comecei a fazer esculturas e não parei mais. Tem peças minhas nos Estados Unidos, Japão, França, Espanha, Argentina, Costa Rica e Portugal”, diz o artesão em tom de orgulho.

Houve um período em que Santos participava de feiras agropecuárias com o intuito de divulgar e também comercializar as peças que produzia. “Em exposições no Paraná e São Paulo, eu vendia pelo menos 10 placas para fazenda e ainda levava trabalho pra casa. A procura era grande”, explica o artista plástico que já participou de exposições agropecuárias em Paranavaí, Maringá, Umuarama, Londrina, Foz do Iguaçu, Santo Antônio da Platina, Wenceslau Braz, Maringá, Ourinhos, Votuporanga, Presidente Prudente e Assis. Santos também vendeu muitas peças no litoral de Santa Catarina, principalmente pequenos artigos.

Independente do tamanho da obra, seja um chaveirinho feito na hora e vendido por R$ 4 ou um altar de R$ 7 mil que levou 90 dias para ser produzido, a verdade é que depois do trabalho concluído sempre surge o momento de fruição. “Sinto prazer em criar qualquer coisa”, enfatiza Seu Olegário que preza pela riqueza de detalhes. O perfeccionismo está embutido em cada uma de suas esculturas; nas formas e nas curvas que tiram do anonimato pedaços de cedro e cerejeira que provavelmente seriam transformados em produtos em série, como móveis.

Olegário dos Santos: “Sinto prazer em criar qualquer coisa” (Foto: David Arioch)

Olegário dos Santos: “Sinto prazer em criar qualquer coisa” (Foto: David Arioch)

“São ótimas madeiras para o trabalho que desenvolvo. Só uso outros tipos para fazer placas de fazenda”, informa e acrescenta que a cerejeira é trazida de Rondônia. Uma das especialidades de Seu Olegário é a criação de esculturas de imagens de santos, talento que combina com o sobrenome do artista. “Tenho algumas obras disponíveis para venda. São réplicas de São Expedito, São José, São Paulo e Nossa Senhora Aparecida”, destaca o escultor que está sempre aberto a encomendas e comercializa esculturas pelos mais diversos preços. Quem quiser conhecer de perto o trabalho do artista, pode vistar o seu atelier na Avenida Heitor Alencar Furtado, em frente ao trevo de acesso à Vila Operária.

Saiba mais

Cada escultura leva em média 30 dias para ficar pronta e um quadro é concluído em quatro dias.

O artista plástico Olegário José dos Santos também pode ser encontrado na Rua Augusto Fabretti, 877 –  Jardim Alvorada do Sul, Paranavaí. Ou pelo telefone: (44) 3423-4633

Vivendo a viola

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Há 17 anos, Jeferson Cley Bovarotti cultiva o talento de conceber violas de modo artesanal

Luthier lixa uma viola caipira (Foto: David Arioch)

Luthier lixa uma viola caipira (Foto: David Arioch)

Na adolescência, o primeiro contato de Jeferson Cley Bovarotti com a viola foi tão profundo que decidiu reproduzi-la. Desde então, se passaram 17 anos de produção, e hoje a arte de conceber o instrumento artesanalmente sintetiza o cotidiano do luthier de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. O trabalho de Bovarotti atrai clientes de várias regiões do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Jeferson Cley é autodidata, mas não foi da noite para o dia que adquiriu conhecimento o suficiente para reproduzir violas. “Levei oito anos para me orgulhar dos instrumentos que faço. Eu dificilmente ficava satisfeito, sempre queria melhorar algum detalhe”, frisa Bovarotti. O perfeccionismo refere-se ao fato da viola ter muitos segredos que incluem o preparo da madeira, escolha da espessura e as medidas da escala. “O jeito é se aperfeiçoar sempre”, pondera.

Cautela é sempre imprescindível no momento de conceber um instrumento. A criatividade não pode se transformar em excesso de ousadia, já que a maior parte dos violeiros considera a tradicional viola caipira como a única verdadeira. “É preciso tomar cuidado principalmente na hora de escolher a madeira. Tem de conhecer o processo de envelhecimento da matéria-prima”, alerta o artista que criou o primeiro instrumento aos 17 anos, quando reproduziu a viola ganhada do pai Raulnilde Bovarotti.

Dentre as melhores madeiras para a produção de uma viola, o luthier que também é violeiro destaca o pinho sueco, jacarandá indiano, maple e ébano. “Para quem quer gastar um pouco menos, mas levar um produto de boa qualidade, tenho amapá e o cedro-rosa. As melhores do Brasil”, assinala. Uma viola com matéria-prima brasileira custa em torno de R$ 1,5 mil. Se o cliente preferir madeira importada, o preço final é de R$ 3 mil. “Também posso pré-cozinhar e fazer um tempero com duas madeiras”, informa Jeferson Cley. Todos os produtos da Di Cley Luthieria, de Bovarotti, são criados sob encomenda. Cada instrumento leva de 30 a 45 dias para ficar pronto.

Di Cley é marca conhecida e respeitada no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul (Crédito: David Arioch)

Di Cley é marca conhecida e respeitada no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul Luthier lixa uma viola caipira (Foto: David Arioch)

O esmero do luthier para conceber uma viola se assemelha ao cuidado e requinte de detalhes com os quais um pintor se entrega a própria obra, tornando-a única. “Nunca fiz uma parecida com a outra”, garante.

Por tal peculiaridade, e amor incondicional pela viola, o trabalho do luthier é reconhecido pelos clientes, inclusive a boa fama da fábrica atrai violeiros de várias regiões do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. “Geralmente quem se interessa mais é profissional. Já vendi instrumentos para várias duplas de moda de viola, além do famoso sertanejo Daniel e do vice-governador Orlando Pessuti”, conta Bovarotti.

Jeferson Cley revela que vender bem é importante, mas não supera o reconhecimento do trabalho. “Para quem vive a viola, a maior recompensa é ver alguém tocando seu instrumento”, comenta.

Luthier fabrica as próprias máquinas

Quando um violeiro pede que um luthier fabrique um instrumento, as variações mais comuns referem-se às escalas. “Uma escala maior é para afinação mais baixa, para tocar o estilo de Tião Carreiro e Pardinho. Só que tem gente que prefere menor ou normal. Depende muito da mão da pessoa”, explica o luthier Jeferson Cley Bovarotti. A escala padrão de uma viola é de 580 milímetros.

Jeferson Bovarotti testa o instrumento já pronto Luthier lixa uma viola caipira (Foto: David Arioch)

Jeferson Bovarotti testa o instrumento já pronto Luthier lixa uma viola caipira (Foto: David Arioch)

Bovarotti é proprietário da Di Cley Luthieria, uma fábrica de violas que preza pela originalidade, tanto que até as máquinas usadas na produção dos instrumentos foram criadas pelo luthier. “Aqui é tudo artesanal. Projetei ao meu gosto”, destaca o artista que luta para ganhar espaço oferecendo qualidade em vez de quantidade.

O aposentado Raulnilde Bovarotti, pai do luthier, conta que tem muito orgulho do filho. Mesmo com a concorrência desleal das indústrias que produzem instrumentos em série, Jeferson Cley sonha em ter o trabalho mais valorizado. “Já levei mais de dois meses pra finalizar uma viola. Não me importei com a demora porque o resultado foi um instrumento único”, enfatiza.

Mais informações

Quem quiser encomendar alguma viola do luthier, pode entrar em contato pelo telefone (44) 3446-7973