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A confissão de um crime

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Jovem confessou ao padre que assassinou um amigo em nome da honra 

Frei Ulrico: “Ele assassinou um amigo que se recusou a casar com sua irmã.”

Nos anos 1950, houve inúmeros casos em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, de homens que tiveram relações sexuais com moças, se comprometeram em casar e depois desistiram. Em tais circunstâncias era comum a família da mulher obrigar o homem a desposá-la sob ameaça de morte. À época, um jovem confessou ao frei alemão Ulrico Goevert que assassinou um amigo que se recusou a casar com sua irmã.

Quando um rapaz se relacionava sexualmente com uma moça, mas não pretendia se casar, a única chance de sobrevivência era ir embora do Paraná. “Fazia isso ou era levado para o cemitério mais cedo”, frisou o frei no livro de sua autoria “Histórias e Memórias de Paranavaí”.

As palavras do frei refletem a realidade de um tempo em que não era raro os membros da sociedade civil fazerem justiça com as próprias mãos. Exemplo disso é uma história relatada quando frei Ulrico estava em uma missão popular.

Certo dia, o frei e mais dois padres ouviram confissões até as 2h da madrugada. Assim que terminaram, chegou um rapaz de 20 anos. Em alto tom, para que todos ouvissem, o jovem narrou que ele e o pai, o homem que estava logo atrás, precisavam contar algo ao vigário. Enquanto o padre observou atentamente, o rapaz disse: “Cometemos um crime, mas não estamos arrependidos. O cometeríamos hoje de novo, se necessário.”

O padre pediu que falasse baixo, mas o jovem se recusou. Emendou que todos sabiam o que fez, nem por isso sentia vergonha. Chamou a atenção do frei Ulrico e relatou que em uma festa familiar a irmã de 19 anos dançou até ficar cansada. Em seguida, um amigo se comprometeu em levá-la para casa. ”No dia seguinte, encontrei minha irmã chorando na roça durante o trabalho. Ela contou que o meu amigo tinha lhe roubado a inocência. Comentei que isso era triste e eu como irmão providenciaria tudo para que o casamento acontecesse em breve”, declarou o rapaz.

No mesmo dia, à noite, o jovem procurou o amigo e ele concordou em se casar. O irmão da moça o advertiu que a situação precisava ser resolvida o mais breve possível, pois se tratava da honra da família. “Falei que ele teria um prazo de quatro semanas e que eu não toleraria qualquer adiamento. Do contrário, a honra seria lavada com sangue. Pra ele, não era novidade porque já conhecia esta lei não escrita”, enfatizou o jovem.

A família da moça sempre ficava atenta aos anúncios de casamentos feitos pela Igreja São Sebastião para saber se o jovem intimidado agendou a data da cerimônia. Após o domingo, cansados de esperar, o irmão e o pai da moça foram até a casa do rapaz e o ameaçaram. “Você casa até o dia 15 do próximo mês ou no dia 16 nós o pegaremos”, alertaram. O homem não cumpriu o combinado, então o irmão e o pai dela o mataram a pancadas na roça no dia 16. “O enterramos ali mesmo. Não nos arrependemos e faríamos tudo de novo, do mesmo jeito”, confessou o rapaz ao frei Ulrico que ao ouvir toda a narração ficou apático, sem reação.

Depois, o padre questionou se a polícia foi informada do acontecido. O jovem revelou que após o crime foram direto para a delegacia. Confuso, frei Ulrico perguntou: “E não prenderam vocês?” O rapaz afirmou que não. O delegado só quis saber se enterraram o corpo. Responderam que sim e o policial apenas comentou: “Então tá tudo em ordem!”

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