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Knut Hamsun, o escritor norueguês que influenciou outros importantes nomes da literatura
Knut Hamsun foi um escritor norueguês que influenciou e inspirou Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Isaac Bashevis Singer, Ernest Hemingway, H.G. Wells, Stefan Zweig e Charles Bukowski, entre outros escritores. Para quem não conhece o trabalho dele, sugiro que leiam “Fome”, “Pan” e “Um Vagabundo Toca em Surdina”. Hamsun era um autor bastante controverso, que nunca fez questão de velar a sua simpatia por um tipo telúrico de anti-civilização.
Bukowski: “Não vou deixar muito, só algo para ler, quem sabe”
“Depois que eu partir, haverá mais dias para os outros, outros dias, outras noites, cães caminhando…”
Após publicar mais de 50 livros de poesia e prosa ao longo de meio século, Charles Bukowski se tornou o Grand Old Man da literatura marginal dos Estados Unidos. Abordando a rotina dos trabalhadores de colarinho azul e a realidade das áreas urbanas mais pobres de Los Angeles, habitadas por andarilhos, mendigos, usuários de drogas e outros tipos de rejeitados sociais, ele mergulhou em um universo onde homens de mau hálito e pés grandes parecem sapos e hienas. Eles caminham como se a melodia nunca tivesse sido inventada, e ao final ainda são execrados.
Depois de ser mandado ao inferno, Bukowski observava os braços gordos e suados do senhorio exigindo o pagamento do aluguel. “O mundo tinha falhado com nós dois”, escreveu. O jeito era abrir uma nova garrafa retirada da sacola enquanto ela se sentava na esquina fumando e tossindo como uma velha tia de Nova Jersey. Nos anos 1970, a vida de Charles Bukowski mudou.
Fez várias aparições com Allen Ginsberg e Lawrence Ferlinghetti. Deu entrevistas à Rolling Stone e todas as suas leituras pela Europa estavam com ingressos esgotados. Ele trocou as duas caixinhas de seis unidades de cerveja por quatro garrafas de bom vinho francês. Assim que sua história deu origem ao filme Barfly, de 1987, protagonizado por Mickey Rourke, com direção de Barbet Schroeder e roteiro do próprio Bukowski, ele se distanciou ainda mais da miserável realidade que o acompanhou por tanto tempo.
O seu deteriorado fusquinha 1967, com o qual viveu tantas aventuras, inclusive um dia sua namorada fez um furo no para-brisas com o salto, foi substituído por um novo BMW com teto solar. Em seus tempos de bebedeira, Bukowski deixava os atendentes baterem nele em troca de bebidas. Em 1992, com tuberculose, câncer e sentindo o peso da idade, foi convencido por sua esposa a experimentar uma das chamadas curas da nova era. Mesmo aceitando tudo, Bukowski não deixava de ser irônico.
Um dia, às 8h, enquanto estava sentado nu e sua esposa passava óleo de gergelim pelo seu corpo, o Grand Old Man comentou: “Jesus, como cheguei a esse ponto?” Mesmo na iminência da morte, sua mulher prosseguiu tentando purificá-lo. E pra isso contou com alguns monges budistas que conduziram o serviço. O seu bom humor o acompanhou até o fim.
“Depois que eu partir, haverá mais dias para os outros, outros dias, outras noites, cães caminhando, árvores balançando com o vento. Não vou deixar muito, só algo para ler, quem sabe. Uma cebola selvagem numa estrada eviscerada. Paris no escuro”, escreveu antes do último suspiro. Ele pediu que colocassem em seu túmulo a inscrição: ‘Don’t Try’ [Não tente]. Bom, a interpretação vai até onde a sua mente te conduz.
Saiba Mais
Charles Bukowski nasceu em Andernach, na Alemanha, em 16 de agosto de 1920 e faleceu em 9 de março de 1994 em San Pedro, Los Angeles.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
http://bukowski.net/
Miles, Barry. Charles Bukowski. Random House (2009).
No filtro de Kemmy Fukita
Com arte em filtro de papel reaproveitado, jovem ilustradora chama atenção pela singularidade
Em 2015, a ilustradora Kemmy Fukita, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, criou uma página no Facebook para divulgar o seu projeto “No Filtro”, em que reaproveita filtros de papel usados para coar café. Unindo arte e sustentabilidade, Kemmy reproduz com singularidade imagens de pessoas famosas e anônimas em construções visuais que transmitem fortes sentimentos e sensações.
Seus traços influenciados pelo hiper-realismo, surrealismo e art nouveau são carregados de intensidade, influências que ela assume com orgulho, assim como a fotografia. “Muitos dos meus desenhos surgem da observação. Gosto muito de desenhar rostos femininos realistas e um pouco desfigurados do real, com cicatrizes. Isto porque sempre tentei representar uma mulher forte, apesar das dificuldades que ela tenha de passar”, explica.
Toda vez que Dona Rosa termina de usar um filtro de café, a filha Kemmy, de 20 anos, o lava com sutileza, para preservá-lo com aspecto envelhecido, e aguarda a secagem antes de começar a produção de mais um desenho. “O processo não é demorado, mas exige muita paciência porque se algo der errado é preciso recomeçar. Para desenhar um rosto realista, por exemplo, eu levo uma hora. Varia de acordo com o grau de dificuldade”, informa.
Após criar obras em papelão, um dia Kemmy Fukita estava observando a mãe preparar café e teve a ideia de separar o filtro já usado. O lavou, secou e começou a pintar. Gostou tanto da primeira experiência que criou uma página com seus desenhos, frases e trechos de músicas reproduzidos em filtros. “Me baseei em artistas com quem já me identificava. A princípio, tudo era feito com lápis de cor e tinta guache. Depois vi que o giz pastel garantia melhor pigmentação e incluí também as tintas nanquim e aquarela”, revela.
Desde o ano passado, a artista cria obras sob encomenda. As mais pedidas são pautadas em imagens de escritores e músicos, seguidas por desenhos de pessoas comuns. Trabalhos inspirados nas fotos mais icônicas do escritor estadunidense Charles Bukowski estão no topo dos pedidos mais atendidos por Kemmy. “Eu o admiro muito, tanto que um dos meus poemas prediletos é ‘O Pássaro Azul’. Também faço muitas obras baseadas em bandas de rock e cantores e cantoras de outras épocas”, enfatiza.
Cada encomenda, com moldura e dois filtros – um acompanhado de ilustração e outro de uma frase, custa apenas R$ 40. “Uso como embrulho o TNT ou um papel transparente amarrado com uma cordinha de sisal”, destaca, deixando claro o quanto é caprichosa no que se propõe a fazer. Ainda assim a artista reconhece que o seu trabalho não é devidamente valorizado, já que há pessoas que reclamam do preço cobrado por cada obra. “É preciso entender que coloco amor e dedicação no que faço”, argumenta a ilustradora.
Com o projeto “No Filtro”, Kemmy admite que se descobriu ainda mais como ser humano e artista. Inspirada no pai poeta, várias vezes premiado no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), ganhou coragem para escrever poemas e publicá-los com seus desenhos. “Desanimei muitas vezes e tive bloqueios criativos, uma descrença no que faço. Mas foram nesses momentos difíceis que encontrei pessoas me apoiando e falando para eu não desistir. Uma frase que sempre trago comigo é do Vinicius de Moraes: ‘A arte não ama os covardes’. É bem isso. Quem vive neste mundo precisa de coragem para se arriscar e amar o que faz”, defende.
Além de artista, Kemmy Fukita é estudante de moda. Perto de se graduar, não pensa em atuar como estilista. Quer trabalhar com ilustração de moda, se desvinculando da criação de roupas. “Quero futuramente conciliar a ilustração de moda com o aspecto social, pouco valorizado”, confidencia. Sem nunca ter estudado desenho, Kemmy é autodidata, porém acredita que o curso de moda a ajudou a desenvolver habilidades específicas, como se aperfeiçoar no desenho de mãos e pés.
A primeira experiência desenhando foi aos 13 anos, quando decidiu reproduzir os personagens da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. “Só que não eram tão realistas. Ao longo dos anos fui testando outros materiais além do papel comum. Tive a ideia de pintar desenhos minúsculos em hashi e deu certo. Também fiz isso em pratinhos de papelão, usando tinta guache e palitinhos de dente. Eu era revoltada com pincéis”, conta rindo.
A página “No Filtro”, criada por Kemmy em 2015, se aproxima dos nove mil seguidores. A ilustradora justifica que a crescente popularidade é resultado da divulgação de um de seus trabalhos em uma página de música do Facebook. “E também a uma encomenda feita pelo presidente da Fundação Cultural de Paranavaí, Amauri Martineli. Tudo isso foi de grande importância e eu não esperava, nem tinha noção de que tantas pessoas valorizariam a minha arte”, comemora.
Página do projeto No Filtro no Facebook
Bukowski, um velho safado apaixonado por gatos
“Eles farão você se sentir melhor. Eles sabem tudo sobre a vida, tal como ela é”
Nos últimos anos, vi diversas fotos do escritor estadunidense Charles Bukowski segurando gatos ou rodeado por eles enquanto trabalhava. No entanto, foi somente no início de 2016 que tive certeza do quanto o mais famoso dirty old man da história da literatura norte-americana era apaixonado por gatos.
A confirmação veio com o lançamento da obra póstuma On Cats, um livro de 128 páginas, publicado nos Estados Unidos pela Editora Ecco Press em dezembro de 2015, que reúne as mais profundas impressões poéticas e reflexões de Bukowski sobre gatos e o mundo dos felinos.
Uma perspectiva áspera e transversalmente bucólica e terna sobre a relação entre humanos e gatos é o que os leitores vão encontrar no livro. Para Charles Bukowski, nenhum outro animal é tão inescrutável quanto um gato com sua essência elementar e augusta. Forças únicas da natureza, emissários evasivos da beleza do amor, interpretava o último escritor maldito da literatura norte-americana.
É justo dizer que On Cats é uma viagem pela resistência e resiliência felina; uma obra que apresenta os gatos como combatentes, caçadores e sobreviventes divididos entre o temor e o respeito. Os felinos de Bukowski eram ferozes e exigentes, chegando a se esfregarem, ensandecidos, por suas páginas datilografadas. Não se importavam em acordá-lo roçando garras em seu rosto e isso era mais um alento do que um quezilento. Também eram afetuosos, maviosos e muitas vezes o ajudaram a reencontrar inspiração.
O jornalista e biógrafo britânico Howard Sounes, estudioso do trabalho do escritor estadunidense, revela que Charles Bukowski ficou mais emotivo na velhice. “Os gatos realmente foram os únicos que conseguiram torná-lo um homem sentimental. Quando ele conseguiu um bom dinheiro, começou a levar uma vida suburbana com sua esposa Linda Lee e um monte de gatos”, confidenciou.
Segundo Bukowski, gatos são inigualáveis porque respondem somente a si mesmos, seres sui generis que não se deixam levar. Cômico e enternecedor, pungente e isento de pieguices, o livro é um retrato iluminado sobre a perspectiva do homem que considerava seus gatos como seus grandes professores nos seus últimos anos. O que também justifica porque o escritor dizia tanto que na próxima vida não queria ser nada além de um gato.
“Eu poderia dormir por 20 horas, ficar sentado e lamber minha própria bunda, esperando para ser alimentado. A verdade é que é sempre bom ter um bando de gatos ao meu redor”, repetia Bukowski à exaustão até o dia 9 de março de 1994, quando faleceu aos 73 anos, deixando um legado de seis romances, mais de 50 coleções de poemas e muitos contos e crônicas.
“Quando estiver se sentindo mal, observe os gatos. Eles farão você se sentir melhor. Eles sabem tudo sobre a vida, tal como ela é. Eles apenas sabem, são salvadores. Quanto mais gatos você tem, mais você vive. Se você tiver uma centena de gatos, acredite, você vai viver dez vezes mais do que se tivesse dez. Algum dia as pessoas vão descobrir isso e teremos um mundo com pessoas criando milhares de gatos. Elas viverão para sempre e isso será ridículo”, escreveu, sem deixar de satirizar, uma de suas características mais proeminentes.
Saiba Mais
O livro “On Cats” pode ser comprado no site Amazon.com.
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