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Ninguém precisa da Perdigão para fazer uma boa ação

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O Chester, com seu parco valor existencial atrelado a datas comemorativas e à marca Perdigão, é uma criatura que vive em média 50 dias antes de ser degolado, sangrado, escaldado, depenado, eviscerado e resfriado

A Perdigão diz que se você comprar um Chester uma família atendida por instituições de assistência social ganha outro. Ou seja, você não paga para matar apenas um, mas dois animais. Ok. Isso parece uma bela ação, não? Mas onde estava essa iniciativa da Perdigão anos atrás? Por que apenas no ano passado eles começaram esse trabalho?

Me parece uma iniciativa baseada em uma reação há uma desaceleração no consumo e na venda do Chester. Como não está sendo fácil conquistar o estômago e o bolso dos consumidores, eles viram uma boa oportunidade de apelar ao coração. Claro, muitos poderão dizer de boca cheia: “Já fiz a minha boa ação neste Natal. Graças a mim uma família está sendo bem alimentada.”

Outro aspecto a se considerar é que essa ação reforça a equivocada ideia da importância do consumo de carne no Natal, e alça o Chester a símbolo da “boa alimentação natalina”, o que não tem qualquer respaldo substancial. Afinal, o que tem de coerente em celebrar o Natal se alimentando da morte de um animal? “Ok, mas e daí, pelo menos uma família carente vai ter o que comer no Natal e sem precisar pagar por isso.” Certo, mas será que o que essas famílias mais precisam ou desejam é um Chester?

Dizem que essa época torna as pessoas mais solidárias e fraternas. Porém, aos animais não tenho dúvida nenhuma de que a chegada do Natal marca um tempo de trevas, em que a matança cresce vertiginosamente. Ou há como negar que milhões de animais são mortos nesse período? Uma suposta boa ação em prol de seres humanos deveria justificar isso? Não há alternativas?

O Chester, com seu parco valor existencial atrelado a datas comemorativas e à marca Perdigão, é uma criatura que vive em média 50 dias antes de ser degolado, sangrado, escaldado, depenado, eviscerado e resfriado. Claro, me refiro aos machos, porque as fêmeas são mortas com 35 dias. Imagine como seria viver por tão pouco tempo.

Acredito que ninguém precisa da Perdigão para fazer uma boa ação em qualquer época do ano. Basta se inteirar da realidade local, agir por conta própria ou se juntar a grupos de voluntários. Muitas vezes não é necessário nem dinheiro, mas somente tempo livre e vontade de ajudar.

 





Written by David Arioch

December 2nd, 2017 at 2:45 pm

A Perdigão e as controvérsias do Chester

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Suposta foto de uma produção de Chester ainda muito jovens (Foto: Perdigão)

Leiam o que a Perdigão diz quando questionada sobre a origem do Chester, o frango geneticamente modificado: “Chester é um animal, mas não é uma espécie diferente de ave, como o peru ou o avestruz, por exemplo. É a mesma espécie que o frango convencional.”

Para se ter uma ideia, um frango convencional pesa em média de 1,8 a 2,5 quilos. O Chester pesa pelo menos quatro quilos. Sendo assim, como achar normal o tamanho do Chester? Imagine o esforço que essa ave tem de fazer para se locomover.

Segundo a Perdigão, não tem sentido a aplicação de hormônios sintéticos no Chester porque as aves são abatidas antes do tempo necessário para que as substâncias comecem a fazer efeito. Por outro lado, o animal chega a quatro quilos em 42 dias. Ou seja, o dobro de um frango convencional. Em contato com a Perdigão, quando alguém pede fotos reais do Chester ainda vivo, eles dizem o seguinte: “Não dispomos de imagens desta ave em granja e/ou linha de produção.”

Ou seja, no Brasil, a Perdigão cria misteriosamente uma ave reduzida à comida e que a maioria não sabe o que é, o que não raramente levanta suspeitas. Também me surpreende saber que o Chester, um frango geneticamente modificado, e que me parece que ninguém nunca viu nem na TV, a não ser depois de morto, é consumido no Brasil desde 1982. Até hoje, não há muitas informações sobre o sistema de produção dessa ave. E as poucas a que temos acesso são controversas.

Só para endossar o quão estranho tudo isso é, pergunte aos consumidores o que é exatamente um Chester, se eles já o viram em algum aviário e se são capazes de descrevê-lo. Na minha opinião, mais uma história sobre a qual as pessoas precisam receber muito mais informações do que aquelas disponibilizadas pela indústria.

Written by David Arioch

December 25th, 2016 at 6:37 pm