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Artista deixa de lucrar para ajudar jovens da Vila Alta
Luiz Carlos Prates: “Quero que façam trabalhos muito melhores do que os meus”
O artista plástico Luiz Carlos Prates, referência na arte de manipular madeira, está ensinando artesanato a 12 crianças e adolescentes na Vila Alta, em Paranavaí. As aulas realizadas em período integral às segundas, terças e quartas-feiras exigem muita dedicação, tanto que o artista produz menos para garantir que os alunos aprendam o máximo possível. “Continuo na ativa porque preciso vender minhas peças para comprar o material usado na instrução deles. Às vezes, conseguimos algumas doações”, comenta Prates.
Nos três primeiros dias da semana, o artista deixa de lucrar para dar toda atenção aos alunos. “Quero que façam trabalhos muito melhores do que os meus. Me envolvo de coração com eles, tanto que a minha principal preocupação sempre foi tirá-los das ruas. Como são crianças vulneráveis, faço de tudo para evitar que se entreguem ao mundo do crime e das drogas”, explica Luiz Carlos que é muito respeitado no bairro por pessoas de todas as faixas etárias. Como incentivo, os alunos levam para casa as peças produzidas, ou seja, podem doá-las ou vendê-las, se preferirem. “Quando querem vender, são melhores que eu”, afirma Prates enquanto sorri orgulhoso, ladeado pelos alunos que o consideram um avô.
Quando encontra uma criança à toa na rua, o artista logo pergunta se tem interesse em aprender artesanato e justifica os benefícios. Recentemente, conquistou a parceria da psicóloga Cristina Pontes que uma vez por semana atende os alunos como voluntária. “Pretendo construir um pequeno escritório ao lado do atelier para que ela possa falar com eles aqui mesmo e individualmente”, destaca Luiz Carlos, lembrando que o projeto se desenvolveria com mais facilidade se conseguissem patrocínio para custear os lanches dos alunos e também a aquisição de ferramentas.
Entre os aprendizes estão Gustavo de Jesus Souza, 13; William Viana Castro, 15; Alisson Ferreira França, 15; Danilo Medeiros França. 12; Welinton Silva, 13; Daniel Pereira Silva, 10; Luan Guilherme Moraes, 15; e Éderson França de Melo, 12. Gustavo é o primeiro aluno do projeto no qual ingressou há oito meses. Produziu mais de 20 peças. “Gosto muito daqui. Prefiro trabalhar com madeira, e já fiz copo, concha, cinzeiro, casa, cadeira e carrinho que foi o mais difícil”, revela. Quem quiser contribuir com o projeto pode ligar para (44) 3422-7635.
A arte sulista de Luiz Carlos Prates
Um mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso
O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima é mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso, matérias-primas usadas para criar obras que resgatam elementos da cultura sulina.
Luiz Carlos nasceu em 1º de junho de 1930 em Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal do grande poeta Mário Quintana. O dom para as artes, descoberto na infância, foi incentivado pela avó africana que era pintora e desenhista. Na juventude, Prates de Lima decidiu investir na carreira de artista plástico e ingressou no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Depois de formado, lecionou na Fundação Gaúcha do Trabalho. “Eu ensinava artesanato com chifres, ossos, madeira e couro”, afirma Luiz Carlos que trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos. O artista que produz arte com as mais diversas matérias-primas é especialista não apenas na criação de esculturas, mas também de pinturas e desenhos. “Gosto de tudo relacionado à arte, e hoje quero passar isso para os outros porque já estou em idade avançada”, pondera.
Luiz Carlos conheceu Paranavaí há muito tempo, contudo só voltou a cidade em 1997, quando decidiu fixar residência. “Gostei muito daqui, e nesse período percebi que o pessoal gosta muito de obras em chifre e madeira. Também encomendam peças feitas com ossos, nem que seja por curiosidade”, revela, acrescentando que até hoje nunca precisou criar nenhuma obra que não gostasse.
O que mais chama atenção é que as peças feitas por Luiz Carlos Prates remetem à cultura sulista. Os exemplos estão no pequeno atelier improvisado no quintal. Lá, carretas dividem o espaço com chaleiras, cuias e ervas; tudo feito em madeira. A atmosfera rural do ambiente também parece contribuir para a plasticidade das obras. Quase tudo lembra outros tempos, até o esmero do artista ao entalhar e lixar uma peça menor que um dedo. São lembranças tornadas materiais e palpáveis do passado de Luiz Carlos.
Artista já produziu até 70 peças por semana
O carinho do artista ao segurar cada obra dá uma ideia do valor que a arte agrega a sua vida. Após mais de 60 anos de profissão, Luiz Carlos Prates de Lima ainda é exigente consigo mesmo. Realiza trabalhos sob encomenda, porém entrega uma peça apenas quando tem certeza que deu tudo de si.
“Há obras que levam até dois meses, mesmo trabalhando o dia todo. Exemplo é um quadro aplicado que fiz”, explica. Já outras peças são feitas em pouco tempo. O artista conta que dependendo do pedido chega a produzir até 70 obras por semana. “Além do Paraná, já enviei peças para o Japão, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros estados. Acho que para o Brasil todo”, garante em tom de orgulho.
Para o artista de fala calma e pausada, a matéria-prima mais fácil de manipular é a madeira, já o chifre é considerado o mais difícil. “O entalhe todo do chifre é feito só com lixa. É bem artesanal e tem que ter paciência”, justifica. Uma das obras mais produzidas pelo artista plástico é a carreta que leva cerca de uma semana para ficar pronta. Até hoje, Prates de Lima criou pelo menos 120. Uma curiosidade sobre as obras do artista é a influência indireta do naturalismo. Luiz Carlos evita dar brilho às peças, não as idealizando para não distanciá-las da realidade. “Gosto do verniz fosco, um trabalho encerado de madeira, sem brilho”, comenta.
Curiosidade
Quando morava no Rio Grande do Sul, antes de tornar-se evangélico, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima construía carros alegóricos, fantasias de carnaval e até escrevia enredos para escolas de samba.
Contato
Interessados em conhecer o trabalho do artista plástico podem ligar para (44) 9865-1391.