David Arioch – Jornalismo Cultural

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O Rapunzel das barbas

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Hoje, na clínica cardiológica, um dos técnicos, um cara bem gente boa, perguntou há quanto tempo uso barba. Então respondi que faz um ano. “Só isso, e cresceu tanto assim? Sério mesmo?” Quando confirmei, ele não escondeu a surpresa e emendou: Então você é o Rapunzel das barbas!”

Written by David Arioch

January 28th, 2017 at 8:22 pm

Diante do banheiro

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Experiências diante do banheiro de uma clínica de mastologia (Foto: Reprodução)

De manhã, fui ao mastologista entregar alguns exames que fiz nos últimos meses. Antes de ser atendido, senti muita vontade de urinar. Atravessei a clínica e, diante do banheiro, girei a maçaneta – a porta estava trancada. Havia uma pessoa lá dentro. Tudo bem! Me afastei e aguardei a minha vez.

Nesse ínterim, chegou uma mulher grávida acompanhada do marido. Me observaram suspeitosamente. Assim que um homem saiu do banheiro, ela se adiantou e, sem perguntar nada, entrou e trancou a porta. Não vi problema algum nisso, mesmo ansiando por usá-lo. Afinal, era uma mulher grávida. Eu poderia continuar esperando, mesmo intranquilo.

Em menos de minuto, o marido da grávida se afastou e continuou me analisando. Não movimentei minha cabeça ou olhos para retribuir a dúvida, curiosidade ou suspeita. Enquanto simulava minha atenção em ponto fixo, notei o marido se aproximando, retirando uma toalha de papel de um balcão a centímetros de mim e se afastando. Por poucos segundos, o vi caminhando em direção à sala de espera.

Continuei ali, imóvel, com semblante imperscrutável, sentindo-me tão fleumático que por pouco não me tornei uma extensão do balcão. Sem demora, o homem retornou. Ainda me observava. Não conseguia fingir que não o fazia. Fortuitamente se esforçava para fazer algum tipo de oposição a si mesmo. Talvez estivesse em conflito. Então sua esposa saiu do banheiro. Ela direcionou os olhos pra mim, sem que eu precisasse fazer o mesmo. Percebi sem qualquer esforço que eles me assistiam à direita e à esquerda. Ok!

Tive a impressão de que tentavam me comprimir com os olhos. Sem me comunicar, ignorei. Entrei no banheiro sem olhar para trás, e pareceu-me que havia algum tipo de surpresa nisso, pelo menos por parte deles que demonstravam não entender o que eu fazia ali. Enquanto urinava, senti o corpo mais leve, principalmente minha cabeça que parecia carregar o peso de olhos que não eram meus. Lavei as mãos, tirei minha blusa, ajeitei a barba e os cabelos. Atravessei o corredor e a segunda sala de espera sem mirar coisa alguma.

Notei alguns pares de olhos e caminhei até a primeira sala de espera, onde deixei os resultados dos meus exames sobre uma das poltronas. Depois que fui atendido pelo mastologista, pedi a recepcionista que me entregasse a guia original da solicitação de exames porque eu precisava apresentá-la no laboratório. Logo o casal dantes se aproximou. Quando o marido viu que eu estava me preparando para sair, apoiou o capacete em um dos braços e cordialmente sorriu, abrindo a porta do consultório para que eu partisse.

Written by David Arioch

September 21st, 2016 at 11:56 pm

Quem é a paciente?

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O sol das 7h50 iluminava o ambiente com uma intensidade que relegava as lâmpadas acesas à inutilidade

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Depois de ter os dois peitos pressionados várias vezes e em inúmeras posições, deixei a sala de exames (Foto: Reprodução)

Fui até uma clínica fazer um exame. Chegando lá, entreguei a guia da Cassi para a recepcionista e ela questionou: “Quem é a paciente?” Respondi que eu era o paciente. Sem graça, a moça se desculpou. Por um momento, tive vontade de rir ao lembrar dela dizendo “a paciente”, mas me esforcei porque não queria deixá-la constrangida. Assim que confirmou meus dados e me entregou um crachá rosa escrito MAMOGRAFIA, entendi porque ela perguntou “Quem era a paciente”.

Com a identificação do exame em mãos, caminhei até uma tranquila sala de espera. O sol das 7h50 iluminava o ambiente com uma intensidade que relegava as lâmpadas acesas à inutilidade. Quando me viram, três mulheres não tiraram mais os olhos do meu crachá escrito MAMOGRAFIA. E fiquei pensando, inerte num sorriso velado e sem dizer palavra: “Sim! Sou homem e vou fazer mamografia. É isso aí. Tirem suas conclusões. Também posso me divertir interpretando seus pensamentos.”

O meu crachá rosa cintilava mais ainda com a cálida incidência do sol que mirava com mais veemência justamente onde eu sentava. Sem problema! Não demorou e as três foram chamadas até uma sala de exames. Sozinho, troquei de lugar porque havia luz solar por todos os lados, aquecendo minhas costas, braços e rosto. Tudo melhorou quando consegui me ocultar sob uma parede branca.

Fiquei lá parado com meu crachá enquanto a TV exibia histórias de corrupção e trapaça. Assisti um cara falando que o furto de energia elétrica no Brasil corresponde à energia consumida no Paraná. Ok! Naquele instante, tudo parecia girar em torno de energia, inclusive do sol que continuava se esgueirando pela janela.

Logo a sala começou a encher. E ninguém evitou de olhar o meu crachá. “Tudo bem! Tudo bem! É isso mesmo. Vou fazer MAMOGRAFIA”, refleti outra vez. Nesse ínterim, um amigo, Rafael Otaviano, me viu e veio me parabenizar pelos meus textos, o que me agradou muito porque ajudou a me distrair diante de tantos olhares inquiridores.

Fiquei pelo menos 40 minutos aguardando a minha vez, o que era incomum, já que vi pessoas que chegaram depois de mim sendo atendidas antes. Me levantei, fui até a recepção e perguntei se demoraria muito para que eu fosse atendido. Ao meu redor, mais pessoas observavam meu crachá rosa. Em outra sala de espera, vi alguém apontando para mim e comentando: “Aquele rapaz vai fazer mamografia. Que estranho!”

Quando pronunciaram meu nome: “Daví!”, não Deivid, como sou chamado desde bebê, caminhei até a responsável técnica e ela se desculpou. Me informou que o exame da forma como foi pedido pelo mastologista exigia adaptações na máquina, justificando a demora. “Alguém com câncer de mama na família?” Respondi que não. Eu estava lá para fazer mamografia bilateral com a intenção de avaliar o desaparecimento de uma leve ginecomastia.

Após ter os dois peitos pressionados várias vezes e em inúmeras posições, deixei a sala de exames com o peitoral marcado e caminhei até a saída. Antes de ganhar às ruas, ouvi uma mulher cochichando perto da porta: “Não sabia que homem também tinha câncer de mama.” Sem me preocupar em explicar o motivo da minha ida até a clínica, repliquei: “Pois é, senhora, diga ao seu marido e aos seus filhos para terem muito cuidado. O maior perigo surge quando de repente começa a sair leite dos mamilos.” Assustada, ela se encolheu num canto com olhos esgazeados.

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Written by David Arioch

June 29th, 2016 at 1:48 pm

A ressonância magnética e a quimera dos metais

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Tive a impressão de que a máquina diminuía e me comprimia na mesma proporção que o som aumentava

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Até esqueci como aquela máquina pode ser grande (Foto: Steward Health)

Depois de mais de dez anos, voltei a fazer outro exame de ressonância magnética. Chegando na clínica, confirmei meus dados, assinei uma nova guia, recebi um crachá e sentei em uma confortável poltrona na sala ao lado enquanto o programa da Ana Maria Braga exibia a história de um arquiteto enfrentando problemas com cupins. Ao meu redor, ninguém falava nada. Todos se mantinham silenciosos, com a atenção voltada para a TV.

Tentei acompanhar o desfecho daquela tragédia moderna, mas foi impossível. Meus olhos se voltavam para a porta, aberta ou fechada, por onde as técnicas apareciam chamando os pacientes. Nessas circunstâncias a minha ansiedade se sobrepõe a qualquer outra sensação. Apesar da grande movimentação, logo ouvi meu nome. Ajeitei a touca e segui meu rumo porta adentro.

Caminhei até um vestiário e a moça disse que retornaria em dez minutos. Como de praxe, tirei minhas roupas e sentei na poltrona onde constatei outra vez como as clínicas figuram mais glaciais em dias de chuva. Até a mais sutil das brisas parece capaz de atravessar paredes e dar baforadas nos desavisados, lembrando que nada na vida é inatingível e que o momento pode ser tão duro quanto um arremedo de cimento.

Sobre a minha cabeça havia um pequeno cofre para guardar pertences como relógios, telefones celulares e outros objetos. O observei com atenção até que uma frase ecoou pela minha mente: “Deixe aí tudo que contenha metal porque senão pode acontecer alguma coisa ruim”, advertiu antes a técnica em ressonância magnética. Para corroborar, li um aviso ao lado da porta, informando que metais podem danificar a máquina e causar graves lesões nos pacientes.

Aquilo me preocupou tanto que mesmo nu continuei deslizando as mãos pelo meu corpo, tentando encontrar algum resquício de metal. “Será que não tem nada de metal no meu corpo? Será? Será?”, me questionei, tão angustiado que não descartei a possibilidade de brotar agulhas de chumbo debaixo das minhas unhas dos pés e fios de alumínio das minhas orelhas.

Cheguei a tirar a touca e esfregar as mãos nos cabelos para me certificar de que não havia granalha de aço no couro cabeludo. Depois de vestir a calça e a camiseta que me deram, fiquei pelo menos cinco minutos em insondável introspecção. E nesse ínterim divaguei tanto que meu corpo ficou dormente, tão letárgico que me senti como semente. Tentei levantar, mas não consegui me movimentar. Meus pés estavam presos num vazio imerso por um todo. “Que estranho! Parece um sinal!”, inferi.

De repente a técnica bateu na porta e me chamou. Então a segui até uma sala enorme. Fazia tanto tempo que eu não passava por uma ressonância que até esqueci como aquela máquina pode ser grande. Assim que deitei e sorri com brevidade, a moça franziu a testa e fez um esgar de desagrado. “Nossa, você usa aparelho! Não tem como tirar?” Respondi que não. Ela me observou por alguns segundos e consentiu.

“Olha, vai fazer um barulho tremendo, terrível, por isso vou colocar esses protetores no seu ouvido. Se você passar mal, é só acionar essa bolinha que tiro você lá de dentro, tudo bem?” Acenei positivamente com a cabeça, deitei fingindo tranquilidade e aguardei o início do exame, já enxergando aquele túnel branco como um crematório disfarçado.

Não me recordava como ele era pequeno visto de dentro. Após dois, três e quatro minutos, minha imaginação já tinha trabalhado como nunca. “Nem faz muito ruído. É um som paulatino e suave. Vou acabar dormindo”, ponderei depois de aproximadamente cinco minutos. Crente de que o exame chegava ao fim, ouvi um estrondo tão grande que meus olhos amiudados pelo sono se agigantaram.

Como fui tolo! O exame nem tinha começado. Junto com o barulho, tive a impressão de que a máquina diminuía e me comprimia na mesma proporção que o som aumentava, fora de cadência. E para agravar mais a situação, um barulho desconcertante soou como uma explosão.

“Caramba, será que aconteceu alguma coisa? E se essa máquina pegar fogo comigo aqui dentro?”, fantasiei, já notando as costas quentes e cogitando mudar de posição. Pior foi quando me recordei do aparelho nos dentes e não encontrei espaço o suficiente para levar a mão à boca. Me limitei a sentir a gengiva esbraseada.

Naquele momento uma salada de filmes macabros e distópicos percorreram minha mente. De “Eraserhead”, de David Lynch, ao trash “O Incrível Homem que Derreteu”, de William Sachs, que assisti escondido na Boca do Inferno quando era criança, divaguei por um universo intempestivo de tragédias.

Não foram poucas as vezes que encostei a língua no meu aparelho para ter certeza de que continuava tudo normal. E o barulho se intensificava. A ansiedade aumentava entre os intervalos porque o silêncio me desconcertava. Havia um tipo satírico de claustrofobia que fazia da minha mente uma refém. Respirei fundo, fechei os olhos e tentei restabelecer a serenidade. Não demorou e percebi que pode existir algo mais até na crua dissonância dos ruídos.

Então o barulho se transformou em música quando associei o que ouvi a filmes como “Corra, Lola, Corra” e “Trainspotting”, e bandas como Ministry, Atari Teenage Riot, Nine Inch Nails e KMFDM. Quando o exame terminou, tive a mais venusta das sensações de quem vê uma luz no fim do túnel. Levantei com o coração acalentado, me despedi da técnica e caminhei ao vestiário, onde uma moça que fez o mesmo exame gargalhava em frente a uma das portas. Vi que ela também usava aparelho nos dentes. Nem nos cumprimentamos. Somente rimos, reconhecendo na criatividade da ficção uma piada em forma de redenção.

O que eu não sabia sobre hérnia de disco

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Me animei com a possibilidade de me ver curado, sem precisar mais me preocupar tanto com a lombar

Após a confirmação do problema, Torino falou pra eu ficar de bruços (Imagem: Reprodução)

Após a confirmação do problema, Torino falou pra eu ficar de bruços (Imagem: Reprodução)

Tenho hérnia de disco desde os 20 anos. Apesar disso, levo uma vida normal, inclusive faço muitos exercícios que exigem bastante da coluna lombar. Porém, como qualquer outra pessoa que tem uma rotina intensa de treinamento com pesos, ocasionalmente acontece de eu cometer um pequeno deslize e sentir as consequências no dia seguinte.

Uma vez, em 2014, comentei com um amigo sobre o meu infortúnio, explicando que em situações como essa preciso ir com calma até me recuperar completamente. Solidário, ele sugeriu que eu procurasse um especialista conhecido como Torino Massagista, um sujeito com excelentes referências que viveu alguns anos em Nanquim, na China, onde estudou técnicas milenares para tratamento de hérnia de disco, artrose e escoliose, entre outros problemas de coluna.

Gostei da sugestão e me animei com a possibilidade de me ver curado, sem precisar mais me preocupar tanto com a lombar em caso de mau jeito durante os exercícios. Liguei para o massagista numa manhã de quarta-feira e agendei uma sessão para as 16h de sexta. Às 15h40, acionei o interfone da referida clínica situada em um bairro residencial de Paranavaí.

Fui recebido por um rapaz sorridente, e com expressão dúbia, que mais gesticulava do que falava, me lembrando um mímico. “Seja bem-vindo, senhorino”, disse ele atrás de um balcão, segurando um livro de autoajuda. Lá dentro, encontrei dois homens de meia-idade sentados em poltronas individuais bem confortáveis. Havia uma terceira poltrona vaga, então me acomodei e comecei a observar o ambiente enquanto não chegava a minha vez de ser atendido.

O local era extraordinariamente limpo e exalava olência maviosa que não fui capaz de identificar; uma suposta e agradável combinação de ervas. O piso claro de granito arabesco cintilava, atraindo meus olhos e me permitindo ver no chão o meu próprio reflexo. Em uma mesa de centro, também de granito, havia muitas revistas de saúde, principalmente sobre terapias alternativas. O mais curioso é que não eram velhas como a maioria que encontramos em consultórios.

Durante a minha distração, ouvi alguns sons estranhos com brevidade de um ou dois segundos, embora baixos e indistinguíveis, vindo de duas direções diferentes da clínica. Alguém parecia estar com muita dor. Talvez o tratamento fosse além das minhas expectativas, minimizando um pouco a minha volúvel condição.

De repente, ouvi passos vindo do corredor à direita. Um homem de estatura mediana, beirando os 40 anos, caminhou com satisfação, exibindo dentes curtos numa boca larga. Se aproximou da recepção à minha esquerda e antes que dissesse alguma coisa, o recepcionista questionou se ele iria querer ser recebido no mesmo dia e horário na semana seguinte. “Pode apostar que sim!”, respondeu, mantendo a voz relativamente baixa e me observando com desconfiança.

Assim que o homem saiu da clínica, um camarada que conheço há mais de dez anos, inclusive participei de um jantar em sua casa, onde fui muito bem recebido por sua mulher e filhos, deixou uma sala no corredor à direita. Quando me viu, a expressão serena e o sorriso lacônico foram substituídos por uma fisionomia sisuda – digo até que notei um olhar sobressaltado. Não entendi a reação e me mantive em silêncio. Para minha surpresa, ele passou ao meu lado, me ignorou, abriu a porta e foi embora.

Aguardando a vez, um senhor barbudo me cumprimentou e perguntou se já estive ali. Respondi que não e ele comentou que frequentava a clínica há dois anos. “Meu jovem, este lugar mudou minha vida. Hoje sou outro homem, bem mais realizado em todos os sentidos”, garantiu, acrescentando que sempre teve o apoio da esposa.

O sujeito seguia elogiando a clínica no instante que o recepcionista atendeu o telefone e me chamou, sem dizer meu nome. “O senhor vai ser atendido agora. Vamos lá?” Me levantei e segui o rapaz. Assim que ele abriu a porta, pediu que eu tirasse as roupas, ficando somente de cueca, e me deitasse em uma mesa de massagem tão confortável que lembrava uma cama da melhor qualidade.

Enquanto eu me despia, observei que havia grande instrumentária no local, até mesmo penduradas nas paredes claras com inscrições praticamente pictóricas, e eu não tinha a mínima ideia para que servia. Me parecia pouco usual, mas concluí que talvez fossem ferramentas trazidas de lugares longínquos da Ásia. Até aquele momento, interpretei tudo que vi de diferente na sala como resultado de um atendimento diferenciado.

Um minuto depois que deitei, o recomendado Torino Massagista se aproximou de mim, se apresentou e questionou se o motivo daquela sessão era uma hérnia de disco. Após a minha confirmação, ajeitou o jaleco e falou pra eu ficar de bruços. Apesar de considerar a posição desconfortável, não quis parecer descortês ou estulto, e acabei acatando ao pedido.

Do outro lado da sala, ele ligou um pequeno aparelho de som que tocava uma música transfigurada e malemolente, um tipo curioso de pop letárgico estrangeiro. Na sequência, reparei que a fluorescência do ambiente caiu consideravelmente. Havia também um aroma exótico e frutado no ar. Não sei como, mas o local já não estava tão claro. “Feche os olhos e sinta a energia fluindo. Deixe tudo acontecer”, recomendou.

Em silêncio, senti um corpo estranho, algo úmido, quente e sulcado encostando no meu braço direito. Quando abri os olhos, o tal do massagista estava rebolando, usando uma cueca preta de couro sintético e zíper, por onde sobressaía o próprio falo rijo e apoiado em uma das mãos. “Você é louco, cara! Que isso? O que tem de errado contigo?”, perguntei. Surpreso e igualmente constrangido, o sujeito argumentou que aquela não era uma clínica de verdade.

Sem querer mais explicações, saltei da mesa, limpei meu braço com uma toalha de papel, vesti minhas roupas em segundos e atravessei o corredor a passos céleres. Na sala de espera, o homem com quem conversei antes declarou com um sorriso indecoroso, seguido por uma piscadela: “Não falei que o serviço é de primeira?” Não respondi. Simplesmente abri a porta e ganhei as ruas, ciente de que hérnia de disco também é um código para outra coisa que eu nunca quis saber exatamente o que é.

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