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Peixes podem sentir tanta dor quanto mamíferos e pássaros
Por ano, matamos no mundo todo 970 bilhões a 2,7 trilhões de peixes de acordo com informações da organização britânica Fish Count. Temos o costume de subestimar esses animais, levando em conta o tendencioso fato de que eles são silenciosos, logo ao serem feridos não expressam seu descontentamento da mesma forma que outros animais. Talvez seja inclusive por isso que os peixes estão entre as maiores vítimas da violência humana.
A maior prova de como a humanidade é injusta na sua relação com os peixes é que muitos desses animais são capturados “acidentalmente” em grandes redes de pesca. Basicamente, em ações com fins comerciais que ignoram o valor da vida dessas criaturas. Aqueles que são considerados indesejados, são vistos como “danos colaterais”. Sendo assim, caso o valor de mercado seja nulo ou irrisório, os peixes são devolvidos já sem vida à água. E, claro, muitos são mortos em decorrência de golpes violentos, descompressão, sufocamento ou esmagamento.
Mas será que esses animais não sentem dor? Será que está tudo bem em capturá-los? Sim e não. Embora cientistas não possam dar uma resposta definitiva sobre os níveis de consciência dos animais não humanos, todas as evidências indicam que peixes têm uma singular sofisticação comportamental e cognitiva. Sendo assim, isso é o suficiente para que esses animais tenham os mesmos direitos de outros animais que fazem parte do nosso círculo moral.
No artigo “Fish Intelligence, Sentience and Ethics”, publicado na revista Animal Cognition, o professor Cullum Brown, do Departamento de Ciências Biológicas da Macquarie University, em Sidney, na Austrália, escreveu, baseando-se em suas pesquisas, que peixes têm suas próprias tradições, inteligência sofisticada e capacidade de cooperação e reconciliação, além de facilidade em reconhecer uns aos outros. Ademais, alguns sentidos dos peixes são superiores aos dos seres humanos. “O nível de complexidade mental dos peixes está no mesmo nível de outros vertebrados, e há evidências de que eles podem sentir dor de maneira semelhante aos seres humanos”, registrou.
Um dos animais mais explorados pela humanidade, os peixes são quase sempre “colhidos” em ações violentas praticadas pela indústria pesqueira global. Também são as maiores vítimas da aquicultura intensiva e comumente são reduzidos a animais de estimação e objetos de pesquisa. “Os peixes raramente recebem o mesmo tipo de compaixão que oferecemos aos vertebrados de sangue quente. Parte do problema é a grande diferença entre a percepção das pessoas sobre a inteligência do peixe e a realidade científica”, argumentou Cullum Brown.
O professor defende que as pessoas se conscientizem sobre a importância da vida dos peixes, porque disso depende a percepção pública que orienta as políticas governamentais. O reconhecimento da senciência e da inteligência de um animal normalmente é o que guia a nossa decisão de incluí-los em nosso círculo moral. “Muitos pesquisadores sugerem que se um animal é senciente, então provavelmente pode sofrer e, portanto, deve ser oferecida a ele alguma forma de proteção formal [o que é o caso dos peixes]”, observou Brown.
O pesquisador também analisou a capacidade de cognição dos peixes partindo da percepção sensorial. Isto porque essa percepção oferece evidências de que os peixes possuem habilidade de cognição que são mais evoluídas do que a de outros animais. Na realidade, esse estudo sobre a inteligência e a senciência dos peixes e a importância disso no contexto das considerações éticas vai ao encontro do que escreveu a bióloga Victoria Braithwaite, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia, no livro “Do Fish Feel Pain?”, publicado em 2010. Na obra, Victoria afirma que peixes são seres sensíveis que podem sentir tanta dor quanto pássaros e mamíferos, e até mais do que humanos recém-nascidos.
Referências
Brown, Collum. Fish intelligence, sentience and ethics. Animal Cognition (2014). Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24942105
Braithwaite, Victoria. Do fish feel pain? Oxford University Press (2010).
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