David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Coisificação’ tag

Sobre a exploração animal, consumo de carne e fome mundial

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Por que é mais ético não se alimentar de animais

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Alguém diz: “Você não tem dó das plantas?”

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“Não tenho condições de competir com um bovino em uma dieta vegetariana” (Foto: Reprodução)

Um sujeito alega que quem mais causa mal às plantas são vegetarianos e veganos e então lança a pergunta: “Você não tem dó das plantas?” Devo dizer que pensei que ele, como alguém que consome carne, comesse principalmente animais herbívoros há muito domesticados (que consomem de 10 a 40 quilos de vegetais por dia), como os bovinos, não carnívoros como tigres e leões.

Honestamente, sou incapaz de comer tantos vegetais assim em um dia. Não tenho condições de competir com um boi em uma dieta vegetariana. Afinal, falo de um animal adulto que pode chegar a 600 quilos. E, claro, para alguém afirmar que vegetarianos e veganos são os que mais causam mal às plantas é porque só pode estar se alimentando da carne de animais essencialmente carnívoros como tigres e leões.

Ademais, quando alguém se alimenta de animais, antes do pedaço de carne chegar ao seu prato, há toda uma cadeia produtiva que deveria ser considerada. Um animal objetificado não nasce pronto para ser consumido. Ele demanda uma série de recursos antes mesmo de existir. Há um planejamento de como será a sua vida visando atender um mercado que o tipifica como produto, não animal senciente e consciente que é.

Parece-me um tanto quanto paradoxal criarmos animais que deverão ser alimentados com toneladas de vegetais e então mortos violentamente para as pessoas se alimentarem de suas carnes. Quando penso nisso, associo à ideia de uma pessoa que pode atravessar uma ponte, mas prefere derrubá-la para fazer um trajeto mais longo para chegar até o outro lado de um rio.

Degradamos o meio ambiente para criar milhões, bilhões de animais que alimentamos com imensas quantidades vegetais e que serão mortos precocemente – animais que não desejam sofrer nem morrer. Então alguém aponta o dedo para o amigo vegetariano ou vegano o acusando de não ter dó das plantas porque esse amigo come pequenas porções de vegetais. Sim, o mundo é um lugar estranho.





 

Como o consumo de carne favorece a destruição da identidade dos animais

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Como achar normal a morte de 70 bilhões de animais terrestres por ano para consumo?

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Marloes Boere: “Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana”

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“Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”

Além de vegana, Marloes hoje é coordenadora de educação de uma organização em defesa dos direitos animais (Foto: Reprodução)

Filha de pecuaristas, Marloes Boere cresceu em uma típica fazenda de gado leiteiro em Hekendorp, Utrecht, na Holanda. Até que um dia começou a se questionar sobre o seu papel e o de sua família na vida dos animais que eles criavam simplesmente para a obtenção de leite e geração de lucro.

“Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana. Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”, conta Marloes, citando um fato muito comum que é a separação de mãe e filho nas fazendas de gado leiteiro.

Segundo Marloes Boere, na fazenda de seu pai, assim como em muitas outras dedicadas à produção de leite, inclusive no Brasil, as vacas precisam ter um bebê por ano para produzirem leite em níveis rentáveis. Após o nascimento, é apenas uma questão de horas para o bezerro ser definitivamente separado da vaca.

O bezerro é colocado em uma gaiola, onde ele fica sozinho, e é alimentado apenas duas vezes por dia. Essa prática causa muita dor emocional tanto para a mãe quanto para o bezerro”, afirma. Ao longo de duas semanas, os bezerros são supervisionados até a carne ser considerada “tenra”, ou seja, apropriada para o consumo. Então eles são enviados ao matadouro.

Na infância de Marloes, a cena da separação de mãe e filho se repetiu tantas vezes que ela perdeu as contas. Embora estranhasse, sempre explicavam que era uma prática normal e necessária. “Isso não poderia estar mais longe da verdade. Fiquei horrorizada porque vivemos em um mundo que ensina às crianças que é aceitável invadir e explorar a maternidade de maneira tão violenta. Ninguém deveria apoiar isso. O leite materno é alimento para bebês e o leite de vaca é para os bezerros”, defende.

Em entrevista ao jornal holandês NRC Handelsblad, ela declarou que na infância foi criada para não se apegar aos animais criados na fazenda, porque logo eles não estariam mais lá, já que uma vida de servidão reduz a expectativa de vida dos animais.

Depois de concluir o curso de filosofia, Marloes Boere passou a questionar cada vez mais a doutrinação especista que fez parte de sua vida, assim como da maioria, como se fosse algo natural, legítimo e aceitável. Inclusive foi o que a levou a se tornar uma ativista dos direitos animais e a defender o fim da agricultura animal.

Após o mestrado em filosofia, começou a compartilhar as suas próprias experiências com o especismo e a fornecer aos seus estudantes argumentos filosóficos em oposição a agricultura animal – fazendo com que passassem a refletir e a questionar o seu próprio especismo. Atualmente, ela atua como coordenadora de educação da fundação vegana Viva Las Vega’s, além de atuar como treinadora em habilidades de debate. Sua família também vivenciou mudanças bem significativas. Sua mãe e suas duas irmãs tornaram-se vegetarianas e seu pai, que está seguindo pelo mesmo caminho, costuma dizer nas festas em que participa que “o futuro é vegano”.

Referências

Capps, Ashley. Former meat and dairy farmers became vegan activists. Free From Harm (4 de novembro de 2014).

Krijger, Anna. Ik zal meemaken dat we allemaal vegnist zijn. NRC Handelsblad (5 de março de 2018).  

 





Reflexão sobre a exploração animal na Inglaterra e no Brasil

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Não tenho dúvida de que o melhor caminho em contrariedade a isso é a completa abstenção do consumo de animais (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Quero te convidar a uma breve reflexão sobre a exploração animal. Publiquei uma notícia sobre uma série de episódios de tortura praticados contra porcos em uma fazenda na Inglaterra. Sim, na Inglaterra, terra de Henry Salt, pioneiro da teoria dos direitos animais, onde surgiu o veganismo em 1944, e onde o respeito aos animais é considerado muito superior ao da maioria dos países.

Ainda assim, isso não impede que na Inglaterra ocorra violência contra os animais. Afinal, animais continuam sendo explorados, privados e mortos para atender um mercado consumidor. E toda essa demanda alavanca a objetificação e ajuda a fazer com que pessoas não vejam os animais como sujeitos de uma vida, mas somente pedaços de carne ambulante, que podem ser submetidos a qualquer tipo de violência; bastando para isso que não haja reconhecimento do valor da vida não humana nem mesmo legislação verdadeiramente favorável aos animais.

Agora vamos falar do Brasil. O Brasil é o quinto maior país do mundo, ou seja, é imenso. O Reino Unido, do qual faz parte a Inglaterra, cabe dentro do estado de São Paulo. O Brasil vive imerso em corrupção, é um país que ganhou fama internacional durante a Operação Carne Fraca como o país que “comercializa carne adulterada” e que possui fiscais da superintendência agropecuária que podem ser comprados, desde que bem pagos.

Além disso, segundo o artigo “A Clandestinidade na Produção de Carne no Brasil”, de João Felippe Cury Marinho Mathias, pesquisador da Embrapa, a produção de carne de origem clandestina no Brasil pode chegar a 50%, o que significa carne sendo consumida sem inspeção, e animais sendo criados e mortos da forma que o produtor e o comprador bem entender.

Não podemos ignorar também que os últimos episódios de exportação de bovinos vivos provaram como a intervenção política pode ignorar qualquer interesse coletivo e bem-estar animal – desconsiderando o fato de animais estarem em situação lastimável e degradante, segundo registros fotográficos que podem ser consultados via Google.

Sendo assim, será mesmo que deveríamos dizer algo como: “Mas isso é fora do Brasil!” “Isso é na Inglaterra!”? Será que em um país onde o respeito à vida não é exemplar, onde há muitos matadouros clandestinos e animais criados irregularmente, a parca exposição da violência contra os animais criados para consumo não é apenas uma questão de poucas denúncias e investigações? Não tenho dúvida de que o melhor caminho em contrariedade a isso é a completa abstenção do consumo de animais. Afinal, de um modo ou de outro, a violência existe e persiste.

 



Nos condicionamos a crer que precisamos de carne para sobreviver

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Será que vale a pena se alimentar de animais?

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Por que só reconhecemos a exploração animal quando envolve violência explícita?

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