David Arioch – Jornalismo Cultural

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Campanha visa banir a criação de animais em regime de confinamento na Suíça

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Na Suíça, a maioria dos animais criados para consumo não veem grama ou luz solar ao longo da vida

Sentience Politics: “Suas necessidades básicas são desconsideradas” (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Na Suíça, uma iniciativa liderada pela organização antiespecista Sentience Politics, e que conta com o apoio de outras organizações e grupos de bem-estar animal e direitos animais, quer tornar ilegal a criação de animais em fazendas industriais, onde animais vivem em regime de confinamento até o momento do abate. O sistema tem sido debatido em diversos países, considerando que a prática é apontada como a que mais impõe sofrimento aos animais.

Intitulada “No Factory Farming in Switzerland”, a campanha exige a criação de uma emenda constitucional em oposição às fazendas industriais. Como a Suíça tem um sistema tipificado como “democracia semidireta”, que permite que os cidadãos votem diretamente em políticas individuais, a Sentience Politics e mais 15 grupos e organizações precisam de 100 mil assinaturas para que o projeto seja levado adiante.

Atingida a meta de assinaturas em um prazo máximo de 18 meses, a campanha pode ser submetida à votação no sistema suíço de iniciativa popular. Prevendo manobras que podem ser colocadas em prática, caso o projeto se torne lei, a Sentience Politics também sugere que sejam instituídas regulamentações em relação à importação de animais e produtos de origem animal para fins nutricionais.

Segundo a organização, 50 milhões de animais terrestres são criados e mortos para consumo todos os anos na Suíça. “Suas necessidades básicas são desconsideradas. A indústria dissemina intencionalmente a ilusão de que não há agropecuária intensiva na Suíça – embora a maioria dos ‘animais de fazenda’ suíços não veja grama ou luz solar em suas vidas”, informa a Sentience Politics.

Considerando que não há pasto o suficiente para a criação de 50 milhões de “animais soltos” na Suíça, e os custos de produção fora do regime intensivo são outros, a iniciativa, se transformada em emenda, pode realmente desestimular a criação de animais para consumo.





 

Reflexões de um minuto – Imagine passar a sua vida confinado como um animal criado para consumo

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Animais criados para consumo começaram a ser confinados durante a Segunda Revolução Industrial

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Realidade dos animais confinados no passado

Os chamados animais de criação, ou animais criados para consumo, são tratados como produtos há muito tempo, mas foi durante a Segunda Revolução Industrial, ou seja, no início do século 20, que eles começaram a viver em regime de confinamento intensivo e foram pela primeira vez submetidos aos mais diferentes tipos de experiência que visavam ampliar a lucratividade dos criadores e da indústria.

Na década de 1930, havia uma quantidade considerável de animais que já não eram criados soltos no pasto. Contudo, foi a partir das décadas de 1960 e 1970, quando houve um boom das grandes redes de fast food, e um aumento absurdo da demanda de produtos de origem animal para atender esses restaurantes, que se tornou comum criar animais em um novo regime de confinamento, envolvendo muito mais privação e sofrimento que precede a morte.

Ou seja, as grandes redes de fast food têm parcela de culpa pela quantidade de animais criados em confinamento para atender a uma demanda também criada por eles. Porém, é claro, isso jamais teria acontecido se o crescente consumo de produtos de origem animal não tivesse partido da própria população. Um fato que instiga reflexão é que hoje vemos essas mesmas redes de fast food alegando que farão o caminho inverso.

Porém, como não podemos deixar de considerar, morte na indústria de produtos de origem animal é sempre morte, independente de como acontece. Porém, é no mínimo intrigante reconhecer que a chamada “comida rápida”, claro, e não somente ela, ajudou a levar os animais a um novo tipo de inferno terreno.

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O confinamento de animais e o surgimento de doenças

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São doenças que só existem porque há um mercado consumidor de produtos de origem animal

Botulismo, enterotoxemia, dermatomicose, laminite, intoxicação por ureia, timpanismo, cisticercose, dermatite, pododermatite, clostridiose, acidose (aumento do ácido lático no rûmen), pneumonia, poliencefalomalácia, peste suína, doença de Aujesky, rinite atrófica, brucelose, doença de Glässer, doença do edema, enteropatia proliferativa, doença de Newcastle, salmonela, laringotraqueíte infecciosa, coriza infecciosa, bronquite infecciosa e gripe aviária, entre outras doenças respiratórias e metabólicas/digestivas.

Você sabe o que essas doenças têm em comum? Surgiram e aumentaram na modernidade, quando começamos a confinar animais para atender a alta demanda do consumo de carne, ovos e laticínios. Ou seja, são doenças que só existem porque há um mercado consumidor de produtos de origem animal que obriga os animais a viverem em situação de vulnerabilidade e alta exposição ao surgimento de doenças.

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Imagine passar a sua vida toda confinado

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Chegando, quem sabe, a perder a noção do que existe fora das grades que afunilam seu mundo (Foto: Reprodução)

Imagine passar a sua vida toda confinado, chegando, quem sabe, a perder a noção do que existe fora das grades que afunilam seu mundo; sem poder sentir o aroma de nada que não seja sua ração e suas próprias fezes. Aos poucos, você se torna incapaz de distinguir importantes elementos da realidade. Talvez, dependendo do nível de estresse e do tipo de ambiente, você comece a comer as suas próprias fezes confundidas com ração.

O som de seus companheiros que não voltam mais. Eles resistem quando são agarrados, mas logo são imobilizados – mesmo que isso custe penas voando e asas dilacerando. Há um tipo de esperança que persiste, mas não em todos. Os mais sensíveis enlouquecem mais rápido em meio à agitação; começam a se estranhar e tentam se bicar porque já não sabem quem são.

Aves que não se veem mais como semelhantes e pouco agem como aves, sintoma de uma degradação tradicional que usurpa do mais frágil o direito ao que seria de fato uma vida normal. Dentro de um caminhão, o colocam dentro de uma caixa minúscula. Sem espaço para movimentar naturalmente as asas, se encolhe num canto e assiste, entre grades de plástico, carros ultrapassando, caminhões encostando, pessoas falando.

Quantas vidas existem lá fora, mas nenhuma delas é como a sua. Te penduram, te atordoam e te sangram por três minutos. Sua existência se esvai com o vermelho que escorre pelo chão. Seu sangue, símbolo-mor da sua vitalidade sem unção, é tratado como imundície. Alguém deve limpar. Não existe velório. Só escaldagem, depenagem e evisceração; e mutilação, gotejamento e resfriamento. Mais tarde, te embalam e te enviam para um açougue. Alguém há sempre de comer. Quanto vale sua morte? R$ 4,50 o quilo, mais ou menos.

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Youtuber e animais encaixotados

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Um YouTuber faz um relato do seu desespero ao ficar 24 horas dentro de uma caixa enviada por uma transportadora. Ok. Agora imagine aqueles animais criados para exploração e consumo humano que passam por isso a maior parte de suas vidas. O ser humano só considera aberrante determinadas experiências quando se compara aos da mesma espécie, ignorando que há animais não humanos que passam a vida toda encaixotados.





Written by David Arioch

February 22nd, 2017 at 12:18 am

Mito sobre a carne orgânica

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Excerto da matéria publicada no Diário do Noroeste

Saiu hoje, dia 17 de janeiro de 2017, uma matéria intitulada “Mitos e verdades da carne orgânica” na página 6 do Diário do Noroeste. Em especial, uma passagem me chamou a atenção e decidi compartilhar:

“2. É proibido utilizar o sistema de confinamento. MITO. Pode ser realizada a terminação no sistema de confinamento somente 90 dias antes do abate.”

Tal afirmação não foi feita por nenhum defensor dos direitos animais, mas sim pelo consultor de agropecuária José Carlos Ribeiro, da Boi Saúde – Pecuária Inteligente, que atende pecuaristas de todo o Brasil.

Ou seja, isso deixa claro que não existe gado criado sem passar por algum tipo de privação. É de conhecimento geral que nenhum animal é feliz em regime de confinamento.

Os zumbis de Romero

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Night of the Living Dead, o primeiro filme de horror como crítica social

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Filme é um dos baluartes da zombie culture (Foto: Reprodução)

Lançado em 1968, Night of the Living Dead (A Noite dos Mortos-Vivos) é um filme cult de horror do cineasta estadunidense George Romero que apresenta uma crítica social a partir das deficiências de caráter do ser humano em situações de risco.

Em Night of the Living Dead, os mortos voltam à vida por causa da radiação de um meteorito do planeta Vênus. Cientes de que os zumbis se alimentam de carne humana, os vivos fogem em busca de abrigo. A antropofagia no filme é tão direta quanto simbólica; representa a autodestruição do homem e a anulação do que cada um representa na individualidade.

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No clássico, o apocalipse zumbi amplia o caos no universo racional (Foto: Reprodução)

Na obra, alguns sobreviventes se refugiam em um casebre localizado na área rural de Pittsburgh, na Pensilvânia. A partir do confinamento, Romero apresenta a vileza humana através de ações de egoísmo e autopreservação. Em vez de se unirem para tentarem se livrar dos zumbis, os personagens brigam entre si, ampliando o caos em um universo racional, onde o intelecto deveria ser dominante.

O mais curioso é que paralelo a isso, os mortos-vivos que estão fora da residência, mesmo privados de suas funções cerebrais, representando de forma peculiar a essência primitiva e livre do homem aquém dos princípios sociais, agem coletivamente, como uma infantaria. Em Night of the Living Dead, Romero também confronta o preconceito racial ao destinar o papel mais importante do filme a Ben (Duane Jones), um jovem negro que ao contrário dos brancos da história é o personagem mais lúcido, coerente e perspicaz. Há ainda uma cena que faz referência ao ativista Martin Luther King Jr.

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Night of the Living Dead tem como cenário a área rural de Pittsburgh (Foto: Reprodução)

Outro destaque é a previsão quase profética do cineasta ao mostrar a submissão do homem diante da tecnologia. Um grande exemplo é a cena em que os abrigados parecem reféns de um televisor, aparelho usado para preservar algum tipo de relação com o mundo exterior. Aí subsiste uma ironia, pois a TV já era encarada como um instrumento de reafirmação coletiva, condicionamento e uniformidade reflexiva.

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Obra é protagonizada por Duane Jones no papel de Ben (Foto: Reprodução)

Um dos precursores da zombie culture, Night of the Living Dead influenciou centenas de filmes, além de séries televisivas. O clássico está entre os melhores de todos os tempos nas mais importantes listas de grandes obras de horror. É considerado o expoente do splatter film, subgênero que tem como principal característica a violência gráfica que por meio de efeitos especiais ressalta a vulnerabilidade do corpo humano e a teatralização da mutilação.

Embora não se enquadre tanto como splatter film quanto Dawn of the Dead, lançado por Romero em 1978, Night of the Living Dead é um marco e serviu de base para os subgêneros exploitation e slasher. O primeiro diz respeito aos filmes de apelo visual e baixo orçamento. O segundo se refere as obras ao melhor estilo “serial killer à solta”, como os sucessos Halloween, de John Carpenter; Friday The 13th, de Sean S. Cunningham; e Nightmare on Elm Street, de Wes Craven.

Até hoje, Night of the Living Dead surpreende pelo custo de produção de U$ 114 mil, o que garantiu um lucro de U$ 30 milhões em todo o mundo. Em seu livro, Planks of Reason – Essays on the Horror Film, de 2004, o pesquisador estadunidense Barry Keith Grant, define o clássico de Romero como um divisor que transformou o cinema independente norte-americano e apresentou uma fórmula de sucesso aos muitos cineastas que enveredaram pelo horror nos anos 1970 e 1980.