David Arioch – Jornalismo Cultural

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O mundo sombrio dos Irmãos Grimm

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Na versão original, os contos dos Irmãos Grimm são recheados de canibalismo, infanticídio e incesto

Wilhelm and Jacob Grimm, 1847; daguerreotype by Hermann Blow

Wilhelm and Jacob Grimm se interessaram em estudar o folclore germânico na juventude (Imagem: Hermann Blow)

Acredito que seja difícil encontrar alguém que nunca tenha lido ou ouvido algum conto dos Irmãos Grimm na infância, principalmente pela facilidade com que povoam o ideário das crianças. São histórias que se tornaram ainda mais populares depois das adaptações feitas pela Disney. A primeira e mais icônica continua sendo Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937, inspirada no conto Schneewittchen, de 1812.

Também famosos por histórias como Hänsel und Gretel (João e Maria), Rapunzel, Aschenputtel (Cinderela) e Dornröschen (A Bela Adormecida), entre outros, os alemães escreveram e editaram 35 livros. O primeiro, baseado em contos domésticos, foi publicado em 1812 com o título de Kinder- und Hausmärchen. No entanto, até hoje a questão da autoralidade nas obras dos Irmãos Grimm desperta muitas controvérsias porque suas histórias já existiam no folclore germânico e na cultura popular de outros países e regiões da Europa.

Jacob e Wilheilm Grimm cursaram direito na juventude, porém como não tinham interesse em seguir carreira, optaram por estudar o folclore germânico. Jacob foi um pouco além, se interessando também pela filologia, o estudo da linguagem através de fontes históricas. Por isso, mais do que escritores, os Irmãos Grimm foram pioneiros na aplicação de métodos científicos na pesquisa da tradição oral.

Movidos por um misto de anseio acadêmico e patriotismo, enveredaram pela pesquisa de contos folclóricos porque estavam preocupados com a preservação da cultura germânica. Assim que perceberam que havia um filão literário a ser explorado, endossado pela crescente quantidade de leitores que queriam somente ler boas histórias, os Irmãos Grimm começaram a se afastar do academicismo.

Ludwig Emil Grimm

“Eles expandiam ou suavizavam a narrativa na tentativa de fazer algum apontamento moral” (Arte: Ludwig Emil Grimm)

A primeira ação foi descartar as notas de rodapé. Também tornaram as histórias mais romanescas, claras, simples e incluíram lições de moral que pudessem ser compreendidas até por crianças, uma manobra para facilitar a aceitação dos contos e torná-los mais comerciais através da caracterização da fábula.

Com a disneyficação, as histórias dos Irmãos Grimm ganharam mais espaço no Novo Mundo. Contudo, ao final da Segunda Guerra Mundial, autoridades do alto escalão dos países aliados aproveitaram a queda do Terceiro Reich para banir por tempo indeterminado as obras dos Irmãos Grimm, alegando que seus contos influenciaram a violência praticada pelos nazistas até 1945.

O que pareceu um despautério, se levarmos em conta que seus contos eram amados por tantas crianças, começou a fazer mais sentido quando a escritora estadunidense Maria Tatar, expert em literatura infantil, germânica e folclore, publicou em 1987 o livro The Hard Facts of the Grimms’ Fairy Tales. De acordo com a autora, quem tiver interesse em ler as obras originais dos Irmãos Grimm precisa estar preparado para descrições gráficas de assassinatos, mutilações, canibalismo, infanticídio e incesto.

“Crianças são decapitadas e servidas em um ensopado para a apreciação dos pais. Há príncipes e princesas que fazem muito mais do que dormir. Meninas más são obrigadas a rolarem pelas colinas dentro de barris cravejados de unhas. E se elas recusarem, suas mãos e seios são fatiados”, informa Tatar que qualificou Wilhelm como alguém com uma visão literária mais comercial enquanto Jacob era mais acadêmico.

Versão original do Kinder- und Hausmärchen, publicado em 1812 (Foto: Museu Histórico Alemão)

Versão original do Kinder- und Hausmärchen, publicado em 1812 (Foto: Museu Histórico Alemão)

Em alguns contos dos Irmãos Grimm a violência e a sexualidade são mais explícitas do que no material oral que utilizaram como fonte. “Eles expandiam ou suavizavam a narrativa na tentativa de fazer algum apontamento moral. Às vezes fizeram mudanças bem pessoais por razões pouco claras”, declara a escritora. Na primeira edição do conto Die zwölf Brüder (Doze Irmãos), um rei misógino diz à esposa que se o décimo terceiro filho do casal for uma menina, os meninos têm de morrer.

“Eu prefiro cortar todas as suas cabeças do que deixar uma menina entre eles”, esbraveja o rei. Já na segunda edição o discurso muda quando o rei enfatiza que os meninos devem morrer para que sua filha seja a única a herdar o trono, sem qualquer concorrência.

Trecho da primeira versão de Schneewittchen (Branca de Neve), publicado em 1812

Ela caminhou até o príncipe e, feliz em vê-la, ele não conteve a alegria ao ter certeza de que ela estava viva. Então se sentaram à mesa e comeram com satisfação.   

Seu casamento foi marcado para o dia seguinte e sua mãe também foi convidada. Naquela manhã, sua mãe deu um passo em direção ao espelho e disse:

Espelho, espelho na parede,

Quem nesta terra é a mais bela de todas?

O espelho respondeu:

Você, minha rainha, é justa, é verdade.

Mas a jovem rainha

É mil vezes mais justa do que você.

Ela ficou horrorizada em ouvir aquilo, tão assustada que não foi capaz de dizer mais nada. Ainda assim o ciúme a motivou a ir ao casamento ver a jovem rainha. Quando ela chegou, viu que era a Branca de Neve. Em seguida, colocaram um par de sapatos de ferro no fogo, até brilhar em brasas, e obrigaram a velha rainha a usá-los e a dançar com eles. Seus pés ficaram terrivelmente queimados, mas ela não conseguia parar e continuou dançando até a morte.

Saiba Mais

Jacob Ludwig Carl Grimm nasceu em 4 de janeiro de 1785 e seu irmão Wilhelm Carl Grimm em 24 de fevereiro de 1786 em Hanau, a 25 quilômetros de Frankfurt. Wilhelm faleceu em Berlim em 1859 em decorrência de uma infecção. Com a morte do irmão, Jacob se tornou recluso até falecer na mesma cidade em 1863.

Referências

http://www.todayinliterature.com/

Grimm, Jacob; Grimm, Wilhelm. Zipes, Jack, ed. The Original Folk and Fairy Tales of the Brothers Grimm: the complete first edition (2014). Princeton: Princeton University Press.

Tatar, Maria. The Hard Facts of the Grimms’ Fairy Tales (1987). Princeton University Press.

Escritor paranavaiense terá obra publicada pelo Governo do Paraná

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O livro “Viagens”, de Altair Cirilo dos Santos, será lançado até o final do ano

Altair Cirilo: “Há desde sonetos até poemas concretos”

Anualmente, a Secretaria de Estado da Cultura seleciona 40 livros de autores paranaenses a serem publicados. Este ano, um dos contemplados é o escritor Altair Cirilo dos Santos com a obra “Viagens” que reúne 50 poemas.

Altair Cirilo dos Santos conta que tudo começou no ano passado, quando recebeu apoio da Fundação Cultural para encaminhar sua obra a apreciação da Secretaria de Estado da Cultura. “Deu tudo certo e meu trabalho foi um dos escolhidos. Agradeço muito a Fundação Cultural porque sozinho seria muito difícil conseguir publicar esse livro”, explica.

Altair Cirilo reuniu vários trabalhos em um. A obra consiste em 50 poemas selecionados pelo próprio autor. “Há desde sonetos até poemas concretos. Tentei dar uma unidade ao trabalho, então peguei aqueles que foram premiados nos concursos que participei”, conta o escritor. A obra “Viagens” soma 75 páginas e deve ser publicada até o final deste ano.

Um apanhado do estilo literário de Santos nos mais diversos períodos da sua trajetória como escritor, o livro sintetiza reflexões políticas e rigor formal poético. “É preciso ter um pensamento sobre o que é poesia”, afirma Altair Cirilo que além de poeta também é cronista.

Conhecido por uma escrita heterogênea, o escritor passeia por diversas correntes literárias, influências que ele admite como referências para o surgimento de um estilo sólido e próprio de escrever. “Da prosa e da poesia posso citar Osman Lins, Rubem Fonseca, António Lobo Antunes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mário de Andrade e todos os outros modernistas”, exemplifica.

O interesse de Altair Cirilo pela literatura surgiu na escola, quando visitas regulares a biblioteca despertaram o interesse por contos. “Lembro quando li pela primeira vez ‘A Terra dos Meninos Pelados’, de Graciliano Ramos’”, enfatiza. O interesse pelos contos se deu pelo fato de serem histórias curtas, algo atrativo para crianças e adolescentes. “Desde então se passou muito tempo, já faz 30 anos que escrevo. Quando a gente lê bastante o interesse por escrever sempre aparece”, assinala.

Santos teve suas primeiras obras publicadas no início dos anos 90, a mais conhecida, segundo o próprio autor, é “Passarim, Passarão”, um livro infantil lançado em 2003 que teve o apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e Fundação Cultural. Entre as outras obras estão “Viver Enquanto Amar”, de haicai até sonetos, “As Encruzilhadas”, “Por instantes lembrei de mim” e “Um conto, uma espada e uma sombra”.  “Três das minhas obras podem ser encontradas na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley”, revela Santos.

Altair Cirilo já participou de pelo menos 25 antologias

O escritor Altair Cirilo dos Santos tem poemas e contos publicados em pelo menos 25 antologias. Além disso, coleciona prêmios em concursos literários de todo o Brasil. “Minha primeira vitória foi em Brasília”, lembra sem esconder o sorriso nostálgico. Dentre as grandes conquistas, Altair cita o primeiro lugar na fase nacional da categoria poesia no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) em 2005.

Diariamente, Santos escreve pelo menos um parágrafo. Tal hábito e amor pela literatura permitiu que ao longo dos anos reunisse grande volume de trabalhos inéditos. “Tenho muito material que ainda quero publicar, tanto poemas quanto contos. Penso também em escrever uma novela ou um romance”, declara. Altair Cirilo dos Santos é policial militar, escritor, graduado em letras e direito, além de membro da Academia de Letras e Artes de Paranavaí (A.L.A.P.)

Frase do escritor Altair Cirilo dos Santos

“Quem mexe com arte, sem apoio não é ninguém”