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Quando a união faz a força
Criança com doença rara precisa de ajuda no Conjunto Geraldo Felippe
“O problema é que a área não tem piso e ele se machuca com facilidade, chegando a se cortar”
Gustavo é um garotinho de quatro anos que mora no Conjunto Habitacional Geraldo Felippe, na saída de Paranavaí para Tamboara. Quando ele tinha dois anos, os pais Ana Paula Marques e Reginaldo Felix descobriram que ele sofre de mucopolissacaridose, uma rara doença provocada por disfunções metabólicas que causam o mau funcionamento de enzimas responsáveis por importantes reações químicas do corpo humano.
Como consequência da doença, Gustavo tem as pernas atrofiadas e não consegue andar. Também sofre com problemas no fígado, baço e coração. “O cérebro dele também é atrofiado. Toda semana o levo a Curitiba, onde ele recebe enzimas que o organismo dele não produz”, explica a mãe Ana Paula que se dedica ao filho em tempo integral por causa de suas necessidades especiais. Como o atendimento é realizado sempre na quarta-feira, eles saem de Paranavaí na terça-feira à noite.
As viagens entraram para a rotina da família há um ano e três meses, quando Gustavo iniciou o tratamento. “Ele está com um cateter há dois meses. É através dele que meu filho recebe as enzimas. Às vezes ele fica nervoso porque não gosta de ficar longe de casa”, relata a mãe.
Apesar das muitas limitações, a maior alegria de Gustavo é se arrastar e brincar ao lado da casa, de onde ele gosta de observar a rua e a movimentação de pessoas e animais. “O problema é que a área não tem piso e ele se machuca com facilidade, chegando a se cortar”, explica Ana Paula, acrescentando que o garotinho tem a pele dos pés muito fina.
Por isso Ana Paula pede ajuda para custear a compra de 34 metros de piso emborrachado ou outro tipo de piso antiderrapante, cinco sacos de cimento, oito sacos de argamassa e meio metro de areia média. Quem quiser contribuir pode ligar para (44) 9909-2513.
Serviço
Gustavo mora na casa 28 da quadra 6 do Conjunto Habitacional Geraldo Felippe. A residência é a décima a partir da entrada e fica ao lado de um ponto comercial.
Goethe e a busca pelo conhecimento
Para o escritor, o universo se expandia através das ciências e das artes
No dia 22 de março de 1832, Johann Wolfgang von Goethe, um dos mais célebres nomes da literatura alemã, estava em sua casa em Weimar, na Turíngia, segurando a mão de sua nora Otília. Na data, ele falou dos passeios que daria nos meses seguintes e se recordou de uma moça de sua juventude. Também balbuciou o nome de seu grande amigo, o igualmente famoso poeta Friedrich von Schiller, falecido em 9 de maio de 1805.
Ansiando para que as persianas se abrissem para o sol da manhã, o autor de Fausto pediu a um empregado: “Mais Luz!” E então seu dedo tracejou uma palavra no ar e ele mudou de posição em sua cadeira, caindo no sono e sucumbindo em um momento que ninguém imaginava que ele morreria.
Quarenta anos antes, Goethe acompanhou uma batalha entre o Exército Revolucionário Francês e as Forças Prussianas de Intervenção. Ele viu no conflito bélico uma oportunidade para conduzir uma pesquisa sobre uma inédita teoria de luz e cor, que mais tarde se transformaria no livro Teoria das Cores, publicado em 1810, e que inspirou os artistas pré-rafaelistas.
O escritor britânico Christopher Middleton escreveu em sua introdução à poesia de Goethe que durante a Batalha de Valmy o alemão foi visto divagando, estudando os efeitos das ondas de choque na visão, levando em conta a luz sobre a poeira. Os resultados desse trabalho contribuíram em vários ramos da ciência – anatomia, biologia, botânica e geologia.
Goethe também teve um importante papel no governo alemão como administrador de artes. Todas essas atividades alimentaram sua paixão pela busca de sinais que pudessem levá-lo a um plano maior na história. Goethe se empenhou ainda em fazer com que a língua alemã fosse vista como uma “textura viva”, o que justifica porque ele é considerado na Alemanha não apenas um grande poeta, mas também um símbolo nacional.
Se dedicando a temas cósmicos ao longo de toda a carreira, o escritor concluiu a última etapa de seus trabalhos autobiográficos nos últimos meses de vida, quando finalizou a segunda parte da obra-prima Fausto. “Agora posso olhar a minha vida como o mais puro presente”, declarou Goethe prevendo o próprio fim.
O drama poético em que o protagonista faz um pacto com o diabo em troca de sabedoria e conhecimento para entender a vida exigiu 60 anos do alemão. A história autobiográfica reflete o próprio anseio de Goethe na busca por luz em um universo que se expande por meio das ciências e das artes.
Ao contrário da obra inglesa The Tragical History of Doctor Faustus, de Christopher Marlowe, em que Fausto é condenado ao inferno, na obra romântica de Goethe o protagonista que vendeu sua alma a Mefistófeles tem direito à redenção.
Fragmento de Fausto II
Ay, neste pensamento eu prometo minha fé inabalável
Aqui a sabedoria diz sua palavra final e verdadeira
Ninguém tem a liberdade ou a vida que merece
A menos que a conquiste diariamente e como se fosse a primeira vez
Fausto morre e Mefistófeles aparece para reclamar seu prêmio. Todo o espaço é preenchido com anjos, e ouve-se um coro durante o enterro, de acordo com a última cena do último ato da obra-prima.
Rode mais uma vez as chamas do amor
A pura luz se revela
Aqueles que foram deplorados pela vida
A verdade ainda curará
Resgatados, não mais serão escravos de maus cuidados
Em breve e de tudo por tudo
A felicidade será deles
Saiba Mais
Johann Wolfgang von Goethe nasceu em 28 de agosto de 1749 e faleceu em 22 de março de 1832.
Suas maiores obras são “Fausto”, Os Sofrimentos do Jovem Werther, “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister”, “As Afinidades Eletivas”, “Prometeus” e “Teoria das Cores”.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
Lewes, George Henry. The Life of Goethe (1855). Adamant Media; 2000.
Williams, John. The Life of Goethe. A Critical Biography. Wiley-Blackwell; 2001.
Middleton, Christopher. Goethe, Volume 1: Selected Poems. Princeton University Press; 1994.
Contribuição
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Uma atitude que pode fazer a diferença na vida de alguém
Ontem, minha mãe foi ao Super Muffato, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, e testemunhou uma situação que tenho certeza que todo mundo já presenciou – o que muda são apenas os personagens.
Uma senhorinha de aproximadamente 60 anos foi comprar alguns alimentos com três netinhas. Na hora de passar no caixa, ela não tinha dinheiro para pagar pelos pacotinhos de suco (e dos mais baratos) que as crianças pegaram. Constrangida, ela acabou devolvendo os produtos.
Com base nesse exemplo, que tal se sempre que encontrássemos alguém nessa situação nos oferecêssemos para pagar pelos produtos? Quem passa por esse tipo de situação normalmente precisa de pouco dinheiro para não deixar nada para trás. E se você não puder arcar com todo o restante, pode se oferecer para pagar por pelo menos um dos produtos. Tenho certeza que a pessoa vai reconhecer esse seu gesto de boa vontade.
Casal tenta sobreviver com R$ 280 por mês
Ivan e Rose moram em um dos poucos barracos que ainda restam na Vila Alta
Nos anos 1970 e 1980, quem visitava a Vila do Sossego, atual Vila Alta, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, se surpreendia com a quantidade de barracos de lona. Cada um, em média, abrigava quatro pessoas. Quando chovia, o desespero tomava conta. Todos tinham de passar a noite acordados e apoiados nas extremidades do barraco para evitar que ficassem descampados.
Com o tempo, o cenário mudou, e hoje o bairro tem poucas pessoas vivendo em situação de pobreza extrema, embora muitos ainda não ganhem o suficiente para viver com dignidade. “Antes a gente reclamava porque não tinha onde morar. Agora cada um pelo menos tem a sua casinha, mesmo que não seja boa”, diz a dona de casa Cristiane Santos França.
Circulando pelo bairro e conversando com os moradores, logo você é informado que muitas moradias só existem porque a comunidade se uniu para construí-las. Ainda assim, é um privilégio que não chegou a todos que vivem no bairro. O casal de catadores de recicláveis Rose Maria Santos e Ivan Cardoso Martins representa bem essa realidade.
Quem chega em frente ao terreno onde eles moram, nem imagina que ali existe uma “casa” de dois cômodos, com um banheiro improvisado no quintal. A entrada é coberta por materiais recicláveis, o único meio de subsistência de Rose e Ivan que dividem o espaço com cães e gatos, animais que recebem o mesmo tratamento de um filho.
Para entrar no casebre feito à base de materiais descartados na rua, preciso me abaixar para não bater a cabeça no batente fora de medida. O ambiente é escuro e pouco arejado. A luz entra somente por uma pequena janela que dependendo do horário do dia pode ser confundida com uma fresta. No interior do barraco, Rose sorri com timidez e me convida para sentar em uma poltrona bastante judiada, retirada próxima de uma sarjeta.
Nos cumprimentamos e ela me conta que é muito difícil viver nessa situação. Em uma olhadela, percebo que ali não existe nada que algum dia tenham comprado em uma loja. Está tudo muito desgastado. “É difícil porque a casa molha, né? E molha tudo. A gente não tem condições de fazer outra. Molha cozinha, quarto, pinga por tudo”, confidencia Rose visivelmente gripada e enxugando o rosto com um pedaço de pano.
Os móveis, que jamais seriam aproveitados por uma família de classe média, sofrem com a ação da chuva, se deteriorando rapidamente. Quando chove demais, a água arrasta a lama para dentro do casebre. A história se repete há 15 anos, desde que Rose e Ivan fizeram o barraco. “Tudo aqui foi feito por conta própria, juntando aos poucos”, enfatiza a catadora de recicláveis. Enquanto conversamos, escuto um gemido no quarto, cômodo que fica ao lado da sala-cozinha.
Lá, em meio a roupas velhas e objetos antigos, repousa o “Seu Ivan”, como é mais conhecido. Vítima de mal de Parkinson, passa por crises tão severas que há dias em que não consegue andar. Se obriga sempre a se apoiar em algo para evitar a queda, seja uma muleta, um andador ou o próprio carrinho de recicláveis.
Quando percebe a minha presença, Ivan se levanta de um colchão velho, sem roupa de cama, e com muito esforço consegue chegar até nós. Me cumprimenta, sorri e senta ao lado da mulher. Inicia a conversa informando que só não chove em cima do colchão porque conseguiram cobrir parte do casebre com um pedaço de lona doada. “Aí tem cada buracão de pedra que caiu. O madeiramento tá tudo budocando [embodocando]”, afirma.
“De vez em quando me dá uma tremedeira que nada segura. Não consigo manter nem o copo na mão”, declara com um olhar miúdo e um tom de voz calmo e pausado. Para minimizar o problema, o medicamento não pode faltar. Cardoso também sofre de hipertensão e tem enfisema pulmonar.
Com 61 anos, o homem foi castigado pelas precárias condições de vida. Quem o vê de perto, pensa que é bem mais velho. Mesmo doente, Ivan, assim como Rose, não pode parar de trabalhar. Juntos, eles saem todos os dias pouco antes das 8h e retornam só depois das 20h. São mais de 12 horas diárias de trabalho para lucrar 70 reais por semana, ou seja, 280 reais por mês.
“É o que a gente consegue quando não perde nenhum dia. Agora se ele ficar muito ruim, o ganho é menor”, garante Rose Santos. Entre uma tosse e outra, lembra que o marido sofreu dois infartos nos últimos oito anos. Nas ruas, nem todos respeitam o trabalho dos catadores de materiais recicláveis. Enquanto alguns contribuem, inclusive separando o material para o casal transportar, outros exigem que para recolhê-los é preciso levar também o lixo.
“Pegamos papelão, plástico, latinha, mas latinha rende pouco, né? Ferro também. O preço é de 10 centavos por quilo. Então tem que conseguir pelo menos 100 pra ganhar um dinheirinho”, explica Rose. Seu Ivan se emociona quando se recorda da época em que carregava mais de 100 quilos no carrinho. “Agora se você me chamar pra ir até o portão pegar dez quilos, não aguento porque não consigo levantar esse peso. Se colocar na cabeça, caio para o outro lado”, lamenta sem esconder a tristeza e o constrangimento. Com olhos marejados, revela que toma banho sentado ou com a ajuda de Rose.
Ivan Cardoso Martins trabalha desde a infância e até hoje não conseguiu se aposentar, seja por tempo de serviço ou pelas limitações impostas pela doença. Sem dia certo para aparecer, as crises podem acontecer com intervalo de dois dias ou até uma semana. “Quando vem, parece que vou morrer. E pode ser que da próxima vez aconteça mesmo”, comenta.
Ivan e Rose, que são facilmente vistos circulando pelas ruas centrais de Paranavaí, sonham em comprar materiais para construir dois ou três cômodos em frente ao barraco. “Se alguém pudesse ajudar, a gente ficaria muito feliz”, admite Ivan em declaração partilhada por Rose. Sem saneamento básico e energia elétrica, o casal parece alheio à realidade dos vizinhos e principalmente dos moradores do bairro ao lado, a Vila Operária.
Assim que agradeço a cordialidade e me despeço, Seu Ivan faz questão de me acompanhar até a entrada, se apoiando com muito esforço em um andador feito e doado pelo artista plástico Luiz Carlos Prates Lima. Apesar da vida de penúria e da invisibilidade social, o homem ainda preserva a sua fé e se despede com um gesto verbal de benevolência: “Muito obrigado pela visita. Vá com Deus, meu filho.”
Contribuição
Quem quiser contribuir com o casal, pode ligar para a Fundação Cultural de Paranavaí: (44) 3902-1128 ou (44) 9865-1391 e falar com Luiz Carlos.