David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Decadência’ tag

Uma comédia sobre o caos e a decadência

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Filme mostra com bom humor as barreiras culturais (Foto: Reprodução)

Lançado em 1995, o filme Sábado, do cineasta Ugo Giorgetti, mostra uma equipe de publicidade ocupando em um sábado o saguão do Edifício das Américas, em São Paulo, para a realização de um comercial. Logo no início, o elevador do prédio para de funcionar, surgindo uma série de incidentes que se correlacionam. Os fatos tornam-se alegoria do caos paulistano. Por meio das confusões vivenciadas pelos personagens no interior do prédio, o diretor explora o antagonismo.

Giorgetti também destaca o preconceito e a barreira cultural entre pessoas que compõem a sociedade visível, de significativo poder aquisitivo – personificada pelos funcionários empenhados na realização do comercial, e a invisível – representada pelos personagens marginalizados, naquele contexto, moradores de um edifício que um dia foi símbolo de luxo e mais tarde tornou-se ícone da decadência.

O filme conta com um elenco formado por Otávio Augusto, Maria Padilha, Tom Zé, Giulia Gam, André Abujamra, Jô Soares, Renato Consorte, MAriana Lima, Gianni Ratto, Wandi Doratiotto, Sérgio Viotti e Cláudio Mamberti. Ao longo de 40 anos de carreira, Ugo Giorgetti, que costuma atuar como diretor e roteirista, já produziu 12 filmes. A primeira obra do cineasta foi Bairro dos Campos Elíseos, lançada em 1973. Já Cara ou Coroa, de 2012, é o trabalho mais recente.

Written by David Arioch

January 7th, 2013 at 2:32 pm

Quase uma ode ao feio

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Clássico de Scola se pauta na degradação humana

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Nino Manfredi interpreta o caolho Giacinto (Foto: Reprodução)

Lançado no Brasil como Feios, Sujos e Malvados, o filme Brutti, Sporti e Cattivi é uma anti-heroica e ácida comédia do cineasta italiano Ettore Scola sobre a degradação humana. No clássico de 1976, o protagonista é o caolho de meia-idade Giacinto (Nino Manfredi) que mora com a mulher, dez filhos e outros parentes em um cortiço romano.

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Filme mostra uma família de miseráveis ociosos e materialistas (Foto: Reprodução)

A trama se desenrola a partir do momento que o homem recebe um milhão de liras em moedas; dinheiro de uma indenização conquistada após sofrer um acidente de trabalho. Interessados na grana de Giacinto, todos tentam encontrar os meios mais sórdidos para enganá-lo.

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Em Feios, Sujos e Malvados tudo inspira a disformidade (Foto: Reprodução)

É difícil não se sentir desconfortável com a ausência de beleza combinada à amoralidade dos personagens e do cenário. Tudo é intencional e inspira a disformidade. Scola explora o feio como um parâmetro neorrealista que flerta com o surrealismo. Exemplo é a cena em que o protagonista, em um ato gentio embora sincero, leva uma amante horrorosa para viver com ele e a enorme família, já estigmatizada pela feiura, num minúsculo barraco. Na obra, o feio é recorrente e ganha status de natural.

Aparentemente, são todos feios, sujos e malvados, mas ao mesmo tempo não há um discurso, mesmo lacônico, sobre a culpa de serem assim. É um filme sobre miseráveis ociosos e materialistas às raias do primitivismo que não se importam em arremessar lixo aos familiares ou fazer sexo na frente de parentes, amigos e conhecidos. Para os personagens, tudo é válido quando não há referência cultural de distinção entre certo e errado.

Estão todos juntos em uma lama social que os aglutina a um cenário de desconhecimento moral e privação de dignidade. Ainda assim, surpreende ver que apesar de tudo não há ódio indiscriminado entre eles, apenas vontade de viver da única forma que aprenderam. Em 1976, Feios, Sujos e Malvados garantiu a Ettore Scola o prêmio de melhor diretor no 29º Festival de Cannes.

Curiosidade

O filme Brutti, Sporti e Cattivi inspirou dezenas de filmes, séries e programas sobre famílias desajustadas.

Uma garota de programa em paradoxo

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Godard e a perspectiva humanista sobre uma personagem marginalizada

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Musa de Jean-Luc vive a prostituta Nana (Foto: Reprodução)

Vivre Sa Vie, Lançado no Brasil como Viver a Vida, é um clássico da Nouvelle Vague de 1962, do controverso cineasta francês Jean-Luc Godard. O filme conta a história de Nana, uma garota de programa que sonha em ser atriz e vive o paradoxo de preservar a própria integridade.

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Natureza de Nana revela humanismo em crise (Foto: Reprodução)

Viver a vida é protagonizado por Anna Karina que empresta beleza a personagem Nana. Por si só, o rosto angelical e expressivo da atriz propõe um paradoxo ao encarnar uma meretriz. Sem cenas tórridas de lascívia, exibicionismo, exaltação da sexualidade ou até mesmo beijos quentes, o filme é uma perspectiva humanista sobre uma personagem marginalizada. Na obra, a garota de programa assume uma notoriedade idiossincrásica em que citações literárias e filosóficas determinam o cotidiano.

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Protagonista assiste ao enlace entre a modernidade e a decadência (Foto: Reprodução)

Embora depreciada pela sociedade, Nana é uma caricatura expressionista vivendo sob um prisma de valores criados por ela mesma, totalmente desvinculada do caráter maternal imposto às mulheres. O contexto, quando imaterial, se resume a um universo reflexivo, onde a objetividade e o concreto só existem em razão da subjetividade. Tudo é transmitido no filme por etapas, já que Viver a Vida se divide em doze atos.

Do início ao fim, é permitido invadir a intimidade de Nana, representante de um ideal de liberdade que tenta ignorar tudo a sua volta. Mas nem sempre consegue. A protagonista se mostra frágil ao entregar o corpo por exigência do ofício. Sente que algum tipo de emoção e sentimento nasce ou morre antes de cada relação sexual.

O espectador, que assume os olhos de Godard, presencia muitas das cenas como testemunha; alguém o tempo todo ao alcance de Nana. A primeira cena em que a câmera, de uma posição privilegiada, destaca as costas e os ombros da personagem, mantendo o rosto oculto enquanto conversa em um café, é o exemplo primordial.

A natureza de Nana ratifica a ideia de que o humanismo está em crise há muito tempo. Como sobrevivente do submundo parisiense, ela assiste ao enlace entre a modernidade e a decadência. Na capital francesa, surgem cinemas, cafés e máquinas de fliperama enquanto morrem pessoas, sonhos e ideais.