David Arioch – Jornalismo Cultural

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“Não teremos paz enquanto derramarmos sangue de animais”

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(Fotos: Getty)

No livro “Food for the Spirit: Vegetarianism and the World Religions”, de Steven Rosen, lançado em 1987, o escritor judeu e vegetariano Isaac Bashevis Singer afirmou que não teremos paz enquanto derramarmos sangue de animais.

“Foi necessário um pequeno passo baseado na matança de animais para que fossem construídas as câmaras de gás de Hitler e os campos de concentração [gulags] de Stalin. Todas essas ações foram praticadas em nome da [suposta] justiça social. Não haverá justiça enquanto o homem empunhar uma faca ou outra arma para destruir seres mais fracos que ele”, queixou-se.

Partido ANIMAIS precisa de 500 mil assinaturas para concorrer às eleições

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“Temos uma pauta clara, a ampla defesa de todos os animais nas suas representações biológicas”

Qualquer pessoa que entenda que a criação do partido é um direito democrático pode contribuir, seja preenchendo uma ficha de apoio ou ajudando a coletar assinaturas (Foto: Partido ANIMAIS)

No final de 2015, integrantes de mais de 20 organizações não-governamentais (ONGs) e representantes de 18 estados do Brasil se reuniram e concluíram que o Brasil precisa de um partido voltado à defesa dos direitos animais, já que praticamente todos os partidos ignoram essa causa. Como resultado de uma série de discussões, o grupo elaborou um estatuto e fundou o Partido ANIMAIS em agosto de 2016 mediante publicação no Diário Oficial da União.

Atualmente o partido já conta com o apoio de partidos e iniciativas que atuam na defesa dos direitos animais nos Países Baixos, Espanha, Portugal, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Austrália. Porém, para que o partido possa atuar como ferramenta política, ou seja, disputar as eleições nas esferas municipal, estadual e federal, é necessário que pelo menos 500 mil assinaturas válidas sejam entregues pelo partido ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sendo assim, o Partido ANIMAIS precisa de ajuda do maior número possível de pessoas que veem essa iniciativa como um bom ponto de partida para a defesa contínua dos direitos animais em âmbito político. Na realidade, qualquer pessoa que entenda que a criação do partido é um direito democrático pode contribuir, seja preenchendo uma ficha de apoio ou ajudando a coletar assinaturas. “A assinatura de qualquer pessoa é importante. Esse apoio não é filiação, quem colabora não tem qualquer compromisso com o partido. Apenas reconhece que o partido tem o direito de atuar como ferramenta política. As pessoas não precisam se preocupar, todos os dados são confidenciais e enviados apenas para o TSE”, explica o porta-voz Frank Alarcón.

O Partido ANIMAIS é o primeiro projeto político animalista latino-americano que conseguiu vencer todas as etapas burocráticas que o Tribunal Superior Eleitoral exige, desde o cadastro na Receita Federal, publicação no Diário Oficial e obtenção de CNPJ. Ou seja, todas as exigências do poder público. “Estamos agora na fase final e mais trabalhosa que é a obtenção das 500 mil assinaturas válidas. Queremos chegar a três milhões de fichas de apoio, porque isso seria um excelente sinal de que existe uma massa crítica, uma parcela significativa da sociedade civil que tem interesse genuíno na discussão e defesa dessas pautas que nos são caras, e que se voltam principalmente para a defesa dos animais não humanos”, relata Alarcón.

Na prática, o apoio ao Partido ANIMAIS ocorre de forma bem simples, bastando o apoiador informar dados como o nome completo, número do título de eleitor, zona de votação e assinatura semelhante a do título. Os dados devem ser precisos senão a ficha pode ser considerada inválida pelo Tribunal Superior Eleitoral. “Temos uma pauta clara e de fácil compreensão, a ampla defesa de todos os animais nas suas mais diversas representações biológicas. Além disso, estamos realmente focados na proteção do meio ambiente e na implantação de soluções que amenizam o imenso impacto humano causado sobre o planeta. Lembre-se: nós seres humanos também somos animais”, enfatiza Frank Alarcón.

O partido fundado em 2016 tem conquistado boa aceitação, inclusive de muitas pessoas sem qualquer relação com a causa animal. A explicação para isso é bem simples. “Elas entendem que é justo que um partido animalista também tenha a sua expressividade, espaço de manifestação dentro do cenário político”, justifica o porta-voz do Partido ANIMAIS.

Para quem quer contribuir coletando assinaturas, o site do partido disponibiliza as fichas de apoio e a Cartilha de Coleta de Assinaturas (CCA) com todas as diretrizes de coleta e preenchimento das fichas de apoio. Oferece também sugestões de abordagem para se obter resultados mais eficazes. É uma cartilha indicada para qualquer pessoa, sem restrições. “Temos até a metade de 2018 para fornecer as assinaturas. Poderíamos tentar fazer isso até março para termos candidatos concorrendo ao pleito de outubro, porém no momento a nossa atenção está completamente voltada para a conquista das 500 mil assinaturas válidas”, revela Frank Alarcón.

Segundo a diretoria do partido, assim que o ANIMAIS for reconhecido pelo TSE como um partido em condições de atuar como ferramenta política, o movimento nacional em defesa dos direitos animais terá uma nova opção nas eleições, assim como todos os eleitores que buscam renovação. “Poderemos colocar em curso práticas que normalmente ONGs não conseguem, como um mandado de segurança junto ao STF [Supremo Tribunal Federal] contra qualquer um dos absurdos relativos à exploração animal que você possa imaginar. É algo que nos dará a possibilidade de expandir a nossa linha de atuação em relação à questão animal e ambiental. Afinal, somos um partido animalista que prega a completa abolição da exploração e do uso animal. Todos nós somos veganos e entendemos os animais como indivíduos”, argumenta Alarcón.

De acordo com o porta-voz do Partido ANIMAIS, é preciso de uma vez por todas ocupar um espaço político de forma séria e definitiva no que diz respeito à questão animal. “Devemos nos lembrar que aqueles que não gostam ou não se interessam por política estão condenados a serem governados por aqueles que se interessam. Se nós não tomarmos a frente nessa luta, outros o farão, e são grupos ou interesses contrários aos que temos, que é a defesa de animais não humanos, meio ambiente, enfim, vulneráveis de um modo geral. Se não tomarmos a dianteira e coletarmos as assinaturas que precisamos dentro do prazo estabelecido, estaremos perdendo uma grande oportunidade”, alerta Frank Alarcón.

Saiba Mais

Quando for preencher a ficha de apoio, caso o apoiador não esteja com o título à mão, aconselha-se entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e resgatar essas informações. Para isso, basta informar o nome completo, nome completo da mãe e data de nascimento. Com essas informações, o TSE fornece instantaneamente o número do título de eleitor e o número da zona de votação. Caso o apoiador não possa fazer esse resgate, ele pode fornecer os seus dados a lápis no verso da ficha para uma equipe de colaboradores do Partido ANIMAIS. Assim eles poderão resgatar no site do TSE os dados que faltam.

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Entre em contato para participar: partido@animais.org.br

 





 

Mark Twain, um porta-voz dos animais

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“De todas as criaturas, o homem é a mais detestável” (Foto: Reprodução)

“O fato de que o homem pode agir erradamente prova a sua inferioridade moral em relação a toda criatura que não pode”

Um dos mais proeminentes escritores dos Estados Unidos, o jornalista, romancista e humorista Mark Twain publicou dois livros que fazem parte da lista de obras essenciais da literatura mundial – The Adventures of Tom Sawyer, de 1876, e The Adventures of Huckleberry Finn, de 1885. No entanto, o que pouca gente sabe até hoje é que Twain foi um importante defensor dos direitos dos animais.

“De todas as criaturas, o homem é a mais detestável. De todas, somente ele possui malícia. Ele é o único que causa dor por esporte e com consciência de que isso causa dor. O fato de que o homem sabe distinguir o certo do errado prova a sua superioridade intelectual em relação às outras criaturas. Mas o fato de que ele pode agir erradamente prova a sua inferioridade moral em relação a toda criatura que não pode”, escreveu Twain em seu livro de ensaios What Is Man?, publicado em 1908.

Na obra, Twain apresenta um homem jovem e um idoso conversando sobre a natureza humana. Enquanto o mais velho, que oscila entre o pragmatismo e o pessimismo, define o ser humano como alguém que vive para si mesmo, o rapaz, como bom questionador, pede que ele se aprofunde em suas explanações, assim equilibrando a discussão. À época, o escritor decidiu lançar What Is Man? de forma anônima, até que se arrependeu de tê-lo publicado quando percebeu que a maioria dos leitores pouco se interessava pelo assunto.

Mesmo após sua morte, em 21 de abril de 1910, em Redding, Connecticut, em decorrência de um ataque cardíaco aos 74 anos, seu livro de ensaios ainda recebeu críticas inflexíveis. A maior delas talvez seja uma do New York Tribune que qualificou seu livro como uma obra antirreligiosa e sombria, mesmo ele chamando a atenção para questões de grande importância como o tratamento que os seres humanos dão aos animais.

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Book of Animals mostra que Twain se preocupava muito com o bem-estar animal (Foto: Reprodução)

Embora haja controvérsias sobre ele ter sido ou não vegetariano em algum momento de sua vida, já que há pesquisadores que afirmam que Mark Twain consumia alimentos de origem animal, ele demonstrava ser um sujeito de grande sensibilidade em relação aos animais. Um exemplo é a passagem abaixo, revelando grande remorso após atirar em um passarinho na infância:

“Eu atirei em um pássaro sentado em uma árvore alta, com a cabeça inclinada para trás e derramando uma grata canção de seu inocente coração. Ele tombou de seu galho e veio flutuando flácido e desamparado até cair aos meus pés. Sua música foi extinta assim como sua inocente vida. Eu não precisava ter feito isso com aquela criatura inofensiva. Eu a destruí desenfreadamente e senti tudo o que um assassino sente, de tristeza e remorso quando chega em casa e percebe o quanto desejaria desfazer o que estava feito, ter suas mãos e sua alma limpa outra vez, sem acusar sangue”, relata Mark Twain em texto raro que faz parte da obra póstuma Book of Animals.

O livro mostra que Twain se preocupava muito com o bem-estar animal. Inclusive, de acordo com informações biográficas, seu tom de voz suavizava ao falar de algum animal, ao contrário do que acontecia quando o assunto era a humanidade.

“Eu não estou interessado em saber se a vivissecção produz ou não resultados rentáveis para a raça humana. Saber que é um método rentável não reduz a minha hostilidade em relação a isso. As dores infligidas aos animais sem o consentimento deles é a base da minha oposição. Os vivisseccionistas têm em sua posse uma droga chamada curare que impede o animal de lutar ou chorar. É um recurso horrível sem qualquer efeito anestésico. Muito pelo contrário, intensifica a sensibilidade à dor. Incapaz de fazer qualquer sinal, o animal é mantido perfeitamente consciente enquanto seu sofrimento é duplicado”, argumenta Twain em carta enviada a London Anti-Vivisection Society em 26 de maio de 1899.

E a inspiração do escritor para se tornar um protetor dos animais veio de sua mãe, Jane Lampton Clemens, que mantinha a casa cheia de gatos, alguns com nomes curiosos como Blatherskite (Fanfarrão) e Belchazar. “Uma vez, ela repreendeu um homem na rua porque ele estava batendo no próprio cavalo”, revela a editora Shelley Fisher Fishkin no prefácio do livro.

Entre as suas histórias mais célebres, e que destaca com clareza a sua sensível perspectiva em relação aos animais, está Jim Smiley and His Jumping Frog que conta a história de um apostador que tem uma rara habilidade de cativar os animais.

“De 1899 a 1910, ele emprestou sua caneta para reforçar os esforços dos dois lados do Atlântico, sendo o porta-voz do movimento pelo bem-estar animal. O que ajudou muito foi o fato de que ele era o mais famoso escritor americano da época”, declara a pesquisadora Shelley Fishkin, PhD em estudos americanos pela Universidade Yale, em New Haven, Connecticut. Outro fato intrigante é que Mark Twain começou sua carreira literária da mesma forma que a iniciou – escrevendo sobre animais. Após o seu falecimento, sua família descobriu que ele havia deixado inúmeras obras inéditas, principalmente contos sobre distintas figuras animalescas capazes de povoar o ideário popular por dezenas de gerações.

Saiba Mais

Mark Twain nasceu em Flórida, Missouri, em 30 de outubro de 1835.

Ele dizia que o homem é o único animal que cora. Ou que precisa corar.

O Título What is Man? do seu livro de ensaios foi inspirado no Salmo 8.

Referências

Mark Twain’s Book of Animals. Shelley Fisher Fishkin. University of California Press (2011).

R. LeMaster, James Darrell Wilson, Christie Graves Hamric.The Mark Twain Encyclopedia. Taylor & Francis (1993).

Twain, Mark. The Celebrated Jumping Frog of Calaveras County. University of California Press (2011).

Twain, Mark. What Is Man? CreateSpace Independent Publishing Platform (2011).

Kirk, Connie Ann. Mark Twain – A Biography. Connecticut: Greenwood Printing (2004).

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