David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Quando indiferença e desinteresse nos incomodam

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Arte: Pixabay

Se uma pessoa por quem você tem estima o trata com indiferença ou desinteresse, confrontá-la externalizando em palavras agressivas o que você sente não vai melhorar isso ou alterar tal fato. Pode parecer difícil, mas há momentos em que o melhor é não dizer nada e simplesmente seguir adiante. Verbalizar coisas ruins como forma de “remediar” um sentimento ou realidade pode parecer um alívio, ainda que irrefletido, no momento, mas depois restarão apenas estilhaços de uma exaltação momentânea. E neste caso a fragilidade tornar-se veículo imponderado.

É comum desejarmos retribuir ou reprovar o que nos incomoda em relação ao chamado comportamento que depreciamos de alguém em relação a nós, mas se isso tornou-se uma já naturalizada inerência de alguém em relação a você, talvez isso signifique apenas que já não há muito o que frutificar. E forçar qualquer situação creio que não ajudaria.

Se analisarmos brevemente o comportamento das pessoas em relação a nós, não é difícil balizar o que realmente é saudável e o que não é para nós. Então tentar vingar-se ou retribuir sentimento negativo pode ser má ideia, já que dificilmente melhoraria a situação. Acredito que relações humanas devem ser colocadas sobre uma balança, se pende-se pouco para um lado e muito para outro, não há como se sustentar por muito tempo; já que o insustentável desequilíbrio, e derramamento para fora de nós mesmos, é apenas uma questão de tempo.

Podemos sentir-nos incomodados com as pessoas por vários fatores, mas quando isso se torna acumulativo, e realmente faz mal para a saúde emocional e psicológica, é válido considerar que as conexões humanas são tão importantes e inerentes à vida quanto as desconexões. E é possível seguir adiante sem precisar se entregar aos paroxismos sedutores desencadeados por possível frustração – que pode também resultar mais do que ansiamos do que realmente enxergamos em relação aos outros quando bebemos de nossas expectativas.

Desinformação, incompreensão, desinteresse e paranoia

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Literatura, Marina Colasanti, Paulo Venturelli e cultura em geral

Marina Colasanti: "a literatura em si já vem embutida de formação."

Marina Colasanti: “A literatura em si já vem embutida de formação.” (Foto: Reprodução)

No sábado, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista interessante com a escritora Marina Colasanti defendendo que livros de histórias infantis não precisam ser educativos. Acho que quem conhece o trabalho dela entende que essa posição é defendida há muito tempo, não apenas agora. Ela inclusive viaja o Brasil discutindo sobre o assunto.

Como a própria autora diz, a literatura em si já vem embutida de formação. Hoje de manhã, quando abri o Facebook, a primeira matéria que apareceu no meu feed de notícias foi essa. Então decidi olhar brevemente os comentários. Talvez por ingenuidade, achei que encontraria apenas opiniões interessantes e construtivas.

Em meio a tantos bons comentários, alguns extremamente negativos, erráticos e vazios em sentido me chamaram a atenção. Uma professora de Apucarana, no Paraná, funcionária da rede estadual de ensino, comentou o seguinte sobre a declaração de Marina Colasanti: “Da onde vem esses completos idiotas, querendo ferrar com uma nação toda!”

Outro sujeito disse que o vermelho ao fundo da foto revela a origem ideológica de Marina Colasanti (acredite, não foi uma piada). Sem dúvida, faz muito sentido, ainda mais se levarmos em conta o fato de que a escritora declarou apoio ao Aécio Neves durante as eleições. Na mesma postagem, um rapaz “vociferou” que com tal comentário Marina Colasanti está defendendo a desconstrução do Brasil.

Esses exemplos me lembraram dois episódios. O primeiro foi há poucos meses, quando o escritor Paulo Venturelli, radicado em Curitiba, ministrou uma palestra e ao final o questionaram sobre o que os professores poderiam fazer para estimular nos mais jovens o interesse pela leitura. Muita gente não gostou da resposta do autor, mas provavelmente ele se valeu de sua experiência de décadas trabalhando com literatura. “Comece lendo. Leia de verdade. Um professor não pode cobrar leitura de um aluno se ele mesmo não lê”, respondeu Venturelli que também é professor.

Paulo Venturelli: “Um professor não pode cobrar leitura de um aluno se ele mesmo não lê."

Paulo Venturelli: “Um professor não pode cobrar leitura de um aluno se ele mesmo não lê.” (Foto: Reprodução)

Com esse comentário, o escritor deixou subentendido que quanto mais você lê, mais ideias você tem de como estimular a leitura. Do contrário, há de se sentir sempre anuviado. O segundo episódio não tem relação direta com literatura, mas sim com a cultura em geral.

Em 2008 ou 2009, não tenho mais certeza do ano, um grupo de professores da rede estadual de ensino entrou em contato comigo pedindo para eu apresentar voluntariamente uma sessão especial do projeto Mais Cinema na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Eles queriam que eu exibisse um filme sobre os mais diversos aspectos da exploração infantil. Gostei da ideia e me comprometi também em fazer a análise do filme e discutir o assunto com dezenas de alunos e alguns professores.

Pois bem, durante a exibição do excelente filme All The Invisible Children, de 2005, dividido em sete curtas realizados em várias partes do mundo, alunos e professores ficaram boa parte do tempo falando ao celular e enviando sms. Alguns saíam do ambiente para conversar e depois retornavam. Era como se estivessem em casa assistindo TV. Imitavam sons de animais, deitavam e pulavam sobre as poltronas com a conivência dos professores.

Naquele dia, curiosamente, havia sete ou oito professores na Casa da Cultura. Desse total, três ou quatro foram embora antes do filme terminar. Me recordo que uma professora que resistiu para ficar até o final manteve-se recostada contra a porta, ansiosa para ir embora. Quando acabou a sessão, acredito que não havia mais do que 40% do público inicial. No fim, não houve avaliação nem discussão alguma, claro, por desinteresse dos que ficaram.

Não estou dizendo que são casos que se aplicam a muitos professores, até porque não é minha intenção quantificar nada. Só acredito que se você não está disposto a desempenhar um bom trabalho, fazer alguma diferença, talvez seja mais viável trilhar outro caminho. Quem sabe, mudar de área. Há incongruências que atingem todas as profissões. Ainda assim, acredito que o relato vale a reflexão. Há uma relação curiosa entre as três situações e deixo a cada um a livre interpretação.