David Arioch – Jornalismo Cultural

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Segundo estudo da Universidade de Oxford, não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta

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“Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”

Poore: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problema” (Acervo: Irish Times)

Um estudo intitulado “Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers”, publicado na conceituada revista Science, conclui que não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta.

Considerada pelo jornal britânico The Guardian como a maior análise já feita sobre os efeitos da produção agrícola, a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que reuniu dados de quase 40 mil fazendas que produzem 40 produtos agrícolas em 119 países, informa que 80% das áreas agrícolas do mundo são destinadas à criação de animais para consumo.

A atividade, que segundo o trabalho têm grandes consequências se tratando de alocação de terras e uso de água doce, é responsável por 58% das emissões de gases do efeito estufa, 57% da poluição da água e 56% da poluição do ar. A pesquisa, disponibilizada no site da revista Science, enfatiza que o impacto pode variar em até 50 vezes entre os produtores de um mesmo produto, criando oportunidades substanciais de mitigação.

No entanto, mesmo que os produtores de alimentos de origem animal se esforcem para alcançar baixos impactos ao longo da cadeia de produção e fornecimento, a redução ainda é limitada, de acordo com os cientistas. Isto porque “o impacto dos produtos de origem animal de menor impacto normalmente excede os dos seus substitutos de origem vegetal, fornecendo novas evidências para a importância da mudança na dieta” — explica.

Em entrevista ao The Guardian, o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, disse que “uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir o impacto no planeta, não apenas por causa dos gases do efeito estufa, mas também por causa da acidificação global e eutrofização, além do uso de terra e água.”

O estudo também comparou o impacto da produção de carne bovina com a proteína baseada em vegetais e revelou que até mesmo a carne orgânica ou considerada sustentável pode requerer 36 vezes mais terra e gerar seis vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que a produção de ervilhas.

Poore frisa que, para quem se preocupa com o meio ambiente, é muito melhor abdicar do consumo de alimentos de origem animal do que reduzir viagens de avião ou comprar um carro elétrico: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problemas. Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”.

Referências

Poore, J; Nemecek, T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science Magazine (1º de junho de 2018).

Carrington, Damian. Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth. The Guardian (31 de maio de 2018).




 

Um vegano subnutrido

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Eu hoje de manhã, um vegano subnutrido. Atualmente estou em fase de queima de graxa, o que significa que estou seguindo uma dieta hipocalórica. Nessa fase, ao contrário do que muitos pensam, não corto carbos, apenas diminuo volumes e quantidade de refeições. Passo a fazer quatro refeições em vez de cinco ou seis. E mantenho um jejum de no mínimo 12 horas diárias. Ah, mas como você consegue perder gordura sendo vegano, já que vegano parece que só come carbo?

Não, isso não é verdade, basta consumir na proporção adequada ao seu peso corporal, e claro, sem negligenciar proteínas e lipídios. Proteínas vegetais? Sim, isso mesmo, nada de origem animal! Você está perdendo peso? Sim, claro, não há como queimar graxa sem perder peso. Não existe isso de substituir gordura por músculo, então é normal que as pessoas notem isso, principalmente no meu caso que não uso esteroides. Você faz aeróbico? Não, não tenho feito nenhum, só musculação.

Você está perdendo gordura em quais partes do corpo? Nele todo. Nosso organismo não escolhe onde queimar gordura, então isso acontece de forma geral. Por isso não acredito na tal da perda de gordura localizada de forma natural. E como você se alimenta? Todas as minhas refeições atualmente têm carbos e proteínas, e em alguns momentos do dia boas fontes de gorduras/lipídios. Você se sente menos disposto nessa fase?

Não, mas como estou comendo bem menos normalmente sou mais cuidadoso no treino porque o risco de lesões pode aumentar nessa fase hipocalórica, então não é bom forçar muito as articulações. Porém, sinto sim um pouquinho de perda de força, o que é natural em decorrência da alimentação. Mas nada que me incomode. Você está usando algum termogênico? Não, nada.

Minha base é só alimentação e treino. E meu treino é praticamente o mesmo também. Minha prioridade é a exaustão. Mesmo sendo vegano e não usando qualquer e esteroide ou recurso farmacológico, não vejo impossibilidade em alcançar qualquer objetivo em relação a isso. Tenho vontade o suficiente, e isso me basta, independente do que os outros pensam.

“The Yoyo Effect”, documentário promete mostrar os equívocos das dietas ricas em alimentos de origem animal

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Autor do documentário “Food Choices”, de 2016, que discute os maus hábitos alimentares associados principalmente aos alimentos de origem animal, o produtor e diretor Michal Siewierski está prestes a lançar o seu segundo documentário. Intitulado “The Yoyo Effect”, o filme vai mostrar a epidemia de obesidade que tem atingido os Estados Unidos, além dos equívocos das dietas da moda e das dietas de perda de peso como a dieta paleolítica e a dieta Atkins.

Siewierski garante que o filme contará com inúmeras evidências científicas, e promete apresentar aos espectadores estratégias equilibradas de perda de peso que são sustentáveis e que realmente ajudam a melhorar a saúde, sem riscos de rebote. “O meu objetivo é munir o espectador de informações que podem levá-lo a um caminho de perda de peso saudável a longo prazo por meio de uma mudança no seu estilo de vida”, declarou ao Veg News.

Michal Siewierski, que já foi obeso e teve sua vida completamente transformada depois que abdicou do consumo de “fast food” e de todos os alimentos de origem animal, defende que o melhor caminho é uma dieta nutricionalmente completa e baseada principalmente em vegetais. “Há uma mensagem para não veganos e veganos, já que temos também veganos concentrando suas dietas em alimentos processados e altamente calóricos [sem que haja tal demanda]”, avisa.

Entre os participantes do documentário estão o médico Neal Barnard, do Comitê Médico Para Medicina Responsável dos Estados Unidos (PCRM), o ultramaratonista vegano Rich Roll e o fundador e CEO da Whole Foods, John Mackey. O filme produzido e dirigido por Michal Siewierski foi patrocinado por financiamento coletivo.





 

Eu e a minha alimentação

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Comecei a me preocupar mais com a minha alimentação há pouco mais de dez anos (Foto: Reprodução)

Peso 90 quilos, com não mais do que 10% de gordura corporal. Tenho demandas energéticas muito elevadas, metabolismo acelerado. Dizem que meu biotipo é predominantemente mesomorfo. Mas a minha alta demanda de micro e macronutrientes tem relação com o fato de eu praticar atividades físicas de alta intensidade diariamente (principalmente musculação) há mais de dez anos.

Nunca fui obeso. Não tenho facilidade em acumular gordura. Preciso comer muito para ganhar gordura, o que só acontece em fase de bulking (ganho de massa muscular). Minha alimentação é boa. Sou saudável e não consumo nada de origem animal. Nunca fico doente, nunca tive nenhum problema grave de saúde. Pensando bem, me recordo que tive dengue há alguns anos, mas meu sistema imunológico respondeu tão bem que continuei treinando diariamente mesmo com dengue.

Me questionaram recentemente sobre o motivo de eu não seguir uma dieta crudívora. Simplesmente porque o crudivorismo não combina com o meu estilo de vida. Respeito quem vai por esse caminho, mas não é o meu, ainda mais em fase de bulking. Não demonizo alimentos cozidos, porque na minha opinião isso não faz sentido. Assim como não vejo motivo para demonizar glúten, caso a pessoa não seja celíaca. Falo isso como alguém que não é nutricionista, mas que conquistou todos os resultados quanto à estética e saúde por conta própria ao longo dos anos. Então pelo menos quanto ao meu corpo e organismo, sei o que estou falando, já que realizo exames de rotina a cada seis meses – e está tudo muito bem.

Há pessoas que me perguntam às vezes porque as minhas receitas têm valores nutricionais detalhados. Simplesmente porque peso tudo que como há anos. Hoje não faço isso toda hora porque decorei os valores nutricionais de dezenas de alimentos. O tempo facilita isso. Sei quais são minhas necessidades diárias de glicídios, proteínas e lipídios. Me alimento seis vezes por dia, porque é o que funciona melhor pra mim. E isso não tem relação com a “teoria do metabolismo acelerado”.

Basicamente, sempre fui um cara disciplinado. E sobre as receitas que publico em meu blog Vegaromba, de culinária, bom, às vezes alguém diz que algumas são “porcarias”. Aí depende muito do que você come, quanto come e com qual objetivo. Algumas eu como ocasionalmente no que chamo de “Dia do Lixo”, que alguns não gostam, mas outros gostam. Sou um dos que gostam, até para “quebrar a dieta”. As minhas receitas são elaboradas atendendo a um objetivo específico. A maioria, mesmo aquelas do Dia do Lixo, têm alguma finalidade, não são combinações aleatórias de calorias vazias, e mesmo que fossem não vejo nada de errado, desde que não sejam parte da minha rotina alimentar.

 

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Written by David Arioch

May 29th, 2017 at 3:06 pm

Drauzio Varella e as falhas na afirmação de que a crítica ao consumo de carne é ideológica

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Não é verdade que não há trabalhos científicos comprovando os malefícios da carne

A minha intenção não é desmerecer o trabalho do médico oncologista Drauzio Varella (Foto: Extra)

Em abril deste ano, o médico oncologista Drauzio Varella, que há muito tempo se tornou referência para a população brasileira, afirmou na entrevista intitulada “Crítica à carne é ideológica”, publicada pela Revista Globo Rural, que não existe trabalho científico comprovando que a carne vermelha faz mal à saúde. Drauzio declarou que se criou “uma porção de mitos” a partir de estudos realizados nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos.

Drauzio Varella tem todo o direito de se opor a pesquisadores, acadêmicos e médicos que apontam os malefícios do consumo de carne, até porque ele nunca velou que é um defensor do consumo de alimentos de origem animal. Porém, a afirmação de que não há trabalhos científicos comprovando isso não é realmente verdadeira, e pode naturalmente induzir o leitor a crer que realmente ninguém nunca apresentou nenhuma evidência das implicações do consumo de carne.

O livro “The China Study”, publicado em 2005 pelo bioquímico estadunidense T. Colin Campbell, que tem doutorado na área de efeitos da nutrição na saúde em longo prazo, e que foi criado em uma fazenda de gado leiteiro nos anos 1940 e 1950, mostra que isso não é realmente verdade. O seu livro examina a relação entre o consumo de produtos de origem animal e o surgimento de doenças cardíacas, diabetes e câncer. E chega à conclusão que uma dieta vegetariana é mais saudável.

O trabalho, que começou no início dos anos 1970 e se estendeu por 20 anos, foi realizado pela Academia Chinesa de Medicina Preventiva, da Universidade Cornell, em parceria com a Universidade de Oxford. Eles analisaram as taxas de mortalidade por câncer e outras doenças crônicas em 2400 condados chineses, reunindo ao final do estudo dados de 880 milhões de chineses (96% da população à época).

O trabalho foi realizado por iniciativa do premier chinês Zhou Enlai. Diagnosticado com câncer, pediu que fizessem um mapeamento da doença na China, para entender de que forma isso estava relacionado com os hábitos alimentares dos chineses. O estudo registrou que nos condados onde o consumo de alimentos de origem animal se tornou muito elevado, as taxas de mortalidade eram mais altas, o que eles classificaram como consequências de “doenças ocidentais”, já que esses hábitos foram influenciados pela cultura do Ocidente. Por outro lado, nas localidades onde pouco ou nada se consumia de origem animal, as pessoas eram mais saudáveis. O trabalho mais tarde foi considerado o maior estudo de nutrição da história.

Claro que há variáveis a se ponderar, como por exemplo, a prioridade a alimentos saudáveis e prática de atividades físicas, entre outras coisas. No entanto, o “The China Study” justifica que somos mais suscetíveis a contrair determinadas doenças quando consumimos carne, laticínios e ovos, o que não significa que vegetarianos ou veganos estejam livres de doenças. Mas apenas que estão indo por um caminho onde isso pode ser evitado com mais facilidade com os devidos cuidados.

Na entrevista, Dráuzio Varella diz também que nos Estados Unidos “como a carne vermelha tem colesterol, foi concluído que o consumo dela devia ser reduzido. O que aconteceu então? Os americanos diminuíram significativamente o consumo de carne e, no lugar, colocaram carboidratos. A partir dessa resolução, até hoje, a epidemia de obesidade nos EUA aumentou descontroladamente. E, dada a influência dos EUA na área da saúde, essa ideologia cresceu sem parar. Resultado: estamos todos enfrentando uma epidemia de obesidade.”

T. Colin Campbell, autor do livro “The China Study”, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos (Foto: Second Opinion)

Não sei em quais estudos ele se baseou para fazer tal declaração, mas isso também não é de todo verdade. Sim, os estadunidenses, assim como pessoas de outros países do Ocidente, consomem quantidades excessivas de carboidratos, e isso sem dúvida favorece o surgimento de muitas doenças, mas há equívocos substanciais no discurso de Varella. Normalmente quem opta por uma dieta vegetariana visando saúde ou qualidade de vida, dificilmente vai consumir quantidades estratosféricas de glicídios, alimentos industrializados – principalmente processados. Não se troca seis por meia dúzia quando se visa conscientemente a saúde.

Ademais, em 19 de agosto de 2016, a Fusion TV publicou uma matéria sobre um assunto também repercutido por muitos outros veículos de comunicação – “Last year americans ate meat like it was going out of style (it’s not)”, que mostra que houve um aumento no consumo de carne nos Estados Unidos em 2015, baseando-se em estudos do Rabobank. Ou seja, por si só, isso já é um indicativo de que as pessoas não estão trocando proteínas de origem animal por carboidratos ruins na velocidade apontada por Varella, mas sim consumindo os dois – que combinados são responsáveis pelo comprometimento da saúde humana.

Outra prova que refuta a posição de Drauzio é que nos Estados Unidos 5% da população se declara como vegetariana, e 2,5% vegana, segundo dados da organização One Green Planet. Sendo assim, onde está toda a população que ele afirma abdicar do consumo de proteínas de origem animal em favor dos maus carboidratos? O vegetarianismo e o veganismo tem crescido, mas, por enquanto, não na proporção desejada por vegetarianos e veganos. Ao mesmo tempo que diz que os críticos do consumo de carne se baseiam em generalizações, Varella parece ignorar que também faz o mesmo, principalmente quando diz que a crítica ao consumo de carne é meramente ideológica.

Então se não for por honestidade e visando o bem da população, por que o pesquisador T. Colin Campbell, filho de produtores de leite, se tornou um defensor da dieta vegetariana que ministra palestras contra o consumo de leite? Por que Howard Lyman, ex-pecuarista que tinha mais de sete mil cabeças de gado, abdicaria disso tudo para se manifestar contra o consumo de carne? Inclusive registrando em seu livro “Mad Cowboy” que ele mesmo tinha o hábito de mandar seus funcionários pulverizarem inseticidas na alimentação e na água do gado para afastar insetos e “pragas”.

Acredito que esses dois homens têm conhecimento mais profundo da realidade do sistema de produção de alimentos de origem animal e das suas consequências na alimentação humana do que o oncologista Dráuzio Varella que, embora seja um profissional respeitado no que diz respeito a vários assuntos, nunca realizou nenhum estudo relevante sobre o tema e incorre em análises equivocadas quando discorre sobre consumo de carne e vegetarianismo, que são áreas que fogem da sua competência.

Em 2006, o The New York Times qualificou o “The China Study” como o “Grande Prêmio da Epidemiologia”, e o “mais abrangente grande estudo já realizado sobre a relação entre a dieta e o risco de desenvolver doenças.” Drauzio pode discordar do conteúdo do livro, mas ele poderia apresentar algum outro estudo equivalente sobre o qual alguém tenha dedicado 20 anos de pesquisa?

Frank Hu: “Este estudo fornece evidências claras de que o consumo regular de carne vermelha, especialmente carne processada, contribui substancialmente para a morte prematura” (Foto: Arquivo Pessoal)

E uma prova de que talvez ele não conheça a obra “The China Study” pode ser encontrada na entrevista para a Revista Globo Rural. Drauzio Varella, parafraseando o epidemiologista Walter Willet, da Universidade Harvard, assinala que somente um estudo com duração de 20 anos poderia trazer resultados realmente consistentes. Como mencionado anteriormente, o livro de T. Colin Campbell foi baseado em um projeto de pesquisa com duração de 20 anos.

E se o “The China Study” não for o suficiente para levar o leitor a refletir sobre a questão, é válido citar o artigo “Cutting red meat – For a longer life”, publicado em junho de 2012 pela Universidade Harvard, a mesma citada por Varella quando diz que não se pode associar o consumo de carne com o surgimento de doenças. “Este estudo fornece evidências claras de que o consumo regular de carne vermelha, especialmente carne processada, contribui substancialmente para a morte prematura”, disse Frank Hu, um dos principais cientistas envolvidos no estudo e professor de nutrição da Harvard School of Public Health.

Na pesquisa, publicada no Archives of Internal Medicine em 9 de abril de 2012, uma equipe de pesquisadores de Harvard procurou estabelecer ligações entre o consumo de carne e a as causas de mortalidade. Eles examinaram os casos de 84 mil mulheres e 38 mil homens em mais de duas décadas. Aqueles que consumiam principalmente carne vermelha, claramente se enquadravam nos grupos de risco de morte prematura.

Depois de 28 anos, aproximadamente 24 mil pessoas que participaram dos estudos da Harvard Medical School sobre a associação entre consumo de carne e mortalidade, faleceram em decorrência de doenças cardíacas e câncer. Analisando os questionários feitos pelos pesquisadores, constatou-se que essas pessoas tinham entre seus hábitos alimentares o consumo de bife, carne de porco, cordeiro e hambúrgueres.

Eles também comiam embutidos como bacon, cachorro-quente, salsicha e salame, entre outros. O estudo determinou que cada porção diária adicional de carne vermelha aumentou o risco de morte em 13%. O impacto subiu para 20% tratando-se de carne processada.

Na entrevista à Revista Globo Rural, Dráuzio Varella pontua que qualquer um tem o direito de ser vegetariano, mas que nem por isso evitará um ataque cardíaco, caso seja sedentário, tenha genética desfavorável, colesterol elevado e hábito de exagerar na comida. Bom, os vegetarianos e veganos que conheço não se veem como imune a todas as doenças do mundo, mas fazem o que está ao seu alcance para tentar evitá-las.

O vegetarianismo enquanto opção alimentar não é perfeito, e sabemos que há inúmeras variáveis, mas usar desse discurso para desconsiderar a dieta vegetariana é reverberar senso comum, já que ninguém está negando o fato de que sedentarismo e obesidade também podem ser prejudiciais para vegetarianos e veganos. No entanto, o que os estudos que mostram os malefícios do consumo de produtos de origem animal provam é que é mais fácil ser saudável não consumindo carne do que comendo. Ou seja, uma pessoa obesa que opta por uma dieta vegetariana tem mais chances de recuperar a própria saúde.

Outro artigo da Universidade Harvard, intitulado “Becoming a Vegetarian”, e publicado em outubro de 2009 e atualizado em 18 de março de 2016, explica que comparado com os consumidores de carne, vegetarianos tendem a consumir menos gorduras saturadas e colesterol, e mais vitaminas C e E. Também têm uma dieta mais rica em fibras, ácido fólico, potássio, magnésio, carotenoides e flavonoides.

Como resultado, eles têm níveis mais baixos de mau colesterol, pressão sanguínea mais baixa, e tudo isso pode ser associado à longevidade e redução do risco de muitas doenças crônicas. Em 2003, a Associação Dietética Americana (ADA) publicou um relatório afirmando que os vegetarianos têm 50% menos riscos de contrair diabetes, doenças cardíacas e amargar oscilações nos níveis de colesterol.

Outra citação de Drauzio Varella que merece atenção é a de que a carne é uma fonte maravilhosa de B12. Realmente, carne é uma fonte de B12, mas frisar que é uma fonte maravilhosa é algo contestável, porque dá a entender que o consumo de carne por si só sempre vai ser o suficiente para impedir a deficiência de vitamina B12, o que não é verdade.

O mito de que consumir carne sempre garante bons estoques de B12 foi derrubado em 2000, quando o Framingham Offspring Study, publicado pelo The American Journal of Clinical Nutrition, constatou que 39% dos participantes de uma pesquisa realizada com três mil homens e mulheres sofriam de deficiência de vitamina B12. A informação mais reveladora é que não foi percebida diferença entre quem consumia carne vermelha, aves, peixes ou nenhum desses alimentos.

A conclusão do estudo foi de que todos, vegetarianos ou não, devem fazer exames e, se necessário, consumir suplementos de vitamina B12. E quanto à carne ser uma grande fonte de ferro, é importante deixar claro que ela não é a única. Drauzio poderia ter citado também as leguminosas, castanhas, sementes, cereais integrais, couve, frutas secas e melado.

A minha intenção não é desmerecer o trabalho do médico oncologista Drauzio Varella, que é uma referência para tantos brasileiros, e com sua experiência e conhecimento trouxe luz a importantes debates ao longo de décadas. Porém, no que diz respeito ao vegetarianismo e à defesa do consumo de alimentos de origem animal, ele tem feito declarações, e não de hoje, ignorando todos os estudos que fazem oposição a uma dieta rica em proteínas de origem animal.

Fontes que comprovam que uma dieta vegetariana é mais saudável não faltam. Outro exemplo é a pesquisa “Vegetarian dietary patterns and mortality in Adventist Health Study 2”, da Universidade Loma Linda, referência em cardiologia, realizada com 70 mil pessoas nos Estados Unidos. Depois de seis anos, os pesquisadores concluíram que o número de morte entre vegetarianos foi 12% menor do que entre aqueles que consumiam carne.

Saiba Mais

O estudo “Comparison of Nutritional Quality of the Vegan, Vegetarian, Semi-Vegetarian, Pesco-Vegetarian and Omnivorous Diet”, concluído em 14 de março de 2014 por pesquisadores belgas concluiu que veganos têm os hábitos alimentares mais saudáveis.

O livro “The China Study” inspirou a criação do documentário “Forks Over Knives“, que conta a história do jornalista Lee Fulkerson, que teve a vida transformada depois de adotar uma dieta vegetariana.

Referências

http://revistagloborural.globo.com/Colunas/sebastiao-nascimento/noticia/2017/04/critica-carne-e-ideologica-diz-drauzio-varella.html

http://www.socakajak-klub.si/mma/The+China+Study.pdf/20111116065942/

http://www.health.harvard.edu/staying-healthy/becoming-a-vegetarian

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10648266

http://www.mdpi.com/2072-6643/6/3/1318

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23836264

https://www.andeal.org/vault/2440/web/JADA_VEG.pdf

http://www.mdpi.com/2072-6643/6/3/1318

 

http://tv.fusion.net/story/338095/last-year-americans-ate-meat-like-it-was-going-out-of-style-its-not/

 

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