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Sobre respeito, tolerância e diálogo

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Arte: Hayley Blanck

Há pessoas que estão sempre buscando salvadores, heróis, gurus ou pessoas que, numa idealização romanesca, concordem com elas em tudo, ou as representem em tudo. Mas ao sinal do primeiro defeito apresentado pelo objeto de reverência, surge uma exasperação por vezes incontrolável fundamentada em um excesso de expectativas que desconsidera a complexidade humana, a sujeição às contrariedades e as falhas naturalmente possíveis. Isso na minha opinião pode ser também um sintoma de uma carência superlativa.

Fala-se muito em tolerância, respeito ao outro, mas muitas vezes até mesmo quem prega esse discurso acaba por fomentar o sectarismo, externar intolerância, intransigência, incapacidade em lidar com opiniões que estão em conflito com a sua ou divergem da sua. Percebo muito isso no cotidiano, felizmente não muito fora da internet, mais frequentemente nas mídias sociais, e inclusive entre pessoas bem-intencionadas.

Há muitos casos em que não se trata apenas de não respeitar a opinião do outro, mas até mesmo odiar ou desprezar uma pessoa que jamais conheceu de fato. Chamar de defeito o fato de alguém não concordar com você não é exatamente defeito, porque a qualificação disso como defeito é uma constatação sua, pessoal, individual, não do outro. Afinal, qual é a baliza que define algo como defeito? Neste caso, a sua concepção de algo, o seu termômetro, e mesmo um ideal fementido e particular de perfeição, mestria, impecabilidade. E se sua defesa de algo é fundamentalmente tão justa, há justiça em atacar o outro?

Por isso parece um desafio na atualidade se abrir para o diálogo sem atacar ou ofender, sem se armar sob as intercessões passionais dos pré-conceitos e preconceitos. As pessoas vivem armadas e pouco racionalizam isso. Se calar para ouvir pode ser um desafio quando as palavras não nos agradam, mas é recompensador porque é a maior prova de que a cachimônia humana não abandonou o ser. Quem busca semelhanças o tempo todo, independente do quão boa seja a intenção, corre o risco de se inclinar sobre si mesmo e não perceber que o outro na realidade é apenas o seu próprio reflexo imutável e pulverizado, como um ouroboros distorcido. Logo sou da opinião de que o amadurecimento demanda diferenças.

Written by David Arioch

September 2nd, 2018 at 2:20 pm

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