David Arioch – Jornalismo Cultural

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O alto-falante do Palhacinho

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José Ferreira de Araújo foi o primeiro publicitário de Paranavaí

José Ferreira nos tempos da alfaiataria. É o segundo da esquerda para a direita (Foto: Reprodução)

Nos anos 1940, quando surgiram os primeiros pontos comerciais de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, decidiu investir em publicidade. Com um serviço de alto-falante, fez desde as mais simples até as mais inusitadas divulgações.

José Ferreira chegou a Paranavaí na época da Fazenda Brasileira, em 1944. Se surpreendeu com o que viu; um pequeno deserto no meio da mata primitiva. “Eu já imaginava que aqui era assim e vim por isso mesmo, atraído pelas caçadas e também com a intenção de ganhar a vida com mais facilidade, já que aqui eles davam terras devolutas”, disse Palhacinho em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas.

O pioneiro se fixou na Brasileira porque tinha fé no futuro. “Enfrentei tudo sem medo”, garantiu. Ao longo da vida, José Ferreira sempre destacou as dificuldades enfrentadas nas décadas de 1940 e 1950. “Logo que cheguei aqui eu não sabia o que fazer. Minha ideia era abrir uma alfaiataria que era o meu ramo, mas eu achava que não daria certo. Aqui não tinha freguês”, revelou.

Outro problema era a falta de capital para investir na terra que recebeu do Governo do Paraná. As despesas com derrubada de árvores e formação de sítio eram muito caras, acessíveis a poucos. “Foi aí que o Dorvalino Moreira, que tinha uma pensão onde eu estava hospedado, falou para eu comprar a hospedaria. Naquele tempo, eu estava desanimado e tinha muitos filhos para criar. Então fechei negócio”, relatou José Ferreira que encontrou na diversidade de serviços uma saída para sustentar a família.

Palhacinho começou a trabalhar com a pensão, a alfaiataria e também como fotógrafo. Depois vendeu um sítio e usou o dinheiro para viajar a Londrina, onde comprou um equipamento de alto-falante que foi instalado na Rua Getúlio Vargas, no cruzamento com a Rua Souza Naves. “Instalei o serviço aqui com 80 discos”, lembrou e destacou que o negócio era novidade no interior do Paraná.

Em Paranavaí, havia poucos estabelecimentos comerciais até o final da década de 1940, o que motivou José Ferreira de Araújo a fazer um acordo com a Inspetoria de Terras, de quem recebia para anunciar a venda de terrenos. O primeiro cliente a contratar o serviço de alto-falante de José Ferreira foi o pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, mais conhecido como Zé do Bar. “O único comércio da cidade era dele, então eu fazia os anúncios”, explicou Palhacinho.

O serviço de alto-falante ficava na Rua Getúlio Vargas (Foto: Reprodução)

O primeiro slogan

O primeiro slogan do pioneiro da publicidade em Paranavaí dizia o seguinte: “Quer trocar dinheiro? Zé do Bar! Quer tomar uma geladinha dentro do poço? Zé do Bar!” “No começo, foi difícil porque tinha poucas casinhas aqui. Mas fui indo, falando e trabalhando. Eu também contava piadas e anedotas. As pessoas se divertiam”, enfatizou.

Em 1948, Palhacinho e outros pioneiros começaram a construir o primeiro cinema local (Foto: Reprodução)

O serviço de alto-falante também era usado para contar histórias e divulgar notícias. José Ferreira fez muitos anúncios de animais perdidos e encontrados, principalmente cavalos. “A coisa melhorou em 1946. Era uma barulheira de martelo dia e noite. Todo mundo construindo casas e tendo como fontes de luz apenas lampião, farolete e a Lua”, salientou.

Tinha ainda o barulho de sarilho por causa dos muitos poços de água que foram abertos na época. O movimento de pessoas em Paranavaí cresceu e o comércio também. “Tudo isso animava a gente”, comentou. Em 1948, Araújo fez uma parceria com os pioneiros João Machado e Raimundo Leite. Juntos, fundaram o primeiro cinema local, o Cine Theatro Paramounth, na Rua Marechal Cândido Rondon. “Fui até Maringá para aprender a passar filmes”, declarou.

Frase do pioneiro José Antonio Gonçalves

“As pessoas passavam nas esquinas para ouvirem as músicas do alto-falante do senhor Zequinha.”

O saudoso Líder Bar

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Muitos bailes foram realizados no bar nos anos 1940

Muita gente ia ao bar só para comprar broa dos catarinenses (Foto: Reprodução)

Entre os bares mais antigos e já extintos de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o destaque é o Líder Bar, um dos estabelecimentos mais frequentados pela população nas décadas de 1940, 1950 e 1960. O local foi até cenário de bailes e festas.

O Líder Bar, construído pelo pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, conhecido como Zé do Bar, se situava na Avenida Paraná, perto da atual Cacau Brasil. Lá, os catarinenses começaram a comercializar broas de fubá feitas em Graciosa.

O alimento fez muito sucesso numa época em que não havia pão na colônia. “Naquele tempo, o Centro ia da esquina do Banespa [onde se situa a Cacau Brasil] até o Banco Bradesco”, contou o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira em entrevista publicada no livro “História de Paranavaí”, de Paulo Marcelo Soares da Silva, acrescentando que o Líder Bar ficava na área mais movimentada da cidade.

O estabelecimento era conhecido como ponto de reunião de moradores das mais diversas faixas etárias. No período da noite, era mais frequentado por homens, principalmente chefes de família que se reuniam para conversar sobre o cotidiano, futebol e política. Todos os ônibus paravam lá, até mesmo outros tipos de conduções. Os veículos de transporte coletivo ajudavam a levar mais fregueses ao bar. Muitos dos que desciam no ponto, dependendo do horário, já ficavam no bar ou pelo menos paravam para comprar algo.

A popularidade do Líder Bar era tão grande que muitas vezes o lugar foi cenário de bailes, principalmente em 1946, quando não havia quase entretenimento na colônia. As festas no bar sempre inspiravam confraternização, pois conseguia reunir boa parte da população, das mais diferentes etnias. Em vez das músicas que tocavam no rádio, os próprios moradores improvisavam. Quem tinha um instrumento musical e sabia como executá-lo sempre se juntava aos demais. “Isso só mudou depois, quando surgiram os clubes”, declarou o pioneiro José Ferreira de Araújo.

O Bar Líder era um dos poucos estabelecimentos de Paranavaí que tinha um gerador de energia. “Trabalhei com esse bar de 1945 a 1952. Daí vem o apelido Zé do Bar”, destacou o pioneiro José Alves de Oliveira que se mudou com a família para Paranavaí em abril de 1945. Foi incentivado pelo pai que disse que a colônia se tornaria uma cidade de grande futuro.

No local onde se situava o Líder Bar, antes havia uma casa de propriedade do pioneiro Dorvalino Moreira que pouco tempo depois a vendeu. “O lugar virou Bar do Abílio. Mas ele ficou com o bar apenas cinco meses. Aí então apareceu o José Alves de Oliveira que se hospedou na minha pensão e comprou o bar”, enfatizou José Ferreira. O local ficou conhecido como “Zé do Bar” até receber o nome de Líder Bar.

Saiba Mais

O primeiro bar de Paranavaí era de propriedade de Zeca Machado e se situava onde é hoje o Banco do Brasil.

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