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Ex-vice-presidente do Citibank vai falar hoje sobre veganismo em conferência sobre a fome mundial
Wollen: “Os direitos animais são a maior questão de justiça social desde a abolição da escravidão”
O ex-vice-presidente do Citibank, o australiano Philip Wollen, que também é filantropo e ativista dos direitos animais, foi convidado para ser o principal orador da conferência mundial “Um Futuro Além da Fome Mundial e Outras Crises”, que vai ocorrer no Parlamento Europeu hoje a partir das 13h30.
Entre os assuntos que serão abordados estão o que pode ser feito para alimentar a crescente população mundial, mudanças climáticas, degradação do meio ambiente, superexploração dos recursos naturais, consumo de carne e exploração animal. Na ocasião, Wollen vai falar sobre como o veganismo pode contribuir para mudar esse cenário.
De acordo com o Intergrupo em Bem-Estar e Conservação Animal do Parlamento Europeu, o formato interativo do evento vai permitir que o público e os palestrantes se engajem em uma discussão aberta e desenvolvam não apenas soluções, mas também estratégias para superar a resistência social e política à mudança.
Em abril deste ano, Philip Wollen, que é membro honorário do Centro de Ética Animal da Universidade Oxford, na Inglaterra, participou de um vídeo da Kindness Production afirmando que os direitos animais são a maior questão de justiça social desde a abolição da escravidão.
“Na história humana, apenas 100 bilhões de seres humanos viveram, sete bilhões estão vivos hoje e ainda torturamos e matamos dois bilhões de animais sencientes por semana. É hora de todo cidadão educado, esclarecido e responsável abandonar a carne e as drogas lácteas”, defende.
Maiores fornecedores de proteína animal não estão reduzindo as emissões de gases do efeito estufa
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público”
Um novo indicador de sustentabilidade global divulgado esta semana revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios não estão conseguindo gerenciar efetivamente as contribuições às mudanças climáticas, colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa. O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), sediada em Londres.
O indicador, que serve como referência para investidores, avaliou as 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart. A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores. Tudo isso é apontado como bastante problemático para o meio ambiente.
Tratando-se especificamente de emissões de gases do efeito estufa, o percentual é ainda mais preocupante – 72%. Apenas uma das empresas que compõem o indicador conseguiu atingir pontuações consideráveis na redução de emissões. “Está claro que as indústrias de carne e laticínios permaneceram fora do escrutínio público em relação ao seu significativo impacto climático. Para que isso mude, essas empresas devem ser responsabilizadas pelas emissões e devem ter uma estratégia confiável e verificável de redução de emissões”, disse ao The Guardian a diretora do Instituto Europeu de Agricultura e Política Comercial, Shefali Sharma.
No total, segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de GEE, o que é apontado como um risco ao Acordo de Paris. O FAIRR destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas, ou seja, de origem não animal, é fundamental tanto para o gerenciamento dos riscos da cadeia de suprimentos com restrição de recursos quanto para aproveitar as oportunidades de crescimento do mercado. Ou seja, essas empresas precisam investir menos em alimentos de origem animal e mais em alimentos de origem vegetal.
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público porque pagamos por sua poluição ambiental, custos de saúde pública que não são contabilizados em seu modelo de negócios. É aí que os governos precisam intervir”, enfatiza Sharma.
Referências
The Coller FAIRR Protein Producer Index. Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR)
Segundo estudo da Universidade de Oxford, não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta
“Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”
Um estudo intitulado “Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers”, publicado na conceituada revista Science, conclui que não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta.
Considerada pelo jornal britânico The Guardian como a maior análise já feita sobre os efeitos da produção agrícola, a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que reuniu dados de quase 40 mil fazendas que produzem 40 produtos agrícolas em 119 países, informa que 80% das áreas agrícolas do mundo são destinadas à criação de animais para consumo.
A atividade, que segundo o trabalho têm grandes consequências se tratando de alocação de terras e uso de água doce, é responsável por 58% das emissões de gases do efeito estufa, 57% da poluição da água e 56% da poluição do ar. A pesquisa, disponibilizada no site da revista Science, enfatiza que o impacto pode variar em até 50 vezes entre os produtores de um mesmo produto, criando oportunidades substanciais de mitigação.
No entanto, mesmo que os produtores de alimentos de origem animal se esforcem para alcançar baixos impactos ao longo da cadeia de produção e fornecimento, a redução ainda é limitada, de acordo com os cientistas. Isto porque “o impacto dos produtos de origem animal de menor impacto normalmente excede os dos seus substitutos de origem vegetal, fornecendo novas evidências para a importância da mudança na dieta” — explica.
Em entrevista ao The Guardian, o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, disse que “uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir o impacto no planeta, não apenas por causa dos gases do efeito estufa, mas também por causa da acidificação global e eutrofização, além do uso de terra e água.”
O estudo também comparou o impacto da produção de carne bovina com a proteína baseada em vegetais e revelou que até mesmo a carne orgânica ou considerada sustentável pode requerer 36 vezes mais terra e gerar seis vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que a produção de ervilhas.
Poore frisa que, para quem se preocupa com o meio ambiente, é muito melhor abdicar do consumo de alimentos de origem animal do que reduzir viagens de avião ou comprar um carro elétrico: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problemas. Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”.
Jane Goodall: “Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos”
“Parei de comer carne há 50 anos, quando olhei a costeleta de porco em meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte”
Considerada uma das mais importantes primatólogas do nosso tempo, a britânica Jane Goodall, que também é etóloga e antrópologa, teve papel determinante no século 20 no avanço de estudos envolvendo a capacidade de aprendizagem social e raciocínio de chimpanzés e babuínos.“Parei de comer carne há 50 anos, quando olhei a costeleta de porco em meu prato e pensei: isso representa medo, dor e morte. Feito, me tornei vegetariana instantaneamente”, contou Jane Goodall em artigo publicado em seu site no dia 28 de abril. Para a primatóloga, um grande e nobre motivo para não consumirmos carne é a contrariedade à exploração animal, a rejeição ao sofrimento imposto arbitrariamente aos seres não humanos.
Ela citou como outra importante razão o impacto causado pela produção de carne ao meio ambiente – incluindo a contribuição às mudanças climáticas. “A maioria das pessoas não percebe a indescritível crueldade sofrida pelos animais […]. E aqueles que sabem, não se importam. As pessoas me dizem que os animais são criados para tornarem-se comida – como se isso significasse que eles não são mais seres sensíveis. Outros me pedem para não falar sobre isso, porque eles ‘amam os animais e são muito sensíveis’ – [pedem isso] para que possam comer porcos, bois e vacas sem sentirem culpa”, lamentou.
Em 14 de janeiro de 2016, Jane Goodall concedeu uma entrevista ao Democracy Now, e disse que assim como não comeria seu cachorro, não seria capaz de comer a carne de outros animais. “Sou vegetariana porque, você sabe, respeito os animais. Sei que todos eles são indivíduos”, declarou e acrescentou que porcos são animais mais inteligentes do que muitos cães.
Jane destacou que vê com estranheza quando alguém diz que não acredita que o mundo está passando por mudanças climáticas em decorrência da displicência humana em relação aos animais e ao meio ambiente. “Esse vasto impacto está sendo causado pela agropecuária. E a fim de alimentar bilhões e bilhões de bois, vacas, porcos, frangos, galinhas. Mesmo que você não se importe com a crueldade, mesmo que se recuse a admitir que esses indivíduos têm sentimentos, que sentem dor e têm emoções, você tem que admitir que grandes florestas são destruídas para cultivar grãos para alimentá-los. A pecuária está transformando florestas em pasto”, reclamou em entrevista ao Democracy Now. No artigo publicado no dia 28 de abril, Jane Goodall citou as secas causadas pelas mudanças climáticas na África Subsaariana. Relatou que a região está se tornando um deserto com grandes áreas suscetíveis à erosão:
“Quantidades enormes de água estão sendo desperdiçadas para transformar a proteína vegetal em proteína animal. […] Os aquíferos subterrâneos também estão diminuindo e se tornando poluídos, e frequentemente por causa do escoamento de produtos químicos agrícolas ou por causa das ‘lagoas’ de resíduos produzidos pelos próprios animais [criados para consumo]. Precisamos considerar a grande quantidade de metano gerada pelo sistema digestivo dos animais, especialmente os bovinos – um gás com efeito estufa muito mais potente do que o CO2. As grandes quantidades de combustíveis fósseis utilizados para manter toda a produção industrial de carne estão aumentando absurdamente os gases do efeito estufa.”
Além desses apontamentos e críticas, há muito tempo Jane Goodall qualifica a dieta vegetariana como mais benéfica para a saúde. Costuma citar a si mesma como exemplo, argumentando que assim que parou de se alimentar de animais, imediatamente sentiu-se melhor e mais leve. “Muitas pessoas me disseram o mesmo”, afirmou em seu artigo. Ao abordar os malefícios do consumo de carne, Jane apresentou como referência os estudos da Harvard Medical School e do Science Daily – que relacionou o alto consumo de carne na atualidade com o aumento da obesidade:
“Alguns dos hormônios e outros suplementos alimentares dados aos animais para aumentar a taxa de crescimento podem ter impacto sobre nós. Os antibióticos agora são fornecidos regularmente para manterem vivos os animais [criados para consumo] em condições de lotação e depressão. Inevitavelmente, as bactérias estão se tornando mais resistentes, e pessoas têm morrido em decorrência de simples infecções que não responderam aos antibióticos usados para curá-las.”
Jane Goodall defende que há muitas razões para uma pessoa se tornar vegetariana ou vegana, e sempre que possível pede encarecidamente para que reflitam a respeito: “Continuo pedindo que as pessoas considerem o que essa escolha realmente significa em um nível moral para os animais e o meio ambiente. É a escolha de mudar nossas vidas, o que por sua vez trará enormes benefícios para toda a humanidade e todas as outras criaturas com quem compartilhamos a nossa casa.”
Saiba Mais
Jane Goodall nasceu em Londres, na Inglaterra, em 3 de abril de 1934. Ao longo de sua carreira, recebeu dezenas de prêmios, títulos e homenagens. O primeiro prêmio foi o World Wildlife Award for Conservation em 1980, e o mais recente foi o International Cosmos Prize em 2017.