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Movidos pela ganância
O Falcão Maltês, o primeiro filme do gênero noir
Lançado em 1941, The Maltese Falcon (O Falcão Maltês), do cineasta estadunidense John Huston, é o precursor dos filmes do gênero noir. A obra apresenta personagens imorais e traiçoeiros envolvidos em uma trama que tem como elemento central a procura de uma estátua de ouro coberta por pedras preciosas.
Com estética influenciada pelo cinema expressionista alemão – principalmente no uso de iluminação que privilegia as sombras do ambiente e ressalta a expressividade hermética dos atores, levando o espectador a divagar pelo submundo, o Falcão Maltês entrou para a história do cinema como o primeiro filme noir.
Sem personagens idealizados ou mergulhados em pureza surreal, a obra apresenta um universo realista pautado em defeitos como insegurança, cinismo, hipocrisia, ganância e falsidade. Em O Falcão Maltês, o solitário detetive Sam Spade (Humphrey Bogart) é o maior exemplo da desconstrução de um herói, um protagonista cínico e ganancioso que quando bem pago não mede esforços para concretizar qualquer objetivo.
Na obra, o detetive e seu parceiro Miles Archer (Jerome Cowan) conhecem Brigid O’Shaughnessy (Mary Astor), uma femme fatale que usa mais a sensualidade e a beleza do que o dinheiro para persuadir homens a ajudarem-na. Brigid contrata a dupla para descobrir o paradeiro da irmã que foi vista pela última vez com um homem chamado Thursby. Logo no início da investigação, Archer é assassinado.
Pouco tempo depois, o espectador descobre que Sam Spade tinha um caso com a mulher de Miles. Envolvido na trama criada por Brigid – que na realidade queria saber a localização de Thursby, um dos envolvidos no roubo do Falcão Maltês, a estátua de ouro coberta de jóias, o detetive decide ir até o fim movido pela ambição e desejo de fazer justiça pela morte do amigo. Os dois elementos confirmam a dualidade e a hipocrisia sempre presente no personagem. Spade mistura honra e dinheiro como se um fosse intrínseco ao outro.
Também é destacável o enaltecimento da figura masculina a partir da personalidade do detetive. Quando Spade conhece os criminosos Joel Cairo (Peter Lorre), Wilmer Cook (Elisha Cook Jr.) e Kasper Gutman (Sydney Greenstreet) – que demonstram certo desvio de sexualidade, ele se sente mais confiante em seu desígnio. O investigador machista crê que a exacerbação da masculinidade lhe garante vantagens sobre os “vilões”. O Falcão Maltês é um filme sobre personagens desiludidos que evitam emoções e estão acostumados a apelar para a farsa.
Quando a bondade não tem vez
Lançado em 1956, The Killing, conhecido no Brasil como O Grande Golpe, é um filme noir do cineasta estadunidense Stanley Kubrick. A obra multifacetada apresenta um universo de vilania onde a benevolência não tem vez.
A história começa destacando o mau-caráter Johnny Clay (Sterling Hayden), um ex-detento ambicioso que planeja roubar U$ 2 milhões dos cofres de um hipódromo enquanto o público e os funcionários se distraem com a corrida de cavalos.
Clay forma uma equipe de homens infelizes e desprezíveis, interpretados por Ted de Corsia, Elisha Cook Jr., Timothy Carey, Kola Kwariani e Joe Sawyer, que mantêm algum tipo de vínculo com o local do roubo. Cada personagem representa uma peça-chave para o êxito do crime. Há um policial corrupto, um caixa do hipódromo, um atirador de elite, um lutador e um barman.
Em meio a tantas articulações para o tão sonhado roubo, surge um imprevisto, a chegada da gananciosa, infiel e traiçoeira Sherry (Marie Windsor), mulher do submisso George Peatty (Elisha Cook). A participação da persuasiva Sherry é o fermento da inimizade entre os integrantes do bando. Com apoio de um amante, ela planeja ficar com toda a grana.
The Killing se popularizou como um dos filmes de suspense policial mais respeitados pela crítica mundial. No clássico, Kubrick cria um mundo acinzentado, onde o dinheiro está acima de tudo, e com ele traz à superfície um escopo de devassidão, imoralidade, corrupção, luxúria e cinismo. Vale lembrar que no decorrer da trama o cineasta deixa transparecer as influências do cinema europeu.