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Quando William Faulkner trabalhou em Hollywood
O escritor só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte

Entre idas e vindas, o escritor trabalhou em Hollywood ao longo de 20 anos (Cortesia de Robert Hamblin, Center for Faulkner Studies, Southeast Missouri State University)
Em 7 de maio de 1932, William Faulkner chegou a Hollywood para atuar como roteirista, um trabalho que entre idas e vindas durou 20 anos. Na época o escritor estadunidense estava com apenas 34 anos e já tinha publicado quatro de suas novelas baseadas no Condado de Yoknapatawpha, incluindo The Sound and the Fury (O Som e a Fúria) e As I Lay Dying (Enquanto Agonizo).
Embora ainda estivesse distante de se tornar popular, Faulkner foi considerado por seus pares como o mais talentoso dos jovens escritores dos Estados Unidos. Àquela altura, ele tinha vivido a maior parte de sua vida em Oxford, Mississippi, e recentemente havia se casado e comprado a velha mansão Rowan Oak, de inspiração neogrega e construída antes da Guerra de Secessão.
Faulkner não era um homem sociável, nem gostava de trabalhar em equipe. O que o fez aceitar o contrato de 500 dólares por semana oferecido pela MGM foi uma experiência que ele teve em uma loja de artigos esportivos, onde o balconista se recusou a receber um cheque dele no valor de três dólares.
Depois que o escritor alegou que sua assinatura ainda valeria mais do que isso, o dono da loja se aproximou e disse a toda a sua equipe para não permitir que o jovem Faulkner pagasse por nenhum artigo que o interessasse. De acordo com o biógrafo Joseph Blotner, os primeiros dias de Faulkner em Hollywood foram incríveis.

Faulkner: “Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um” (Foto: Reprodução)
Em um sábado, ele se aproximou do seu chefe, Sam Marx, e o homem logo percebeu que o escritor cheirava a álcool e tinha um corte na cabeça. Então Faulkner explicou que ele foi atingido por um táxi quando estava trocando de trem em Nova Orleans. Apesar de tudo, justificou que se sentia bem e queria começar o seu trabalho corretamente.
“Nós vamos colocá-lo em uma foto com o Wallace Beery”, disse Marx. Confuso, Faulkner perguntou quem era o sujeito. “Eu tenho uma ideia de quem seja o Mickey Mouse”, comentou o escritor, recebendo a explicação de que os filmes do Mickey Mouse são feitos nos estúdios da Disney.
Em seguida, Sam Marx pediu que o seu office boy levasse Faulkner até a sala de projeção para ver Beery atuando como um pugilista em The Champ, de King Vidor, e no recente Flesh, de John Ford, em que Wallace interpreta um lutador alemão. Faulkner se recusou a assisti-los e preferiu bater um papo com o office boy.
Quando o escritor perguntou se o garoto tinha um cachorro, ele respondeu que não. Faulkner estranhou e enfatizou que todo garoto deveria ter um cão. “Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um”, insistiu. Sem muita demora, Faulkner saiu da sala de projeção justificando que sabia o final da história.
Quando Marx foi informado que o escritor já tinha saído do estúdio, ele iniciou uma busca sem sucesso. William Faulkner só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte. “Mas agora já estou pronto para o trabalho”, garantiu.
A atuação de Faulkner como roteirista incluiu também adaptações de To Have and Have Not (Uma Aventura na Martinica), de Ernest Hemingway, e The Big Sleep (À Beira do Abismo), de Raymond Chandler. Muitos aspectos de sua vida em Hollywood foram incorporados ao filme Barton Fink, dos Irmãos Coen, lançado em 1991.
No outono, o escritor retornou para sua casa em Oxford, Mississippi, onde corrigiu as provas tipográficas do seu novo romance gótico sulista – Light in August (Luz em Agosto) enquanto comia melancia e assistia a chuva caindo ao redor da varanda. Com o dinheiro que ganhou da MGM, fez importantes reparos na mansão Rowan Oak.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1974.
Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1984.
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Hermann Hesse e a política
“A política implica em tomar partido e ser partidário se opõe ao humanitarismo”

Hesse deixou claro que sua identidade de escritor o impedia de se ver como alguém engajado politicamente (Foto: Hermann Hesse Stiftung)
Ao contrário de muitos escritores, o célebre autor alemão Hermann Hesse jamais se envolveu com política partidária. Em 1917, quando tinha 40 anos, e influenciado pelo contexto da época, Hesse deixou claro que sua identidade de escritor o impedia de se ver como alguém engajado politicamente, na literalidade. “Minha tentativa de desenvolver um gosto por assuntos políticos fracassou”, escreveu em carta que integra o acervo da Hermann Hesse Stiftung.
Ainda assim, anos antes, em 1912, o escritor alemão já não estava satisfeito com os rumos do Império Alemão, sob comando do kaiser Guilherme II, e decidiu se tornar o primeiro emigrante voluntário do país, mudando-se para a Suíça – um desejo também reforçado por conflitos familiares abarcando religião.

“Humanitarismo e política, é praticamente impossível servir as duas ao mesmo tempo” (Foto: Hermann Hesse Stiftung)
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, Hesse recebeu inúmeros convites para assumir cargos políticos na República Soviética da Baviera (Räterepublik) – todos foram declinados. Mais tarde, questionado sobre o motivo de jamais ter aceitado uma das ofertas, ele justificou: “Não me identifico com a política. Caso contrário, eu teria me tornado um revolucionário. Não tenho nenhum outro desejo em vida que não seja encontrar o meu próprio caminho, a minha espiritualidade.”
No entanto, segundo o escritor alemão Paul Noack, estudioso das obras de Hesse, isso não é motivo para criticá-lo, já que ele não era apolítico. A maior prova disso foi o seu comprometimento com a humanidade e o humanitarismo. “Humanitarismo e política são questões mutuamente exclusivas. Ambos são necessários, mas é praticamente impossível servir aos dois ao mesmo tempo. A política implica em tomar partido e ser partidário se opõe ao humanitarismo”, argumentou Hesse, um defensor da paz.
No início da Primeira Guerra Mundial, de acordo com informações da Hermann Hesse Stiftung, o escritor resistiu como um dos poucos intelectuais alemães que não se deixou levar pelo entusiasmo geral da guerra. Inclusive, entre 1914 e 1918, Hermann Hesse publicou dúzias de ensaios criticando as beligerâncias em jornais de língua alemã. Se engajou tanto em causas humanitárias que em 1915 ajudou a criar em Berna, na Suíça, um centro de bem-estar para prisioneiros de guerra.
Um dos primeiros críticos do nazismo, viu seus livros serem qualificados pelo Terceiro Reich como “indesejáveis”. Não chegaram a ser banidos da Alemanha, mas deixaram de ser publicados no país. Quem também se juntou a Hermann Hesse na época foi o ilustre Thomas Mann – autor de clássicos como “A Montanha Mágica”, “Os Buddenbrooks” e “Morte em Veneza”. Além disso, Hesse ajudou financeiramente muitos refugiados alemães.
No final da Segunda Guerra Mundial, tentando se valer do prestígio do escritor, a União Soviética, os Estados Unidos e a Inglaterra tentaram convencê-lo a se envolver na coordenação de uma ofensiva de paz. “Eu não sou amigo da guerra e não sou amigo dos Estados Unidos. Também não sou amigo da mentira e do uso de meios impróprios nas lutas políticas. Eu não lutaria nem por Truman nem por Stalin”, garantiu. E manteve a palavra até o dia 9 de agosto de 1962, quando faleceu aos 85 anos, em Montagnola, na Suíça.
Saiba Mais
Hermann Hesse é conhecido por obras como “O Lobo da Estepe”, “Sidarta”, “Demian”, “Narciso e Goldmund”, “Peter Camenzind” e “O Jogo das Contas de Vidro”,
No dia 14 de novembro de 1946, o escritor foi contemplado com o Prêmio Nobel de Literatura.
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Memorial do Alto Tietê, um manifesto de tudo que somos
Sem melodrama, Antonio Neto emociona e faz refletir sobre a difícil realidade dos jovens da periferia

Memorial do Alto Tietê é uma obra sobre a vida, a importância de sentir a própria existência (Imagem: Divulgação)
Em Memorial do Alto Tietê, o escritor paulista Antonio Neto, radicado em Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, é autor e personagem em fragmentos bem estruturados que versam sobre várias etapas da sua vida, mas principalmente a infância. Sem precisar decair para o melodrama, emociona e ao mesmo tempo faz refletir sobre a difícil realidade dos jovens da periferia. A partir de histórias curtas, cândidas e ao mesmo tempo analíticas, o autor desvela a hipocrisia de uma sociedade mergulhada em pré-conceitos e preconceitos.

Em junho de 2015, Antonio Neto me convidou para escrever o prefácio do seu livro de crônicas (Fotos: David Arioch)
E faz tudo isso num misto de criança e adulto norteado pelo requinte literário, descritivo e memorial. O grande diferencial de Antonio Neto subsiste na simplicidade da linguagem, no ato de se lançar como um espírito livre, na apresentação dos acontecimentos e das impressões de que um passado distante não está tão longe assim se o leitor observar o que acontece nas periferias das pequenas e grandes cidades, onde a vida acontece em um ritmo diverso, adverso e peculiar.
A relação de afeto com a família, os amigos e as coisas da nostalgia humana são costuradas sob uma perspectiva que permite uma compreensão universal. O peso de algumas histórias é contrabalanceado com a leveza de outras. O autor também evidencia e celebra a maturidade humana ao olhar para o passado com uma sensibilidade peculiar, sem nutrir rancor, amarguras ou desprezo.
É justo e essencial dizer que Memorial do Alto Tietê é um livro sobre a vida, a importância de sentir a própria existência, se arriscar e aceitar que o ser humano pode tanto ser resultado de um meio quanto da realidade, talvez até onírica, que cativa dentro de si mesmo. Se apresenta como um manifesto de tudo que somos e podemos ser se nos apegarmos ao que nos move e nos comove.
Nas 19 crônicas da obra, Antonio Neto se entrega em extensão, convida o leitor a mergulhar no passado, sentir a própria essência, se enxergar sem melindre, aprender a conviver com as alegrias, as tristezas, as perdas, as realizações e as decepções. Tudo isso se soma num convite atemporal para o ser humano se esforçar em semear a empatia e entender que o que somos hoje não merece ser dissociado do que fomos no passado. A vida deve ser vivida e celebrada em aceitação. O livro está à venda na livraria da Editora Penalux (editorapenalux.com.br/loja) por R$ 32.
Saiba Mais
Em junho de 2015, o premiado escritor Antonio Neto, que conheci durante o bate-papo com autores no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) de 2014, me convidou para escrever o prefácio (disponibilizado integralmente logo acima) de “Memorial do Alto Tietê”. Foi uma grande e feliz surpresa. Afinal, é muito gratificante ser convidado a produzir o texto de abertura de um livro, até porque essa missão só é dada a alguém em quem confiamos a compreensão de nossos sentidos literários. Além disso, o que corrobora mais ainda tal importância é o fato de que é hábito antigo do leitor o ato de ler o prefácio antes de mergulhar na obra. Antonio Neto, muito obrigado pelo convite e confiança!
Elia Kazan, genialidade e macartismo
Elia Kazan, um genial e polêmico artista, sempre lembrado pelas suas obras, emblemas do realismo socialista norte-americano. Foi acusado de entregar colegas de trabalho no período negro do macartismo. Quando morreu, aos 94 anos, já não gozava do prestígio do auge da carreira eternizada por películas inesquecíveis como A Streetcar Named Desire (Uma Rua Chamada Pecado), joia de 1951.
Nos anos 1990, Kazan, um turco de origem grega que adotou os Estados Unidos como lar, foi alvo de críticas severas de atores conceituados como Sean Penn, Ed Harris, Richard Dreyfuss, Holly Hunter e Nick Nolte pelo que fez no passado. Até hoje há controvérsias sobre a contribuição de Kazan à lista negra do Comitê de Investigação de Atividades Anti-Americanas do Senado dos Estados Unidos. Partiu, mas deixou um legado que influenciou o cinema de Francis Ford Coppola, John Cassavetes e Martin Scorsese.
Para muitos, um ótimo cineasta, para outros, um traidor; pra mim, também um bom escritor, autor de “America, America”, um livro tornado filme que conheci acidentalmente em um sebo.
Sobre H.P. Lovecraft
O escritor estadunidense H.P. Lovecraft é uma das minhas principais referências da literatura do horror, assim como Edgar Allan Poe. Sem dúvida, o gênero deve muito a ele. O próprio cinema de terror não seria o que é hoje se não fosse pela criatividade de Lovecraft, o Mestre Cthulhu reverenciado até mesmo por uma infinidade de bandas espalhadas pelo mundo.
H.P. é um autor que faz parte de todas as fases da minha vida: infância, pré-adolescência, adolescência e fase adulta. Sem Lovecraft, não teríamos uma infinidade de obras literárias, filmes e músicas que fazem referência ao intrigante Necronomicon, O Livro dos Mortos, além de outras criações fantásticas. O preciosismo e realismo de suas obras, embora fantasiosas, há quase 90 anos estimulam pessoas de todas as partes a procurarem o Necronomicon de Abdul Alhazred, escrito em 730 d.C, de acordo com o conto “The Hound”. É uma pena que H.P. Lovecraft tenha morrido com apenas 46 anos.
Hermann Hesse se correspondia com mais de seis mil leitores
Embora ostracista, o escritor alemão Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1946, se correspondia com pessoas do mundo todo. Às vezes, mais de 1/3 do seu dia era dedicado a responder cartas. Ao longo da vida, recebeu mais de 20 mil correspondências de mais de seis mil remetentes de 100 países, segundo o Arquivo Suíço de Literatura. Todas foram respondidas por Hesse que curiosamente não gostava de visitas. O escritor é famoso por obras que se tornaram clássicos da literatura mundial, como “Demian”, “Sidarta”, “O Lobo da Estepe”, “Narciso e Goldmund” e “O Jogo das Contas de Vidro”.
“A recepção cultural começa no feto”
Domingos Pellegrini fala sobre o poder da oralidade e da leitura na construção da identidade humana
Autor de inúmeras obras literárias premiadas, entre as quais “O Caso da Chácara Chão” e “O Homem Vermelho” que venceram o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, o londrinense Domingos Pellegrini é o escritor de todos os públicos, pois seus livros, sejam infanto-juvenis ou romances, falam com a humanidade, independente de estar representada numa figura infantil ou adulta.
Pellegrini já trabalhou como jornalista, publicitário e professor universitário, porém, há quinze anos, mesmo sem ter certeza do que o futuro lhe reservava, tomou a decisão de se dedicar ao que admite ser um dom, a criação de histórias que nascem regionais e se universalizam, brindando o leitor com um sentimento de pertencimento. Um exemplo é a obra “Terra Vermelha” que gira em torno de uma família de colonos pés-vermelhos de Londrina, numa ficção embutida de realidade que carregada de humanismo sensibiliza e desperta identificação até mesmo num camponês de uma vila islandesa.
Detentor de um estilo de escrever peculiar, claro e simplificado, mas que sempre propõe profusão reflexiva, uma subjetiva influência de escritores como o estadunidense Ernest Hemingway e os brasileiros Graciliano Ramos e Manuel Bandeira, Domingos Pellegrini é na atualidade um dos escritores mais respeitados e bem sucedidos do Brasil. Em outubro, o autor lança sua mais recente obra: “Herança de Maria”.
No dia 28 de abril, quinta-feira, às 15h, tive a oportunidade de entrevistar Pellegrini no Grande Hotel, na Rua Getúlio Vargas, em Paranavaí. O escritor se preparava para participar à noite do projeto “Autores e Ideias”, do Serviço Social do Comércio (Sesc), na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, onde dividiu o palco com a mineira Angela Lago, renomada escritora e ilustradora de literatura infantil.
Espontâneo e bem-humorado, Domingos Pellegrini transformou a entrevista em um diálogo informal com caráter de bate-papo, e tudo foi acompanhado pelo fotógrafo, artista e diretor cultural da Fundação Cultural de Paranavaí, Amauri Martineli, e também pelo artista e técnico em atividade do Sesc, Dorival Torrente. Pellegrini falou sobre muitos assuntos ao longo de mais de uma hora, como a importância da contação de histórias na infância, internet, literatura e democratização do ensino. Confira alguns trechos logo abaixo.
Levando em conta que a sua vinda a Paranavaí foi motivada por uma discussão sobre a contação de histórias e a literatura infanto-juvenil, como o senhor avalia a relação entre a descoberta do mundo na infância e a oralidade?
Eu vejo que a história oral para crianças é muito importante porque a recepção cultural começa no feto. A partir do nascimento, uma simples cantiga de ninar já começa a ditar nossas emoções e comportamentos. Com uma música de rock a criança se agita e com uma música clássica ela se acalma. Com base nisso, percebemos que a voz humana encanta e nada substitui isso, é o poder da oralidade. Quer se sentir bem? Pegue uma criança e leia para ela, isso afasta qualquer emoção ou sentimento negativo.
Partindo da ficção literária, até que ponto a oralidade contribui no processo civilizatório?
A própria contação de história é uma ação civilizatória. Quando a criança ouve um conto, nasce um sentimento de pertencimento. Ela se sente parte de uma sociedade, reconhece a sua própria língua e depois percebe que é capaz de inventar e criar. A fogueira em volta da qual as pessoas se reuniam no passado para contar histórias ainda existe, é o abajour de hoje. Cada vez mais o mundo precisa de contadores. Se o Wellington [Menezes de Oliveira], que cometeu aquele massacre no Rio de Janeiro, tivesse alguém que lhe contasse histórias, ele não se tornaria uma pessoa tão solitária, nem cometeria aquele ato.
Em um contexto sócio-cultural, o que representa o contador de histórias nos dias de hoje?
Hoje em dia, ser contador de histórias é uma profissão que exige imaginação, talento e ética, pois até os quatro anos de idade tudo que a criança absorve é a partir da oralidade. Quando ela pisca é como se virasse a página de um livro mental em um clima de cumplicidade e magia criado a partir da voz. Quanto mais uma criança ouve histórias, mais os seres imaginários são absorvidos como parte da família humana. Pelo fato de sermos os únicos animais que fazem arte de forma intencional é importante despertar logo cedo a identificação com a humanidade.
A atual literatura infanto-juvenil desempenha bem a missão de proporcionar a criança uma leitura que a permita refletir sobre a sua realidade, o mundo que a cerca?
Sim. Claro que há autores que escrevem apenas para divertir, no entanto, há muitos outros que tratam da ética. Não sou moralista, mas acredito na humanidade e na idéia de que as pessoas podem se tornar melhores. Sou da geração que tinha horizontes bem rurais em 1950, quando as pessoas viviam em um mundo limitado pelas crendices. Tudo isso mudou. O Brasil passa por uma revolução cultural que muitos outros países viveram há 150 anos, como Alemanha, Inglaterra, França e Japão. Está havendo a democratização do ensino. Temos mais pessoas alfabetizadas, mais leitores e ao contrário de antigamente acabou-se aquele pensamento de que você deveria se tornar doutor ou então não seria nada. Hoje, temos muito mais gente fazendo curso superior. Além disso, há alternativas como os cursos técnicos.
Com a popularização da internet e também das publicações virtuais, como incentivar o interesse dos mais jovens pelo livro impresso?
Eu não vejo conflito entre a internet, o livro e outras formas primitivas de fruição com as formas mais atuais, muito pelo contrário, são meios de comunicação que se complementam. Hoje, um pai pode contar uma história para o filho dormir mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, por meio de uma webcam. É uma conquista que só é possível graças à tecnologia, à internet.
A literatura infanto-juvenil brasileira está se renovando ou se restringe mais às adaptações e readaptações de obras do passado?
Com certeza, se renova. O Brasil passa por uma revolução tecnológica e cultural que inclui a literatura infanto-juvenil. Há uma grande preocupação em se transmitir cada vez mais valores a partir de uma arte feita com beleza, criatividade, amor, imaginação e ética.
Quando o senhor descobriu o talento de escrever para públicos de todas as faixas etárias?
Decidi escrever um livro sobre uma árvore que dava dinheiro e percebi que não tinha muito a ver com o público adulto, então me direcionei ao público infanto-juvenil. “A Árvore que Dava Dinheiro”, lançado em 1981, tem enredos fantásticos em que uso metáforas para abordar problemas como inflação e estagnação econômica. A história ensina que para se conseguir dinheiro é importante trabalhar.
A autobiografia é uma de suas características mais marcantes, de que maneira isso influi na concepção de uma obra?
Comecei a escrever poemas aos 14 anos e desde então só escrevo sobre aquilo que conheço, vejo e vivo. Na obra “Terra Vermelha”, por exemplo, eu falo sobre a minha terra. Prefiro sempre mostrar as características de um personagem por meio da ação e não de adjetivos. Gosto de uma escrita mais econômica. Ainda assim o que eu faço é criar um mundo de imaginação, onde misturo realidade e ficção.
Há previsão de lançamento de alguma obra ainda este ano?
Meu último lançamento foi “Professor Milionário”, em 2009, que fala de um professor que venceu na loteria e usou o dinheiro para investir na escola em vez de se entregar ao consumismo. Mas até outubro será lançado pela Editora Leya, de Portugal, uma das maiores do mundo, o meu livro “Herança de Maria”, uma homenagem a minha mãe, uma mulher guerreira, a frente do seu tempo, que tinha autonomia em suas decisões. A obra será 30% ficção e 70% realidade.
Quais as lembranças das inúmeras vezes em que participou dos eventos culturais de Paranavaí?
Vir a Paranavaí é sempre uma experiência muito interessante. Aqui tem gente interessada em discutir, falar abertamente sobre arte. De fato, há um quociente cultural mais denso do que em outras cidades. Percebo, e não é de hoje, que Paranavaí tem uma tradição de atividades culturais. Lembro de quando estive aqui com a palestra-recital “Saques e Toques” [“Poesia para Ver, Ouvir, Sentir e Pensar” – durante o Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) de 2009] e a participação do público me surpreendeu. Naquela ocasião, abordei temas diversos como ecologia, relações humanas e cidadania.
Curiosidade
O escritor Domingos Pellegrini nasceu em 23 de julho de 1949 em Londrina, no Norte Central Paranaense.
O declínio econômico de Paranavaí
Quando o desenvolvimento foi comprometido pela monocultura e ausência de políticas públicas
A história mostra que Paranavaí, na região Noroeste, poderia ser um dos municípios mais importantes do Paraná, no entanto, em função da falta de diversificação econômica e ausência de políticas públicas para o setor agrícola, a cidade entrou em declínio a partir de 1970.
Paranavaí teve um progresso exemplar até o início da década de 1960. À época, a cidade era vista como símbolo de progresso no Paraná, uma imagem que ganhou solidez em 1956, quando uma pesquisa da Associação Brasileira dos Municípios apontou Paranavaí como uma das cinco cidades com maior índice de desenvolvimento do país.
As consequências humanas
Contudo, como tinha um perfil essencialmente agrícola, baseado na monocultura cafeeira, a ex-Fazenda Brasileira experimentou um declínio sem precedentes. As primeiras geadas que castigaram as lavouras da região de Paranavaí e atingiram profundamente a economia local foram registradas em 1962 e 1964, de acordo com informações da Secretaria Nacional de Defesa Civil. “Na segunda geada, o prejuízo foi tão grande que tive que vender meu sítio. A partir do acontecido, nunca mais quis mexer com a cafeicultura”, revelou o pioneiro paranaense Orlando Otávio Bernal.
Para piorar, a intempérie voltou a devastar as propriedades do Noroeste Paranaense em 1969, destruindo pelo menos 80% da produção cafeeira regional. “Quando meu pai viu aquela camadinha fina de gelo sobre o cafezal, ele entrou em pânico. Nunca o tinha visto chorar daquele jeito, jogado sobre um pé de café. Perdemos tudo, não deu pra recuperar nada”, confidenciou o empresário Fabrício Gomes Soares. Dias depois, a mãe de Soares flagrou o pai se preparando para ingerir um rodenticida conhecido como chumbinho. Felizmente, conseguiu evitar o pior.
A mesma sorte não teve o pai da aposentada Catalina Prado Ruiz que tinha uma propriedade rural às margens da Rodovia BR-376. “Ele contraiu muitas dívidas com as geadas anteriores, então quando veio a mais forte, em 1969, não aguentou”, enfatizou Catalina com a voz calma e pausada, sem velar os olhos marejados. O homem foi encontrado morto, após um ataque cardíaco fulminante, agarrado à base de um cafeeiro.
O agricultor capixaba Orlando Brás de Mello, radicado em Paranavaí desde 1957, preferiu não citar nomes, mas contou que teve vários conhecidos que não superaram os prejuízos, se endividaram e cometeram suicídio. “Meu cunhado quase enlouqueceu. Ele pôs fogo no cafezal e num barracão enorme onde costumava estocar o café”, complementou.
As consequências econômicas
Como consequência econômica das geadas, o preço do café subiu, surgindo um ciclo de especulações que pareceu infindável. “A situação era preocupante demais, muito triste. Quase ninguém tinha ânimo pra continuar porque aqui a gente já tinha outro problema grave que era o solo empobrecido”, relatou o pioneiro cearense João Mariano, se referindo também ao surgimento das erosões hídricas que se intensificaram a partir dos anos 1960.
Com a queda da cafeicultura, que preservava um caráter familiar na região Noroeste do Paraná, houve grande abertura para a formação dos latifúndios, o que intensificou mais ainda as desigualdades sociais. Logo as lavouras começaram a ser substituídas por pastagens e, como a pecuária absorveu pouca mão de obra, milhares de trabalhadores rurais ficaram desempregados. “Que eu me lembre, quando deixei o trabalho na lavoura e não consegui nada na área urbana de Paranavaí, pelo menos da fazenda onde eu trabalhava e de outra propriedade vizinha mais de 200 pessoas foram embora pra Maringá”, disse o taxista Jurandir Romano de Paula.
No Noroeste do Paraná, entre as cidades mais prejudicadas pela intempérie estavam Paranavaí, Tamboara, Paraíso do Norte, Nova Aliança do Ivaí e Mirador que em 1960 representavam 1/3 de toda a produção agrícola regional, conforme registros do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC). Em 1970, a região de Paranavaí somou 336 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dez anos depois, em 1980, perdeu quase 50 mil habitantes, somando 288 mil moradores.
Foi um retrocesso para a região que em 1960 contou com mais de 307 mil habitantes. “Em 1970, tive que fechar minha mercearia porque fazia mais de seis meses que estava trabalhando no vermelho. Teve mês que não vendi nada porque ninguém tinha dinheiro. Nem conseguia mais honrar os compromissos com fornecedor”, destacou o ex-comerciante Geraldo Marques.
Em 1980, a produção cafeeira do Noroeste Paranaense foi quase reduzida pela metade, caindo de 30 milhões de cafeeiros para 16 milhões. O solo frágil e comprometido pela falta de técnicas adequadas de plantio, manejo e cultivo fez com que o milheiro de pés de café rendesse apenas 27 sacas, quantia muito inferior as 150 da década de 1960, revelou estatísticas do extinto IBC.
Do melhor ao pior índice de desenvolvimento
Orlando de Mello frisou que a lavoura era o “carro-chefe” da economia regional de Paranavaí, por isso, o impacto foi tão grande. “Eu mesmo não tinha nenhum conhecido, amigo ou parente que trabalhasse com outra cultura que não fosse o café”, assinalou Jurandir de Paula. A falta de diversificação econômica deu ao Noroeste Paranaense reflexos muito negativos. Nos anos 1970, a região encabeçada por Paranavaí teve os piores índices de desenvolvimento do Paraná.
O que ilustra bem esse fato é uma pesquisa do IBGE que foi lançada em 1980 sobre industrialização e geração de empregos. A microrregião de Paranavaí ocupou a última posição, com uma ínfima contribuição estadual de 0,5% enquanto as regiões de Ponta Grossa e Londrina despontaram com 10,4% e 9,5%. “Na cidade, não tinha emprego, então a gente tinha que ir pra onde dava. Cheguei a passar uma temporada trabalhando em lavouras em Minas Gerais pra poder sobreviver. Tinha mulher e filhos pra sustentar”, argumentou o aposentado Bernardo Ricardi Proença.
Conforme a pecuária se desenvolveu, o homem se afastou cada vez mais do campo. Um estudo do escritor Paulo Marcelo Soares da Silva indicou que nos anos 1980, o gado já ocupava mais de um milhão de hectares na região de Paranavaí enquanto as lavouras mal ultrapassavam 180 mil. “Eu era acostumado a ver muitas plantações e muita gente trabalhando no campo. Isso acabou. O que a gente viu depois foi só boi e deserto”, desabafou Proença.

Paulo Marcelo apontou ausência de uma política oficial para o setor agroindustrial (Foto: Estúdio Guto Costa)
No livro “História de Paranavaí”, o escritor Paulo Marcelo levantou duas hipóteses sobre o declínio econômico de Paranavaí a partir de 1969. A primeira foi a ausência de uma política oficial para o setor agroindustrial. Já a segunda, a adoção de um sistema tributário centralizador que prejudicou os municípios da microrregião, inviabilizando o surgimento de novos incentivos fiscais.
Pesquisadores e pioneiros são unânimes em afirmar que o retrocesso de Paranavaí nos anos 1970 e 1980 teve raízes na supervalorização da monocultura. “Muita gente fez o mesmo depois com a pecuária. Mas o problema é que criar gado só beneficiou uma minoria, não teve um aspecto social, ao contrário da cafeicultura, apesar da exploração do trabalho rural ter surgido na nossa região logo nos primórdios da colonização”, avaliou o sociólogo Otávio Bernal Filho, acrescentando que os nordestinos foram os mais lesados pelas injustiças sociais que transcorriam no campo.
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Fundação Cultural homenageia Emir Mancia
Advogado foi um dos grandes entusiastas da arte paranavaiense
Em homenagem ao falecido advogado e artista Emir Mancia, a Fundação Cultural revitalizou uma antiga placa que carrega um fragmento do poema “Totó Guda”. A placa está exposta em frente a Casa de Cultura Carlos Drummond de Andrade e faz parte do projeto Paranavaí Cidade-Poesia que dá visibilidade ao trabalho de artistas locais.
Emir Mancia, natural de Curitiba, mas radicado em Paranavaí, foi um dos grandes colaboradores e incentivadores da arte e cultura local. Várias de suas músicas e poemas foram selecionados no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup). “Ele também dirigia peças de teatro, inclusive foi o fundador do grupo Chaplin”, explica a atriz e professora de teatro, Rosi Sanga.
Embora tinha a advocacia como profissão, Emir Mancia passava muito tempo envolvido com cultura, principalmente música, literatura e teatro. Era um escritor prolífico, no entanto teve tempo de publicar apenas uma obra; “Rastros Recolhidos”, de poemas e crônicas, escrito em parceria com o escritor Roberto Kalil e publicado em 1987.
A classe artística local sempre vira Mancia como um artista polivalente. Tal dedicação fez surgir o convite para presidir a Fundação Cultural em 1988. Naquele mesmo ano, o artista abriu o Femup com uma frase histórica. “Repete-se a alegria de ver a cidade invadida por artistas desse imenso Brasil que, como aves de arribação em tempo certo, aparecem para compartilhar a imensa alegria do conto, da música e da poesia em momentos tão efêmeros, e por isso tão esperados e gratificantes”.
Além de entusiasta do Femup, Mancia foi professor de muita gente que na atualidade se destaca trabalhando com arte e instruindo outras pessoas. “Na minha primeira declamação eu ensaiei com ele”, lembra a professora de teatro. O artista movimentava a classe cultural com idéias inovadoras. Graças ao advogado surgiu em Paranavaí o Centro Cultural Chaplin. Mas, infelizmente, o artista faleceu antes de ver tudo pronto. “Então decidimos homenageá-lo dando ao teatro o nome Emir Mancia”, explica Rosi, acrescentando que Mancia ajudou a escolher o espaço e se responsabilizou pelo registro do centro cultural.
À época, o Teatro Emir Mancia, fundado em 1995, se situava ao final da Rua Rio Grande do Norte em um velho barracão de beneficiamento de café. O espaço atendeu a comunidade por um período de um ano e meio, servindo de reduto para grupos de estudo, oferecendo espetáculos e oficinas para estudantes. Toda semana era apresentada pelo menos uma peça no local. “Lembro que a Elmita Simonetti e o Adriano Morais ajudaram bastante. Realmente havia muita gente envolvida na iniciativa”, destaca Rosi Sanga.
O Centro Cultural era totalmente independente, mantido com recursos dos associados e renda dos espetáculos. Lá, foram apresentadas peças que ficaram em cartaz por um bom tempo como “Mão na Luva”, de Oduvaldo Viana Filho, dirigida por Emir Mancia; “Liberdade, Liberdade”, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes; e “A Noite Escura e Mais Eu”, de Lygia Fagundes Telles. Muitas peças infantis também foram encenadas no Teatro Emir Mancia que teve de fechar as portas em função de dificuldades financeiras. “Havia muitas despesas e não conseguíamos mais pagá-las. O aluguel era bem caro”, reitera Rosi.
Segue abaixo o poema do qual foi extraído fragmento para a criação da placa em homenagem ao advogado e artista Emir Mancia
Totó Guda (Femup/1985)
Atrás do morro do Feiticeiro
na cabeceira do Coatinga
rodeoado de ipê, uvaia e cacheta
e guarimirim, no meio de sambaqui,
ergueu cabana, criou porco e galinha,
Heitor Bento e Luiza, naquele rincão guarani.
E matou-se veado, tateto, lontra e paca,
bananal crescendo, por bicho cobra vigiado,
caminho de tigre e onça,
daí tiraram o sustento, mais farinha de mandioca.
Tinhoso de rio, manhoso de mato,
filho de outro casamento, mas não enjeitado,
cresce com igual cuidado e de Deus a ajuda,
o índio caboclo, de apelido Totó Guda
Até os quinze, de corpo mirrado,
tanto remo, subida de morro, corte de gissara,
palmito às costas, aos dezesseis afamado
cerveja em casa de mulher dama
e muita lição a safado.
Em festa de Navegantes, de remo ou de vela,
pescador festejado no cerco à tainha,
matador de robalo, badejo e cardume de pescadinha.
Também na batalha diária da maré
era moço conhecido de Antonina a barra do Jacaré.
Anos que passam, águas que rolam,
rapaz feito e casador, levou mulher pro rancho,
erguido de pau-a-pique, rejuntado de sapé.
Comendo a caça abatida no armado mundéu,
mergulho na água fria, corpo pelado secando ao céu,
picura na banha fritando, no poço bonito, passou lua de mel
Mas os tempos mudaram, plantação definhou,
as crianças chegaram, bananal acabou.
Palmito não corta é lei do Governo,
a caça arribou e o peixe do rio, veneno matou.
Larga o rio vem prá cidade, com tralha e filharéu.
Trabalho é pouco na estiva da Marinha,
porisso as horas perdidas no Chiquito Bordel
Do jogo e da cachaça não larga
filhos crescem e ninguém ajuda,
biscate não tem, volta ao mar, Totó Gudá.
Na noite enluarada, bêbado e briguento,
apanha e surra João Peitudo e Nascimento.
Daí em diante, vingança jurada, à traição
Ou mão armada, só na morte a expiação, prometem os desafetos.
A Páscoa se aproxima, semana santa,
se avizinha, em noite de maré alta,
Totó Gudá as redes lança, em nome de Iemanjá
na procura de peixe bom,
prá comemorar a ressurreição do filho de Oxalá.
Na volta grande folia, na venda do pescado
em roda de amigos e até tantas a cantoria.
Perto de casa, não escapa do atentado,
da faca e da navalha, dos inimigos a autoria.
Parte pro mar, parte pro mar, Totó Guda.
Com teu peito agonizante, das ondas
verdes outro eterno viajante.
Escritor paranavaiense terá obra publicada pelo Governo do Paraná
O livro “Viagens”, de Altair Cirilo dos Santos, será lançado até o final do ano
Anualmente, a Secretaria de Estado da Cultura seleciona 40 livros de autores paranaenses a serem publicados. Este ano, um dos contemplados é o escritor Altair Cirilo dos Santos com a obra “Viagens” que reúne 50 poemas.
Altair Cirilo dos Santos conta que tudo começou no ano passado, quando recebeu apoio da Fundação Cultural para encaminhar sua obra a apreciação da Secretaria de Estado da Cultura. “Deu tudo certo e meu trabalho foi um dos escolhidos. Agradeço muito a Fundação Cultural porque sozinho seria muito difícil conseguir publicar esse livro”, explica.
Altair Cirilo reuniu vários trabalhos em um. A obra consiste em 50 poemas selecionados pelo próprio autor. “Há desde sonetos até poemas concretos. Tentei dar uma unidade ao trabalho, então peguei aqueles que foram premiados nos concursos que participei”, conta o escritor. A obra “Viagens” soma 75 páginas e deve ser publicada até o final deste ano.
Um apanhado do estilo literário de Santos nos mais diversos períodos da sua trajetória como escritor, o livro sintetiza reflexões políticas e rigor formal poético. “É preciso ter um pensamento sobre o que é poesia”, afirma Altair Cirilo que além de poeta também é cronista.
Conhecido por uma escrita heterogênea, o escritor passeia por diversas correntes literárias, influências que ele admite como referências para o surgimento de um estilo sólido e próprio de escrever. “Da prosa e da poesia posso citar Osman Lins, Rubem Fonseca, António Lobo Antunes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mário de Andrade e todos os outros modernistas”, exemplifica.
O interesse de Altair Cirilo pela literatura surgiu na escola, quando visitas regulares a biblioteca despertaram o interesse por contos. “Lembro quando li pela primeira vez ‘A Terra dos Meninos Pelados’, de Graciliano Ramos’”, enfatiza. O interesse pelos contos se deu pelo fato de serem histórias curtas, algo atrativo para crianças e adolescentes. “Desde então se passou muito tempo, já faz 30 anos que escrevo. Quando a gente lê bastante o interesse por escrever sempre aparece”, assinala.
Santos teve suas primeiras obras publicadas no início dos anos 90, a mais conhecida, segundo o próprio autor, é “Passarim, Passarão”, um livro infantil lançado em 2003 que teve o apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e Fundação Cultural. Entre as outras obras estão “Viver Enquanto Amar”, de haicai até sonetos, “As Encruzilhadas”, “Por instantes lembrei de mim” e “Um conto, uma espada e uma sombra”. “Três das minhas obras podem ser encontradas na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley”, revela Santos.
Altair Cirilo já participou de pelo menos 25 antologias
O escritor Altair Cirilo dos Santos tem poemas e contos publicados em pelo menos 25 antologias. Além disso, coleciona prêmios em concursos literários de todo o Brasil. “Minha primeira vitória foi em Brasília”, lembra sem esconder o sorriso nostálgico. Dentre as grandes conquistas, Altair cita o primeiro lugar na fase nacional da categoria poesia no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) em 2005.
Diariamente, Santos escreve pelo menos um parágrafo. Tal hábito e amor pela literatura permitiu que ao longo dos anos reunisse grande volume de trabalhos inéditos. “Tenho muito material que ainda quero publicar, tanto poemas quanto contos. Penso também em escrever uma novela ou um romance”, declara. Altair Cirilo dos Santos é policial militar, escritor, graduado em letras e direito, além de membro da Academia de Letras e Artes de Paranavaí (A.L.A.P.)
Frase do escritor Altair Cirilo dos Santos
“Quem mexe com arte, sem apoio não é ninguém”