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Acredito que veganos votando no Bolsonaro estão sendo os mais especistas
Eu acredito realmente que veganos votando no Bolsonaro estão sendo os mais especistas. A lógica é simples. Esse voto é uma reação de ódio ao PT, e nesse caso quem vai pagar a conta são os animais, simplesmente porque a cólera humana desconsidera até mesmo as lutas em defesa dos mais vulneráveis. E ódio é uma manifestação de ego, uma manifestação de veleidade.
Não vejo maior prova disso do que o endosso às três bancadas que historicamente neste país mais desprezaram os animais – ruralista, religiosa e armamentista. Ninguém nega que a JBS cresceu assustadoramente no governo PT, e que há sim muita culpa nos benefícios concedidos a JBS, mas, francamente, eu não vou ficar olhando pra trás quando um candidato a presidente já firmou compromisso para os próximos quatro anos de transformar o Brasil em um inferno ainda mais visceral para os animais, com apoio de centenas de deputados que olham para os animais como objetos, bens de consumo e até mesmo lixo.
Estou falando de um cara que apoia abertamente caça (não me interessa se ele citou apenas javali, caça é caça. E ainda por cima firmou compromisso com o Clube de Caça de Goiânia). O sujeito apoia vaquejada, pesca em área de proteção ambiental, já disse que vai sair do Acordo de Paris, que é o único compromisso do Brasil com a redução da emissão de gases do efeito estufa. O indivíduo deixou claro que as questões ambientais passarão pela bancada ruralista, o que coloca as nossas reservas naturais em risco mais premente. Estou fora de apoiar alguém assim.
Por que é mais ético não se alimentar de animais
Alguém diz: “Você não tem dó das plantas?”
Um sujeito alega que quem mais causa mal às plantas são vegetarianos e veganos e então lança a pergunta: “Você não tem dó das plantas?” Devo dizer que pensei que ele, como alguém que consome carne, comesse principalmente animais herbívoros há muito domesticados (que consomem de 10 a 40 quilos de vegetais por dia), como os bovinos, não carnívoros como tigres e leões.
Honestamente, sou incapaz de comer tantos vegetais assim em um dia. Não tenho condições de competir com um boi em uma dieta vegetariana. Afinal, falo de um animal adulto que pode chegar a 600 quilos. E, claro, para alguém afirmar que vegetarianos e veganos são os que mais causam mal às plantas é porque só pode estar se alimentando da carne de animais essencialmente carnívoros como tigres e leões.
Ademais, quando alguém se alimenta de animais, antes do pedaço de carne chegar ao seu prato, há toda uma cadeia produtiva que deveria ser considerada. Um animal objetificado não nasce pronto para ser consumido. Ele demanda uma série de recursos antes mesmo de existir. Há um planejamento de como será a sua vida visando atender um mercado que o tipifica como produto, não animal senciente e consciente que é.
Parece-me um tanto quanto paradoxal criarmos animais que deverão ser alimentados com toneladas de vegetais e então mortos violentamente para as pessoas se alimentarem de suas carnes. Quando penso nisso, associo à ideia de uma pessoa que pode atravessar uma ponte, mas prefere derrubá-la para fazer um trajeto mais longo para chegar até o outro lado de um rio.
Degradamos o meio ambiente para criar milhões, bilhões de animais que alimentamos com imensas quantidades vegetais e que serão mortos precocemente – animais que não desejam sofrer nem morrer. Então alguém aponta o dedo para o amigo vegetariano ou vegano o acusando de não ter dó das plantas porque esse amigo come pequenas porções de vegetais. Sim, o mundo é um lugar estranho.
Como o consumo de carne favorece a destruição da identidade dos animais
Alguém diz: “Defendo o fim das vaquejadas e da farra do boi, mas não sou contra matar um animal para comer”
“Para o animal não importa a finalidade de sua morte, porque isso não muda o fato de que ele deixará de existir”
Alguém diz:
— Eu defendo o fim das vaquejadas e da farra do boi, mas não sou contra matar um animal para comer.
— Imagino que você conheça vegetarianos ou veganos, certo?
— Sim…
— Estão vivos, bem?
— Acho que sim…
— Então por que se alimentar de animais?
— Ora, isso é problema deles, escolha deles. Como porque é gostoso.
— Certo. Se alimentar de um animal então é gostoso. Isso realmente é uma boa justificativa para matar animais? Melhor do que a de não matar que se baseia no fato de que não temos necessidade de tirar vidas para viver bem? E se há pessoas que vivem bem sem consumir a carne de animais, logo sem financiar esse sistema, isso não significa que matar animais acaba por ser um capricho? Quero dizer, privamos um animal de viver, impomos a morte e o comemos. A escolha que existe para nós é inexistente para ele.
— Ainda acho que comer carne não é um problema, porque o animal existe pra isso.
— Entendo, mas quem disse isso?
— A sociedade, o mundo. Ao longo da história, a “sociedade e o mundo” disseram muitas coisas, mas recuaram ou mudaram em diversos aspectos quando houve um entendimento abrangente das consequências de nossas ações em relação ao que não diz respeito somente a nós. Além disso, me responda uma pergunta. Se a “sociedade” decidir que não há nada de errado em sair matando pessoas aleatoriamente, você endossaria isso?
— Claro que não, né?
— Então, isso é uma baliza moral. Independente dos preceitos socialmente aceitáveis, você faria o que considera certo. Sendo assim, matar animais é correto?
— Hum…complicado.
— Considere um ponto. Para o animal não importa a finalidade de sua morte, porque isso não muda o fato de que ele deixará de existir. Ele não vai te agradecer porque não foi torturado na vaquejada, mas, por exemplo, morreu logo em seguida no matadouro. Matar um animal para se alimentar, não anula o fato de que antes ele passou por algum tipo de privação, medo, sofrimento e, claro, algum tipo de violência final que custou a sua vida, tenha sido esse ato curto ou prolongado. Em síntese, nunca há uma boa maneira de matar um animal que não quer morrer.
Como achar normal a morte de 70 bilhões de animais terrestres por ano para consumo?
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Por que a matança de animais para consumo é injustificável
Marloes Boere: “Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana”
“Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”
Filha de pecuaristas, Marloes Boere cresceu em uma típica fazenda de gado leiteiro em Hekendorp, Utrecht, na Holanda. Até que um dia começou a se questionar sobre o seu papel e o de sua família na vida dos animais que eles criavam simplesmente para a obtenção de leite e geração de lucro.
“Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana. Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”, conta Marloes, citando um fato muito comum que é a separação de mãe e filho nas fazendas de gado leiteiro.
Segundo Marloes Boere, na fazenda de seu pai, assim como em muitas outras dedicadas à produção de leite, inclusive no Brasil, as vacas precisam ter um bebê por ano para produzirem leite em níveis rentáveis. Após o nascimento, é apenas uma questão de horas para o bezerro ser definitivamente separado da vaca.
O bezerro é colocado em uma gaiola, onde ele fica sozinho, e é alimentado apenas duas vezes por dia. Essa prática causa muita dor emocional tanto para a mãe quanto para o bezerro”, afirma. Ao longo de duas semanas, os bezerros são supervisionados até a carne ser considerada “tenra”, ou seja, apropriada para o consumo. Então eles são enviados ao matadouro.
Na infância de Marloes, a cena da separação de mãe e filho se repetiu tantas vezes que ela perdeu as contas. Embora estranhasse, sempre explicavam que era uma prática normal e necessária. “Isso não poderia estar mais longe da verdade. Fiquei horrorizada porque vivemos em um mundo que ensina às crianças que é aceitável invadir e explorar a maternidade de maneira tão violenta. Ninguém deveria apoiar isso. O leite materno é alimento para bebês e o leite de vaca é para os bezerros”, defende.
Em entrevista ao jornal holandês NRC Handelsblad, ela declarou que na infância foi criada para não se apegar aos animais criados na fazenda, porque logo eles não estariam mais lá, já que uma vida de servidão reduz a expectativa de vida dos animais.
Depois de concluir o curso de filosofia, Marloes Boere passou a questionar cada vez mais a doutrinação especista que fez parte de sua vida, assim como da maioria, como se fosse algo natural, legítimo e aceitável. Inclusive foi o que a levou a se tornar uma ativista dos direitos animais e a defender o fim da agricultura animal.
Após o mestrado em filosofia, começou a compartilhar as suas próprias experiências com o especismo e a fornecer aos seus estudantes argumentos filosóficos em oposição a agricultura animal – fazendo com que passassem a refletir e a questionar o seu próprio especismo. Atualmente, ela atua como coordenadora de educação da fundação vegana Viva Las Vega’s, além de atuar como treinadora em habilidades de debate. Sua família também vivenciou mudanças bem significativas. Sua mãe e suas duas irmãs tornaram-se vegetarianas e seu pai, que está seguindo pelo mesmo caminho, costuma dizer nas festas em que participa que “o futuro é vegano”.
Referências
Krijger, Anna. Ik zal meemaken dat we allemaal vegnist zijn. NRC Handelsblad (5 de março de 2018).