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27% dos jovens atletas paranaenses sofrem de síndrome de burnout

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Rafael Octaviano explica que hoje em dia os jovens precisam de preparo psicológico para não abandonarem o esporte  

Rafael Octaviano: "Eu não tinha ideia dessa profundidade, de que temos mais do que o dobro de casos no Paraná do que na Suécia" (Foto: Amauri Martineli)

Rafael Octaviano: “Eu não tinha ideia dessa profundidade, de que temos mais do que o dobro de casos no Paraná do que na Suécia” (Foto: Amauri Martineli)

No final de abril, o professor universitário paranavaiense Rafael Octaviano de Souza, mestre em exercício físico na promoção da saúde pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), lançou o livro “Burnout – Atletas Jovens”, escrito em parceria com o pesquisador Dartagnan Guedes, pós-doutorado em condição física e saúde pela Universidade Técnica de Lisboa.

A obra produzida para auxiliar profissionais das áreas de esporte e saúde traz muitos dados importantes. Um deles é a descoberta de que 27% dos jovens atletas do Paraná têm grandes chances de abandonarem o esporte. Do total, 5% sofrem de burnout elevado e 22% de burnout moderado. “Eu não tinha ideia dessa profundidade, de que temos mais do que o dobro de casos no Paraná do que na Suécia, por exemplo”, diz Rafael Octaviano, acrescentando que embora a identificação da síndrome tenha sido feita nos Estados Unidos nos anos 1970 o problema ainda é pouco conhecido e discutido no Brasil.

Definido como um estresse ocupacional crônico, o burnout é causado por exaustão física e emocional, redução do senso de realização e desvalorização. Nos jovens, um agravante são as cobranças da família, amigos e treinadores. “Muitas vezes a criança começa a treinar cedo por imposição do pai que praticou um esporte e quer que o filho siga o mesmo caminho. Com o tempo, perde-se o interesse pela atividade porque vira uma obrigação, sem direito de escolha”, explica Souza.

A síndrome atinge principalmente os praticantes de esportes individuais. O fato de treinar sozinho e sem apoio faz com que muitos jovens se sintam derrotados antes das competições. Outro fato revelador apresentado no livro é que as mulheres são mais suscetíveis ao burnout do que os homens. “O apoio social para as atletas é bem menor. É comum o marido, namorado e pai as criticarem”, conta o autor.

Hoje em dia, muita gente ainda relaciona o burnout ao chamado overtraining, ou seja, excesso de treinamento, o que é um grande erro, já que a síndrome atinge atletas que estão seguindo uma rotina de menor duração. “Os maiores exemplos são os jovens que estão perdendo o interesse e abandonando o esporte aos poucos”, comenta Rafael Octaviano.

"Com o tempo, perde-se o interesse pela atividade porque vira uma obrigação, sem direito de escolha" (Foto: Amauri Martineli)

“Com o tempo, perde-se o interesse pela atividade porque vira uma obrigação, sem direito de escolha” (Foto: Amauri Martineli)

No entanto, a síndrome não deve ser confundida com dropout que é o abandono da atividade em decorrência de fatores como mudança de cidade, escola, trabalho e lesões. Como o burnout tem características mais específicas, a manifestação do problema pode surgir de diversas formas. “Um jovem que até então gostava de treinar e de repente começa a priorizar banalidades como as baladas e as festas com os amigos pode estar com a síndrome. Neste caso, a recomendação é que o diagnóstico seja feito por psicólogos e psiquiatras”, alerta Souza.

Para evitar o burnout em atletas, é preciso uma reorganização social do esporte. É necessário ponderar que na infância todo mundo deve ter a oportunidade de experimentar várias atividades. “O que vemos hoje é o oposto. Há muita pressão sobre atletas jovens. Temos crianças com cinco a seis anos que já tem a vida esportiva traçada”, destaca. Como consequência, há um grande incentivo ao treinamento físico, técnico e tático, mas em contraponto há pouco investimento em preparo psicológico.

O assunto ainda é muito polêmico e pouco discutido na literatura esportiva brasileira, o que justifica porque 70% das referências do livro “Burnout – Atletas Jovens” são da literatura internacional. Para a produção do livro, Rafael de Souza e Dartagnan Guedes se aprofundaram nas obras dos maiores estudiosos do assunto. Ou seja, os estadunidenses Herbert Freudenberger, Christina Maslach, Susan E. Jackson, Alan L. Smith e Thomas D. Raedeke.

Para entender melhor como o distúrbio afeta os atletas paranaenses, Souza e Guedes realizaram pesquisas com 1217 jovens. Coletaram muitos dados por meio do Questionário de Burnout em Atletas (QBA), basicamente um questionário de autorrelato em que os participantes respondem 15 questões. “Cada atleta respondeu cinco perguntas sobre cada sintoma”, declara Rafael Octaviano. A dupla também trabalhou com variáveis envolvendo tipos de treinamento, intensidade, idade, sexo, modalidade esportiva e nível de competição. “Essa foi a relação que usamos para identificar o que causa o burnout, mas não tenho dúvidas de que precisamos evoluir muito”, enfatiza.

Os autores comemoram o fato de que a obra está sendo vista como nova referência para pesquisadores brasileiros e estrangeiros que estudam a síndrome. “O nosso trabalho não tem fins de diagnóstico. É mais para servir de assessoria. Agora esperamos que apareçam novas pesquisas sobre burnout em atletas jovens de outros estados do Brasil”, frisa Souza.

Livro foi produzido para auxiliar profissionais das áreas de esporte e saúde (Imagem: Reprodução)

Livro foi produzido para auxiliar profissionais das áreas de esporte e saúde (Imagem: Reprodução)

O projeto gráfico do livro “Burnout – Atletas Jovens” foi criado por Ronaldo Frutuozo e a capa pela Icon Comunicação. “Praticamente tudo foi feito por profissionais de Paranavaí. Apenas o imprimimos na Midiograf de Londrina. Agora estamos comercializando o livro na Banca do Wiegando, Banca Tanaka, Academia Beko, Panificadora Pão de Ouro e em alguns outros pontos por R$ 25”, revela Rafael Octaviano que já está ministrando palestras sobre o tema. Para entrar em contato com o autor, ligue para (44) 9954-8107.

Burnout pode se tornar depressão

Quem sofre de síndrome de burnout precisa procurar ajuda o quanto antes. Do contrário, o distúrbio pode se tornar uma depressão. “Quem tem burnout ainda consegue levar uma vida normal quando se afasta da atividade pela qual não se interessa mais. Em caso de depressão, a realidade é mais alarmante”, garante Rafael Octaviano de Souza, autor do livro “Burnout – Atletas Jovens”, escrito em parceria com Dartagnan Guedes.

Para entender as implicações da síndrome e preveni-la, o primeiro passo é a conscientização. Entretanto, o problema não é facilmente identificado porque exige que os profissionais que estudam ou lidam com o burnout trabalhem com algumas variáveis psicológicas. “É importa avaliar os níveis de perfeccionismo, ansiedade, motivação e autoeficácia de cada pessoa. O assunto exige aprofundamento, tanto que até quem é da área de fisiologia do exercício está buscando referências em burnout. Eles querem saber como essas condições psicológicas podem afetar o aspecto fisiológico”, afirma Souza.

As pesquisas sobre o tema também levantam questões sociais bem pertinentes. Uma delas é sobre o velho ditado de que o esporte tira os jovens das ruas. “Será que tira mesmo? Ou quem vem para o esporte institucionalizado não é alguém que já o praticava? Estudando sobre a realidade dos jovens atletas do Paraná, percebemos que a oportunidade normalmente é dada para quem já está envolvido nesse meio”, reclama Rafael Octaviano.

Síndrome foi descoberta pelo psicólogo Herbert Freudenberger

A síndrome de burnout foi descoberta na década de 1970 pelo psicólogo Herbert Freudenberger. À época, o pesquisador trabalhava com pessoas que ajudavam usuários de drogas. “Os participantes começaram a se despersonalizar. Não conseguiam se sensibilizar com os dependentes químicos e abandonaram o trabalho social, o que chamou a atenção de Freudenberger”, relata o professor universitário Rafael Octaviano de Souza, mestre em exercício físico na promoção da saúde.

Na sequência, o maior trabalho de destaque foi o da pesquisadora Christina Maslach que estudou o distúrbio no contexto laboral. Inclusive foi quem descobriu que o burnout deve ser avaliado a partir de diagnósticos sobre exaustão emocional, redução do senso de realização pessoal e despersonalização. “No esporte, o assunto começou a ser pesquisado só na década de 1990”, ressalta Souza.

Saiba Mais

O livro “Burnout – Atletas Jovens” é resultado da dissertação de mestrado profissional concluída no ano passado por Rafael Octaviano de Souza, sob orientação de Dartagnan Guedes. O trabalho teve duração de dois anos.