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O brasileiro e o suposto atentado da Maratona de Boston
O brasileiro precisa refletir mais com urgência
Tenho acompanhado de acordo com minhas possibilidades o suposto atentado da Maratona de Boston e com base em tudo que li até hoje, até mesmo por parte de estadunidenses e outros estrangeiros, ouso dizer que o brasileiro mediano consegue ser extremamente medíocre quando se trata da falta de análise crítica e profunda dos fatos. Que falta de bom senso e mínima capacidade reflexiva é essa que faz as pessoas acreditarem em qualquer informação divulgada pelos meios de comunicação mainstream de países de “Primeiro Mundo”?
Nem mesmo quem mora nessas nações costuma simplesmente absorver essas informações como se fosse apenas uma mera esponja, um receptáculo de pseudo-elucubrações. E ainda com conteúdo reproduzido copiosamente e com uma conivência surreal dos veículos de imprensa do Brasil que tratam os EUA como se fossem um país exemplar, o que não é. Claro, muitas vezes, a grana que os sustenta costuma vir de lá, principalmente de conglomerados comandados por magnatas sionistas. Curioso que os acusados do atentado em Boston são muçulmanos tchetchenos, não? Para citar um exemplo, o que será que Rupert Murdoch pensa a respeito do assunto?
Afinal, todo estadunidense sabe que recentemente ele tentou assumir o controle de toda a grande mídia dos EUA, o que só não foi possível por causa das limitações legais do oligopólio midiático. Claro, e não posso deixar de mencionar que esse mesmo líder das comunicações é um dos maiores incentivadores do Estado de Israel, inclusive financiando ações do governo que partem de Tel Aviv e Jerusalém.
Por que quando um meio de comunicação de um país pobre, subdesenvolvido ou que vive um sério conflito civil divulga algo sempre há brasileiros colocando em xeque o conteúdo, mesmo sem entender do que se trata? E ainda em um tom de superioridade que demonstra uma severa incapacidade de autorreflexão, para não dizer uma inclinação mais do que obtusa e falseada do pensamento “americanizado”.
Eu não diria que o brasileiro desinformado costuma ser apolítico, ele consegue ser pior que isso. Não se importa em aceitar tudo que lê sem questionar – e quando o faz prefere ser jactante e frívolo. Assuntos complexos envolvem sim abstração de raciocínio e exigem boa bagagem cultural. Criticidade e bom senso parte do princípio de que tudo que você lê deve ser avaliado cuidadosamente como um cardápio de restaurante. Ou seja, é imprescindível descartar aquilo que não faz bem ao nosso organismo.
Sinto vergonha ao ver tantos brasileiros reverenciando os EUA por terem encontrado os supostos acusados do atentado de Boston no dito tempo recorde. Há “leitores” dizendo que isso deveria servir de exemplo ao Brasil. E pior, vejo brasileiros divagando na superficialidade, admirando as fardas dos estadunidenses responsáveis pelo assassinato do jovem Tamerlan Tsarnaev (quando ainda era um suspeito, não um criminoso). Dizem que é algo que impõe mais postura e respeito. Vestimenta agora é uma alusão ao senso de justiça?
Se eu não for preguiçoso e quiser saber sobre o que realmente está acontecendo nos EUA, prefiro buscar informações e discutir sobre o assunto com pessoas que acompanham a mídia considerada independente, seja nacional ou internacional – formadores de opinião que não sejam de extrema direita nem esquerdistas radicais. E claro, sempre partindo da base de que em menor ou maior proporção os livros continuam sendo a melhor fonte de informação para entender esse tipo de situação.
Ainda considero Noam Chomsky uma importante referência para compreender as problemáticas mais extenuantes da Terra do Tio Sam – seja com relação a conflitos internos e relações internacionais. Outros nomes interessantes que posso citar por ora e do próprio EUA são Benedict Anderson, Bruce Bueno de Mesquita, Norman Finkelstein e Harold Lasswell.
Não sou Anti-EUA, muito pelo contrário, admiro muito a arte produzida por eles, mas simpatizo pouco com o sistema político daquele país e principalmente com os meios de comunicação “mais populares” que estão sempre inclinados sobre si mesmos – como se o mundo se projetasse ao redor da “América”.
Uma Itália de gaviões e passarinhos
Uccellaci e Uccellini, uma parábola sobre o surgimento do neocapitalismo e o enterro do comunismo
Uccellaci e Uccellini, de Pier Paolo Pasolini, ícone do cinema neorrealista italiano, é um filme de 1966 que foi lançado no Brasil como Gaviões e Passarinhos. Na obra, dois pequenos burgueses viajam a pé em companhia de um corvo. Durante o percurso, um caminho circular, os personagens assistem e vivenciam o surgimento do neocapitalismo e o enterro do comunismo.
Totò (Totò) e Ninetto (Ninetto Davoli), pai e filho, são os protagonistas de uma história em que Pasolini apresenta uma metáfora de si mesmo, principalmente o desalento com a política esquerdista italiana. Os personagens viajam por uma estrada que possibilita o contato com importantes elementos de uma etapa da história da Itália.
Totò e Ninetto, homens de certa inabilidade intelectual, são símbolos da pequena burguesia. Já o corvo falastrão que encontram pelo caminho representa o marxismo, embora a ave, como um animal livre, demonstre uma peculiar autonomia de pensamentos. Enquanto a narrativa do corvo se constrói sob uma perspectiva ideológica romântica e poética, a fala e as atitudes dos protagonistas humanos são baseadas no pragmatismo e materialismo.
A hipocrisia neocapitalista se apresenta como um ciclo vicioso. Exemplo é a cena em que Totò e Ninetto vão até uma propriedade onde cobram o aluguel de um inquilino. Mesmo ciente da situação degradante da família, Totò, com a frieza digna de um materialista, exige que o homem o pague para evitar o despejo. Em seguida, pai e filho passam pela mesma situação. O predador se torna presa e surge uma inversão de valores.
Pasolini chama atenção pelo uso da metalinguagem. Dentro da principal história, há algumas bem curtas. Merece destaque uma fábula envolvendo São Francisco de Assis que parece emprestar a fala marxista do corvo, assim como a ave, em certos momentos, discursa como se fosse um frade. Outro episódio-chave, com caráter documental, é o enterro do político Palmiro Togliatti, nome mais importante do comunismo italiano.
Além da cena ser uma referência a queda da ideologia no país, simboliza o fim de um período cultural. O neorrealismo perdia em importância para o novo cinema que se pautava na fantasia e misticismo. A influência brechtiana é muito forte em Uccellacci e Uccellini, tanto que na maior parte das cenas os personagens interagem com o público. O cineasta também homenageia Roberto Rossellini e Federico Fellini.
No mais, o clássico não é linear – sem início, meio e fim. Se fosse feito de trás para frente ainda seria coerente. Quem assiste Uccellaci e Uccellini nunca mais esquece a canção que abre o filme, considerada até hoje uma das melhores opening credits da história do cinema. A composição é de Ennio Morricone e conta com a interpretação de Domenico Modugno, um dos maiores cantores da Itália do século 20.