Archive for the ‘Estética’ tag
Não tenho necessidade de me alimentar de animais
Pratico musculação há anos e reconheço que não tenho necessidade de me alimentar de animais e também não tenho necessidade de usar esteroides. Conheço meus limites naturais e eles são satisfeitos com a riqueza do mundo vegetal. Além disso, a minha perspectiva de que o veganismo é um imperativo moral deixa clara que uma motivação estética não é mais importante do que a vida dos animais não humanos. Então por que eu deveria trilhar outro caminho? Por que eu deveria incentivar mortes? Por que tomar parte na exploração de seres vulneráveis? Por que a realização estética deve se sobressair à vida? Há algo mais importante que a vida? Não creio.
A realidade por trás do Botox
Há uma realidade por trás da toxina botulínica (Botox) que muita gente desconhece ou não faz questão de conhecer, que consiste no uso de animais indefesos para testar reações às substâncias contidas nessa neurotoxina. Ou seja, resultados estéticos para a humanidade, morte para seres não humanos. Diga não aos testes em animais e pratique o consumo consciente.
Quem quiser se aprofundar no assunto, sugiro que acesse:
http://www.eceae.org/sv/what-we-do/campaigns/botox/the-truth-about-botox-animal-testing
“O reconhecimento do direito animal à vida é isso, não me colocar acima deles quando posso viver bem sem explorá-los”
— Vamos supor que você tenha virado vegano no mês passado, e de repente grande parte da sua muscular construída em anos de musculação está indo embora. O que você faria? Digo isso num cenário hipotético em que não é possível evitar essa perda de massa magra.
— Eu não faria nada. Claro, eu gosto de ter um shape legal, mas isso não é mais importante pra mim do que não comer animais. O que tenho é um corpo que é consequência da minha filosofia de vida. E se uma nova filosofia de vida não permitisse que eu tivesse uma boa massa muscular, sem problema. Pra mim, o reconhecimento do direito animal à vida é isso, não me colocar acima deles quando posso viver bem sem explorá-los. Meu ego e minha vaidade diminuem um pouquinho mais a cada dia. Ter saúde seria o suficiente para continuar trilhando o meu caminho. Isto aqui é uma carcaça que merece cuidados para que eu possa ter uma boa qualidade de vida. Porém, me vejo mais abaixo do que acima, talvez uma consequência natural de um tipo peculiar, ou estranho aos olhos de alguns, de estabelecimento de prioridades.
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Um corpo bonito nem sempre significa saúde
Outra coisa que a indústria da propaganda conseguiu incutir na mente das pessoas – a ideia de que um corpo bonito sempre significa saúde. Não, um corpo bonito nem sempre significa saúde, ainda mais em uma sociedade onde há pessoas que fazem de tudo para serem esteticamente “perfeitas”. Claro que há pessoas com corpos bonitos que são muito saudáveis e exemplares. Mas é importante ter em mente que também há muitas pessoas com um belo físico vendendo um estilo de vida saudável que na realidade não condiz com o que vivem. Transformar o corpo em um laboratório é uma opção pessoal, mas isso se torna um problema quando essa realidade é velada para ajudar a alimentar uma indústria desonesta que vende mentiras e ilusões.
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Um breve papo sobre musculação
Cara 1 — Quem tem muita massa muscular normalmente não tem muito o que pensar. Não consegue pensar direito.
Cara 2 — Pra que ganhar massa muscular? Quer se mostrar?
Cara 3 — Consigo ganhar massa muscular muito rápido, mas não gosto. Não quero ficar grande. Isso seria ridículo e constrangedor.
Cara 4 — Musculação é de uma futilidade sem tamanho. Coisa de gente que não gosta muito de usar o cérebro.
Eu — Acho que não. Uma pessoa treinando uma hora por dia ou até menos consegue resultados incríveis com a musculação. Ou seja, ela ainda teria outras 23 horas por dia disponíveis. Não sei de onde as pessoas tiram que quem é musculoso passa o dia na academia. Além disso, musculação pode ser vista como uma arte. Em algumas correntes artísticas há obras que são criadas em curto prazo. Isto não existe na musculação porque a matéria-prima não é meramente estática, não é exata. Além das peculiaridades genéticas, perpassa pela volatilidade das questões fenotípicas e somatotípicas. E no contexto do fisiculturismo é algo que exige maturidade muscular e surge sob três conceitos estéticos: volume, simetria e definição. Na minha análise, há princípios semelhantes que encontramos na Grécia Antiga e na Roma Antiga, como bem registrado por muitos escultores; e também em períodos da cultura barroca. Claro, com um basilar e distinto critério, já que nos tempos da contrarreforma se exaltava a opulência.
Caras 1, 2 3 e 4 — O que você disse aí?
Eu — Nada…
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Reflexões sobre o consumo de carne e a musculação
Nenhum animal precisa morrer para que qualquer pessoa tenha resultados com a musculação. Acredito verdadeiramente nisso. Hoje em dia, se eu consumisse carne, por exemplo, eu logo associaria a ideia de que qualquer resultado conquistado teria custado a vida de muitos seres vivos.
Nesse meio, sempre vejo pessoas falando que compram caixas de filé de frango, e comem inclusive sem querer, ou até mesmo passando mal, porque veem a carne daquele pobre animal como essencial fonte de proteína para o ganho de massa muscular.
Ou seja, come-se até pelo desprazer, preocupando-se basicamente com resultados estéticos. Se eu fizesse isso hoje, logo perguntaria a mim mesmo, quantos animais mortos estou comendo por mês? Enquanto eu viso parecer melhor, aos animais é relegado o pior.
Ontem, conversando com um amigo na academia, falávamos sobre corações de frango. Um quilo de coração de frango significa muitos corações. Vende-se uma grande quantidade desse órgão, responsável pelo percurso do sangue bombeado através de todo o organismo do animal, por preços que variam de R$ 15 a R$ 20.
Esse é o valor que atribuímos ao coração de um animal que muita gente gosta de comer com limão. Não sei quantos corações pesam um quilo, mas duvido muito que um coração custe mais de 20, 30 centavos. Não consigo pensar em como isso pode não ser triste.
Earthlings, o que os olhos veem e o coração precisa sentir
Documentário mostra a realidade nua e crua por trás da produção de carnes, laticínios, roupas e calçados
Lançado em 2005, Earthlings – Make the Connection (Terráqueos – Faça a Conexão) é um documentário escrito, dirigido e produzido pelo ambientalista estadunidense Shaun Monson que mostra até que ponto a humanidade chegou em relação aos maus-tratos de animais.
Pesado e chocante, o filme apresenta a realidade nua e crua por trás da produção de carnes, laticínios, roupas e calçados. Também traz informações e imagens impactantes sobre espécies usadas como entretenimento ou cobaias em laboratórios farmacêuticos e da indústria da beleza.
Do início ao fim, o documentário, baseado em uma grande compilação de imagens de dezenas de autores, é narrado pelo ator hollywoodiano e vegano Joaquin Phoenix, o que ajudou muito na popularização do filme, assim como a trilha sonora assinada pelo compositor Moby, também vegano.
Logo nos primeiros minutos é difícil não se sentir mal com as cenas exibidas, e o que parece prestes a acabar, na verdade está apenas começando. E não é difícil entender qual é o propósito de Monson ao gerar esse mal-estar nos espectadores. É uma reação naturalmente saudável e esperada. Afinal, estranho seria se assistíssemos ao filme e não nos permitíssemos sentir empatia por tantos animais explorados e violentados.
E o sentimento vai ao encontro de uma frase muito bem colocada por Joaquin Phoenix em Earthlings: “Se todos tivessem que matar os animais com as próprias mãos para consumir carne, provavelmente muito mais pessoas se tornariam vegetarianas.” Então como isso é impossível de acontecer, o autor optou por chocar de outra forma, nos convidando a conhecer esse universo como cúmplices, responsáveis em maior ou menor grau pela existência de um mercado baseado na exploração e extermínio de terráqueos não humanos.
Earthlings é visceral? Com certeza! E levando isso em conta alguém pode alegar que as imagens do filme não representam a realidade de todos os animais. Sim, é uma justificativa a se considerar, já que o tratamento oscila de acordo com objetivos, consumidor final, recursos e preceitos morais e éticos.
No entanto, nada altera o fato de que independente de cidade, estado ou país, estamos sempre diante de animais relegados a uma vida breve ou longa de servidão. Sem dúvida, são seres que mais cedo ou mais tarde vão morrer, claro, assim que servirem a um propósito que não foi escolhido por eles.
É provável que muita gente não acredite que faça parte do processo que envolve a indústria da exploração animal, porém não há como negar que se gostamos de cães e gatos, por exemplo, mas consumimos produtos de origem animal, somos negligentes e ilógicos porque temos uma conduta assentada no especismo, uma crença de viés cultural que cria a falsa ilusão de que somos justos mesmo quando não somos.
Nos baseamos na ilusão de que somos superiores, logo melhores, e todos os demais seres da natureza existem apenas para satisfazer nossas pretensas necessidades. É exatamente nisso que subsiste o argumento do documentário. Em Earthlings, presenciamos inclusive a perda da identidade dos animais. Quando confinados por longos períodos, eles enlouquecem e já não se reconhecem mais como semelhantes.
Exemplos são os porquinhos que praticam canibalismo após longos períodos de cárcere. O documentário se esforça para privilegiar a diversidade, e por isso aborda desde a realidade dos animais domésticos em situação de abandono, vítimas de eutanásia e outros tipos de execuções que visam conter as superpopulações, até golfinhos brutalmente assassinados para que os japoneses possam comercializar sua carne como “carne de baleia”.
E se a violência contra os animais se perpetua é porque infelizmente ainda há muitos consumidores que pouco se importam com a procedência e o custo real, para além do dinheiro, daquilo que consomem. “Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra”, escreveu Liev Tolstói, como bem citado em Earthlings, em referência ao infame anseio humano de estar sempre suplantando algo ou alguém – o que ainda pouco aprendemos a controlar.
“Nós chegamos como senhores da Terra, com estranhos poderes de terror e misericórdia. O ser humano devia amar os animais como o experiente ama o inocente, e como o forte ama o vulnerável. E quando somos tocados pelo sofrimento dos animais, aquele sentimento fala bem de nós, mesmo se o ignoramos. E aqueles que dispensam o amor pelas outras criaturas, como o puro sentimentalismo, ignoram uma parte importante e boa da humanidade. Mas nenhum humano vai perder nada ao ser gentil com um animal. E, na verdade, faz parte de nosso propósito dar-lhes uma vida feliz e longa. Na floresta, o Rei Lear pergunta a Gloster: ‘Como você vê o mundo?’ E Gloster, que é cego, responde: ‘Vejo-o porque o sinto.’”, narra Joaquin Phoenix, parafraseando “Rei Lear”, de Shakespeare, no final de Earthlings.
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A beleza é superficial?
Beleza é algo tão superficial que despertou a atenção de Hegel, Kant, Nietzsche, Heidegger, Baumgarten, Hogarth, Hutcheson, Deleuze, Artistóteles, Sócrates, Platão, Plotino e uma lista infindável de pensadores e literatos. Há milhares de anos, o belo fascina o homem, o motiva e faz com que ele busque interpretar suas atitudes, emoções e sentimentos despertados pela beleza.
São muitas as condições e situações que impelem o ser humano a superar seus limites numa construção pessoal do belo, na busca por uma condição harmoniosa. Ainda assim, sempre vai ter gente dizendo que beleza é superficial. A estética está aí pra provar o contrário, desde os tempos antigos da Mesopotâmia, Egito, Pérsia, Grécia, China, Roma, Índia e Escandinávia.
O belo nunca vai ser simplesmente belo porque a beleza é uma forma completa de cognição, não apenas uma palavra vazia atribuída de um valor físico que reflete, partindo do senso comum, a jovialidade humana suscetível ao definhamento.
A beleza ou preservação dela envolve fatores de atração e abstração. É no belo também que desde sempre o homem se inspira para criar mitos e lendas que se perpetuam no imaginário das pessoas. Acreditar na beleza como superficial é uma perspectiva canhestra ou equivocada. Quantas obras de arte, das mais diversas ramificações, foram produzidas inspiradas no que a beleza humana é capaz de despertar? Sem contar com a elevação à posteridade…
Antes de morrer, em 7 de outubro de 1849, o escritor Edgar Allan Poe escreveu que beleza de qualquer tipo, em seu desenvolvimento supremo, invariavelmente excita a alma sensível às lágrimas, o que justifica por que o belo surpreende sem ser tipificado.
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Godard e a Virgem Maria
Je Vous Salue, Marie propõe discussão entre matéria e espiritualidade
Em 1985, o cineasta francês Jean-Luc Godard lançou o polêmico filme Je Vous Salue, Marie que anos depois chegou ao Brasil com o título original, baseado na oração católica. A obra é uma interpretação contemporânea da história da Virgem Maria e se sustenta em diálogos e imagens que propõem uma discussão com requinte de ensaio entre matéria e espiritualidade.
Famoso pela audácia, desinteresse pela objetividade e despreocupação em agradar o público, Godard apresenta duas histórias paralelas em Je Vous Salue, Marie. Na primeira, Marie (Myriem Roussel) é uma esportista adolescente em crise existencial, convivendo com as tentações da modernidade e as incertezas sobre o futuro.
A jovem tem um relacionamento conturbado com o materialista Joseph (Thierry Rode), um cético e imaturo taxista que decide ter relações sexuais com outra mulher após as muitas recusas de Marie. Entre o casal subsiste um antagonismo sutil.
O anjo Gabriel (Philippe Lacoste), sem qualquer característica física ou psicológica de arcanjo, é a materialização do pragmatismo. Jean-Luc criou um personagem frágil e dotado de inúmeros defeitos que, em vez de voar, viaja de avião. Em pleno século 20, assume a missão de fazer Joseph crer que o filho de Marie, com quem jamais teve uma relação sexual, é dele.
Em contraponto a breve história de Maria, sustentada em fé inominável, é apresentada a realidade de um racionalista professor de ciências que refuta a religiosidade em favor da ufologia, gerando assim um embate envolvendo estética e dialética.