David Arioch – Jornalismo Cultural

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Amor como uma bola em movimento

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Intriga-me quando as pessoas se referem ao amor como um elemento sólido imutável e estático na sua própria essência – romanesca ou não. Intriga porque se o amor assim fosse, não haveria razão de ser. Se ele não muda talvez seja porque suas raízes já tenham se mortificado ao longo do tempo, e o que tenha restado seja o conforto da platitude.

Há inclusive a tradicional crença de que relacionamentos longos, que aparentemente não chegam ao fim, sejam a maior representação do amor. Mas ninguém pode afirmar isso de forma generalizada, porque seres humanos são criaturas de hábitos e muitas vezes mesmo na ausência do amor, as pessoas podem continuar juntas ou pelo menos aparentemente juntas por fatores desconhecidos e alheios ao amor em si, mas quem sabe atrelados a outros sentimentos e emoções – que podem ser positivos ou negativos – ou ausentes.

Vejo o amor como uma bola em movimento que vai aglutinando e subtraindo, que aquece, que arrefece, que pode crescer tanto quanto pode se extinguir – um desaparecer no meandro do reaparecer, quem sabe. Se apenas um amor muda talvez a incerteza desnuda. O meu amor e o outro amor, acredito que dependem de uma estabilidade energética, de uma constância que pode e deve ser inconstante na proporção de nós mesmos, um emaranhado de sinergia que depende de mudanças. Creio que não seja errado dizer que o alimentamos a partir de uma evolução partilhada, alheia às estagnações típicas do conforto desinteressado, porque se nos enterramos nesse caso já não frutificamos.