David Arioch – Jornalismo Cultural

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Isso também é viver

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Estou aqui neste momento e é isso que existe. Há uma posse relativa do meu estado de ser, da minha consciência, das minhas emoções em um nível consoante. Claro que não completamente, já que não acredito em estado pleno de controle. Qualifico isso como natural, já que seres humanos não são máquinas e dependem de várias formas de nutrição que não dizem respeito à comida.

Realmente creio que isso torna a existência intrigante. Estou aqui hoje, posso não estar amanhã, e isso é parte inerente da vida. O momento, a iminência da parte, do todo ou do nada. Acredito que viver nada mais é do que construir instantes que podem sobreviver ou desfalecer – do cotidiano, da memória ou dos dois. O eterno efêmero, pode-se dizer. Dão lugar a outros instantes, ou não.

Você fala com alguém agora e pode ser que não se falem mais a partir de um período indeterminado. E se isso transcorre com naturalidade, como os enlaces e os desenlaces das relações ao longo da vida, está tudo bem. Isso não implica necessariamente em prejuízo, desrespeito ou desconsideração, até porque essa perspectiva seria apenas polarização.

Não nego que construímos, desconstruímos e destruímos coisas o tempo todo. Isso pode ser positivo, pode não ser. Para o bem ou para o mal, isso também é viver.

 

 

Written by David Arioch

August 30th, 2018 at 1:27 am

Morrer como se jamais tivesse existido

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Mais do que um escritor, Borges foi um enigma literário 

O escritor argentino Jorge Luis Borges  dizia que, quando chegasse a sua hora, gostaria de morrer como se jamais tivesse existido, existe poesia nisso; claro, talvez não para todo mundo ou especialmente para aqueles que ignoram a finitude. Quando Borges falou isso, pensei na questão do desapego, da construção de legados, dos tributos e de tudo aquilo que fazemos para nós, não para os que se foram.

Muitos se incomodam com a ideia de pessoas que não vivem para construir nada pomposo ou tangível, a não ser elas mesmas e algo em torno daqueles com quem se comunicam no decorrer da vida. Ainda somos ignorantes a ponto de acharmos que todos querem viver como nós, que todos querem criar laços ou viver e morrer como se fossem muito maiores do que realmente eram.

Há quem se assuste com a ideia de pessoas que ao longo da vida se comunicam de forma profunda, mas fortuita e transitória com os outros, sem criar vínculos concretos, complexos ou objetivos. Apenas existem sem se preocupar em definir coisa alguma. O que não deveria ser visto como aberrante, já que não fomos feitos em série.

Nem todos querem deixar algum legado, assim como nem todos buscam fazer algo pelo que ser lembrado. Há aqueles que querem apenas viver para algo que parece mínimo a tanta gente, mas que dê algum sentido ao existir. Nem todo mundo quer fazer planos de curto, médio ou longo prazo. Tem gente que prefere cultivar apenas a própria consciência, uma consciência que também pode reverberar a possibilidade de que o fim pode ser hoje ou amanhã.

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Written by David Arioch

March 5th, 2017 at 7:56 pm

Com os animais não morre somente a carne

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“Homem Moderno Seguido pelos Fantasmas de Sua Carne”, da artista britânica Sue Coe

Visite uma grande criação e olhe nos olhos de cada animal. Por mais parecidos que eles sejam, nunca são iguais. São seres únicos, e cada qual nasce com a sua própria individualidade e peculiaridade sensitiva.

O maior exemplo disso é a reação diversa à nossa presença. Alguns se assustam, outros se aproximam; há aqueles que imóveis assistem em silêncio e há aqueles que emitem algum tipo de som.

Quando esses animais são mortos, o que morre com eles não é somente a carne, mas existências singulares que não tiveram tempo de amadurecer para reconhecer o seu próprio lugar no mundo, e é daí que acredito que vem o desespero animal diante da finitude.

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Written by David Arioch

January 26th, 2017 at 12:06 am