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Relatório denuncia Burger King como comprador de ração animal produzida em áreas desmatadas da Amazônia
Relatório divulgado recentemente pelo grupo ambiental Mighty Earth (ME), dos Estados Unidos, denuncia que a cadeia de fast food Burger King compra importante parcela da ração animal produzida em áreas desmatadas da floresta amazônica.
O objetivo da Mighty Earth ao denunciar o Burger King é garantir transparência na atuação das grandes corporações que estão envolvidas em ações que prejudiquem o meio ambiente. Por isso, eles usaram tecnologia de mapeamento por satélite, entrevistaram agricultores e visitaram 28 fazendas ao longo de três mil quilômetros de áreas que pertencem ao Brasil e à Bolívia.
Um dos grupos apontados pela ME como um dos grandes financiadores do desmatamento na Amazônia é a multinacional Cargill, sediada em Minnesota, nos Estados Unidos, e uma das principais fornecedoras do Burger King. “Burger King não é a única empresa cuja falha de políticas e práticas estão causando grandes problemas ambientais. Tanto a indústria de fast food quanto de vendedores de carne, como supermercados, obtêm suas matérias-primas de muitas fontes questionáveis”, alega a Mighty Earth, acrescentando que o ponto mais crítico da situação é que o Burger King se recusa a mudar suas práticas.
A destruição da floresta amazônica tem forçado a migração de populações locais, queima de áreas nativas e destruição de aproximadamente 200 milhões de hectares de florestas naturais e pastagens, o que equivale a 15 vezes o tamanho da Inglaterra, segundo informações obtidas por Anna Starostinetskaya, da Veg News.
“Hambúrgueres e batatas-fritas não valem a destruição das florestas tropicais”, informa o relatório. De acordo com Anna Starostinetskaya, embora a organização ambiental tenha feito um bem em denunciar o problema, não foi tão feliz na sugestão para resolvê-lo:
“Eles identificaram uma solução equivocada, que seria cultivar mais soja e gado em menos terra, uma prática que resulta em operações concentradas de alimentação animal nos moldes das fazendas industriais, o que, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [FAO] ,já provou ser algo nocivo para o ambiente, bem-estar animal e saúde humana”.
Referências
http://vegnews.com/articles/page.do?pageId=9121&catId=1
http://www.mightyearth.org/mysterymeat/
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Exploração animal, consumo de carne e fome mundial
O mundo atualmente conta com mais de 1,5 bilhão de bovinos e pouco mais de sete bilhões de pessoas. Os seres humanos consomem 9,5 bilhões de quilos de comida e 20 bilhões de litros de água por dia. Por outro lado, o gado é alimentado com 61 bilhões de quilos de comida e 170 bilhões de litros de água por dia, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Ou seja, temos animais criados simplesmente para serem mortos e transformados em carne para pessoas que têm condições de pagar por ela. Claro, muitos não têm, já que o mundo soma mais de um bilhão de pessoas passando fome diariamente. Isso é absurdo e surreal. Gasta-se seis vezes mais para alimentar bovinos, quando poderíamos estudar e viabilizar uma alternativa para destinar comida de origem vegetal para sanar a fome do mundo.
Claro que muitos alegarão que ninguém tem obrigação de fazer nada em relação a isso, mas se há condições de fazer o bem, por que não fazer? Por que não investir na vida em vez de investir na morte? Que tipo de mensagem a humanidade transmite quando mata bilhões de animais por ano, e simplesmente para consumo? Além do mal que causamos aos animais não humanos, ainda desconsideramos a fome mundial, porque é isso que a produção e o consumo de carne privilegiam, uma aberrante desigualdade social, já que não se trata de algo justo nem aceitável. Acredito que quando comemos carne também estamos virando as costas para a miséria que assola o mundo e ajudando a perpetuar um sistema que incentiva mais a morte do que a vida.
Reflexões sobre o consumo de carne
Antes do surgimento da civilização, o ser humano caçava porque ele realmente acreditava que precisava disso para sobreviver. Hoje, há quem diga que essa alimentação era o segredo da força e da condição física humana da época, algo que se perdeu com o surgimento da agricultura.
Porém, não é correto dizer que ele era forte e resistente simplesmente porque comia carne, desconsiderando que ele se colocava em movimento durante as caçadas, e para ter um bom desempenho dependia primariamente de bons carboidratos, glicogênio, estoque de energia.
Ao contrário do que muitos dizem, o surgimento da agricultura não deixou o ser humano doente. O que o deixou doente foi o sedentarismo intensificado após a Revolução Industrial, quando a atenção voltou-se timidamente para as más consequências da má alimentação na modernidade.
Para piorar, na hipermodernidade, como o acesso à carne foi facilitado, o ser humano se entregou ao consumo excessivo. Naturalmente, que ele julgava um benefício e um avanço, se tornou um mal para ele mesmo. Uma prova? Dê uma olhada nos carrinhos à sua volta nos açougues dos mercados. Sempre há inúmeros abarrotados de carne.
Diariamente, as pessoas continuam criando pretextos para consumir dezenas de quilos de carne. Uso como exemplo um hipotético churrasco entre amigos. Eles compraram 20 quilos de carne para consumir em uma noite. Para a produção dessa carne, são necessários 308 mil litros de água, levando em conta que, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Pecuária (FAO), é preciso 15.400 litros de água para cada quilo de carne. Essa é a quantidade envolvida em todas as etapas do processo de produção industrial.
Quantas horas as pessoas levam para comê-la? Tenho certeza de que não muitas. Ainda assim, não raramente essas pessoas reclamam das mudanças no meio ambiente, ignorando a contribuição do consumo de carne nesse processo; o desflorestamento para formação de pasto e produção vegetal destinada à alimentação de animais de criação.
Com o alto consumo de carne, a produção tem se tornado cada vez mais insustentável. Nesse ritmo, vamos testemunhar perdas cada vez mais acentuadas de vegetação. Como isso pode não ser preocupante? Outro fato a se considerar é que se nossos ancestrais consumiam carne, eles o faziam por não ter escolha, comiam para sobreviver, e isso incluía tudo que estava ao seu alcance. Sendo assim, não é um bom argumento alguém dizer hoje que come carne porque seus antepassados também comiam. Nossos ancestrais faziam várias coisas erradas, nem por isso reproduzimos outros de seus hábitos.
Além disso, eles não tinham o entendimento e o acesso às informações que temos hoje, o que também acaba por ser um grande diferencial, inclusive derrubando mitos sobre a necessidade do ser humano precisar de proteínas de origem animal para sobreviver. Afinal, veganos e vegetarianos não existiriam se isso fosse verdade.
Como a pecuária contribui com o aquecimento global
Documentário apresenta a verdade inconveniente negligenciada por Al Gore em 2006
Lançado em 2014, Cowspiracy – The Sustainability Secret é um documentário de Kip Andersen e Keegan Kuhn que mostra de que forma a pecuária tem contribuído com o aquecimento global, inclusive sendo apontada como uma das principais responsáveis pela destruição da Amazônia.
E para endossar a denúncia, os realizadores usam como referência o relatório anual da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) que cita a pecuária como uma das grandes culpadas pela degradação do solo, mudanças climáticas, poluição, esgotamento de água e perda da biodiversidade.
Quando o assunto veio à tona em 2006, a ONU iniciou um trabalho de defesa da reeducação alimentar baseada em dietas vegetarianas, ou pelo menos a redução do consumo de carne e laticínios, uma transformação que pode desacelerar a produção e ajudar a combater o aquecimento global.
Com o relatório em mãos, o documentarista Kip Andersen questiona os porta-vozes de grandes organizações de proteção ao meio ambiente, como Green Peace, Sierra Club, Rain Forest Action Network, 350.org, Amazon Watch e Oceana, sobre o motivo de jamais terem falado sobre o papel da agroindústria no aquecimento global.
Insistente, Andersen faz com que a diretora da Amazon Watch, Leila Salazar Lopez, abra o jogo em um segundo encontro, quando ele a questiona sobre o silêncio dessas entidades. Antes ele ressalta a gravidade da situação ao informar que a Amazônia Brasileira, o lugar com a maior biodiversidade do planeta e que já perdeu 80% de sua área original, pode desaparecer nos próximos dez anos por causa da desenfreada produção de gado e soja.
“Podemos ver o que aconteceu no Brasil depois da aprovação do Código Florestal. Quem falava contra os lobistas e os interesses das agroindústrias era assassinado. Um exemplo é o caso do José Cláudio Ribeiro da Silva [falecido em 2011], um dos ativistas que dizia que a agropecuária estava destruindo a Amazônia. Veja o exemplo de Dorothy Stang, a freira que morava no Pará e foi assassinada. Muita gente fala, mas muitos ficam calados porque não querem acabar com uma bala na cabeça”, argumenta Leila.
A freira Dorothy Stang se opôs ao desmatamento praticado pela agropecuária durante anos. Certa noite, ao entrar em casa foi brutalmente baleada à queima-roupa por um matador de aluguel. Além dela, mais de 1100 ativistas foram mortos no Brasil nos últimos 20 anos, de acordo com o filme.
“Quem se beneficia e faz lobby para este sistema agrícola são os maiores produtores alimentares, os maiores produtores de carne. Quando eles crescem e enriquecem, eles usam o poder político que possuem para ditar as políticas federais quanto à produção de alimentos”, destaca Wenonah Hauter, diretora executiva da ONG Food & Water Watch.
A partir daí tudo fica claro para os documentaristas. Kip Andersen, que se inspirava em Al Gore para se tornar ambientalista, se decepcionou quando soube que esse foi o motivo pelo qual o ex-vice-presidente não citou a pecuária no documentário An Inconvenient Truth, sobre as causas do aquecimento global.
De acordo com o ambientalista e escritor Will Tuttle, diariamente a população humana, que chegou a sete bilhões em 2011, consome 20 bilhões de litros de água e 9,5 bilhões de quilos de comida. Enquanto isso, 1,5 bilhão de bovinos, de um total de 70 bilhões de animais criados no mundo todo, consomem 170 bilhões de litros de água e 61 bilhões de quilos de comida. “Quase um bilhão de pessoas passam fome todos os dias”, acrescenta Tuttle, realçando o absurdo da situação.
Além disso, 50% da produção de legumes e vegetais é destinada aos animais. Só nos Estados Unidos, 90% da soja é para o consumo das criações. “Comparando com a carne, podemos produzir, em média, 15 vezes mais proteínas a partir de fontes vegetais, e usando o mesmo tipo de terra, seja fértil ou não. Hoje, 82% das crianças que passam fome vivem em países onde a comida é dada aos animais. O mais incrível é que temos condições de alimentar todos os seres humanos”, revela o pesquisador Richard Oppenlander, autor do livro Food Choice and Sustainability.
Em uma de suas pesquisas, Andersen descobriu que um hambúrguer de 110 gramas requer mais de 2,5 mil litros de água se for levado em conta todo o processo antes de chegar ao consumidor final. “Equivale a tomar banho por dois meses”, compara. E para a produção de quatro litros de leite são necessários 3,8 mil litros de água. E a demanda desproporcional à produção se acentua a cada dia. John Taylor, proprietário da Bivalve Organic Dairy, informa que não há terras o suficiente no mundo para que leiterias orgânicas como a sua ganhem espaço. Ele acredita que os laticínios não são sustentáveis.
“A não ser que comecemos a substituir as casas por pasto. E isso só pode acontecer se a população diminuir. E como sabemos que ela vai continuar a crescer, o jeito é buscar alternativas. Vemos por aí leite de soja, de amêndoas, e muitos outros produtos com misturas diferentes. Levam insumos e proteínas. Acredito que veremos mais disso no futuro”, avalia Taylor.
O ativista vegano Howard Lyman, autor do livro Mad Cowboy, passou 45 anos envolvido com a agropecuária. Há alguns anos, quando participou do programa Oprah Winfrey Show, ele denunciou as mazelas do setor e teve de responder a dezenas de processos. Em entrevista a Kip Andersen, confidenciou que levou cinco anos para se livrar das ações movidas pelas agroindústrias. “Tenho certeza de que se eu fosse novamente ao programa, hoje eu seria condenado, mesmo falando a verdade”, lamenta.
Lyman também deixa claro que Andersen e Keegan Kuhn corriam riscos ao abordarem um assunto tão controverso. Após quase 60 minutos de documentário, eles recebem uma ligação de uma patrocinadora avisando que não vai mais investir em Cowspiracy. “A maioria fica chocado ao saber que ativistas ambientais são considerados a pior ameaça terrorista de acordo com o FBI. Acredito que porque, mais do que qualquer outro movimento social, ameaçam diretamente os lucros empresariais”, enfatiza o jornalista Will Potter, autor do livro Green Is The New Red, e que há anos é monitorado pelo FBI.
A maior parte do documentário, os realizadores não acompanham de perto a realidade dos animais, principais vítimas da agroindústria. Quando decidem fazê-lo, ficam surpresos com o que veem e aprendem. “Não importa se as galinhas são de fazendas orgânicas ou não. A verdade é que a partir do momento que a produção diminui elas são mortas”, relata Marji Beach, diretora de educação do santuário Animal Place.
O autor do best-seller In Defense of Food, Michael Pollan, prevê que quando a população mundial chegar a nove bilhões de pessoas o consumo de carne vai diminuir. “Não teremos como produzir tantos cereais para alimentar os animais de corte”, argumenta, crente de que o futuro está na sustentável dieta vegetariana.
No encontro com Lyman, Andersen ouve o ativista afirmando que um ambientalista não pode consumir produtos de origem animal. “Engane-se se quiser. Aliás, se quiser alimentar o seu vício, faça-o, mas não chame a si mesmo de ambientalista ou protetor dos animais”, assinala.
O discurso tem tanto impacto que Kip Andersen decide se aprofundar no veganismo. Para isso, ele visita o médico Michael A. Kepler, vegano há 32 anos e que leva uma vida saudável. Kepler inclusive faz o acompanhamento de gestantes veganas. “Nascem 216 mil pessoas no mundo a cada dia, e assim precisamos de 14 mil hectares de terra cultivável todos os dias. O que é impossível de se conseguir”, reconhece o produtor de vegetais orgânicos John Jeavons, autor do livro How to Grow More Vegetables.
Enquanto um vegano requer 0,6 hectare de terra por ano para se alimentar, um ovolactovegetariano precisa do triplo e uma pessoa com dieta onívora necessita de uma área 18 vezes maior que essa. “Isto porque pode-se produzir 16 mil quilos de vegetais em 0,6 hectare e apenas 170 quilos de carne na mesma área. Uma dieta vegana também produz a metade de CO2 de uma dieta onívora. E ainda gasta só 9% de combustíveis fósseis, 8% de água e 5% do solo”, frisa Kip Andersen.
Will Tuttle acredita que em grande escala a adoção do veganismo poderia contribuir muito para a recuperação do ar, das florestas, rios e oceanos, além do próprio restabelecimento da saúde humana. “Nenhuma outra escolha é tão abrangente e tem um impacto tão positivo sobre a vida na Terra do que deixar de consumir produtos de origem animal e adotar o estilo de vida vegano”, pontua o escritor.
Curiosidade
Ao final do documentário, Skip Andersen decide adotar o estilo de vida vegano.
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Consumo de carne pode se tornar insustentável até 2050
De acordo com um relatório apresentado na Conferência Anual sobre Água, em Estocolmo, na Suécia, a escassez de alimentos será o motivo pelo qual o mundo terá que renunciar à carne até 2050.
Os especialistas afirmam que os produtos de origem animal consomem de 5 a 10 vezes mais água do que os vegetais e, por volta da metade deste século, não haverá água suficiente para alimentar nove bilhões de pessoas que habitarão o planeta.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), são necessários 1,5 mil litros de água para gerar um quilo de grãos, e dez vezes essa quantidade para produzir um quilo de carne.
Referência
FAO, World Agriculture Towards 2030/2050: The 2012 Revision.