Archive for the ‘Farra do Boi’ tag
Alguém diz: “Defendo o fim das vaquejadas e da farra do boi, mas não sou contra matar um animal para comer”
“Para o animal não importa a finalidade de sua morte, porque isso não muda o fato de que ele deixará de existir”
Alguém diz:
— Eu defendo o fim das vaquejadas e da farra do boi, mas não sou contra matar um animal para comer.
— Imagino que você conheça vegetarianos ou veganos, certo?
— Sim…
— Estão vivos, bem?
— Acho que sim…
— Então por que se alimentar de animais?
— Ora, isso é problema deles, escolha deles. Como porque é gostoso.
— Certo. Se alimentar de um animal então é gostoso. Isso realmente é uma boa justificativa para matar animais? Melhor do que a de não matar que se baseia no fato de que não temos necessidade de tirar vidas para viver bem? E se há pessoas que vivem bem sem consumir a carne de animais, logo sem financiar esse sistema, isso não significa que matar animais acaba por ser um capricho? Quero dizer, privamos um animal de viver, impomos a morte e o comemos. A escolha que existe para nós é inexistente para ele.
— Ainda acho que comer carne não é um problema, porque o animal existe pra isso.
— Entendo, mas quem disse isso?
— A sociedade, o mundo. Ao longo da história, a “sociedade e o mundo” disseram muitas coisas, mas recuaram ou mudaram em diversos aspectos quando houve um entendimento abrangente das consequências de nossas ações em relação ao que não diz respeito somente a nós. Além disso, me responda uma pergunta. Se a “sociedade” decidir que não há nada de errado em sair matando pessoas aleatoriamente, você endossaria isso?
— Claro que não, né?
— Então, isso é uma baliza moral. Independente dos preceitos socialmente aceitáveis, você faria o que considera certo. Sendo assim, matar animais é correto?
— Hum…complicado.
— Considere um ponto. Para o animal não importa a finalidade de sua morte, porque isso não muda o fato de que ele deixará de existir. Ele não vai te agradecer porque não foi torturado na vaquejada, mas, por exemplo, morreu logo em seguida no matadouro. Matar um animal para se alimentar, não anula o fato de que antes ele passou por algum tipo de privação, medo, sofrimento e, claro, algum tipo de violência final que custou a sua vida, tenha sido esse ato curto ou prolongado. Em síntese, nunca há uma boa maneira de matar um animal que não quer morrer.
Práticas violentas contra os animais só existem porque sempre há plateia e consumidores
Práticas violentas contra os animais só existem porque sempre há plateia e consumidores
Não é tão raro encontrar pessoas falando mal de toureiros. Sem dúvida, concordo que não há nada de bom a se falar a respeito, até porque ninguém deveria se “profissionalizar” em fazer mal a um animal e chamar isso de arte.
Porém, a tauromaquia, assim como qualquer atividade considerada tradicional, e que cause mal a outros seres vivos sencientes, só existe porque há plateia e consumidores. Enfim, pessoas que não racionalizam a própria maldade, ou que não são capazes de externalizá-la, pagam para que os outros façam o que elas não conseguem. Assim, tornando-se voyeurs de anseios desasseados e perigosos.
Qualquer atividade que impinge dor a um animal, seja chamada de “espetáculo” ou “esporte”, não passa de truculência, de uma expressão equivocada da ignorância e da insensibilidade humana. Se alguém convida uma pessoa para participar de algo e essa pessoa recusa, como você chamaria o ato de obrigá-la a fazer parte de algo que não é de sua vontade?
Não tenho dúvida de que alguém testemunhando tal ato, se motivado por um princípio probo de justiça, há de intervir ou se manifestar de alguma forma, porque isso também é inerente à natureza humana. E por que quando se trata dos animais não humanos continuamos a legitimar e encarar a violência até mesmo com sorrisos? Porque pessoas gargalham ao ver um animal sendo ferido?
Você rir de um touro ferido na arena, de um boi caído durante a vaquejada, de um bezerro laçado e arremessado ao chão, de um animal golpeado na farra do boi, não é diferente de rir de um gato ou um cão espancado na rua e diante dos seus olhos. Violência é violência, não importando se concordamos ou não com isso. Afinal, a vítima traz consigo a expressão da própria realidade, da consequência de nossos atos, independente se você está imerso em ilusão, negação ou dissimulação.
Não deveríamos repensar nossas relações com os animais? Não seria isso no mínimo bizarro e incoerente de nossa parte? Afinal, animais não humanos também sentem dor, agonizam, sofrem à sua maneira. Somos tão ardilosos em alguns aspectos da vida em sociedade que usamos eufemismos capciosos tentando mimetizar o impacto de nossas ações, tentando maquiá-las com algo inexistente e deletério.
Estamos tão imersos em nossos mundos particulares, em satisfazer nossos anseios obsoletos e desnecessários, travestidos de necessidades, que muitas vezes neutralizamos qualquer possibilidade natural de ver algo como ilegítimo, cruel e impraticável.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:
Os torneios de luta livre do Seu Ferreira
Seu Ferreira era o destaque de Paranavaí quando o assunto era entretenimento
No final dos anos 1940 e na década de 1950, um homem conhecido como Seu Ferreira era o destaque de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, quando o assunto era entretenimento. Numa época em que havia poucas opções de lazer, o pioneiro surpreendeu todo mundo ao realizar torneios de luta livre com alguns dos praticantes mais célebres do Paraná e do Brasil.
Até 1945, Paranavaí ainda era um povoado isolado. Em dias de sol, aparecia um ônibus por dia na Colônia. E quando chovia, não chegava ninguém. Naquele tempo, era difícil não se incomodar com a monotonia, pois diversão era algo que não fazia parte do cotidiano da população. “Isso mudou quando apareceu o Seu Ferreira, um homem de idade avançada. Era ele quem animava o lugar. Que divertia a gente”, contou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.
O homem, chamado por todo mundo de Seu Ferreira, era o maior símbolo de alegria e diversão de Paranavaí. Logo que chegou ao povoado, percebeu que a vida da maioria se limitava ao trabalho. Então tomou a decisão de fazer a diferença. Ferreira viajou sozinho até Curitiba e de lá trouxe alguns dos mais célebres nomes da luta livre, como Cabeludo, Tarzan, Taturana e mais outros que lutaram também fora do Brasil.
As primeiras lutas foram realizadas na região central, onde mais tarde surgiu a Livraria Santa Helena, na Avenida Paraná. Lá, Ferreira estendia um tapete de 12 metros de comprimento por 12 metros de largura, mas o confronto ocorria em um espaço de sete metros.
Quem ultrapassasse o limite permitido para o duelo perdia pontos, e o acúmulo de punições podia resultar na vitória do adversário. Pioneiros lembram que sempre venciam as lutas quem dava os melhores golpes e conseguia segurar o adversário no chão por dez segundos. O ideal era imobilizar e manter o ombro do oponente contra a lona.
Golpes baixos faziam parte do show, embora fossem reprovados. Era uma forma de despertar mais a atenção do público. Joelhadas, cotoveladas, puxadas de cabelo e de orelha, golpes nas genitais, pescoço e pé estavam entre as ações que custavam pontos ao lutador. Os torneios eram tão divertidos que até mesmo quem não gostava de luta não hesitava em assistir. “De noite, todo mundo ia pra lá. Todo mundo mesmo. A gente saía mais cedo de casa e assistia tudo”, relatou o pioneiro José Araújo.
Outro costume da época era o de reunir bandos e ir a até a área onde surgiu o Sumaré, distrito de Paranavaí, para buscar jabuticaba. “A gente saía daqui com latas de querosene. Era o nosso passatempo quando aqui não existia piscina e nem clube”, salientou Palhacinho. Quem também ofereceu diversão a população foi o pioneiro João Carraro, um dos poucos que tinha rádio na colônia. Muita gente ia todas as noites até a casa do pioneiro para acompanhar a programação da Rádio Nacional. “Ali a gente passava a noite, conversava e ria muito”, revelou José Ferreira.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar: